As Sete Trombetas
A seção das Sete Trombetas deve ser vista à
luz da seção anterior, os Sete Selos. Na verdade, as Sete Trombetas são um
desenvolvimento do Sétimo Selo, uma espécie de zoom nos acontecimentos
iniciados na abertura do Sétimo Selo.
As Sete Trombetas, portanto, devem ser
vistas no contexto da contagem regressiva para o final de todas as coisas, como
os acontecimentos mais próximos do último período da presente era.
Elas são os juízos de Deus derramados sobre
o mundo e são divididas em dois grupos, as quatro primeiras e as três últimas.
Essa distinção parece apontar para a natureza dos acontecimentos e dos juízos,
porque as quatro primeiras apontam para juízos sobre o mundo físico e as três
últimas afetam diretamente os homens na sua percepção emocional e espiritual da
vida.
Quanto à estrutura desta seção, temos também uma pausa na última trombeta, que parece indicar para uma espécie de novo clímax. Do mesmo jeito que o sétimo sêlo foi apresentado como um clímax e deu lugar às trombetas, a sétima trombeta, parece oferecer o espaço para a entrada de uma nova etapa, introduzida pela história do Dragão e do Filho (Cristo) e a chegada dos sete flagelos, introduzidos pelas quatro vozes.
As Orações dos Santos e as Trombetas
Neste primeiro momento, o que precisamos
destacar é o papel da seção de abertura do texto, o momento do silêncio que
toma a cena total do céu.
Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu cerca de meia hora. Então, vi os sete anjos que se acham em pé diante de Deus, e lhes foram dadas sete trombetas. Veio outro anjo e ficou em pé junto ao altar, com um incensário de outro, e foi-lhe dado muito incenso para oferece-lo com as orações de todos os santos sobre o altar de outro que se acham diante do trono e da mão do anjo subiu à presença de Deus a fumaça do incenso, com as orações dos santos. E o anjo tomou o incensário, encheu-o do fogo do altar e o atirou à terra. E houve trovões, vozes, relâmpagos e terremoto. Então, os sete anjos que tinham as sete trombetas prepararam-se para tocar (Ap 8.1-6).
Como já vimos em aulas anteriores, o uso de
passagens e figuras do Velho Testamento são muito frequentes no Apocalipse.
Neste caso, podemos nos valer de como os profetas anunciavam o silêncio como um
prenúncio do juízo de Deus:
O Senhor, porém, está no seu santo templo, cale-se diante dele toda a terra (Hc 2.20).Cala-te diante do Senhor Deus, porque o Dia do Senhor está perto (Sf 1.7).
Este silêncio, prenuncio do juízo, também
dá espaço a uma imagem de muito significado, a chegada das orações incensadas
dos santos. Esta cena, a que João dá especial atenção, aponta para uma
realidade que deve ser seriamente considerada sobre a relação de Deus com o seu
povo. Isto é, precisamos notar que a resposta do juízo de Deus contra os
inimigos da igreja, quer Ele que consideremos, é um resultado de nossas orações
piedosas e do clamor que erguemos aos céus, durante os dias de nossas maiores
dificuldades na presente era.
O incenso que é apresentado é uma
representação de como, por meio de suas intercessões, purifica nossa vida de
oração, isto é, nossas vida de oração ainda imperfeita é santificada diante do
altar de Deus, por meio, da ação santificadora de Cristo, nosso sumo sacerdote,
representado aqui pelo anjo que toma a taça de ouro e o incenso diante do Trono
de Deus.
Outro aspecto importante desta relação dos
santos com Deus, por meio das orações é que elas são ouvidas no Trono de Deus.
OU seja, todas aquelas noites de oração, as lágrimas que derramamos em nossas
preces, os lamentos da nossa alma, nos jejuns e todos estes momentos de nossa
devoção, entrega e piedosa busca, são respondidas diretamente por Deus.
As Quatro Primeiras Trombetas
Uma das características que unificam essas
quatro primeiras trombetas é a sua natureza material do alvo da ira de Deus.
Trombeta
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Juízo
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Alvo
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Primeira
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Fogo e Saraiva com sangue
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Mundo vegetal
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Segunda
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Chamas ao mar
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Vida marinha
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Terceira
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Estrela Absinto
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Vida nos rios
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Quarta
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Trevas
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Astros
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Uma das ênfases destes textos é que a
destruição produzida pelos atos de juízo sempre atinge a “terça parte” dos
diversos alvos. O significado desta descrição, possivelmente seja pela
limitação da área, ou seja, Deus derrama o seu juízo e ele ainda não é final,
mas mostra que Deus caminha para o derramar final do cálice de sua ira.
