sábado, 18 de abril de 2015

Pneumatologia - A Lista dos Dons do Novo Testamento - 1Coríntios 12 - parte 2

Dons Diaconais para o Cuidado Natural da Igreja
Algumas vezes, temos dificuldade para entender a fé como um dom aparte, por confundirmos este dom da lista paulina com aquela fé de que o mesmo Paulo fala em Efésios, que é um dom de Deus.
Na verdade, devemos fazer distinção do uso da palavra fé em alguns contextos da Escritura. Temos a fé salvadora, exatamente aquela falada por Paulo em Efésios 2. Esta não se trata de um carisma do Espírito que ele concede a uns e outros não. Ao contrário, esta fé salvadora é uma graça a todos os eleitos, quando estes entram no processo do Novo Nascimento.
Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus (Efésios 2.8).
A palavra “Fé” também aponta para um conjunto de verdades que aprendemos e nelas cremos, a nossa fé evangélica (Filipenses 1.27), que Judas preferiu chamar de “fé uma vez por todas dada aos santos”.
Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos (Judas 3).
 Judas não está se referindo à fé salvadora aqui, mas a um conjunto de verdades que a igreja recebeu como herança dos profetas, de Cristo e dos apóstolos que deveriam guardar, porque havia falsos mestres tentando deturpar estas verdades. Mais à frente na sua carta ele chama este conjunto de verdades de “fé santíssima” (Judas 20).
Por fim, falemos da palavra “fé”, significando uma incrível confiança, capaz de nos mover segundo a vontade de Deus, mesmo em situações mais difíceis. Um dos maiores exemplos deste tipo de fé é Abraão.
Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança, e partiu sem saber aonde ia (Hebreus 11.8).
Em geral, no lugar de Abraão, muitos crentes gostariam, ao menos, de ver o mapa ou os planos de viagem senão, não embarcariam nessa empreitada.
Acredito que este tipo de fé é o que trata o dom da lista de 1 Coríntios. Uma capacidade especial que alguns recebem para confiar que Deus haverá de prover tudo, mesmo quando todas as coisas apontam em sentido contrário.
Pessoas com este dom são muito úteis como visionários do trabalho do Senhor e são capazes de ver coisas realizadas onde nada existe. São aqueles que contagiam os demais com esperança, com idealismo.
Este é um excelente dom para pessoas que desejam liderar o  povo de Deus e também para aqueles que são chamados para tarefas de reforma e mudança do contexto.
Inclui este dom na lista dos dons de cuidado diaconal do povo de Deus. Outros autores podem pensar neste dom como um dom misto que se ligue também aos dons da palavra. Não faço objeções a este ponto de vista.
No entanto, quando penso neste dom, eu vejo um dom que promove o ânimo e a esperança do povo desesperançado do Senhor. É um tipo de dom muito útil para pessoas que desejam ser úteis levantando o povo de Deus para a batalha e a seguir adiante. Missionários também que possuem este dom são mais motivados a seguir adiante na evangelização porque sempre vislumbram o que muitos não conseguem e deixam-se se mover por esta extrema e incomum confiança.
Dons de curar
Os dons de curar foram muito importantes no contexto da Igreja iniciante do século 1, principalmente porque serviram ao duplo propósito de cuidar da igreja, mas também de propagação do Evangelho, assim como as curas atestavam a messiânidade de Jesus.
Vós conheceis a palavra que se divulgou por toda a Judéia, tendo começado desde a Galiléia, depois do batismo que João pregou, como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele (Atos 10.37-38).
As multidões atendiam, unânimes, às coisas que Filipe dizia, ouvindo-as e vendo os sinais que ele operava. Pois os espíritos imundos de muitos possessos saiam gritando em alta voz, e muitos paralíticos e coxos foram curados (Atos 8.6-7).
(...)como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade (Hebreus 2.3-4).
Assim como sobre o dom de línguas há muita discussão sobre a sua permanência na igreja cristã ou se fora restrito ao período apostólico como um atestado claro da pregação da Palavra de Deus. Como também podemos ver neste texto de Hebreus, aparentemente toda a obra do Espírito como capacitador da Igreja visava o fim proveitoso de assegurar que a Palavra de Deus era a verdade para o homem.
