domingo, 22 de setembro de 2013

Santificação Como Um Processo Inteligente

Introdução
A santificação não é um processo de gradual amadurecimento passivo, ocorrido por uma mecânica mística. Ao contrário, trata-se de um processo consciente e sinérgico, isto é, envolve inteiramente os mecanismos da razão, vontade e emoção humana.
Nessa aula, vamos nos deparar com a função cognitiva na construção de nossa santificação pessoal e perceber que a Escritura apresenta a santidade como um dever individual diante de Deus.
O Dever de Uma Vida Santificada
O primeiro passo a considerar nessa matéria é assumir que a santificação é uma responsabilidade que Deus cobrará de cada um de nós.
Em Hebreus 12.14, o escritor bíblico deixa claro esse princípio ao dizer:
Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb. 12.14).
O termo traduzido por “segui” (diôquete) vem grafado no imperativo e impõe a paz e a santificação como elementos a serem alcançados necessariamente.
Quando estudamos o termo Kadosh, no Antigo e no Novo testamentos vimos duas ênfases mais comuns para o mesmo: o ideal de purificação e o de consagração. No caso do escritor aos hebreus ele está sugerindo que a consagração da vida deles (Olhando firmemente para o autor e consumador da fé - verso 2) seja entrelaçada como causa e efeito do processo de purificação e abandono do pecado (desembaraçando-nos de todo peso e do pecado - verso 1).
Para ele, esta é uma das mais importantes e necessárias lutas que ocorrem no âmbito da nossa individualidade vivencial nessa terra e precisa ser encarada com a máxima sinceridade e discernimento.
Ora, na vossa luta contra o pecado ainda não tendes resistido até o sangue e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: filho meu, não menospreze a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo o filho a quem recebe (Hebreus 12.4-5).
Deus não criou uma estrutura de correção para mudança do nosso caráter sem que desejasse com isso que houvesse uma participação ativa de nossa consciência no processo. Por isso, devemos investir em uma participação consciente e eficiente de nossa mente em todo o processo de santificação da nossa vida.
Santificação Como Um Processo da Inteligência Ativa do Ser Humano
Algumas vezes, o protestantismo histórico foi acusado de ser uma fé puramente racional. Evidentemente, não é justa essa acusação, pois, ainda que primemos por uma participação consciente da razão no mecanismo da santificação, entendemos que outros elementos da inteligência, como a vontade e a emoção estão claramente presentes e precisam ser considerados. Além, é claro, da obra imprescindível do Espírito Santo, sem o qual, nenhuma voluntariedade é despertada no ser humano.
Contudo, de fato, a fé reformada considera de forma muito importante a participação efetiva da racionalidade humana no processo de mudança de paradigmas vivenciais diante de Deus, os quais nos movem para um viver que agrada ao Criador.
Santificação e Padrão de Santificação
Quando a Escritura apresenta Deus como o paradigma da santificação, ela está propondo uma reflexão comparativa e isto se configura em um processo de uso da inteligência.
Santos sereis, porque eu, o Senhor sou santo (Lv 19.2).
Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo (1Pe 1.14-16).
Como é possível notar nesses textos, a santificação é um processo de padronização dos filhos ao seu Pai Celestial que é santo. Para tanto, uma avaliação da santidade de Deus é necessária para que eu compreenda o que é santificação. Em outras palavras, devo desenvolver habilidades cognitivas para o discernimento do padrão e eficaz aplicação na minha vida.
Um exemplo emblemático dessa ação comparativa é o caso de Isaías que esteve no templo e viu o Senhor, percebendo assim sua indignidade pecaminosa (Is 6.1-5). A percepção da realeza e pureza do Senhor (Santo, santo, santo...), conduziram Isaías a uma autorreflexão e ao processo de quebrantamento e prostração, para que depois disso, fosse conduzido à santificação.
Cristo Jesus, como varão perfeito, é apresentado na Escritura como paradigma de imitação e verdadeira santidade. Por isso, precisamos do exercício racional do discernimento de quem é Cristo para que possamos nos moldar a esse modelo.
Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, como aroma suave (Ef 5.1-2).
Calvino insistia nesse modelo de discernimento como princípio do processo de santificação. Nas Institutas, sua obra magna, ele apresenta o conhecimento de Deus como um fundamento do autoconhecimento. E, diferentemente da “Devotio Moderna” (movimento católico romano de retomada da santificação como padrão de vida, durante a Idade Média - pesquisar sobre Thomas Kemps a Imitação de Cristo), Calvino não propunha uma busca da santificação pela condução mística da vida.
Ainda que aceitemos que muitos dos temas propostos por Thomas Kempis tenham ressonância nos Escritos de Calvino, este se propõe a um modelo de transformação ativa e não passiva, quando retrata o processo da santificação. Em outras palavras, Calvino considerava que a verdadeira santificação seria proveniente de um conhecimento ativo de Deus e Cristo, que seria um processo sinergético em que o Espírito Santo conduz o nosso espírito a ter consciência e clamar “Aba Pai” (Rm 8.15-16).
Jamais o poderá alguém conhecer devidamente que não apreenda ao mesmo tempo a santificação do Espírito. (...) A fé consiste no conhecimento de Cristo. E Cristo não pode ser conhecido senão em conjunção com a santificação do seu Espírito. Segue-se, consequentemente, que de modo nenhum a fé se deve separar do afeto piedoso (Institutas III.2.8).
Santificação e Consciência do Pecado
Outro ponto que reforça a ideia de santificação como um processo inteligente é a necessidade da “consciência do pecado”. Ao longo de toda a Escritura, a Redenção é apresentada a partir de um processo de admissão da necessidade do ser humano.
