domingo, 16 de março de 2014

Atributos Morais - Estudos em Teontologia - Atributos Comunicáveis - Aula 05/2014

ATRIBUTOS MORAIS DE DEUS

A manifestação dos atributos divinos concita a nossa alma à adoração do seu ser. Pois a sua perfeição revelam a beleza de sua glória e santidade. 
Nesta aula, seguiremos estudando estes atributos, observando-os de uma nova face, que diz repeito à santidade e amor com que Deus se relaciona conosco. Nos atributos intelectuais, vislumbramos, pelas Escrituras, um pouco da sua mente, hoje veremos um pouco mais o coração de Deus, através de outro grupo de atributos que são os ATRIBUTOS MORAIS.

A BONDADE DE DEUS

A bondade de Deus é um atributo dos mais reverenciados pelos cristãos. Hoje em dia e em todos as eras da Igreja cristã, tem-se falado dessa bondade. Apesar de tantas pregações e de tantas vezes os crentes repetirem a expressão; “Deus é bom”, homens e mulheres de Deus têm perdido a noção do verdadeiro significado do que é a BONDADE DE DEUS.
A bondade de Deus é de natureza diferente da bondade humana.
Quando afirmamos que este ou aquele homem é bom, primeiramente observamos suas atitudes e a maneira como tal homem se comporta, ou mesmo o que diz ou como reage a determinadas situações. Portanto podemos dizer que, para avaliarmos se um homem é bom ou não, necessitamos provas de sua bondade.

Deus, diferentemente do homem, não revela a sua bondade apenas através do exercício de atos bons, ele o é essencialmente. A Bíblia simplesmente afirma que "Deus é bom". Então, simplificando a linguagem, Deus é bom e não apenas porque faz coisas boas. 

“(...) Porque me chamas bom? Ninguém é bom, senão um, que é Deus”.
Lucas 18: 19

AS MANIFESTAÇÕES DA BONDADE DE DEUS
BONDADE PARA COM TODAS AS CRIATURAS
Esta é a perfeição do Criador, na qual Ele se apresenta solicito em cuidar e preservar toda a sua criação. 
Olhando desta forma, podemos dizer que Deus é bom para todos, homens bons e maus, animais, plantas a terra e tudo o que existe. (leia Salmo 104: 1 à 35)

“Em ti esperam os olhos de todos e tu, a seu tempo, lhes dás alimento. Abres a mão e satisfazes de benevolência a todo vivente”.
Salmo 145: 15 e 16

O dia à dia revela que Deus dispensa sobre todos sua bondade, basta vermos que tanto homens bons e regenerados, como ímpios que praticam a iniquidade, recebem a luz do sol, respiram o mesmo ar e desfrutam de prazeres e alegrias, mesmo que de maneira diferente, mas são alvos da bondade de Deus.

“(...) para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque Ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos”.
Mateus 5: 45

Contudo uma grande distinção deve ser considerada à esta altura. Sim, pois seria muito simplista dizermos que Deus é bom para com todos e não mostrar que também existe uma diferença na manifestação direta da sua bondade para com cada homem. 
Uma pergunta que os crentes costumam pensar é: Eu sou justo e sirvo a Deus, e meu conhecido é ímpio e nada quer com Deus, mas vejo que Deus tem sido mais bondoso para com ele, que para comigo, pois eu trabalho, trabalho, e ainda não consegui conquistar metade, da metade da metade, do que possui meu vizinho.

O AMOR DE DEUS

O amor de Deus é uma das facetas da sua bondade, nele vemos o relacionamento afetivo de Deus com os homens caídos.

AMOR SOBERANO

Primeiramente temos que corrigir um erro muito comum, que é o de exigir que Deus nos ame na proporção em que o agradamos. Como já vimos anteriormente, nosso Deus não é como os homens que age por influência externas, ao contrário Ele sempre age segundo a sua soberana e livre vontade.
Romanos 9: 11 à 13, é um texto que exemplifica de forma bastante clara, que o amor de Deus independe de nossas atitudes. Veja que Paulo usou um texto do Velho Testamento que se encontra em Malaquias 1: 2 e 3, e demonstrou a natureza do amor de Deus. Que é o amor de um soberano que faz segundo a sua vontade.

AMOR QUE RESGATA OS PECADORES

1 João 4: 10, mostra que o amor de Deus não é um resultado do nosso amor por Ele, pelo contrário Ele nos amou mesmo quando nós ainda sequer pensávamos em buscá-lo. Pelo contrário Paulo diz que Ele nos amou quando ainda éramos seus inimigos, estávamos fracos e doentes (Romanos 5: 6 à 11). Nosso estado antes de encontrarmos com o amor de Deus era um estado de morte, e com seu grande amor com que nos amou Ele nos deu vida (Efésios 2: 1).

AMOR ETERNO

Ao contrário do amor dos homens, o amor de Deus por nós não acaba, pois é eterno. Se Deus é eterno, todos os seus atributos também são eternos, e o seu amor não é diferente.
Jeremias 31: 3, mostra bem a eternidade do amor de Deus. Este amor só pode ser eterno porque ele não se baseia em nós e em nossas atitudes, mas na vontade de Deus.

AMOR QUE VENCE TUDO

Frequentemente vejo as pessoas insinuando que se não fizermos isto ou aquilo, Deus irá deixar de nos amar. Eu pergunto a quem diz isto: O que é que faz Deus me amar ou deixar de me amar?
Este seria um Deus por demais semelhante ao homem, que necessita ser estimulado a fazer as coisas, certamente este não é o Deus ensinado nas Escrituras Sagradas. O Deus que a Bíblia apresenta levantou reinos e derrubou reinos para ver seu povo consigo, venceu tudo e todos, venceu o nosso maior inimigo porque nos amou, empenha todos os esforços para resgatar os seus filhos e nada pode nos arrebatar das suas mãos (João 10 28). Romanos 8: 37 à 39, muito prontamente confirmam esta verdade absoluta sobre o amor de Deus.

Você à esta altura deve estar se lembrando que eu coloquei uma pergunta muito comum entre os crentes, relacionada com a bondade de Deus dispensada entre homens bons e maus !!!

O amor de Deus que é soberano, que resgata, que é eterno e que tudo vence, só é dispensado de maneira salvadora aos justos, que Ele de forma soberana resgatou, limpou em Cristo Jesus seu filho. É possível que você viva muitos anos sobre a face da terra e nunca chegue a gozar de diversas bençãos que seus vizinhos e amigos que não amam à Deus gozam, talvez você jamais ganhe um prêmio de loteria, ou jamais venha a ter um trabalho que lhe remunere melhor que todos os outros; bem tudo isso pode acontecer durante toda uma vida, mas ao final de um longo período poderá ser vista de forma clara toda a bondade que Deus dispensa aos seus filhos amados.
É justamente por conta desta tendência humana de ser sempre muito prático, que o profeta Malaquias registra em seu livro as seguintes palavras:

“Vós dizeis: Inútil é servir a Deus; que nos aproveitou termos cuidado em guardar os seus preceitos e em andar de luto diante do Senhor dos Exércitos? Ora, pois, nós reputamos por felizes os soberbos; também os que cometem impiedade prosperam, sim, eles tentam ao Senhor e escapam.
Então, os que temiam ao Senhor falavam uns aos outros; o Senhor atentava e ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao Senhor e para os que se lembram do seu nome. Eles serão para mim particular tesouro, naquele dia que preparei, diz o Senhor dos Exércitos; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que o serve.
Então, vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não serve”.
Malaquias 3: 14 à 18

A PACIÊNCIA DE DEUS

Uma outra face da bondade de Deus é revelada na sua paciência. Mas só é de fato possível entender a paciência de Deus depois de conhecer a enormidade da nossa provocação.

