terça-feira, 9 de setembro de 2014

Diálogo Abençoador - Aula Especial Para Casais

Introdução
Em geral, as pessoas se casam com a mesma expectativa de alguém que compra um carro novo. Eles imaginam que terão de se adaptar a um novo modelo de vida, mas que logo tudo estará sobre controle, porque pensam que o casamento é um produto acabado. Mas, com o passar do tempo, homem e mulher começam a encontrar dificuldades e pensam o seguinte: o problema é um defeito de fabricação e, então, é necessária uma troca de peças.
O casamento, diferente de um carro ou um eletroméstico, não é um produto acabado, que os problemas podem ser considerados erros de fabricação ou problemas inerentes do ano e do modelo. A questão é que o casamento é um produto que se adquire inacabado e precisa ser cultivado para que alcance a performance, em geral, desejada no início da vida a dois.
Esse curso considera algumas ferramentas que nos ajudam a cultivar e desenvolver o casamento. Nesta aula, olharemos para uma das mais importantes delas: o diálogo.
A ferramenta do diálogo será apresentada da seguinte forma: primeiramente, abordaremos os princípios bíblicos fundamentais para o diálogo saudável; em seguida, falaremos sobre as dificuldades específicas do homem e da mulher para desenvolverem um diálogo construtivo e abençoador; ao final, buscaremos aplicar os dois primeiros princípios para algumas situações práticas, como forma de exemplificar o que se pode fazer concretamente em situações mais específicas de cada casal.
Antes de começar, gostaria de orientar você para que tenha um melhor aproveitamento deste estudo. Primeiro, encare cada ponto levantado pensando de duas formas: encare e reflita sobre as suas falhas pessoais para empreender um diálogo; mas também encare e reflita sobre as dificuldades e falhas do outro para dialogar, neste caso, você não deve pensar em recolher informações para usar como arma de acusação, mas para criar estratégias para driblar estas mesmas dificuldades e conseguir exercitar um diálogo saudável e útil para o cultivo de um casamento maduro e desenvolvido.

Alguns Princípios Bíblicos Fundamentais para o Diálogo Abençoador
O que é necessário que pensemos neste momento é que Deus, o Criador, estabeleceu em sua palavra os princípios fundamentais para o desenvolvimento de todas as nossas potencialidades humanas. Ele conhece o nosso coração e dispõe a sua Lei como uma fonte de regulação, afinal nosso coração pecaminoso insiste em viver em rebeldia contra o Criador.
Você verá que as Escrituras propõem alguns princípios bíblicos norteadores do nosso diálogo. Desta forma, está nos ensinando o que fazer para que nossa boca e ouvido trabalhem em uma perfeita sintonia e, no caso da vida conjugal, desenvolva positivamente as potencialidades de felicidade que um casamento deve ter.
A Prioridade do Diálogo Abençoador Não é Falar
Quando um dos cônjuges chama o outro para terem um momento de diálogo, em geral, ele está pronto para dizer ao outro algumas coisas que estão guardadas e precisam ser resolvidas. Mas, o diálogo não deve ser encarado apenas como uma chance para você dizer tudo o que está “entalado”. A Bíblia apresenta o princípio bíblico do ouvir como uma das maiores virtudes de quem sabe dialogar.
Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar (Tiago 1.19).
Este texto está como proposição fundamental para que uma pessoa pratique realmente a palavra de Deus. Tiago, o irmão do Senhor, está ensinando os seus leitores a desenvolverem a capacidade de reflexão para a Palavra de Deus, que é a parte mais importante do nosso “diálogo abençoador com o Criador”.
Quando você chama uma pessoa para um diálogo, seu espírito deve se preparar fundamentalmente para o ouvir. Ou seja, você não deve ir para uma conversa com o seu cônjuge apenas com o coração pronto para dizer tudo o que está pensando, mas disposto a conhecer a queixa e as posições que o outro tem em relação a um assunto específico da convivência.