O mundo material é fortemente atingido e
não somente a humanidade é alvo da ira de Deus. O que temos, portanto, é Deus
revelando sua completa insatisfação com os homens e permitindo que seus atos de
juízo sejam uma espécie de alerta sobre o controle dEle sobre todas as coisas e
seu desagrado com os homens.
Com certeza, o alvo final dos atos de juízo
é a humanidade. Por isso, a transição entre a quarta e a quinta trombeta inclui
uma mensagem de alerta para os homens que vivem na terra.
Então, vi e ouvi uma águia que, voando pelo meio do céu, dizia em grande voz: Ai, ai, ai dos que moram na terra, por causa das restantes vozes da trombeta dos três anjos que ainda têm de tocar (Ap 8.13).
A figura da águia é acentuada pela sua
força de rapina. Ela se ergue e faz a sua voz ser ouvida em todos os cantos da
terra e a sua mensagem de alerta é um clamor com a finalidade de fazer os
homens se arrependerem, é a mensagem central do Evangelho. No entanto, a
impenitência é a marca do mundo incrédulo.
As Três Últimas Trombetas
Essas três últimas trombetas têm como alvo
os inimigos de Deus. Estes inimigos serão fustigados pela guerra e pela
malignidade dos próprios homens.
Trombeta
|
Juízo
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Alvo
|
Quinta
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Gafanhotos
do abismo
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Tormentos dos homens
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Sexta
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Quatro
anjos malignos
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Guerra e morte
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Intervalo
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O
Santuário e as Testemunhas
|
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Sétima
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A arca
da aliança
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Os flagelos finais
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A abertura do poço do abismo e a libertação
dos servos de Abandon ou Apolion é uma clara noção de que a malignidade dos
últimos tempos será muito maior. O tempo da grande tribulação também será
marcada por ser o período de uma libertação final de Satanás e o surgimento do
anticristo e o homem da iniquidade.
Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição (...) Então, será, de fato, revelado o iníquo a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação da sua vinda. Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira (2Ts 2.3-9).
Essa malignidade se materializa, principalmente
nas guerras que efetuadas a partir da sexta trombeta. Essas guerras, pela
magnitude dos exércitos e o seu poder destruidor são uma espécie de momento
singular de malignidade e ferocidade. Toda a terra sofrerá e o objetivo deste
sofrimento era o arrependimento que jamais acontecerá.
Foram, então, soltos os quatro anjos que se achavam preparados para a hora, o dia, o mês e o ano, para que matassem a terça parte dos homens. O número dos exércitos de cavalaria era de vinte mil vezes dez milhares, eu ouvi o seu número (Ap 9.15-16).
Os outros homens, aqueles que não foram mortos por estes flagelos, não se arrependeram das obras das suas mãos, deixando de adorar os demônios e os ídolos de ouro, de prata, de cobre, de pedra e de pau, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar, nem ainda se arrependeram dos seus assassínios, nem das suas feitiçarias, nem da sua prostituição, nem dos seus furtos (Ap 9.20-21).
Estas três últimas trombetas, portanto, são
uma descrição mais próxima do tempo da malignidade que marcará os últimos dias.
Entre a sexta e a sétima trombeta, temos uma descrição que é importante que
separemos espaço para falar dela.
A sétima trombeta é o ponto de clímax que
se abre para os flagelos que iremos descrever na próxima aula. Por isso, não
vamos falar muito sobre esta trombeta. Vale destacar apenas que esta trombeta
será iniciada pela Arca da Aliança de Deus que estava escondida no céu. Ou
seja, ela é uma clara resposta final da obra redentora de Cristo, simbolizada
no sangue da propiciação que é lembrado nas orações incensadas e santificadas
no santuário de Deus.
O Santuário e as Testemunhas Mártires
O
capítulo 10 abre com uma visão de um anjo gigante, este é o sentido de “anjo
forte”. Ele era impressionantemente grande e sua descrição apontava para ele
como uma figura excepcional.
Vi, outro anjo forte descendo do céu, envolto em nuvem, com o arco íris por cima de sua cabeça, o rosto era como o sol, e as pernas, como colunas de fogo; tendo na mão um livrinho aberto. Pôs o pé direito sobre o mar e o esquerdo sobre a terra (Ap 10.1-2).
Essa
descrição aproxima-se muito da descrição do próprio Jesus no capitulo inicial.