A PROVOCAÇÃO DOS ÍMPIOS

Muitos homens e mulheres que Deus criou, jamais se aproximam verdadeiramente de Deus, e mesmo sabendo que existe um Deus não se inclinam diante dEle, nem lhe prestam respeito. Usam o seu Nome de qualquer forma e inclusive fazem de Deus um objeto de desprezo (Romanos 1: 28 à 32). Não bastasse somente desprezar à Deus, existem aqueles que ainda se lançam a cometer atos horrendos que desagradam não só à Deus mas também aos seus próprios semelhantes. Que dizer então daqueles que se afastaram de Deus e se voltaram para a criação de Deus e adoraram as criaturas como a vaca, o macaco, os bezerros, os touros, o sol a lue e etc. Muitos também se voltaram para os homens e fizeram imagens dos homens ídolos e se prostraram e os adoraram e mais neles puseram a sua confiança.
Estas provocações à fúria de Deus são extremamente graves e acontecem aos milhares durante um minuto de vida da existência humana, imagine se fizermos as contas de quantas vezes, aconteceu desde que este mundo foi criado !!!

A PROVOCAÇÃO DOS JUSTOS

Eu, sinceramente, creio que estas são as piores provocações que são cometidas contra Deus. Digo isto porque penso que nós deveríamos sempre estar diante de Deus com louvores, e honrando o seu nome todos os momentos de nossas vidas, mas, percebo que na maioria das vezes o povo de Deus, está com seu pensamento em outras coisas, muitas das vezes, agindo de maneira que desagrada à Deus, trocando-o por lazer, comida, dinheiro, amizades e outras coisas. O povo de Deus que deveria ser exemplo para o mundo, acaba por sendo em muitos casos escândalo.
Irmãos, estou plenamente convencido de que o povo de Deus o provoca quando despreza o conhecimento de Deus, revelado na palavra. E na maior parte das igrejas são poucos os irmãos que se aproximam da Escritura diáriamente, e menor ainda é o número daqueles que fazem da Bíblia uma regra de vida. Deus através de Isaías compara seu o povo à animais irracionais. (Isaías 1: 3)
Todas estas provocações que consideramos não incluem os nossos pecados cotidianos, que são ofensas à santidade de Deus. Ao somar as provocações dos ímpios e dos justos, de todas as gerações que já existiram sobre a face da terra e ainda existirão, teremos o resultado necessário para entendermos verdadeiramente a PACIÊNCIA DE DEUS.

A MANIFESTAÇÃO DA PACIÊNCIA DE DEUS
Basicamente, podemos dizer que a Paciência de Deus pode ser definida como, aquela perfeição do criador, que provoca o retardamento[2] da manifestação da sua ira, e isto ocorre de vários modos.
a)    Sua paciência é manifesta quando Ele faz reiterados avisos e constantes advertências por causa dos pecados dos homens. Jó 33: 13 e 14. Antes de destruir o mundo no período de Noé, Deus pediu à Noé que durante 120 anos pregasse a destruição e o arrependimento.
b)   Sua paciência é manifesta quando Ele pune com certa tristeza. Deus não tem prazer na morte dos ímpios e nem na sua condenação, nem se alegra quando nos disciplina e para isto precisa nos afligir. (Lamentações 3: 33; Ezequiel 18: 32).
c)     Sua paciência é manifesta quando Ele retarda seu julgamento mesmo quando os homens não dão nenhum sinal de arrependimento. Mesmo a despeito de todos os pecados que provocam sua ira, Deus deixa os homens por longo tempo sem receber a punição que merecem. (Eclesiastes 8: 11).
d)   Sua paciência é manisfestada quando Ele envia os seus julgamentos gradativamente. Como já dissemos, Deus dá muitas advertências antes de propriamente revelar o seu juízo, mas mesmo quando Ele revela os seus juízos aos homens o faz de forma gradativa. Leia Joel 1: 4 e veja de que maneira Deus manda seus juízos contra os que lhe desobedecem. Primeiro um mal, depois outro, depois outro um pouco pior e assim por diante.
e)    Sua paciência é manifestada quando seus juízos são sempre mais moderados que merecemos. A provocação da raça humana contra Deus nos faz merecedores de castigos muito piores, e de sermos exterminados imediatamente, contudo mesmo quando nos castiga, Deus é paciente e não dá largas a toda a sua indignação, isto é, não derrama sobre nós todo o cálice de seu furor. (Salmo 78:38).

A MISERICÓRDIA DE DEUS

Assim como o AMOR e a PACIÊNCIA, a MISERICÓRDIA DE DEUS, é apenas uma das muitas maneiras de se perceber a BONDADE DE DEUS.
Quando estudamos a MISERICÓRDIA DE DEUS, podemos ver Deus tendo extrema compaixão do mundo caído, incluindo todas as suas criaturas.

A MANIFESTAÇÃO DA MISERICÓRDIA DE DEUS

Deus é misericordioso. Esta é uma afirmação que percorre todo o ensino bíblico, e não se pode dizer que está relacionado somente com os seus filhos, antes as misericórdias do Senhor estão sobre todos os homens e não somente sobre os homens, mas sobre toda a criação. A esta misericórdia que atinge toda a criação, animais, plantas, terra, àgua, homens (bons e maus) chamamos:

MISERICÓRDIA GERAL.

A misericórdia é necessária num estado de necessidade. E é justamente neste estado de necessidade que toda a criação está, pois o pecado afetou-a num todo como é dito em Romanos 8: 20 e 22. E a toda esta criação Deus sustenta, dando a todos o necessário para que continuem a viver, tanto a animais irracionais, como aos micro seres, como aos seres inanimados, como também ao homem. Leia Salmo 104: 27 à 29.
O Salmo 145:9, fala da misericórdia de Deus que permeia toda a criação.

“O Senhor é bom para todos, e as suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras”.
Salmo 145: 9

MISERICÓRDIA ESPECIAL

Esta diz respeito aos seres humanos que se encontram em estado miserável de queda espiritual. Isto tem haver com todos os homens, pois Deus olha para o estado em que se encontram, e pelo menos por algum tempo, não os trata da maneira que eles merecem ser tratados.
Mesmo com todas as ofensas que são praticadas contra Deus todos os dias, Deus não retribui a cada um na medida em fazem por merecer, e ainda os permite gozarem de uma certa alegria e satisfação na vida. Lamentações 3: 22 revela que as misericórdias de Deus são o motivo pelo qual não somos todos consumidos, pois elas se renovam todos os dias.
Contudo esta MISERICÓRDIA ESPECIAL, está mais ligada àqueles que temem a Deus.

“A sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem”.
Lucas 1: 50

Uma boa definição de misericórdia seria:
Misericórdia é a atitude de Deus de não nos dar aquilo que nós merecemos, na intensidade em que merecemos.
Pois o que nós justamente mereceríamos era a punição pelos nossos pecados, mas Ele não nos pune, antes nos justifica em Cristo Jesus. E o fato de não nos punir revela a sua misericórdia especial.