Geralmente nos armamos para o diálogo e nos dispomos mais em falar porque tratamos o momento do diálogo como um jogo de futebol: ataque contra defesa. Procure ir para o diálogo com uma proposta nova, a de realmente conhecer e refletir sobre as posições que o outro tem sobre o que está acontecendo. Se ambos estiverem prontos para ouvir o outro e a refletir sobre o que está sendo dito, vocês alcançarão a graça de identificarem com clareza as inquietações que estão transtornando o relacionamento conjugal e, se preparando para desenvolver estratégias para suprir necessidades e corrigir rotas.
A Temperança do Falar Deve Conduzir o Diálogo Abençoador
O potencial de destruição da nossa língua é apresentado nas Escrituras como um “mundo de inquidade” e um “veneno mortífero” (Tiago 3.6-8). Quando não somos cuidadosos com nossas palavras estamos envenenando o nosso relacionamento, muitas vezes sem perceber.
Por isso, a temperança no uso das palavras é um ato de sabedoria. Afinal, apesar do diálogo ser principalmente uma ferramenta do que deseja ouvir, ele se completa naquilo que falamos e como falamos ao expressar o nosso pensamento sobre as posturas e opiniões do outro.
A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes, como deveis responder a cada um (Colossenses 4.6).
Com certeza, ao apontarmos para o outro o que pensamos sobre o que estiver acontecendo no relacionamento, precisamos tomar muito cuidado para que nossas palavras não sejam tomadas de ira e animosidade. Desta forma, evitaremos começar nossa parte do diálogo fazendo do outro o nosso saco de pancada.
A temperança no falar é a arte de apresentar nossas proposições sem a disposição de ferir o outro. Por isso, este princípio bíblico se vale da expressão “palavra agradável”.
Palavra agradável não significa dizer somente o que o outro irá apreciar e se alegrar. Muitas vezes, precisamos pontuar sobre problemas e divergências entre o que pensamos ser certo e o que o outro está dizendo ou fazendo. Mas, a palavra agradável (“cariti em grego”) aponta para uma forma construtiva de apresentar sua queixa ou proposição. Lembre-se do princípio dado por Salomão em provérbios 15.1, a palavra branda afugenta o furor.
Em outras palavras, quando em um diálogo estivermos falando, devemos nos ocupar de usar palavras que sejam realmente propostas de graça para a vida do outro, como que transmitindo ao outro uma intenção de vê-lo crescer e melhorar em tudo. Isso nos leva ao próximo princípio.
O Diálogo Abençoador é Um Instrumento de Edificação
Muitas vezes, o que as pessoas mais querem quando chamam a outra para um diálogo é ter a oportunidade de mostrar os erros e desmontar o outro. Mas o diálogo abençoador não é uma ferramenta de desconstrução e sim de edificação de um relacionamento melhor.
Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe; e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem (Efésios 4.29).
O texto bíblico está nos chamando à verdadeira prática da Lei de Deus. Acredito que neste ponto, o mandamento que está em tela é o “Não dirás falso testemunho”. Este mandamento não é apenas uma ordenança contra a mentira, mas toda e qualquer forma de conversa que não produza o bem do próximo e cuja finalidade seja a destruir o próximo.
Sem comentários para aqueles casais que perdem o respeito mútuo com o uso de palavras de baixo calão para se comunicarem. Acredito que podemos considerar que todos já sabem que esse é um estágio de completa ruína do diálogo. Mas, vamos voltar ao princípio que desejamos estabelecer por aqui.
O diálogo abençoador tem como ponto de partida o propósito de melhorar e desenvolver o outro, conduzindo-o a postar-se com mais sabedoria e maturidade na vida conjugal e em todos os sentidos.
O texto começa de uma forma negativa condenando o uso de palavras que destroem, mas propõe uma intencionalidade ao não se limitar à controlar as palavras destrutivas e sim propor o uso de palavras que sejam “boas ou úteis para a edificação” (agathos pros oikodomen).
O escritor usa a palavra casa (oikos) como raiz da construção da expressão, o que é muito significativo para que casais pensem em usar do diálogo para a construção do seu lar e não para a destruição. Lembre-se que a palavra “boa” tem sua raiz em “ágape”, o verbo grego usado para descrever um “amor” especial, mais sublime e lapidado.