A Palavra diz que redimirá toda a Criação e ilustra esse ponto propondo qualidades humanas à Criação em geral ao dizer que ela possui expectativas (Rm 8.19). Mas, evidentemente, as árvores da floresta, assim como os animais todos não desfrutam de um perceber racional do seu estado e da condição nova prometida por Deus. Essas criaturas estão em um cativeiro de pecado, não por vontade própria, mas porque foram sujeitos a essa condição pelas ações dos homens, que as sujeitaram (Rm 8.20).
Enfim, a Redenção é um processo que se inicia na obra da regeneração do Espírito, que em seguida nos conduz ao experimentar da consciência do pecado, da perdição e do juízo sob o qual vivemos em ameaça de condenação eterna. Portanto, o Espírito Santo, entre tantas obras que realiza no aplicar da Redenção à nossa vida, nos desperta para a consciência do nosso estado de pecado.
Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8).
A santificação, como já vimos no exemplo de Isaías, é um processo decorrente de uma consciência da santidade de Deus, mas também da nossa pecaminosidade. Esse processo de autoconhecimento do próprio pecado não deve ser visto apenas com o objetivo penitenciatório, mas deve nos conduzir ao arrependimento, ou mudança de paradigma e conversão dos caminhos. Este é o contexto de Hebreus 12.14, nosso texto base.
Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco, antes, seja curado (Hb 12.12-13).
Santificação e Consciência da Necessidade do Próximo
Um fator conceitual muito importante do processo de santificação é que ela, apesar de se tratar de um evento que ocorre no âmbito da individualidade da relação com Deus, não é um processo que ocorre em um vazio ou em uma situação de ilha. A santificação é um processo que envolve ativamente a nossa relação coletiva.
Voltando ao nosso texto base, o seu contexto direto é o capítulo 11, a galeria da fé. A descrição de todas as ações dos homens de Deus no passado e a sua luta por viverem para a glória de Deus, em obediência e fé, culmina com o início do capítulo 12, quando diz que eles nos servem de testemunhas.
Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta (Hb 12.1).
Ao nos servirem de testemunhas, pelo seu exemplo, isto é, ao provocarem nossa capacidade de avaliar a sua jornada e a nossa, deseja o escritor que tomemos esses exemplos de fé e nos despertemos para a necessidade que temos de deixar modelos para outroas. Decorre, portanto, as frases inclusas no contexto geral desse capítulo que ligam a nossa busca de santificação com o equilíbrio de outras pessoas.
(...) e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco, antes seja curado (Hb 12.13).
Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, atentando diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus, nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos pertube, e, por meio dela, muitos sejam contaminados, nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura (Hb 12.14-16).
Muitos outros textos nos conduzem a essa reflexão sobre a necessidade de que a nossa santificação se relacione diretamente com as necessidades espirituais de outras pessoas.
Infelizmente, em um contexto de exacerbado “egocentrismo”, prevalece o princípio da individualidade distante da relação com o próximo e, até mesmo nas relações intrafraternais da vida de fé, a quem busque na individualidade da santificação toda a receita do viver digno de Cristo.
Nenhuma santificação é verdadeira se o amar ao próximo e participar do seu crescimento não é uma realidade do seu viver com Deus. O amar a Deus sobre todas as coisas não é condicionado, mas está diretamente ligado ao processo de capacitação para a amar o próximo como a nós mesmos e isto inclui até mesmo os nossos inimigos.
Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado (1Jo 4.12).
Esse amor ao próximo deve ser fruto direto de nossa percepção da necessidade do outro. Essa percepção da necessidade espiritual do outro é fruto de um exercício da inteligência que aplica os elementos da razão, vontade e emoção. Em outras palavras, a santificação pessoal se desenvolve primordialmente em nossa capacidade de buscar o interesse do outro, como ponto de partida da nossa percepção de utilidade para Deus.
Conclusão
Observamos nessa aula que o processo de santificação é um dever que só pode ser atendido por meio de uma percepção consciente de Deus, da nossa pecaminosidade e da necessidade do nosso próximo.
Devemos, então, investir energia nesses elementos por meio de um continuo e profundo conhecimento de Deus, que nos dará uma condição mais segura para estabelecer os padrões de comparação com Cristo que precisamos para imitá-lo.
Naturalmente esse processo de conhecimento de Cristo nos conduz a necessidade do autoexame e da busca de mudanças pessoais de comportamento e status de nossa vida cristã. Deixar o comodismo de viver segundo os princípios do próprio coração e buscar no parâmetro de Cristo a verdadeira vida com Deus é o caminho mais seguro para a purificação e consagração da vida.
Por fim, baseado no fato de que nossa fé não se desenvolve em uma ilha existencial, a proximidade com as necessidades da coletividade da família da fé e também dos outros homens do mundo, nos oferecerá o mais completo pátio de treinamento e exercício da nossa vida com Deus. Trata-se de avaliar essas condições que devemos considerar o uso dos elementos da racionalidade para nos aproximar das pessoas e vê-las em suas necessidades.
Aplicação
Procure conversar com os colegas de sala e em uma construtiva discussão, descubra meios de que, em coletividade, todos possam se estimular a crescer no processo de santificação.
Quais os elementos que podemos identificar que atrapalham nosso crescimento individual e coletivo. De que maneira a Escola Dominical oferece-se como mecanismo de ajuda no processo e qual a importância de nos aplicarmos mais no conhecimento de Cristo.