MISERICÓRDIA SOBERANA

Esta misericórdia é dada somente aos filhos da promessa, que irão receber a salvação. Estes filhos da aliança, ou promessa, ou ainda filhos do pacto de Deus, são chamados na Bíblia de descendência de Abraão. Não é necessário ser judeu para ser descendente de Abraão segundo o pacto, é necessário sim, ser filho de Deus, adotado por Ele mediante a fé em Jesus o Cristo.
Assim é correto dizer que nós fomos feitos filhos de Deus e portanto descendentes de Abraão[3] e desta forma também é correta afirmação de que a MISERICÓRDIA ESPECIAL DE DEUS está sobre nós:

“Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descedência, para sempre, como prometera aos nossos pais”.
Lucas 1: 54 e 55

Mas você pode dizer: A misericórdia do Senhor não dura para sempre? (Salmo 136) Então se Ele um dia punir os outros homens que não são do pacto quer dizer que a sua misericórdia vai acabar?
Para responder a sua pergunta gostaria de primeiro dizer que Deus jamais pode deixar de ser misericordioso, pois esta é uma qualidade essencial dEle. Portanto, o salmista está correto em afirmar que a misericórdia do Senhor dura para sempre.
Porém, uma coisa é Deus ser misericordioso e outra é Ele querer manifestar a sua misericórdia. Entenda que Deus não está obrigado a manifestar a sua misericórdia, porque Deus é um ser totalmente livre em sua vontade, e Ele manifesta a sua misericórdia a quem Ele quiser, Romanos 9: 14 à 18, deixa bastante claro este ponto.
Mas muitos insistem em que Deus deveria manifestar sua misericórdia diretamente a todos os seres humanos, pois eles imaginam que Deus faz isto porque tem compaixão do estado em que todos os homens se encontram. Mas se esquecem de que Deus não manifesta a sua misericórdia motivado por nada em nós. Não é porque estamos em sofrimento, ou porque estamos tristes que Ele resolve ser misericordioso para conosco, não; Ele é misericordioso motivado por Ele mesmo, pelo uso de sua Livre, soberana e independente vontade. É por isso que chamamos a misericórdia de Deus de MISERICÓRDIA SOBERANA.
Esta compreensão da misericórdia divina deve nos fazer enxergar nossa extrema necessidade, nosso estado de miséria e de total incapacidade. E uma vez que estivermos conscientes disto louvarmos à Deus pois Ele tem agido de forma misericordiosa em nossa vida.

A GRAÇA DE DEUS

Dos atributos relacionados à bondade, este é o que mais nos causa alegria. Esta perfeição divina só é revelada àqueles que Ele chamou das trevas para a sua maravilhosa luz, esta é uma atividade na qual Deus visa somente aqueles seus filhos eleitos.
Os cristãos de um modo geral definem este atributo da seguinte maneira: “graça é um favor imerecido”. E  eu creio que esta definição consegue dizer o que é graça, sem contudo mencionar a abrangência desta verdade.
Eu diria que: “Graça é o favor divino manifesto à criaturas pequenas e indignas, no qual Ele de sua livre e espontânea vontade resolve redimir estas criaturas à despeito de seus deméritos, por isso mesmo não olha méritos pessoais nestas criaturas e delas não exige nenhuma compensação”.
A graça é diferente da sua misericórdia, pois nesta Deus não nos dá aquilo que merecemos, e na graça Deus nos dá aquilo que não merecemos. E justamente porque recebemos aquilo que não merecemos, não podemos nunca dizer que o temos por direito e então reivindicar como se fosse uma dívida de Deus para conosco, pois se assim fosse não seria graça.
A graça é a mais pura manifestação da bondade divina para com seu povo, pois é pela sua graça que Ele nos salva, nos redime do pecado. Se Deus pela sua misericórdia resolve enviar Jesus, é pela graça que Ele aplica a obra salvadora de Cristo à todos nós os teus filhos.

“Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça. E se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça”.
Romanos 11: 5 e 6

A Escritura fala da GRAÇA DE DEUS e à ela atribui algumas características:

A GRAÇA DE DEUS É ETERNA

Não que esta graça somente tenha um caráter inestinguível, como algo que dure para sempre e nunca acaba. Mas o ponto central desta questão é que a graça não foi idealizada agora, ou na morte histórica de Jesus na cruz, mas se refere ao fato de que a graça foi proposta antes de haver mundo, ou homens, ou mesmo antes de haver luz.

“(...) que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos”.
2 Timóteo 1: 9  

Todas as questões que envolvem a nossa salvação foram resolvidas desde antes da fundação do mundo, a Bíblia trata este assunto de forma abundante, com uma variedade enorme de textos ensinando esta verdade (Leia: Tito 1: 2; 1 Pedro 1: 18 à 20; Apocalipse 17: 8 e outros). Infelizmente a maior parte dos homens teimam em não aceitar este fato claro das Escrituras, e quando descobrem que a Bíblia é clara, partem para outras fontes de revelação, pois acham que isto é por demais duro, então preferem ouvir verdades que estejam segundo o desejo de seus próprios corações (Leia: 2 Timóteo 4: 3 e 4). 

A GRAÇA DE DEUS É SOBERANA

Com esta expressão queremos afirmar que Deus manifesta a sua graça a quem Ele quer, pois assim como Ele é, também é a sua graça, soberana.
E isto é o mesmo que dizer: Deus salva a quem Ele quer salvar.
Tal expressão ofende por demais os orgulhosos, que querem fazer com que Deus seja como eles, pois querem que Deus retribua às suas bondades, com bondade. Irmãos, se Deus passar a agir assim teremos que admitir que nosso Deus está então submisso a nós e às nossas obras. Pois, agora Ele se torna somente um gerenciador de boas ações, Ele inclusive perde a autoridade de comandar nossas ações boas, como vimos anteriormente.
A Igreja Presbiteriana, tem pela soberania divina um profundo respeito, esta é a mola mestra de toda a doutrina reformada (calvinista). Pois cremos que a Bíblia revela para nós um Deus que é soberano, e por isso afirmamos A GRAÇA DE DEUS É SOBERANA, portanto o seu lugar é o trono, pois os soberanos se assentam em seus elevados tronos, conforme afirma o autor aos Hebreus.

“Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, afim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna”.
Hebreus 4: 16

AS OBRAS DA GRAÇA

A seguir vamos delinear algumas das obras que a Escritura atruibue à GRAÇA DE DEUS. Gostaria porém de salientar que Deus não age dividido, como se num momento agisse somente com a graça, em outros somente com a sabedoria ou etc, estamos querendo mostrar, momentos em que a Escritura deixa em clara evidência a ação da graça divina. E também não podemos limitar as obras da graça de Deus somente à esta lista.

Primeiro, toda a obra da salvação e redenção do pecador é atribuída à graça, pois esta é a expressão da sua bondade. (Efésios 2: 4 à 7).
  • Pela graça os homens são escolhidos por Deus. (Romanos 11: 5 e 6; Gálatas 1: 14 e 15).
  • Pela graça os homens são regenerados. (1 Pedro 3: 7).
  • Pela graça os homens são justificados. (Romanos 3: 24; Tito 3: 7).
  • Pela graça os homens recebem o dom da fé. (Efésios 2: 8).
  • Pela graça os homens são santificados. (1 Pedro 5: 10).
  • Pela graça os homens entram na glória. (1 Pedro 5: 10).
  • Pela graça os homens servem mutuamente. (1 Pedro 4: 10).
  • Pela graça os homens recebem os dons espirituais. (Efésios 4: 7).
  • Pela graça os homens são chamados para o ministério da Palavra. (Romanos 15: 15 e 16).
  • Pela graça os homens lançam-se à obra de fundar Igrejas. (1 Coríntios 3: 10).
  • Pela graça os homens recebem consolação e socorro. (2 Tessalonicenses 2: 16 e 17).
  • Pela graça os homens recebem libertação do perigo. (Atos 27: 23 e 24).
  • Pela graça os homens contribuem para o auxilio dos outros (2 Coríntios 8: 1 à 4).
  • Pela graça os homens podem viver no mundo com sabedoria. (2 Coríntios 1: 12).
  • Pela graça a Palavra de Deus é dada. (Atos 14: 3).
  • Pela graça o evangelho é dado. (Atos 20: 24).


É visto que a MANIFESTAÇÃO DA BONDADE DE DEUS, se dá de várias maneiras diferentes, ou seria melhor dizer de várias faces diferentes, a saber: O AMOR, A PACIÊNCIA, A MISERICÓRDIA E A GRAÇA.


domingo, 9 de março de 2014

Atributos Intelectuais - Estudos em Teontologia - Atributos Comunicáveis - Aula 04/2014

No estudo passado, quando abordamos os ATRIBUTOS INCOMUNICÁVEIS de Deus, enfatizamos a grande distinção existente entre Ele e as suas criaturas. A partir de agora,  observaremos um outro aspecto do ser de Deus, pois analisaremos os ATRIBUTOS COMUNICÁVEIS de Deus e, portanto, trabalhar com aquelas qualidades do ser divino que foram compartilhadas com a sua criatura humana e que compõem parte de um aspecto maior da nossa criação à imagem e semelhança dEle. 