Quando sua intenção em ter um diálogo com o seu cônjuge é de levá-lo ao crescimento e amadurecimento, lembre-se também de que este é o seu papel primordial: você está casado para servir o outro e não ser servido. Ou seja, você não está fazendo um favor ao outro, mas cumprindo sua obrigação. O serviço que você deve prestar ao outro é o de vê-lo, cada vez mais, amadurecido e parecido com Jesus Cristo, nosso alvo de imitação (Efésios 4.13 e 5.2). Este aspecto está pontuado na expressão “transmita graça aos que ouvem”.  
O Diálogo Abençoador é Uma Ferramenta Para Autoavaliação
Em geral, somos conduzidos ao diálogo sempre com uma perspectiva de propor que o outro se avalie e repense suas posições e ações. Mas, o princípio que aprendemos na Escritura é que não devemos nos tornar juízes e sim estar prontos para nos autoavaliar sempre.
Não julgueis para que não sejais julgados. Pois, como critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? OU como dirás a teu irmão: deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão (Mateus 7.1-5).
NO diálogo abençoador, antes mesmo de apontarmos os erros do nosso cônjuge, devemos pensar com sinceridade e com critérios mais críticos sobre os nossos próprios erros. Não somos proibidos de apontar o erro do outro ou mesmo de desejar abençoá-lo ajudando-o a mudar. Entretanto, antes de tentarmos fazer isto, devemos perguntar a nós mesmos sobre em que estamos colaborando para aquele erro, ou quais são os nossos erros que favorecem que o outro erre.
Outro aspecto deste princípio do diálogo abençoador é que o nosso critério deve ser o de nos julgarmos com mais cuidado e peso, do que o fazemos com o outro. Este aspecto está contemplado no tamanho dos impedimentos que está presente em nosso olho (a trave). Afinal, quando se trata do erro dos outros somos mais severos e detalhistas, mas, quando se trata de avaliar os próprios, temos a tendência a encontrar justificativas e sermos complacentes.
Vá para um diálogo abençoador tendo feito a sua autoavaliação primeiro. Diga ao outro que você compreende que parte do seu erro é proporcionado por você e que ambos precisam melhorar, como você já identificou a sua parte. O seu cônjuge, se estiver trabalhando com o mesmo critério também seguirá este caminho e vocês estarão mais prontos para perdoar e serem perdoados.
O Diálogo Abençoador é Uma Ferramenta do Amor
Amor, antes de ser um sentimento, deve ser considerado uma atitude. O ponto é que usaremos a ferramenta do diálogo abençoador para que pratiquemos o amor, como regra fundamental de toda a vida, pois este é o nosso dever para com todos os homens.
A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei (Romanos 13.8).
Às vezes, o casal tem problemas para o desenvolvimento de um  diálogo abençoador justamente porque acreditam que falta amor entre eles para este exercício. Mas, o ponto que acredito ser muito relevante aqui é que esta é uma ferramenta para o desenvolvimento da prática do amor. Porque se trata de uma ferramenta que primeiramente nos leva a um quebrantamento pessoal, na medida que antes de julgarmos o outro já nos julgamos a nós mesmos; a ferramenta não é uma arma do falar, mas um desejo prioritário de ouvir; deve ser usada para o crescimento do outro e não para desmontá-lo e deve ser permeado de palavras brandas e cheias de amor temperante.
Estes são apenas “alguns” princípios bíblicos para um diálogo abeçoador, capaz de promover o amor entre os cônjuges e desenvolver todas as potencialidades de felicidade do casamento.
Você poderá, lendo a Bíblia, descobrir muitos outros princípios que o ajudarão no desenvolvimento de um diálogo abençoador e desejamos que esta seja uma tarefa sempre desenvolvido entre os casais que decidiram que sua vida será para a glória do Senhor.

Alguns Limitadores de Homens e Mulheres Que Interferem no Desenvolvimento de Um Diálogo Abençoador
Homens e mulheres são seres complementares, mas muito diferentes. Esta diferença não deve ser encarada como um problema, mas como a mais interessante condição para a complementaridade de ambos. No entanto, algumas destas diferenças podem muito interferir no desenvolvimento de um diálogo abençoador se não as levarmos em consideração quando iniciarmos o processo.