De qualquer maneira, acredito que devamos pensar no dom de curar como tendo o objetivo específico de trazer alívio ao sofrimento daqueles que se aproximam de Deus, cujas enfermidades causam-lhes dor de muitos modos (físicas e emocionais). Este dom, especialmente em meio a ausência de recursos médicos adequados foi o modo de cuidado que Deus usou para preservar sua igreja ao longo dos séculos.
Até os dias atuais sabemos que Deus continua curando, mesmo enfermidades cujas curas ainda são desconhecidas ou muito dificultosas, podemos constatar que verdadeiros milagres ocorrem, por meio de curas inexplicáveis.
Entretanto, devemos também considerar que o dom de cura dado à igreja nos dias registrados nas Escrituras, implicavam em casos de sucesso total, ou seja, quando Pedro, João, Filipe, Paulo ou ainda o próprio Jesus orava pedindo uma cura, ou simplesmente a declarava em nome do Senhor, o enfermo, independentemente de qualquer situação era curado, sequer importava se era crente, descrente, ter fé ou não.
Os diversos cultos de curas propagandeados em nossos dias, têm uma conotação bastante distinta daquele dom de curar dos dias dos apóstolos. Primeiro, muitos usam sua suposta capacidade de cura para dizer que possuem mais espiritualidade ou que seu ministério é mais abençoado que outros e nada mais contrário ao fim proveitoso, pretendido pelo Espírito Santo.
Em segundo lugar, nos moldes atuais, os novos portadores dos dons de cura apontam que o sucesso do seu  dom está ligado à fé alheia, isto é, quando a cura não acontece a culpa é do  enfermo que não teve fé. Isso também não está de acordo com o dom neotestamentário apresentado nas Escrituras.
Contudo, devemos manter certa coerência e considerar aquilo que falamos sobre o dom de línguas, ou seja, Deus, desejando levantar este dom para o cuidado diaconal com a igreja em meio a sofrimentos, ou mesmo fazer sua palavra prosperar, pode sim capacitar pessoas com dons de cura para preservar e abençoar o seu povo. Especialmente nos contextos onde há poucos recursos para este cuidado, por meio da medicina e outras ferramentas.
Operações de milagres
Na mesma esteira do que já comentamos sobre os dons de curar, acredito que podemos incluir e pensar nos “dons de operações de milagres”. A diferença que devemos observar entre estes dois diferentes tipos de dons é que as “operações de milagres” não se restringem à questão da cura de enfermidades, mas são outros sinais sobrenaturais que apontam para uma obra do Espírito Santo.
Paulo, por exemplo, foi picado por uma víbora e não veio a morrer, este sinal tornou-se em motivo para creditarem a Paulo algo diferente:
Tendo Paulo ajuntado e atirado à fogueira um feixe de gravetos, uma víbora, fugindo do calor, prendeu-se-lhe à mão. Quando os bárbaros viram a víbora pendente da mão dele, disseram uns aos outros: Certamente, este homem é assassino, porque, salvo do mar, a Justiça não o deixa viver. Porém, ele, sacudindo o réptil no fogo, não sofreu mal nenhum; mas eles esperavam que viesse a inchar ou cair morto de repente. Mas, depois de muito esperar, vendo que nenhum mal lhe sucedia, mudando de parecer, diziam ser ele um deus (Atos 28.3-6).
Outros sinais, como ressurreição de mortos, expulsão de demônios, mulheres estéreis se tornarem mães, apontavam para a grande obra do Espírito de cuidado com a sua Igreja e devem ser incluídas, assim como outros de natureza sobrenatural, entre os dons de operações de milagres.
Governos
Embora tenhamos de lidar com dons que não fazem parte da vida ordinária da Igreja, podemos nos lembrar que outros, como o dom de governo estão muito presentes no dia a dia da Igreja.
Este dom, que difere em parte do chamado “dom de presidência” (Romanos 12.8), assim como este está ligado ao cuidado de Deus com a Igreja no tocante à sua existência na terra e a continuidade do seu  trabalho dentro de uma esfera de organização temporal.
O dom de governo é dado para que pessoas no seio da Igreja assumam funções de liderança e o façam em nome de Cristo para o bem coletivo. Infelizmente, deturpado por causa do conceito mundano de liderança, nem sempre pessoas com este dom conseguem exercê-lo de maneira a abençoar a igreja, senão com propósitos egocentrados. Esse é um erro que devemos cuidar para não acontecer no seio da igreja.
Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se  grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo, tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Mateus 20.26-28).
Pessoas com este dom conseguem conduzir bem o rebanho do Senhor, exercendo papeis como líderes e referência para todo o rebanho, a fim de poderem servir com seu dom, guiando a Igreja para refletir o caráter de Cristo. Este é um dom que deve ser observado de forma bem peculiar nos oficiais da igreja, em particular os presbíteros.
Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho (1Pedro 5.2-3).
Socorros
Talvez poucos dons sejam tão negligenciados na  igreja quando os dons de socorros. Em parte, porque em geral a gente não consegue perceber muito bem quando alguém tem este tão especial dom.
Embora o cuidado com o irmão seja um dever de todos os crentes, na igreja, há aquelas pessoas que são capacitadas pelo Espírito para ter uma percepção maior do sofrimento alheio, tanto quanto, mais inclinação para dar suporte aos necessitados.
Pessoas com o dom do socorro se inclinam fortemente ao sofrimento alheio e buscam tratamento para as feridas, tanto do corpo como da alma das pessoas.
Barnabé, o tio de João Marcos, parecia ser uma personagem bíblica com uma alta dose do dom de socorro. Quando percebeu que a pobreza e as dificuldades estavam campeando a igreja de Jerusalém, vendeu seus bens e entregou o valor à igreja.
Pois nenhum necessitado havia enter eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos, então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade. José, a quem os apóstolos deram  o sobrenome de Barnabé, que quer dizer filho de  exortação, levita, natural de Chipre, como tivesse um campo, vendendo-o trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos (Atos 4.34-37).
Éle também era generoso o suficiente para andar com Paulo quando todos o rejeitavam e fazê-lo inserir-se no seio da Igreja, como também cuidou de seu sobrinho João que deu tanto desgosto ao Apóstolo Paulo, por ter abandonado a viagem missionária.  Barnabé, sabia caminhar a segunda milha com quem precisava e identificava bem essas necessidades.
Tendo chegado a Jerusalém, procurou juntar-se com os discípulos; todos, porém, o temiam, não acreditando que ele fosse discípulo. Mas Barnabé, tomando-o consigo, levou-o aos apóstolos; e contou-lhes como ele vira o Senhor no caminho, e que este lhe falara, e como em Damasco pregava ousadamente em nome de Cristo (Atos 9.26-27).
Alguns dias depois, disse Paulo a Barnabé: Voltemos, agora, para visitar os irmãos por todas as cidades nas quais anunciamos a palavra do Senhor, para ver como passam. E Barnabé, queria levar também a João, chamado Marcos. Mas Paulo não achava justo levarem aquele que se afastara desde a Panfília, não os acompanhando no trabalho. Houve entre eles tal desavença, que vieram a separar-se. Então, Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre (Atos 15.36-39).
Irmãos com o dons de socorros são muito importantes, ainda que seu trabalho não apareça tanto, porque eles são capazes de minimizar o sofrimento de muitos. Diáconos com dom do socorro promovem grande bem estar na Igreja, pois exercem um ofício muito em acordo com sua capacitação, afinal assistir aos necessitados é parte integrante deste ministério.

Conclusão
É muito importante que nos lembremos das premissas básicas deste capítulo 12 de 1Coríntios, ou seja, que os dons devem ser considerados como ferramentas do Espírito Santo para o cuidado da igreja, promovendo sempre o bem estar coletivo e o amadurecimento do corpo.
A negligência do uso dos nossos dons traz grande prejuízo para todo o corpo, como se uma parte do Corpo estivesse doente e não podemos cumprir a sua função.
Quando os diversos dons trabalham pelo corpo, todos ganham e amadurecem na fé, que é o objetivo de Cristo em nossa vida.
Portanto, os diversos dons alistados por Paulo, merecem ser vistos sob este prisma, ou seja, são importantes não tanto pelo que fazem, mas pelo papel que exercem no contexto geral, à luz da necessidade coletiva, nunca servindo para dar destaque pessoal egocentrado a ninguém.

Na próxima aula veremos as listas seguintes em Romanos, Efésios e voltando ao verso 28 e 29 de 1Coríntios. 

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