Esses atributos, ainda que tenham sido compartilhados conosco, não fazem da criatura Deus. Eles apenas compõe a nossa natureza e nos habilitam a refletir Deus na Criação. Em Deus, eles se apresentam infinitos em intensidade, extensão e perfeição, em nós, são limitados e, por causa da condição do pecado, imperfeitos.

Seguiremos um padrão de estudos, dividindo estes atributos em três categorias, conforme propôs o Rev. Dr. Heber Carlos de Campos, em seu livro "O Ser de Deus". Isto facilita nossa abordagem e torna didática a nossa exposição. 

        Atributos Intelectuais: Conhecimento, Sabedoria e Verdade.
        Atributos Morais: Bondade, Santidade e Justiça.
        Atributos de Soberania: Vontade e Poder.



Atributos Intelectuais

Atributos intelectuais tratam especialmente da mente de Deus. Evidentemente, faremos uma abordagem um tanto superficial e incompleta. Mas, mesmo que centenas de aulas fossem gastas neste tema, ou em um único atributo, não seria possível esgotar uma investigação da mente de Deus por dois motivos: a mente de Deus é infinita e é impossível ao finito (nós e nossa mente) conter o infinito; em segundo lugar é porque mesmo que nos detenhamos na especulação a partir da revelação especial (as Escrituras) e nela investiguemos todas as páginas, parágrafos e palavras que apontem para estes atributos, ainda sim ela não diz tudo sobre a mente de Deus e o que diz, tem tão elevada profundidade e complexidade que ainda sim, terminariamos por não esgotá-la no que diz, pois é uma Palavra Viva.

O CONHECIMENTO DE DEUS

Por este atributo do ser divino, podemos afirmar que é, aquele atributo que o qualifica como o possuidor de todo o conhecimento, de si e de todas as coisas que criou. Não existe nada que Deus não conheça, nada lhe foge ao entendimento, até mesmo aquelas coisas que um cientista acabou de inventar Deus já conhecia, e já dominava mesmo antes de ser pensada pelo cientista.
Sem nenhum medo de errar, podemos afirmar: “Deus conhece todas as coisas”.
A NATUREZA DO CONHECIMENTO DE DEUS
É bastante diferente da natureza do nosso conhecimento. Sim, porque nós quando necessitamos conhecer algo, temos que vê-lo, tocá-lo, percebê-lo. Nós não temos a capacidade de conhecer aquilo que não nos foi apresentado, ou aquilo que ainda não existe, pois o nosso conhecimento se limita à nossa experiência.
No caso deste atributo em Deus, é diferente, Deus conhece tudo mas Ele não depende de nada para conhecer. Por exemplo: Ele não depende de que eu exista para Ele me conhecer, desde tempos eternos Deus me conhecia, e conhecia você também, e conhecia todas as coisas, e conhecia a si próprio (leia Romanos 8:29).
O ALCANCE DO CONHECIMENTO DE DEUS
O Conhecimento de Deus é perfeito no seu alcance, pois Ele conhece todas as coisas. Neste sentido tal conhecimento é também chamado de ONISCIÊNCIA, porque abrange tudo ao mesmo tempo.
Podemos afirmar que o conhecimento de Deus é infinito (leia Salmo 147:5). E não há lugar em que seu conhecimento não possa penetrar (Daniel 2:22), o homem se assusta com tal conhecimento e reconhece sua grandeza (Salmo 139: 1 à 6), nada consegue fugir ao seu alcance (Hebreus 4: 13), até mesmo os profundos sentimentos do coração humano ( 1 Samuel 16: 7; 1 Cronicas 28: 9).

“Enganoso é o coração, mais do que todas as cousas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”.
Eu, o Senhor, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto das suas ações”.
Jeremias 17: 9 e 10

Este atributo de Deus é por demais especial para nós crentes presbiterianos. Pois irmãos, quando passamos a ter uma compreensão correta deste atributo e do seu alcance, percebemos que não podemos mais viver uma vida fingida diante de um Deus que tudo sabe.
Gostaria de incentivá-lo a ter uma vida de sinceridade, diante de todos, abandonando de uma vez por todas a mentira e o engano, pois estas coisas só nos tornam tolos. Pois que adianta agradar aos homens com nossas falsificações e mentiras e omissões, uma vez que diante de Deus nunca estamos ocultos !?
Os outros homens procuram se esquecer desta realidade, a de que Deus tudo conhece, e vivem como se pudessem omitir de todos os sentimentos que carregam consigo, no profundo da alma, eu repito, isso é uma tolice, é viver cegamente.

“Diante de Ti puseste as nossas iniquidades e, sob a luz do teu rosto, os nossos pecados”.
Salmo 90: 8

É preciso ressaltar, que Deus conhece todas as coisas, pois Ele é Onisciente, inclusive aquelas que ainda não existem. A Bíblia ressalta o conhecimento de Deus de forma grandiosa.

b) A SABEDORIA DE DEUS

Embora muitos confundam sabedoria com conhecimento, eles não são a mesma coisa. No conhecimento Deus revela seu entendimento sobre todas as coisas, e sobre si próprio, em sua sabedoria Deus revela sua perfeição em adaptar tudo para que todas as coisas que ocorrem, ocorram para a Sua própria glória. Isto se passa de tal forma, que em todas as coisas (mesmo naquilo que nós homens avaliamos como negativo) Deus é glorificado e Seu plano executado segundo a sua vontade.
Assim sendo poderíamos definir a sabedoria de Deus da seguinte forma: a sabedoria de Deus é o Seu atributo, por meio do qual, Ele aplica o seu conhecimento para obter aquilo que Ele próprio planejou, da melhor maneira possível, pelo melhor meio possível, para que seja glorificado.
A NATUREZA DA SABEDORIA DE DEUS
Semelhantemente ao conhecimento, a sabedoria de Deus é diferente da do homem. A sabedoria do homem, é adquirida conforme a sua vivência, conforme adquire conhecimento, conforme vai tendo experiências. Poderíamos então dizer que o homem não é sábio em sua essência[1] ( leia 1 Samuel 2: 3, Daniel 2: 20).
Contudo Deus não precisou viver muitos anos para adquirir sua sabedoria. Na verdade desde sempre Ele foi sábio. Sua sabedoria é algo essencial nEle, sem ela, Ele não seria Deus. Portanto podemos dizer que Deus é sábio eternamente.
Para nós faz muita diferença, quando entendemos que Deus é sábio de forma absoluta. Pois isto nos leva à uma atitude reverente diante de todas as circunstancias da vida.
Como por exemplo, nos casos extremos de morte em nossa família. Todos nós nos comovemos sentimentalmente, choramos, nos abatemos, e é claro nos entristecemos por demais. Ao poder refletir mais folgadamente sobre o acontecimento e refletir sobre a sabedoria de Deus e sua extensão, uma pergunta é necessária:
Se eu pudesse decidir nesta questão, eu seria mais sábio do que Deus em minha decisão? Seria mais sábio manter com vida, aquele que Deus sabiamente resolveu que morresse?
É evidente, que isto não elimina nossa tristeza, contudo sem dúvida alguma essa visão do atributo de SABEDORIA de Deus, não nos permite desesperar. E não somente nestes casos extremos, mas em todas as outras circunstâncias, desde aquelas mais simples como cortar um dedo descascando cebolas, até as mais complexas como um casamento ou uma cirurgia.