Nem todos os homens e mulheres são absolutamente iguais, mas em geral, homens assim como mulheres possuem características que marcam o seu gênero e que podem ser identificadas. Mas, como nem todos são absolutamente iguais, pode ser que a pessoa com quem você casou tenha alguns aspectos que não corresponda às nossas afirmações. Isso pode ser bom, mas mesmo assim, dentro de cada característica é preciso aprender o que é necessário para se construir um casamento maduro por meio de um diálogo abençoador.
Vamos abordar apenas alguns aspectos diferenciais entre homens e mulheres, principalmente aqueles que interferem mais diretamente para o desenvolvimento do diálogo abençoador. Sigo aqui, em parte, o que escreveu David Clarke em seu livro “Homens São Ostras e Mulheres Pés de Cabra”. 
Homens Querem Controle e Mulheres Segurança
Entre as diferenças mais fundamentais apresentadas por Clarke e que interferem na construção de um diálogo abençoador, encontramos essa premissa: homens querem controle e mulheres segurança.
Verdade é que, às vezes, encontramos casais em que as mulheres desejam ser controladoras e os homens buscam a segurança. Mas, no geral, isso não é comum. Mas voltaremos a falar destes tipos diferentes após algumas considerações.
Os Homens e o Seu Controle
Mulheres precisam saber que, quando dizem para o seu esposo: “precisamos conversar”! Ele entra em um processo de pânico generalizado e se desestabiliza. Em geral, ele não responderá nada na hora e aquela sua expectativa de que ele irá deixar tudo, sentar-se na mesa naquele exato momento e começará a te ouvir será complemente frustrada.
Você em seu coração estará pensando o seguinte: ele não me ama ou ele não está nem aí comigo. Mas, na verdade, ele está tentando reaver o controle daquela situação, afinal, ele não irá para a mesa, para um diálogo se não tiver certeza de terá algum controle daquela situação.
Deus criou homens e mulheres com a característica da complementaridade. Eles, na verdade, são propositadamente criados diferentes para que exerçam a funcionalidade de ajudar o outro a desenvolver o seu potencial humano e a capacidade de espelhar para toda a criação o Deus vivo do qual são imagem e semelhança.
Por isso, podemos dizer que Deus criou o homem com algumas características para que desenvolva todo o seu potencial em ajudar a mulher a ser um reflexo do seu Deus e Criador. Uma destas características para o desenvolvimento do potencial masculino é a inclinação natural para o controle.
O próprio diálogo entre Adão e Deus, no momento em que é descoberto o seu pecado é bem ilustrativo, porque Adão não admite o seu fracasso, ele apenas diz que o problema foi da mulher que Deus havia lhe dado (Gênesis 3.12). Adão está procurando o controle da situação.
Ainda neste ponto, um pouco antes, quando ele percebe que Deus estava se aproximando, mas tinham percebido a sua nudez, Adão se escondeu e se cobriu para que não fosse pego naquele momento despreparado (Gênesis 3.7.8).
Não é um defeito do homem, mas uma característica. O ponto é que o pecado transformou parte desta característica em fraqueza, na medida em que o homem passou a fazer do controle uma arma de autoproteção e não uma ferramenta para o desenvolvimento para que alcance a graça de servir à sua mulher. O controle do homem deveria capacitá-lo a discernir melhor o perigo, reunir forças e equilibrar estratégias para proteger e aumentar o senso de segurança de sua esposa etc.
Mas, quando uma mulher chama o seu marido para o diálogo, o cérebro controlador do homem já programa uma saída para aquela situação e a mulher, não entende, acha que ele é um covarde ou que está escondendo algo, que não quer dizer. Bem, o que fazer?
Você mulher precisa conhecer seu marido e essa sua característica e chamá-lo para uma conversa de uma maneira que ele se sinta a vontade para sentar-se à mesa com você, sem sentir seu controle ameaçado. Pois toda vez que se sentir sem o controle da situação ele terá enormes dificuldades para um diálogo e, se não tiver como se desvencilhar de você, estará na defensiva o tempo todo.
Talvez, as mulheres poderiam dizer o seguinte: amor, que tal a gente falar sobre a troca do sofá, me diga o que você está pensando sobre isso! Ou ainda: como você pretende que façamos a troca do chuveiro!