domingo, 8 de setembro de 2013

Estudos em Soteriologia - O Pecado da Soberba

Introdução

O pecado é o maior de todos os problemas do ser humano. Por causa da sua presença, a vida humana funciona debaixo de uma estrutura invertida, onde o homem procura ser o centro de todas as coisas e rejeita a proeminência do Criador.Para que o homem viva de uma maneira que agrade a Deus é necessário o restabelecimento da estrutura criacional original e trazê-lo de volta ao funcionamento teocêntrico de sua vida.
A redenção insere na vida humana duas realidades: a primeira é a garantia da vitória sobre o pecado (justificação); a segunda é a necessidade de fazer morrer a velha natureza pecaminosa que ainda insiste em nos fazer viver egocentricamente (santificação). Esta última é precisamente uma ação que a homem pode e deve participar.Estudar a respeito da soberba, investigando o lugar que ela ocupa no sistema egocentrado de vida, proporciona uma maior capacidade de realinhamento de nossa disposição de viver teocentricamente e agradar a Deus. Nesta lição vamos considerar o que é necessário saber e fazer para que a soberba não nos domine.

 

I. Definindo ontologicamente a soberba

Ontologico é aquilo que diz respeito à natureza do ser. Definir ontológicamente a soberba é estudar como ela está presente na natureza humana. Vamos nos limitar a entender alguns aspectos ontológicos da soberba na experiência humana.

 

A. O que é a soberba

A palavra grega “superbia” recebe algumas traduções no texto bíblico: soberba, orgulho, altivez, entre outros. Agostinho de Hipona, um dos teólogos mais importantes do cristianismo, entendia que a “superbia” (orgulho, soberba) estava na base de todos os outros pecados e definia esse mal como o “encurvamento do homem a si mesmo”.
A soberba é uma inclinação do homem a si mesmo, um sentimento de autoamor idolátrico que transporta a mente humana para uma forma autocentrada de pensar. Comumente ela é reconhecida pelo exceço de autovalor, mas sempre o soberbo é aquela pessoa que conta vantagens de si mesmo. Algumas vezes, a soberba se esconde por detrás de desculpas como “honra”, “bem estar”, etc.. e por isso, sabendo que a soberba muitas vezes se disfarça, o salmista clamava: “...também da soberba guarda o teu servo” (Sl 19.12-13). O perigo que o salmista identificou é que a soberba poderia dominá-lo.