“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis teus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!” Romanos 11: 33


c) A VERDADE DE DEUS

Este atributo de Deus pode ser entendido de duas formas:
Primeiro: Deus é a verdade no sentido de que Ele é o único Deus vivo e verdadeiro. Assim sendo, qualquer culto à outro Deus que não o Deus da Bíblia, é um culto à mentira, pois a verdade é que Deus é o único Deus.
Em segundo lugar podemos ver este atributo, pelo aspecto da ação de Deus. Vendo assim, podemos dizer que tudo aquilo que Deus disse é verdade. Esta visão está ligada às Escrituras, pois as promessas de Deus para o homem estão “todas”, contidas na Escritura. Por isso nós crentes presbiterianos damos tanta ênfase à Bíblia, pois cremos que ela é a verdade de Deus revelada ao homem, para a sua salvação e conduta.

“Santifica-os na verdade, a Tua palavra é a verdade”.
João 17: 17.

Este atributo de Deus é também descrito como sendo a fidelidade de Deus, ou a fidedignidade de Deus, que são aspectos de sua verdade. Deus é fiel àquilo que disse, porque o que disse é verdade, Deus é fidedigno, ou seja, podemos crer nEle porque o que diz é verdade.

Percebam que a verdade de Deus, não é uma conseqüência da sua ausência de mentiras. 
Deixe-me explicar melhor: Um homem é verdadeiro, e confiável quando vemos que ele não é um mentiroso e falso. Ou quando observamos que tudo o que ele diz procura cumprir.
No caso de Deus é diferente, Ele é verdadeiro em sua essência. Mesmo que Ele nunca fizesse uma única promessa, Ele seria verdadeiro. Ou mesmo que não existisse nada, para provar a sua fidelidade, Ele seria fiel. Deus é a própria verdade.
Pelo lado prático, conhecer este atributo muda a maneira de encararmos as Escrituras. Pois se elas são a verdade de Deus revelada, passam a ser uma regra de vida. O que tem faltado nas Igrejas de um modo geral é este posicionamento diante das Escrituras, ou seja, crer que o que a Escritura diz, há de se cumprir, todas as suas promessas, e todas as suas maldições, todo o plano de Deus para a salvação, e toda a descrição dos que serão lançados no lago de fogo e enxofre, todas as penalidades pela desobediência, como as bem aventuranças decorrentes da obediência, enfim a Bíblia não pode ser considerada somente como um livro de histórias morais importantes, ou mais uma boa filosofia de vida. A VONTADE DE DEUS REVELADA - A BÍBLIA: É A VERDADE, que reflete o carácter do Deus que a inspirou.

“Deus não é um homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa. Porventura, tendo Ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?”
Números 23: 19

Estão aqui expostos os atributos intelectuais de Deus, que são uma parte dos seus atributos comunicáveis. Insisto em dizer que Deus não é um ser divisível, pois é um só unitário e singular; contudo esta é uma divisão somente para efeito didático, não pense que Deus pode agir somente com sabedoria, mas sem verdade, isso não é possível. Todas as ações de Deus e todos os seus desejos são completamente sábios, completamente verdadeiros e todos são executados com perfeito entendimento.


A Imutabilidade de Deus - Estudos em Teontologia - Atributos Incomunicáveis - aula 3/2014

A IMUTABILIDADE DE DEUS

“Porque Eu, o Senhor, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos”.
Malaquias 3: 6
“Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança”.
Tiago 1: 17
A Bíblia é muito firme ao testificar da IMUTABILIDADE DE DEUS, e assim nos ensina que o Deus Eterno nunca muda. Ele é sempre o mesmo (Hebreus 1: 12; Salmo 102: 26 e 27).
Este atributo de Deus nos faz confiante nEle, porque sabemos que Ele não é como os homens, que constantemente mudam de opinião, ou humor, ou de vontade. Mesmo que o mundo passe, Deus não mudará.
Se Deus mudasse em alguma coisa, com certeza Ele deixaria de ser Deus, pois a imutabilidade faz parte da sua essência. Este atributo de Deus depende de todos os outros, porque se Deus perder algum de seus atributos essenciais, significa que Ele mudou. Mas de forma especial este atributo está ligado à INDEPENDÊNCIA DE DEUS, porque se Deus não tivesse vida em si mesmo, e dependesse de qualquer outra coisa Ele estaria sujeito à mudanças.
O homem muda de acordo com o clima, de acordo com o seu humor, de acordo com o horário, com a época da vida, muitas coisas influenciam na mudança do ser humano, mas Deus não pode ser influenciado por nada, nem mesmo nossas orações são capazes de influenciar a Deus. Deus ouve nossas orações porque Ele as quer ouvir, e Ele pede nos que  oremos à Ele; não que precise de nós para sentir vontade de fazer isso ou aquilo, mas porque Ele nos quer ensinar que somos dependentes dEle.
A imutabilidade de Deus pode ser vista de diversas formas, como por exemplo:

a) A VIDA DE DEUS NÃO MUDA

Ele não passa por fazes de transformação, nascimento, meninice, adolescência, juventude, velhice; não, Deus não muda pois Ele é Imutável.
“Em tempos remotos, lançaste os fundamentos da terra; e os céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permaneces; todos envelhecerão como um vestido, como roupa os mudarás, e serão mudados. Tu porém, és sempre o mesmo, e os teus anos jamais terão fim”.
Salmo 102: 25 à 27.
A diferença primordial entre Deus e as suas criaturas é que estas são mutáveis, e sua natureza admite mudanças, mas Deus é imutável e nunca pode deixar de ser o que é.

b)  O CARÁTER DE DEUS NÃO MUDA

As decepções da vida podem mudar o caráter de um homem. Como alguém que era muito alegre, e depois de muitos sofrimentos e desapontamentos passou a ser uma pessoa muito triste e angustiada, que passou a reagir diferentemente com os outros seres humanos.
Deus porém, jamais muda o seu caráter, e esta é uma verdade fundamental para a fé cristã. Pois se Deus dependesse das circunstâncias para nos salvar, jamais teríamos a certeza de que estamos seguros, e poderíamos ficar questionando: Será que Deus não vai voltar atrás e destruir o mundo inteiro, tanto ímpios como justos e ficará somente com os animais irracionais?
Mas, porque Deus não pode mudar, é que eu e você podemos ficar tranqüilos, e aguardando em suas promessas.
Um dos homens na Bíblia, que melhor demonstrou sua confiança no Caráter Imutável de Deus, foi Abraão. Sua história está contada em Gênesis capítulos 11 até 25, e ele morreu aos 175 anos. A sua história é bastante interessante de se estudar, e profundamente rica em ensinos, mas o que mais marcou na vida deste patriarca foi a maneira como ele confiou em Deus e na sua promessa.
Logo no início Deus chama Abraão[1] e diz à ele que seria o pai de uma grande nação (Gênesis 12: 2); ele anda muito e finalmente chega à terra de Canaã (cap. 13) ele a percorre  e se apossa dela. Por enquanto tudo corria bem, e os anos foram se passando. Abraão se tornou homem rico e poderoso naquela região, se tornou amigo de reis e era temido por eles, mas Abraão tinha um problema sério, estava velho, e sua mulher era estéril, como ele se tornaria o pai de um grande povo se não pode ter filhos legítimos?
Bem o capítulo 17 diz que Abraão tinha noventa e nove anos quando Deus novamente lhe faz a promessa de fazer dele uma grande nação.
A grande pergunta que fazemos neste momento para todas as pessoas é esta:
Você confiaria nesta promessa que parece ser tão impossível?
“Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia. (...) Pela fé, também, a própria Sara recebeu poder para ser mãe, não obstante o avançado de sua idade, pois teve por fiel aquele que lhe havia feito a promessa”.
Hebreus 11: 8 e 11
Em resumo, estes relatos nos mostram que a fé que Abraão desenvolveu, não se baseou em milagres que ele viu acontecer, nem naquilo que disseram à ele sobre Deus, nem tampouco se baseou em coisas visíveis e palpáveis, contudo não era uma fé irracional, sem nenhuma base. Abraão creu no CARÁTER IMUTÁVEL DE DEUS.