Homens, o que fazer quando a situação não favorece o seu controle? Sei que você pensa em sair e passar algumas horas fora daquele ambiente, mas você precisa saber que do outro lado da mesa, tem uma mulher que precisa de algumas respostas e que está fazendo estas perguntas baseada no fato de que ela precisa da segurança de que você irá agir.
As Mulheres e a sua segurança
Da mesma forma, Deus criou a mulher com algumas qualidades complementares ao homem, uma delas, que ajuda muito o homem a desenvolver o seu mais elevado potencial humano que é o de cuidar bem da sua esposa é o senso de segurança. Mulheres precisam se sentir seguras.
A primeira vista, as mulheres pensam que isto não é uma qualidade positiva, mas uma fraqueza. Entretanto, desejo que compreendam que seu senso de segurança trás equilíbrio ao homem, na medida em que ele abraça a sua responsabilidade de lhe oferecer isto, assim como trás o equilíbrio para a vida de ambos, impedindo que o senhor “Tarzan” pegue a família e saia pulando errante de cipó em cipó. Parte importante da saúde emocional e do desenvolvimento equilibrado do lar é promovida por esta necessidade de segurança que a mulher espera receber do homem.
Então, meu amigo Tarzan, quando sua mulher lhe chama a sentar-se à mesa do diálogo, você deve saber que ali está alguém buscando em você uma palavra segura e não apenas um controle manipulador, senão uma palavra que conduza o lar a um maior equilíbrio.
Você, como não está à vontade com a sua falta de controle da situação, tenderá a escapar daquela conversa ou trabalha-la de forma evasiva ou defensiva. Pense que isso não satisfaz a necessidade da sua mulher e, então, programe sua mente para que opere naquela situação de uma maneira que do outro lado da mesa, a mulher se sinta segura de que você está realmente pensando e considerando importante aquela situação.
Clarke, com muito bom humor, lembra-se da figura dos trens apresentada nos filmes americanos, em que uma mulher fica na plataforma, se despedindo do seu marido que vai para a guerra, ou algo assim. Este trem é a busca masculina por controle, mas ele não pode fazer uma viagem indefinida, pois na plataforma tem uma mulher que está aguardando-o retornar com uma palavra de segurança. Você não pode deixar as questões da convivência conjugal indefinidas.
A Bíblia diz que o homem deve tratar a mulher com todo cuidado e respeito, considerando que ela é o vaso mais frágil (1 Pedro 3.7). Neste texto, em particular, ele pede ao marido que “viva a vida comum do lar com discernimento”. Estas palavras mostram a importância do marido ser uma pessoa presente nas discussões e necessidades da família.
Jornal e Bola de Cristal
Mulheres e homens possuem muitas outras dificuldades e limitações para o diálogo. Em geral homens precisam de informações claras e precisas para que possam trabalhar alguns assuntos e  mulheres, por serem mais intuitivas, trabalham também com certos pressentimentos, o que chamam de “sexto sentido feminino”.
Então, quando homens e mulheres estão desejando ter um diálogo, eles precisam  saber que sua linguagem também é diferenciada e portanto, precisam saber lidar com essas diferenças.
O Jornal Masculino
Mulheres precisam saber que os homens não compreendem o que aquela fita presa no seu cabelo significa. Deixe-me explicar.
Conheci uma senhora, pessoa muito agradável no geral, mas que tinha uma mania. Quando estava irritada, ela prendia uma fita vermelha no cabelo e esperava o seguinte: que o seu marido soubesse que ela estava irritada. Ele, por sua vez, não era muito bom com esta linguagem figurada e sempre dava alguma mancada, mesmo com o sinal vermelho luminoso na cabeça da sua mulher.
Os homens, em geral, trabalham com as informações mais claras, como nos jornais. Ele precisa de uma manchete que seja bastante objetiva: você está vendo esta fita no meu cabelo, sempre que ela estiver aí, é porque eu estou irritada e preciso conversar com você sobre algumas coisas.
Mulheres não esperem que os homens adivinhem exatamente o que você está pensando, eles precisam de uma informação mais objetiva. Eles não sabem lidar com bola de cristal.