Entretanto, o que temos é o destaque para um livro e este livro recebe atenção
especial. Da mesma forma que o profeta Ezequiel é chamado a comer o livro e o
gosto do mesmo é sentido pelo profeta, aqui, novamente, essa figura do Velho
Testamento é usada para nos levar à clara conexão com a Escritura.
Fui, pois, o anjo, dizendo-lhe que me desse o livrinho. Ele, então, me falou: toma-o e devora-o, certamente, ele será amargo ao teu estômago, mas, na tua boca, doce como mel (...) Então, me disseram: é necessário que ainda profetizes a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis (Ap 10.9-11).
Este
ápice e este novo zoom dado ao texto tem como propósito apontar para a
Escritura e como ela deve ser usada pelo povo de Deus. Devemos perceber que
tudo isto está acontecendo na visão que aconteceu dentro do céu, mas deveria
ser compreendido como uma ação que sempre tem consequências na vida material do
povo de Deus.
Portanto,
o que temos a seguir é exatamente uma descrição da Igreja que luta na terra, a
qual foi medida, do mesmo modo como o texto do profeta Zacarias indica que a
igreja seria medida.
Foi me dado um caniço semelhante a uma vara, e também me foi dito: Dispõe-te e mede o santuário de Deus, o seu altar e os que naquele adoram (Ap 11.1).
Estas
figuras, apontam para a visão da Igreja e para a sua santidade. Esta linguagem
sobre a figura da igreja apontam para o oposto do que está acontecendo no mundo
maligno, isto é, enquanto naquele a incredulidade aumenta, na igreja o que se
espera é a crescente santificação.
Essa
santificação será lapidada pelas testemunhas que serão martirizadas. Bem, em
resumo, o que podemos compreender sobre estas figuras é que elas podem ser uma
representação do agir profético e proclamador da Igreja, na pregação do Evangelho.
Darei às minhas duas testemunhas que profetizem por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco (Ap 11.3).
Claro
que estas figuras são enigmáticas e pouco sabemos sobre elas. Em geral,
imaginamos que se tratam das pessoas de Elias e Enoque, os homens que não
morreram e voltariam para a terra, em uma espécie de testemunho especial até
serem finalmente mortos e ressuscitados, conforme os versos 9-11.
No
entanto, podemos seguir o que interpretou Willian Hendriksen e imaginar que
esta descrição seja figurada para falar da igreja que prega a palavra, o Velho
e o Novo Testamento e que muitas vezes é dada como morta para o mundo, mas que
sempre ressurge para testemunho da verdade.
A Sétima Trombeta – O Canto
da Vitória
Já
apontamos para a sétima trombeta como um clímax que abre o parênteses
descritivo focado nos sete flagelos. Mas devemos dizer também que a sétima
trombeta é também um canto de vitória.
O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: o Reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos (Ap 11.15).
Os
anciãos que se acham diante de Deus se prostram novamente e cantam ao Cordeiro
e rendem graças a Deus pela vitória do Rei e a chegada do tempo do fim:
Graças te damos, Senhor Deus, Todo-poderoso, que és e que eras, porque assumiste o teu grande poder e passaste a reinar. Na verdade, as nações se enfureceram; chegou porém, a tua ira, e o tempo determinado para serem julgados os mortos, para se dar o galardão aos teus servos, os profetas, os santos e aos que temem o teu nome, assim, aos pequenos como aos grandes, e para destruíres os que destroem a terra (Ap 11.17-18).
Essa
declaração se encerra com a abertura do céu e a visão da Arca da Aliança, uma
clara visão do pacto de Deus com o seu povo, promessa esta feita à Abrão e
ratificada em Moisés, Davi e Cristo Jesus.
Conclusão
Esta seção do livro de Apocalipse,
portanto, é uma seção que aponta para o fato de que Deus, em resposta às
orações de seu povo e de acordo com a sua Palavra e Aliança, irá se levantar do
céu, finalmente para fazer vingança aos seus filhos e trazer juízo contra os
inimigos de Cristo e da Igreja.
Precisamos destacar que esta visão aponta
para o modo como a malignidade irá crescer nos últimos dias e como também a
igreja deverá se santificar para estes dias. OU seja, o que todo crente precisa
trabalhar na sua vida com Cristo é confiança e santidade.
Tudo isto é controlado a partir do Trono e
das ordens do Cordeiro de Deus que está assentado no Trono e tem as igrejas em
suas mãos. Um aspecto importante da vida da igreja está ligada à sua fidelidade
ao livro e às profecias que nele estão contidas. Este é um dos pontos centrais
do livro de Apocalipse: quem tem ouvidos para ouvir, ouça e não despreze as
palavras da profecia.