c) A VERDADE DE DEUS NÃO MUDA

É muito comum ouvirmos que um determinado político, que hoje defende um partido e um candidato, daqui a dois anos ele está em outro partido e com outro candidato. Isso não é só no meio político não, as pessoas sempre afirmam coisas hoje, que amanhã estarão considerando erradas. Uma moça achou um rapaz e disse para ele: você é o homem da minha vida; se casou com ele e depois de quatro anos disse para ele: não sei onde eu estava com a cabeça quando me casei com você !!!!
Com Deus as coisas não são assim, pois toda a sua verdade registrada na Revelação Especial (Escrituras Sagradas), jamais passará (Lucas 21: 33), e se Deus diz que vai fazer algo, Ele o faz, e se diz que algo era pecado, continuará sempre sendo pecado, e jamais Deus se desmente, pois Deus não é como o homem.
“Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem para que se arrependa. Porventura, tendo Ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?”
Deuteronômio 23: 19.
Desta forma podemos estar seguros na palavra de Deus, pois ela é irrevogável e não voltará atrás. E tudo o que Ele diz nas escrituras acerca dos seus filhos certamente há de acontecer.
“Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”.
João 17: 17.
“(...) seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de Deus permanece eternamente”.
Isaías 40: 8

d) OS CAMINHOS DE DEUS NÃO MUDAM

Deus continua a agir com os pecadores, exatamente como agiu com Adão e com todos depois dEle. Ele continua a salvar vidas, da mesma forma que salvava nos tempos do Velho Testamento, e nos tempos do Novo Testamento, em toda a história, ou seja, o caminho de Deus para o homem continua o mesmo: JESUS, O CRISTO!!!
“Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”.
João 14: 6

e) OS DECRETOS DE DEUS NÃO MUDAM

“Mas, se Ele resolveu alguma coisa, quem o pode dissuadir? O que Ele deseja isso fará. Pois Ele cumprirá o que está ordenado a meu respeito e muitas coisas como estas ainda tem consigo”.
Jó 23: 13 e 14
Estas palavras de Jó, são à respeito de seu grande sofrimento, mostrando uma atitude de humildade diante de Deus. Este homem teve na doutrina da Imutabilidade de Deus um alento para manter vivas as suas esperanças.
“Jurou o Senhor dos Exércitos, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e, como determinei, assim se efetuará. (...) Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem, pois, o invalidará? A sua mão está estendida; que, pois, a fará voltar atrás?”
Isaías 14: 24 e 27.
Os decretos de Deus tem uma relação estreita com o seu plano. Porque tudo aquilo que Deus desejou, Ele planejou, e tudo o que planejou Ele decretou para que viesse a acontecer. Desta forma seus decretos são o reflexo do seu plano infalível e irrevogável.
Se voltarmos a pensar na Independência de Deus, na sua Eternidade e na sua Imensidão, somos obrigados a dizer que os decretos de Deus são imutáveis pois Ele não pensa um segundo plano, Ele está realizando na nossa história tudo aquilo que Ele desejou fazer, antes que existisse tempo e espaço.
A IMUTABILIDADE DE DEUS pode ser observada de diversas formas, não poderemos abordar todas elas nesta pequena apostila, vou apenas deixar mais algumas referências sobre o assunto.

f) DEUS É IMUTÁVEL NOS SEUS ATRIBUTOS

e.1. Imutável em Seu amor: Jeremias 31: 3; João 13: 1
e.2. Imutável em Sua misericórdia: Salmo 100: 5; Isaías 54: 10
e.3  Imutável na doação de dons: Romanos 11: 29; Tiago 1: 17
Em resumo, a IMUTABILIDADE DE DEUS cria uma grande distinção entre a criatura e o criador, pois todas as criaturas de Deus estão sujeitas a mudanças, e o criador é quem efetua todas estas mudanças. Muitos de nós, antes de conhecermos à Deus, pensávamos diferentemente de hoje, alguns até blasfemavam contra o nome do Santo de Israel, e hoje mudamos. Esta mudança que aconteceu em nós, aconteceu porque Deus foi o seu agente. Ele operou em nós através do seu poder regenerador e nos mudou para melhor. E isso Ele está fazendo todos os dias, trazendo à luz pessoas entre todos os tipos existentes no mundo, os cultos e educados, os ricos, os iletrados, os pobres, os bandidos e malfeitores e gente sem nenhuma tendência à violência, todos aqueles em quem Deus colocar o seu Espirito serão mudados. Mas Ele mesmo não muda.
Por causa deste atributo Deus está livre de qualquer alteração, aumento, diminuição, crescimento ou decadência. É simplesmente impossível Deus mudar para a melhor ou para a pior, seus decretos não mudam, sua vontade é eterna, e sua verdade jamais passará. Por esta razão podemos confiar nEle inteiramente.


[1] Nesta altura dos acontecimentos o nome de Abraão era simplesmente Abrão, o que só foi mudado mais tarde. Contudo para efeito do nosso ensino neste tópico não iremos fazer tal distinção.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Estudos em Teontologia - Atributos Incomunicáveis - aula 2/2014

ATRIBUTOS INCOMUNICÁVEIS DE DEUS


Atributos são as qualidades que definem os seres. No caso de Deus, didaticamente dividimos em dois tipos: Atributos comunicáveis e incomunicáveis. 
Os atributos comunicáveis de Deus são aquelas qualidades ou capacidades de Deus que podemos encontrar paralelos em outros seres criados. O Criador, quando da Criação, "comunicou" a outros seres parte de suas próprias qualidades. Um exemplo é o "amor". 
A Bíblia diz que "Deus é amor", mas também diz que o homem pode ter e exercer esse atributo. Por isso, dizemos que o "amor" é um atributo comunicável de Deus. 
Os atributos incomunicáveis, por sua vez, são aquelas qualidades e capacitações que definem e distinguem o ser divino de todos os demais seres criados. Eles dizem respeito somente à Deus e marcam a grande distinção que existe entre Deus e as suas criaturas. 
Estes atributos ensinam o quanto Deus é mais elevado que nós, quanto à qualidade do seu ser. Estudá-los deve nos conduzir a uma atitude de reverência humilde.

“Com quem comparareis à Deus? Ou que cousa semelhante confrontareis com Ele? (...) Ele é o que está assentado sobre a redondeza da terra, cujos moradores são como gafanhotos; é Ele quem estende os céus como cortina e os desenrola como tenda para neles habitar”.
Isaias 40: 18 e 22.


INDEPENDÊNCIA DE DEUS

Este atributo é também conhecido como AUTO-EXISTÊNCIA DE DEUS. Devemos entender que Deus existe independentemente de qualquer coisa. Ele não foi criado por ninguém, e de ninguém depende para existir.
Em termos materiais o homem depende do oxigênio para sobreviver, e também depende do alimento, e ainda depende de outros homens. Deus é diferente do homem, ele não depende de absolutamente nada para existir. Mesmo que eu ou você deixássemos de crer em Deus, Ele continuaria a existir.

Porque Deus criou o mundo?
Se Deus não depende de nada para continuar sua existência eterna, por que criou o mundo? 
Deus criou o mundo por que quis. De fato ele não necessita do mundo para continuar existindo. Contudo, em um exercício de amor infinito, Deus exerceu o seu poder criativo e compartilhou suas perfeições com criaturas que ele mesmo criou para a sua própria glória. A Criação não acrescentou nada em Deus, o homem não completa Deus, porque Deus existe por Ele mesmo e se basta.
A Escritura nos fala deste atributo, sempre apontando para a grande diferença entre o Deus independente e o homem dependente:

“Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo” (João 5: 26).
“O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo Ele o Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas.
Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois Ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais” (Atos 17: 24 e 25).


Não podemos e não devemos tentar submeter Deus às vontades humanas. Ele não pode ser manipulado ou está na dependência de nós ou da nossa fé. 
  • Deus é independente na sua vontade (Efésios 1: 5 e 11).
  • Deus é independente nos seus pensamentos (Romanos 11: 33 e 34).
  • Deus é independente no seu poder (Salmo 115: 3).
  • Deus é independente nos seus desígnios (Salmo 33: 11).