Por outro lado, fazendo um pouco um exercício mental, os homens devem começar a descobrir os padrões enigmáticos de sua esposa e assim aprender a ler onde não tem nada escrito. Ou seja, homens devem se libertar um pouco destas limitações e começarem a perceber melhor as reações não verbalizadas e aprender a lidar com a mulher e sua bola de cristal.
A Bola de Cristal Feminina
As mulheres se orgulham de seu “sexto sentido”. Uma vez, um renomado psicólogo me disse que este sexto sentido feminino é real e deve ser realmente considerado. Como sou homem, fiquei cético quanto a isto, mas devo admitir que a sensibilidade feminina dá a elas uma certa vantagem de percepção da realidade. Homens, quando uma mulher disser: isto não vai dar certo. Pense um pouco mais. Se ela disser, não estou gostando de tal coisa. Você seria sábio se parasse para pensar um pouco mais sobre isso.
O ponto que os homens devem principalmente compreender é que existe uma necessidade de se entender a linguagem não falada e indireta que as mulheres usam. Caso você não esteja compreendendo, procure dizer a ela que não está entendendo, mas não faça de conta que não está acontecendo nada. Isso só piora o desenvolvimento de um diálogo abençoador.
É evidente que esta linguagem não falada da mulher, que para o marido é mais parecida com uma “bola de cristal” que você olha dentro  e só vê formas indecifráveis, é um desafio descomunal para o homem que espera exatamente saber o que está acontecendo.
Ele não sabe exatamente do que se trata aquela fita no seu cabelo, então, das duas uma, ou correrá o risco de adivinhar e poderá errar redondamente, ou se calará até que você esqueça o assunto ou ele tenha condições de se sentir no controle novamente.
Este complexo e maravilhoso mundo da sensibilidade e sentimentos femininos são um desafio para os homens. Eles se sentem perdidos e sem parâmetros claros para decidir.
Geral e Específico
Homens gostam de temas mais gerais e mulheres são inclinadas a assuntos específicos. Ou poderíamos dizer que os homens preferem atuar em coisas macro importantes, mas mulheres são detalhistas.
Clarke usa uma ilustração que é uma das minhas prediletas. Ele imagina um diálogo entre Adão e Eva logo depois de terem sido expulsos do Éden. Adão, como sempre, preocupado com questões macro: o que iremos fazer para sobreviver agora e Eva, desejando maiores explicações sobre o que ele quis dizer com “a mulher que tu me deste”. Ele procurando um lugar para se abrigarem naquele dia e ela desejando discutir sobre o que realmente estava acontecendo com eles.
As duas coisas são importantes, mas elas precisam se respeitar para que as coisas andem bem. Homens podem e devem se preocupar com coisas maiores, mas quando desprezam os detalhes isso pode trazer consequências nefastas para a vida a dois. Por exemplo: o chuveiro não basta estar saindo água, ela deve estar quente na temperatura desejada. Na pia não basta ter uma torneira, ela precisa ser na altura certa para se lavar uma panela de pressão.
O outro lado desta discussão é que as mulheres precisam compreender que não só de detalhes vive o homem. Ele estará sempre mais inclinado a pensar de forma mais ampla. Então, quando ele disser que seria bom vocês pensarem em comprar um carro novo, porque este atual está gastando muito com manutenção, não adianta muito, nesta hora dizer a ele que seria muito melhor ele colocar uma lâmpada na garagem.
Enfim, o que desejo que todos reconheçam é que por sermos seres complementares e termos sido criados com diferenças, não precisamos considerar que estas diferenças sejam problemas para nós. Elas, na verdade, seriam muito úteis para que complementássemos um ao outro.
O diálogo abençoador precisará ser desenvolvido levando-se em consideração estas diferenças e lidando com elas da melhor maneira possível.

Aplicando os Princípios Bíblicos e o Conhecimento das Dificuldades Masculinas e Femininas em Situações Possíveis de Diálogos Entre Casais
Nesta parte da lição iremos propor algumas situações hipotéticas, mas bastante possíveis de diálogo entre cônjuges e que apresentem potenciais para a aplicação de “diálogos abençoadores”. Também poderemos tomar alguns exemplos práticos levantados pelos próprios alunos.