B. Como a soberba veio fazer parte da experiência humana

A soberba sobreveio ao homem quando o pecado entrou no mundo. A tentação do Jardim do Éden consistia primordialmente de uma negação da submissão à ordem de Deus e numa tentativa de um viver independente.
Quando a serpente ofereceu o fruto à Eva usou dessas palavras: “...como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3.5.b). O homem desejou demarcar os seus próprios limites.
Deus havia dado toda a liberdade para o homem: “...de toda árvore do jardim, comereis livremente” (Gn 2.16), entretanto, essa liberdade era limitada pela vontade do próprio Deus e isto ficou simbolizado na proibição de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. O homem, no entanto, rejeitou essa demarcação de desejou uma liberdade autônoma, centrada em sua própria vontade (Gn 3.6).
Homem e mulher foram despertados para um desejo novo, que violava a vontade de Deus e começaram uma relação com a Criação que tinha como centro a sua própria vontade e autoamor. Antes, a respeito da daquela árvore diziam: “Deus disse: dele não comereis, nem tocareis nele” (Gn 3.3), mas no verso seis o que se destaca é que retiraram Deus e perceberam a árvore sem Deus: “vendo a mulher que a árvore era boa... agradável... e desejável”.
A soberba havia lançado suas raízes. Um autoamor idolátrico e a vida centrada no ego ocupara espaço na mente do homem que foi dominado e sucumbiu. Foi assim, que a estrutura criacional fora invertida e o homem passou a buscar a si mesmo em lugar de Deus (Sl 14.3; Rm 3.10-12).
Desde então, arrogantemente o homem se tornou rebelde e resistente ao governo de Deus (Sl 2.2-3). Ao inverter a ordem criacional, a soberba conturbou todos os tipos de relacionamento e dessa forma desequilibrou todos os tipos de estruturas de autoridade e limites que se devem respeitar. O homem passou a existir como um ser “encurvado para si mesmo”, na busca de seus próprios interesses e propenso a buscar posições e desejar coisas elevadas para si mesmo (Gn 11,4).

 

C. Onde a soberba atua na natureza humana.

Como a soberba exerce o seu controle sobre o homem e onde ela atua para que o domine? Conhecer o método da ação da soberba nos permite também preveni-la e cuidar antes que se torne efetiva em nossas ações.
Em Marcos 7.1-23, Jesus apresenta uma importante discussão sobre o poder do pecado na vida do homem. Fariseus e escribas acusavam os discípulos de Jesus de não andarem segundo as tradições, pois comiam sem se purificar antes (Mc 7.5). Usando o exemplo da quebra do quinto mandamento (Mc 7.10-13), Jesus responde dizendo que o problema da contaminação do pecado não ocorre de fora para dentro, por meio da ingestão de alimentos, mas acontece de dentro para fora, por aquilo que sai do homem, isto é, as suas mais secretas intenções (Mc 7.15).
Na conclusão dessa discussão com os líderes judaicos, Jesus apresenta o ponto central da atuação do pecado: o coração (Mc 7.21-23). A sede da vida interior do homem está contaminada. Então, como uma nascente de rio, o coração contaminado com o pecado espalha o resultado dessa contaminação por tudo o que o homem faz. Por isso, o sábio aconselha que se tenha prioridade em guardar o coração (Pv 4.23).
Na descrição apresentada por Jesus, encontramos a “soberba” (Mc 7.22). Ela atua a partir do coração humano e, por isso mesmo, domina o homem contaminando as ações, pensamentos, desejos humanos. Cuidar do coração é fundamental, por isso, o salmista se justifica diante de Deus: “...não é soberbo o meu coração” (Sl 131.1).

II. Os prejuízos da soberba
            A soberba, ou o orgulho pecaminoso, produz muitos males. Seu poder contaminador é muito grande e influencia fortemente as ações humanas. Quando o ser humano é conduzido pela soberba do seu coração trilha uma estrada onde colhe muitos prejuízos.

 

A. A soberba prejudica o relacionamento com o próximo.

Um dos casos bíblicos mais conhecidos sobre a ação da soberba humana é o episódio entre Caim e Abel (Gn 4.1-8). Caim, conduzido pela soberba do seu coração, não se inclinou a Deus para ouvir as instruções do Senhor (Gn 4.7). Dominado pela soberba do coração matou Abel, como uma forma de autoafirmação.
A soberba influencia o coração humano a pensar egocentricamente e, por isso, usa a ganância como pensamento matriz da relação humana. Pensando em si mesmo, o soberbo não se conduz pelo mandamento de amar o próximo, mas é o autoamor idolátrico que o comanda. Por isso, os seus relacionamentos com o próximo são muitíssimo prejudicados.
A Bíblia fala que os soberbos perseguem o próximo (Sl 140.5); vivem em contendas (Pv 13.10); são arrogantes (Pv 21.24); violentos (Sl 73.6; Is 13.11); mentirosos (Sl 59.12; 119.69); incapazes de agir com misericórdia (Ez 16.49) etc. Enfim, a soberba prejudica o homem no seu relacionamento com o próximo.
Por causa da soberba, os homens têm dificuldade em ajudar o próximo, perdoar, valorizar o outro e desenvolver um relacionamento sadio sem pensar em tirar vantagens pessoais. O soberbo, por pensar egocentricamente, não consegue amar o próximo com a atitude voluntária que a palavra de Deus exige (Mt 22.39; Fp 2.3-4).