A ETERNIDADE DE DEUS

Este atributo é um dos mais difíceis de ser explicado, porque ele exige que pensemos fora das categorias do tempo e espaço, às quais estamos completamente subordinados. Todos os pensamentos que formulamos estão sempre ligados à estas duas esferas, pois a verdade é: jamais conseguiremos imaginar um tempo, em que não havia o tempo. Afinal, quando Deus criou o mundo, também criou o tempo e o espaço. 
Os próprios escritores bíblicos tiveram grande dificuldade para exprimir em palavras a eternidade de Deus, eles tiveram que se utilizar de expressões que tem ligação com o tempo, para poder dizer que para Deus não existe tempo.

“Eis que Deus é grande, e não o podemos compreender; o número dos seus anos não se pode calcular” (Jó 36: 26).

Eternidade significa: Tempos incontáveis, tempos sem fim, mas também sem início. Nosso Deus sempre existiu antes de nós e sempre existirá. Independentemente da sua criatura, e diferentemente dela, Ele é eterno. 
Deus não está sujeito ao tempo, Ele não envelhece como as suas criaturas, para Deus não há tempo e todos os tempos são um eterno "agora" para Deus.


“Há todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia” (2 Pedro 3: 8).

A relação entre eternidade e independência é clara, afinal ele só poderia ser eterno se fosse independente. Pois, para ser eterno, Ele tem que sempre ter existido, e para sempre ter existido, não poderia jamais ter dependido de algo ou alguém para existir. Estas coisas estão relacionadas de tal forma, que se você eliminar um destes atributos, também eliminará o outro.


A IMENSIDÃO DE DEUS (Onipresença de Deus)

Voltando às duas categorias "tempo" e "espaço", vimos que o atributo de eternidade, relaciona Deus com a questão do "tempo". A imensidão de Deus, por sua vez, está ligada à categoria do "espaço". 
O raciocínio é o mesmo usado para a questão do tempo. Deus também criou o espaço quando criou o mundo, mas não se sujeitou à este espaço. Deus não existe no "aqui" ou no "acolá" - tudo é aqui para Deus.
A imensidão de Deus nos ensina que Ele é infinitamente maior que a sua criação e ao mesmo tempo não tem tamanho. Ele não pode ser medido, pois não se sujeita ao espaço. Está em todos os lugares ao mesmo tempo e de maneira completa. Contudo, nem todo o universo é grande o suficiente para contê-lo.

“Mas, de fato, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei” (1 Reis 8: 27).

A Bíblia trata o assunto com muita riqueza, e os servos de Deus devem também ter esta consciência, de Imensidão (Onipresença) de Deus, bastante viva na sua mente, isso irá nos ajudar a repensar até mesmo o nosso comportamento diário.

“Para onde me ausentarei do Teu Espirito? Para onde eu fugirei da Tua Face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá. Se eu digo: as trevas, com efeito, me encobrirão, e a luz ao redor de mim se fará noite, até as próprias trevas não te são escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa”.
Salmo 139: 7 à 12 

O crente, que tem consciência de que Deus está com ele em todos os lugares e momentos de sua vida, dificilmente irá manter uma vida cristã falsa. Sim, porque sabe que tudo o que faz, o faz na presença do Altíssimo. A nossa fé não se limita às quatro paredes de um templo, estamos em constante momento de relação com Deus. Afinal, todos os segundos da nossa vida se passam diante da face de Deus. Esta consciência deve nos levar à uma vida de santificação diária, e também de segurança diária, pois sabemos que Deus está sempre ao nosso lado. Leia Jeremias 23: 23 e 24.

“(...) para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós; pois nEle vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dEle também somos geração” (Atos 17: 27 e 28).

Paulo aponta para a onipresença de Deus como um atributo básico para o nosso relacionamento com Ele, afinal existimos e nos movemos nEle, pois está em todos os lugares.