O objetivo aqui não é tentar levantar problemas sérios e tecer possibilidades de solução para questões pessoais, mas apresentar aos alunos como situações reais, das mais simples às mais complexas, podem ser tratadas aplicando o material apresentado nas sessões anteriores.
Situação Hipotética 1 - Decisão Financeira Sobre os Gastos do Mês
Descrevendo a Situação
Eles estão com um orçamento muito apertado. Ambos trabalham fora, mas os gastos estão espremendo o orçamento e precisam urgentemente fazer uma revisão dos custos da família. Na lista de cortes coisas que ambos acham que o outro poderia abrir mão, mas o outro resiste. Ele está decidido a diminuir drasticamente os serviços de estética do cabelo, ela pensa que a família não precisa de uma assinatura do canal pago para assistir os jogos de futebol.
Forma de diálogo sem aplicação de princípios e conhecimento das dificuldades
Ele está com as contas nas mãos e diz para ela: não acredito que você gastou R$200,00 reais para cortar o cabelo. A resposta imediata é a seguite: não cortei o cabelo somente, aliás, eu não corto o cabelo todo mês, já você, todo mês paga aquela porcaria de televisão que só você assiste, porque aqui em casa, todo mundo deve pagar os seus gostos, mesmo sem gostar de futebol. Eles já começaram mal, não precisamos ir muito em frente para imaginar onde essa conversa irá acabar.
Aplicando Princípios do Diálogo Abençoador
Ele sabe que é necessário fazer um corte no orçamento e encontrara algum folga financeira, ela também. Inicialmente, ambos pensam no corte do gasto do outro. Ele acha o gasto como cabelo bastante elevado e poderia ser reduzido. Ela, por sua vez, acha desnecessário o gasto com um canal pago só para assistir futebol. Mas, antes de se sentarem para conversar, ambos procuram fazer uma revisão pessoal da sua parte do problema.
Ela pensa exatamente sobre o seu gasto com cabelo e pesquisa uma redução, talvez uma outra cabeleireira mais em conta. Ele fica meio chateado, mas admite que o gasto com o canal pago é uma extravagância. Ela também acha que o futebol é supérfluo, mas considera que ele tem pouco tempo de lazer e isso faz com que ele descanse um pouco em casa. Ele, mesmo não entendendo porque ela precisa tanto da pintura do cabelo e dos alisamentos, compreende que isso a ajuda a se sentir bem. Eles se sentam para conversar e chegam a um acordo: ambos abrirão mão e diminuirão seus gastos. Ele vai cortar o canal pago, afinal, a televisão aberta tem jogos ao vivo todas as semanas e ela, resolve procurar uma outra cabeleireira que cobre menos por um serviço de boa qualidade.
Os princípios aplicados aqui foram:
1) Ambos decidiram que a conversa sobre os gastos não seria usada para apontar o erro do outro;
2) Eles perceberam que antes do diálogo, seria melhor fazer uma revisão pessoal sobre a sua parte do problema;
3) Ele considerou que era a sua parte vê-la melhor e ela considerou a felicidade dele como algo importante e determinante para resolver a questão;
4) Eles fizeram do diálogo um momento para praticar o amor.
5) Em um diálogo real outros elementos poderiam estar presentes, tais como, palavra temperada, o modo como a mensagem é apresentada para ele e para ela (jornal e bola de cristal), assim como os outros elementos de respeito (o controle masculino e a segurança feminina).    

Situação Hipotética 2 - As Crianças Vão Mal na Escola e Eles Precisam Resolver Alguns Problemas
Descrevendo a Situação
Dois filhos do casal estão muito mal na escola e ameaçam reprovar. Eles consideram o problema grave e ambos acham que o outro deveria fazer algo. Ele pensa que ela não tem acompanhado direito o desenvolvimento das crianças. Ela, por sua vez, acha que ele deixa tudo para ela resolver e se omite na situação. Já discutiram sobre isso antes e estão meio ressabiados com o assunto. NO entanto, a escola convocou os pais para comparecer na reunião com os professores. Eles precisam tratar do assunto.