B. A soberba prejudica o relacionamento com Deus.

A inversão dos valores criacionais faz o soberbo retirar Deus do centro de sua existência. Ainda que ela tenha algum respeito a Deus, a inclinação do coração do soberbo o afasta de fazer de Deus a sua prioridade. Na verdade, ele tenderá a considerar Deus como um instrumento de sua vontade egocêntrica.
A soberba induz o homem a resistir à vontade de Deus, por não admitir que Deus o domine ou limite (Sl 2.2-3; Jr 18.11-12). O coração do soberbo não consegue abrigar a ideia de se submeter a Deus e, por isso, Deus oferece resistência ao soberbo (1Pe 5.5; Tg 4.6).
Quando a soberba dirige o coração do homem, ele rejeita a Lei de Deus e tenta fazer o seu próprio caminho (2Cr 26.16-19; Ne 9.16). Desta forma, o relacionamento entre o soberbo e Deus pode seguir duas premissas: a rejeição total de Deus (Sl 10.4) ou a tentativa de usar a religião como um método de autossatisfação (Am 4.4-5; Is 29.13-16).
O soberbo entra em conflito com o Altíssimo e, por não se inclinar e submeter a Deus, está posto em lugar de grande risco de destruição (Sl 73.3-9, 18; Pv 16.18-19). A soberba prejudica grandemente o relacionamento do homem com Deus.

C. A soberba traz prejuízos para a própria pessoa.

O soberbo, por causa do egocentrismo, não confia nas pessoas e não é solicito em ajudá-las. Também, por causa da sua contínua resistência a Deus, não sente o prazer e o consolo da companhia de Deus. Por isso sofre pessoalmente em um tipo de vida incerta, insegura e muito solitária. A soberba, portanto, oferece grandes prejuízos à própria pessoa.
Esses prejuízos pessoais do soberbo são aumentados quando sua soberba recebe a necessária disciplina que vem de Deus (Is 2.12; Jó 40.12). A humilhação é o caminho final dos soberbos, que são arruinados por causa da altivez do seu coração (Pv 16.18). Herodes, o soberbo rei que perseguiu e matou Tiago, morreu de forma surpreendente (At 12.21-23); Nabucodonosor foi humilhado, até que reconheceu o Deus Altíssimo (Dn 4.28-37; 5.18-21); Uzias, depois de ter sido ajudado por Deus, foi humilhado por causa da sua soberba (2Cr 26.16-21). Esses são alguns exemplos do prejuízo que advém sobre todos os que se deixam conduzir pela contaminação da soberba.

III. Como lidar biblicamente com a soberba?

O objetivo de toda a Lei de Deus é nos fazer amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Isso mostra que a soberba não deve ter lugar na vida do crente. Evidentemente, Deus agirá para retirar a influencia da soberba em nosso coração e a Escritura estabelece os princípios deste agir divino.

A. Não negue, nem “tape o sol com a peneira”

Às vezes, as pessoas tentam se convencer de que suas atitudes não são fruto da soberba do seu coração. Procurarm justificar seus atos com frases do tipo: “preciso me valorizar” ou “tenho um pouco de orgulho próprio” etc.. É possível que algum tipo de orgulho seja aceitável, como o orgulho pelas realizações de um filho ou as próprias, mas a soberba produz um tipo de orgulho pecaminoso diferente, que faz a pessoa a pensar e agir contrariamente à Lei de Deus.
Não precisamos negar que algumas vezes rejeitamos a ajuda a alguém ou resistimos à vontade de Deus por causa do orgulho pecaminoso. Reconhecer que o pensamento ou a ação foi fruto da soberba do coração é o primeiro passo para o arrependimento e até a prevenção de pecados (Sl 32.1-3).
É dessa perspectiva do reconhecimento do pecado que Tiago escreve no capítulo 4 de sua carta (Tg 4.1-4). Ao reafirmar a oposição entre Deus e o soberbo (Tg 4.6), Tiago exorta a sujeição a Deus como saída para o homem.