domingo, 15 de dezembro de 2013

Usando Corretamente os Meios de Graça - Meditação TExtual Bíblica

Evidentemente, estamos tratando de uma única tarefa, que é o ato de meditar na Lei de Deus. Essa tarefa poderá ser levada a efeito, tendo por instrumento a “Meditação Ilustrativa”, que consiste no uso dos elementos ao redor com a finalidade de que as realidades exteriores ilustrem as verdades eternas, conforme ensinadas nas Sagradas Escrituras. Outro instrumento que já tratamos é a “Meditação Dogmática”, que se trata da recuperação da verdades aprendidas sobre Deus, trazê-las ao pensamento consciente e nelas considerar, procurando implicações práticas na vida cotidiana.
Agora, entretanto, continuaremos a busca da “meditação na lei de Deus”, enfatizando o uso do texto bíblico. Na verdade, diferenciamos esse método da “meditação dogmática”, por que a sua temática é concentrar o ato de meditar no próprio texto em si e não apenas nas doutrinas bíblicas.
Esse método aproxima-se do que, em Teologia é conhecido como “Teologia Bíblica”. Esse método teológico estuda as verdades bíblicas através do processo revelacional, procurando um entendimento mais completo dos propósitos revelacionais da Escritura. Também forma uma consistente visão do todo bíblico.
Exemplos Escriturísticos de Meditação Textual Bíblica
Devemos esclarecer, que não era uma preocupação dos escritores bíblicos, nem de suas personagens, qualquer distinção sobre métodos teológicos. Na verdade, eles simplesmente registravam o texto, ou viviam suas histórias segundo o Espírito lhes dirigia, vivendo sua vida com Deus de forma simples e prática.
Entre os maiores mestres bíblicos dessa prática meditacional temos o próprio Senhor Jesus. Várias passagens do Novo Testamento, dão conta de que ele se valia das passagens do Velho Testamento para aplicar aos seus discípulos a verdade escriturística a seu respeito.
Em Lucas 24.26, Jesus procura meditar no texto bíblico para levar os dois viajantes do Caminho de Emaús a refletirem sobre o seu desânimo.
“E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as
Escrituras” (Lucas 24.26).
Como podemos notar, o texto bíblico é o instrumento de Jesus para a exposição da verdade. Isso está acontecendo enquanto caminham na direção de Emaús e isto está provocando uma reação em seu coração, muito parecida com aquela descrita no Salmo 39.3 e 4.
“Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?” Lucas 24.32.
Como você pode observar, os elementos meditacionais estão bem presentes e eles partem do texto bíblico, no caso, de alguns textos nos Livros da Lei e nos Profetas (lembrando que os judeus consideram os livros históricos, também proféticos).
Em seguida, Jesus os deixa e o último elemento da meditação entra em ação, isto é, a “prática’. Os dois discípulos são restaurados no vigor da sua fé e partem na direção oposta, voltam para Jerusalém.
“E, na mesma hora, levantando-se voltaram para Jerusalém, onde acharam reunidos os onze e outros com eles” (Lucas 24.33).
Neste ponto, iremos utilizar menos exemplos e de forma mais sucinta, uma vez que tudo o que já foi dito em relação a alguns processos da meditação ilustrativa e dogmática, servirão para se aplicarem aqui, evitando, assim, a repetição.
Voltaremos nosso olhar para o livro de Atos, capítulo 8. Ali, vemos um homem lendo o texto bíblico, procurando meditar na mensagem de Isaías 53. Ele não entende e Filipe vem ao seu encontro e lhe ajuda no ato meditacional.
“Então, Filipe explicou; e, começando por esta passagem da Escritura, anuncio-lhe a Jesus” (Atos 8. 35).
Você pode notar que eles estavam andando na direção da terra do Eunuco, já na direção de Gaza, ao sul da palestina. Eles estão com o texto de Isaías e meditam nas implicações deste texto e, depois, lêem outros textos e meditando neles, chegam à Cristo Jesus e, certamente, o Eunuco é levado a pensar nas implicações práticas disto.
Em seguida, depois deste tempo juntos com o texto, eles chegam a um ponto em que o Eunuco deseja algo prático na sua vida, ele clama pelo batismo cristão. Então, Filipe o encaminha nesse compromisso de fé e depois o deixa.
“Seguindo eles caminho fora, chegando a certo lugar onde havia água, disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que seja eu batizado? Filipe respondeu: É licito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Então, mandou parar o carro, ambos desceram à água, e Filipe batizou o eunuco” (Atos 8.36 a 38).
Esse método, em tese, deve nos levar ao mesmo lugar, ou seja, uma consideração necessária ao ensino da Lei de Deus e suas implicações práticas na nossa vida. O objetivo é sempre uma mudança de conduta, a partir de uma mudança na mente, pelo aprofundamento da Palavra em nós.
Em ambos exemplos, podemos perceber que uma interiorização do texto bíblico acabou ocorrendo, isto é, aqueles que meditaram foram não apenas esclarecidos, mas o texto transformou-lhes a vida.
Esse método se aproxima muitíssimo das próprias pregações que ouvimos, que nada mais são que meditações textuais bíblicas dos pregadores que se tornaram em sermões para toda a comunidade. Você pode considerar esse método como uma pregação para você mesmo, procurando extrair dos textos bíblicos ensinos que se apliquem diretamente à sua realidade pessoal.
Neste sentido, essa método meditacional pode oferecer ao crente uma aproximação com a Escritura, treinamento no conhecimento da Palavra, mas principalmente, conformação da sua vida ao que ele lê na Lei de Deus, com a vantagem sobre o sermão de que as aplicações do texto não são genéricas, mas diretas às necessidades sentidas.
Descobrindo o Foco da Mudança da Mente
Procure descobrir o Foco da Sua Condição Decaída ao qual o texto se aplica diretamente. Esse conceito (FCD) é ensinado pelo Professor Dr. Bryan Chapell, um expert em pregação. Ele parte do princípio de que todo o texto bíblico tem uma aplicação redencional, isto é, a Escritura é a voz de Deus alterando nossa vida, promovendo a Redenção em nós.
“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Timóteo 3.16 e 17).
O FCD é aquela esfera particular do seu caráter, da sua prática de vida, suas circunstâncias etc, que são afetadas pela presença do pecado e que precisam ser alcançadas por uma mudança de mente, ou até mesmo o fortalecimento da sua mente, naquilo que ela já consegue pensar redencionalmente.
Evidentemente, esse passo pode ser dado em qualquer um dos outros métodos de meditação estudados até aqui, mas na “meditação textual bíblica” ele tem uma principal aplicação, pois o próprio Deus afirma que a sua Palavra promove mudança em nós.
“Guardo no coração a Tua Palavra para não pecar contra ti” (Salmo 119.11).
“Vós já estais limpos, pela Palavra que vos tenho falado” (João 15.3).
“Santifica-os na Verdade, a Tua Palavra é a Verdade” (João 17.17).
“E que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2 Timóteo 3.15).
Faça Aplicações Práticas
Infelizmente, temos vivido um evangelho muito teórico. Enfatizamos tanto a necessidade de conhecer a verdade e não nos despertamos para o fato de que o verdadeiro conhecimento da verdade exige aplicação prática à vida.
Bryan Chapell, tem uma frase maravilhosa sobre a falta de aplicações práticas nos sermões: “Não somos simplesmente ministros da informação; somos ministros da transformação de Cristo” (Bryan Chapell - Pregação Cristocêntrica - Ed. Cultura Cristã).
Em se tratando da “Meditação na Palavra”, não podemos nos esquecer de que o objetivo dessa ação não é o de apenas dizer para Deus que estamos fazendo algo. Não é o preenchimento de uma praxe, ou uma exigência, o objetivo é a transformação da nossa mente. Não existe razão em uma meditação, cujo objetivo seja tão somente criar uma rotina para satisfazer nossa consciência religiosa.
Essa é a crítica que Tiago faz àquele que busca a Palavra sem uma ênfase na mudança prática da vida. E, lembrando bem, isso foi também o que o próprio Cristo afirmou em Mateus 7.24 a 27.
“Porque se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem aventurado no que realizar (Tiago 1.23 e 25).
Evidentemente, a aplicação prática é o que precisamos em nossas meditações, pois não meditamos por outro motivo senão para a transformação da nossa mente e com isso, uma prática de vida que mostre o nosso novo ser redimido.
Quando você descobre o FCD, o texto tem apresenta aquilo que precisa ser transformado em sua mentalidade cristã, disto decorre que suas ações seguintes deverão se conformar ao seu FCD. Então, a aplicação prática deve gerar decisões.
Tome Decisões Redencionais
“Decisões Redencionais” são as respostas práticas que damos ao nosso ato meditacional. Na verdade, “Decisões Redencionais” são aquelas respostas que damos a Deus, sempre que ouvimos a sua voz.
Crentes devem decidir o que irão fazer com aquilo que ouvem da parte de Deus. Eles não podem simplesmente ouvir o que Deus tem a dizer, como se o que o Pai Celeste fosse apenas uma conversa casual sobre amenidades.
Deus está disposto seriamente a transformar nosso caráter pela sua palavra e nós ralentamos em ouvir e nunca decidir nada sobre nós mesmos.
Tiago, ainda nos ajuda a pensar nisso com as seguintes palavras:
“Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tiago 1.26 e 27).
“Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade” (Tiago 2.12).
Por isso, não retarde suas decisões diante da voz de Deus. Em suas meditações procure os locais escuros do seu caráter e ilumine-os, ou ainda, procure fortalecer a luz que está em você, escolhendo práticas que te tornem mais eficiente redencionalmente, na obra de viver para Deus.
Muitos livros podem reformar seu caráter, mas somente a Bíblia pode efetivamente transformá-lo (Joel Beeke). A meditação na Lei de Deus é a busca dessa transformação de uma maneira mais profunda e efetiva.

Regra de Fé e Prática
Na doutrina reformada a Bíblia é chamada de Regra de Fé e Prática. Isto implica em sua importância sobre o conteúdo do que cremos e sobre aquilo que decidimos praticar.
Os puritanos ingleses escreveram livros e livros sobre a prática cristã e, para eles, era fundamental que toda a atividade dos cristãos fosse diretamente baseada na Palavra de Deus. Dessa forma, descobriram que o Livro de Deus era uma fonte de conhecimento para a vida prática. Esse é justamente o pensamento dos autores bíblicos, quando se reportam às próprias Escrituras e nelas meditavam.
“Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina. Quanto aos homens idosos, que sejam, temperantes, respeitáveis, sensatos, sadios na fé, no amor e na constância. Quanto à mulheres idosos, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada (...), a fim de ornarem, em todas as coisas, a doutrina de Deus, nosso Salvador” (Tito 2.1 a 10).
O SENHOR, ao revelar sua vontade aos homens de forma escrita, não objetivava uma mudança apenas no conteúdo mental dos homens, mas delineava com isso, seu intenso desejo de que o homem aprenda a viver para Ele.
A ação de inculcar à mente humana a sua Lei sempre foi uma proposital maneira do Ser Divino de conduzir o homem a um modelo vivencial que tivesse a Ele próprio como centro. Tal atitude não esconde um egocentrismo divino, mas uma das mais abrangentes demonstração de amor por parte do Glorioso Criador, pois Ele bem sabe que viver para ele e adorá-lo é o supremo bem para a vida humana.
“Eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. Dar-lhes-ei um só coração e um só caminho, para que me temam todos os dias, para seu bem e de seus filhos. Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim” (Jeremias 32.38 a 40).
Portanto, uma vida de prática da Lei de Deus é a mais completa e desejada bênção que podemos alcançar. Isso nos transforma pessoalmente e nos torna pessoas mais vivas para Deus, ao mesmo tempo que agrada ao Supremo Senhor.