Forma de diálogo sem aplicação de princípios e conhecimento das dificuldades
Quando ele chega em casa, ela, que já leu a carta da escola convocando os pais para a reunião, está calada e não o recebe muito bem. Ela tem em mente dizer para ele que vá à reunião ouvir o que o professor tem a dizer. Ele, não sabendo ainda do que se trata, percebendo o clima negativo, senta-se no sofá e não toca no assunto. Ela, não aguentando mais, joga a carta no colo dele e pede que ele decida o que irá fazer. Ele, começa a dizer a ela que quem tem de ver essas coisas é ela. Com esse início, você pode imaginar onde a conversa pode chegar.
Aplicando Princípios do Diálogo Abençoador
Eles estão com problemas com a vida escolar das crianças e precisam resolver a questão. Ela está com a carta na mão e pretende dividir com ele a responsabilidade, pois até aqui, ele parece não se envolver com a situação. Ele, por sua vez, reconhece que não tem feito muito, mas ainda assim pensa que ela poderia ter feito mais.
Quando ele chega, ela tem um assunto difícil para tratar, a carta que chegou de convocação para a reunião com o professor. Então, ela espera ele entrar, o cumprimenta naturalmente e, depois que ele toma um banho, fala para ele vir à cozinha, onde ela lhe diz: Estou preocupada com as crianças, sei que não tenho feito tudo o que posso, mas sinceramente, me sinto limitada para fazer algo, será que você pode me ajudar? Ele, percebendo na fala dela que está pedindo ajuda e está aflita diz: Mas o que está acontecendo? Sei que as crianças não vão bem, eu mesmo me culpo por isso, mas o que te deixa tão aflita?
Ele se oferece para ir à reunião com ele e se compromete em ajudar nalguma coisa. De qualquer forma, combinam que irão atuar juntos para ajudar as crianças.
Os princípios aplicados aqui foram:
1) O problema não pertencia apenas a um, mas ambos, então o diálogo tinha a finalidade abençoar ambos e à família. A conversa não seria um troca de acusações, mas uma iniciativa para que pudessem atuar juntos na solução - aplicando o princípio do diálogo como ferramenta de crescimento e não de acusação;
2) Ela sabe que ele tem uma inclinação para o controle, então não usa da pressão como instrumento do diálogo, mas precisa dele ajudando e não se defendendo de acusações, então se vale disso para pedir a ele que assuma o controle dessa situação - aplicando o conhecimento da inclinação masculina para o controle;
3) Ele, por sua vez, a vê insegura e sabe que se ele não der uma resposta e tenha uma atitude que a confortem, não conseguirá solucionar um problema e terá dois ao final. Então, procura naquela hora mostrar-se presente e pronto para cuidar que ela esteja bem - aplicando o conhecimento criacional da necessidade feminina de segurança;
4) Ela sabe que precisa de uma linguagem direta, então resolve falar claramente o que está sentindo. Ele, por sua vez, sabe que ela está triste, pois sua postura ou tom de voz está dizendo mais que as palavras - ambos usam o principio de compreender a modo de comunicação peculiar de cada um;
5) Ambos fazem uma colocação sobre sua parte do problema - usam o principio da autoavaliação antes do diálogo;
6) Eles usam este diálogo para exercitar o amor um pelo outro e pelos filhos e decidem que ambos irão se unir para vencer essa dificuldade.
7) Mais uma vez, podemos dizer que outros elementos podem estar presentes numa conversa real sobre esse tema.

 Conclusão
Esses são apenas alguns princípios para o exercício de um diálogo abençoador. Seria muito importante que a constante leitura da Palavra nos oferecesse mais e mais elementos para que um verdadeiro hábito de dialogar para o crescimento se instalasse no nosso modo de enfrentar as crises.
Evidentemente, os exemplos citados, são apenas ilustrativos de possibilidades e cada casal tem a sua peculiaridade e o conhecimento que marido e mulher vão tendo um do outro pode ser um grande auxílio para a condução do modo como tratam dialogicamente seus problemas.
É muito importante lembrar o que dissemos no início, que o casamento não é um produto acabado, mas, como uma lavoura, precisa de cultivo, cuidado constante e a colheita de bons frutos está diretamente ligada a um bom cuidado.




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