B. Sujeição a Deus

A sujeição a Deus é uma atitude mental que irá ajudar a prevenir ou corrigir a soberba. Muitas vezes, Deus ordena a história de nossa vida para nos ensinar o caminho da sujeição a ele (Dt 8.2-3).
O soberbo procura a autoafirmação e exaltação pessoal e nesse caminho colhe muitos prejuízos. Mas, aos homens que se sujeitam a Deus, submetendo-se à sua vontade, o próprio Deus é quem os exalta (1Pe 5.6).

C. Cultivar a humildade e o amor

“Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tg 4.6). Assim como Tiago, Pedro também indica a humildade como a atitude a ser cultivada para que a soberba não domine o coração: “...cingi-vos todos de humildade” (1Pe 5.5).
O cultivo de uma atitude humilde é um ato de obediência que previne que a soberba do coração domine o homem. Voltando ao episódio de Caim e Abel, a proposta de Deus para o filho mais velho de Adão foi que tivesse uma titude humilde e repreendesse o seu próprio coração.
A humildade é desenvolvida em meio a uma consideração séria da nossa dependência de Deus (Tg 4.7-8a). Também é fortalecida por meio de um grave senso dos pecados, que nos conduz a um verdadeiro arrependimento (Tg 4.9-10; Os 5.15; 2Co 7.10).
O resultado natural da humildade é a disposição para amar o próximo. O amor é o cumprimento da Lei (Rm 13.8) e a prática do amor nos ajuda a prevenir toda a soberba. Essa é a instrução do apóstolo Paulo em Romanos 12.
Inicialmente o apóstolo propõe que a nova vida que agrada a Deus (Rm 12.1) inplica em uma atitude humilde de moderação (Rm 12.3). Essa atitude é seguida de um serviço de amor ao outro no uso dos nossos dons em benefício do nosso próximo (Rm 12.16). O amor surge no lugar da soberba e nos ajuda a vencê-la.

D. Imitar Jesus

O maior e mais completo exemplo de humildade é Jesus. Paulo, na carta aos Filipenses, nos convoca a imitar o seu exemplo: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus...” (Fp 2.5-9).
Paulo nos chama a desenvolver o mesmo comportamento humilde de Cristo Jesus e aprender, se necessário, a abrir mão até mesmo de nossos direitos para que uma atitude de humildade nos aproxime de Deus e do nosso próximo (Fp 2.3-4).
O comportamento humilde vai esvaindo as forças da soberba e sua influência sobre nossa natureza. Nosso coração deve ser guardado humilde, por isso, a oração do salmista, mais uma vez é de grande importância: “Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão” (Sl 19.13).

Conclusão
A soberba é fruto do pecado que atingiu toda a natureza humana. Atuando em nosso coração, ela nos afasta de Deus, do nosso próximo pela busca egocêntrica da autoafirmação e busca da independência em relação a Deus.
Sabendo que ela atua no coração humano e, por isso, tem o poder de contaminar todos os pensamentos e ações, devemos trabalhar diligentemente usando todos os recursos que Deus disponibilizou em sua palavra para que a enfrentemos.
O melhor caminho é começar a analisar se a soberba está espalhando a sua influência em nossa vida e procurar refrear essa ação. Para preveni-la, devemos buscar a Deus, por meio da oração e da imitação de Cristo, desenvolvendo uma atitude humilde e de amor.
Um viver teocêntrico, que agrada a Deus, depende de uma atitude sensata de abandono da soberba.

Aplicação
Procure conversar com outras pessoas a respeito de momentos em que agiram ou pensaram de forma soberba e como corrijiram essa atitude. Fale sobre os efeitos ruins da soberba e como é possível evitar muitos males se ela for abandonada.
Proponha ações práticas que ajudem a promover a interação com o próximo, de tal maneira que o amor possa ser exercitado na igreja, família e em meio à comunidade em que você vive.

  

domingo, 30 de junho de 2013

Estudos em Soteriologia - Impedimentos à Santificação

Introdução
Com certeza, cristãos minimamente esclarecidos sabem da importância do crescimento na fé, o amadurecimento do nosso relacionamento com o Senhor.
O processo de santificação, como já vimos, inclui duas perspectivas centrais deste relacionamento: a consagração a Deus e o permanente transformar da nossa vida, na busca da adequação à excelência da estatura de Cristo, o varão perfeito.
Contudo, alguns elementos podem influir negativamente para que esta consagração e progresso sejam alcançados. Sobre tais impedimentos é que falaremos neste encontro.
Evidentemente, não poderemos cobrir todos os elementos que influem contrariamente para a nossa santificação, contudo abordaremos os que nos parecem ser aqueles mais comuns na vida dos crentes.
O problema da ignorância
Um dos elementos mais influentes e contrários à nossa santificação é a falta de conhecimento genuíno do Senhor.
A falta de conhecimento do Senhor e dos seus propósitos se torna o carro chefe de todos os impedimentos da nossa jornada de santificação pessoal.
A ignorância a respeito de quem é Deus, nos faz trilhar um caminho diverso daquele que exige consagração e purificação. Veja, por exemplo, o erro de Israel neste sentido.
Salmo 50.16-23 - note neste texto a complexa relação de quem não tem discernimento exato de quem é Deus. No verso 16, é possível notar que repetir os mandamentos e praticá-los maquinalmente nada tem haver com uma verdadeira consagração e purificação a Deus. O ponto mais interessante desta passagem é encontrado no verso 21:
Tens feito estas coisas, e eu me calei; pensavas que eu era teu igual; mas eu te arguirei e porei tudo à tua vista.
Mateus 22.29 - Aqui, o ponto a ser apresentado é a ignorância quanto às Escrituras e quanto ao poder de Deus. Mas isso não quer dizer que apenas pessoas que conhecem completamente as Escrituras são capazes de uma vida de santificação. Falta de conhecimento aqui é o mesmo que dizer: conhecimento distorcido das Escrituras, o que nos leva ao próximo problema.
O problema da vida focada em si mesmo
Poderíamos simplesmente dizer: egocentrismo. Mas quero tornar mais claro o ponto: o problema que devemos enfrentar aqui é o fato de que se vivermos com o foco em nossos próprios interesses nossa vida de santificação ficará comprometida.
O comprometimento ocorre porque estaremos consagrados a nós mesmos e Deus será somente uma ferramenta que intentamos usar para alcançar nossos objetivos pessoais.
Filipenses 3.17-19 - Nesta passagem podemos ver uma afirmação da inconsistência entre a vida com Deus e a vida para os nossos próprios interesses.
Quando o nosso foco está em nós mesmos, temos a tendência de manipular Deus e o nosso relacionamento com Ele não visa a aproximação. O efeito acaba sendo o contrário, nos afastamos dEle e nos tornamos movidos pelo materialismo.
O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas (Fp 3.19).   
Este pode ser um dos mais importantes elementos dificultadores do nosso processo de santificação. Fique atento para este problema.
    
O problema da falta de amor
Crentes maduros, que estão em processo de santificação estão escalando montanhas na direção de Deus. O mais claro sinal de que isto está ocorrendo é o surgimento de uma crescente inclinação para o amor. O amor é alvo da santificação ou o seu resultado mais óbvio.
A falta de amor é a comprovação da luta que existe em nosso coração. O Novo Testamento, em especial, temos muitos textos que nos alertam para este ponto. Amar o próximo não é algo que fazemos tão facilmente, pois, muitas vezes, para amar o próximo somos concitados a abrir mão de nós mesmos.
1 João 2.7-11 - Observe neste texto que a falta de amor é comparada à estar nas trevas e não na luz. Precisamos considerar isto seriamente.
Aquele, porém, que odeia a seu irmão está nas trevas, e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos (1Jo 2.11).
Como é possível ver, a falta de amor é precisamente um empecilho à santificação, exatamente porque é a estrada na direção oposta de Deus. Odiar o irmão é consagrar-se a si mesmo e, ainda que em outras áreas tenhamos algum progresso, indica que estamos no caminho errado.


domingo, 16 de junho de 2013

Estudos em Soteriologia - Santificação - Conceitos

Introdução
Nossas aulas, agora, abordarão assuntos mais práticos da vida cristã. Falaremos de santificação, o que também significa que falaremos da nossa própria vida diária.
A santificação é parte do processo de salvação. Na verdade, quando pensamos em salvação como o nos livrar da Ira vindoura, temos a tendência de achar então que a salvação tem sua obra completa na cruz.
Verdade é, somos salvos pela morte de Cristo e este sacrifício é final e suficiente para nos livrar a Ira vindoura. No entanto, os efeitos do pecado que permanecem sobre nós ainda são resultados da nossa natureza caída e a ira de Deus se revela do céu contra eles.
A justificação nos livra da condenação do pecado e a santificação nos livra da influência do pecado. Esta pode ser a maneira mais simples de definir estes termos e entender o quanto eles caminham junto.
O outro aspecto da santificação é o que ela é, na relação com a fé. Bem, no processo de santificação o que realmente está acontecendo é que a nossa fé está crescendo e passamos a viver um paradigma de espera e confiança em Deus. Portanto, não existe santificação sem amadurecimento verdadeiro da fé.
Estes serão, entre outros, alguns aspectos do que iremos estudar dentro deste tema.

Santificação - conceito e objetivos
Como nosso primeiro passo no estudo deste tema vamos trabalhar os conceitos. Mas, para isto, precisamos olhar para o texto bíblico e verificar os termos bíblicos que são empregados e que nos ajudam a entender o propósito da santificação.
Verdadeiramente, a santidade tem o seu sentido mais completo na sua relação com o ser de Deus. Ele é santo e toda a santidade de suas criaturas é espelhada na santidade dEle.
Contudo, em nossos estudos, para abreviar um pouco o tempo, vamos focar nosso esforço na busca de entender a santidade nos termos que a ligam à nossa vida, apenas, quando necessário é que iremos nos reportar à santidade de Deus para nos apoiar o entendimento.

Kadosh - Velho Testamento
O termo “kadosh” é a raiz bíblica mais usada para se referir à ideia de “santidade”. Kadosh é um adjetivo que pode ter nascido de dois conceitos: Khadasha - brilhar ou Kad - cortar.
Santidade e brilho
Quando entendemos “kadosh” (santo) como uma derivação do conceito de brilho, somos conduzidos a pensar no aspecto qualitativo da santidade. Isto é, somos impulsionados a imaginar a salvação em termos da excelência moral e pureza.
Esta conceituação nos faz considerar a santificação nos termos das suas elevadas aspirações de progresso espiritual e maior adequação para a vida ao lado de Deus. Esta ideia é muito presente na Bíblia, até mesmo ilustrada por outros termos como “luz”.
Quando entendemos a proposta da excelência espiritual e moral que nos é oferecida no ensino bíblico da santificação, percebemos que estamos diante de um grandioso projeto de adequação ao padrão de Deus para a nossa vida.
Devemos, então, promover em nossa mente uma mudança conceitual sobre o que somos e aonde devemos chegar. Deus está nos oferecendo alvos espirituais de lapidação da nossa vida.
Santidade e separação
Por outro lado quando focamos a santidade com o verbo “cortar”, o que fica mais evidente é a ideia de que santo também significa “separar”. Esta ideia aponta para o sentido mais prático e foca as condições mais da esfera presente.
Enquanto, por um lado, santidade pode apontar para a ideia de objetivo final e da excelência final esperada, no sentido de “separar” ou “consagrar” tem a ver com o processo.
Este sentido de santidade é uma proposta de mudança conceitual do que somos na relação com Deus e de como devemos experimentar essa relação. Este é um sentido muito prático e a principal mudança que deve ocorrer é na estrutura de como enxergamos o funcionamento da nossa relação com Deus. Em outras palavras, devemos pensar em santificação nos termos práticos de que a nossa existência deve ser nutrida por um constante exercício de consagração a ele (Romanos 12.1 e 2).
Os dois conceitos não devem ser observados de uma maneira separada um do outro. Antes, devem ser entendidos como sendo complementares um ao outro. Nossos alvos existências tem como elevada medida a adequação da nossa vida à santidade de Deus, mas este tipo de meta só pode ser alcançada quando decido de forma prática viver para alcançar tal meta, daí a ideia de consagração da mente para pensar as coisas de Deus.

Hieros, Hosios, Hagnos, Hagios - Novo Testamento
O novo testamento parte do entendimento geral do termo “kadosh” e expande o conceito nestes quatro termos, dos quais, hagnos é o mais usado e quase um paralelo do termo hebraico “Kadosh”.
Hieros (1Co 9.13 - 2Tm 3.15) - esta palavra é usada para denotar um uso religioso de terminado objeto ou pessoa. Ela indica a santidade nos termos da separação de uma pessoa ou coisa para uma finalidade específica do fim religioso, ou sagrado. Com o propósito espiritual de realizar a aproximação com Deus. Com ela podemos entender que a santidade deve ser compreendida como deixar a nossa vida ser usada para conduzir outras pessoas a Deus, devemos ter uma santidade instrumental.
Hosios (At 2.27 - Hb 7.26 - Ap.15.4) - neste termo, a ideia de pureza e incontaminação é a que está presente. A ideia de santidade como brilho, como algo incontaminado deve invadir a nossa mente. Devemos considerar o propósito elevado de abandonar o pecado e nos livrar das coisas que apontam para a nossa queda.
Hagnos (2Co 11.2 - Fp 4.8 - Tg 3.17) - Semelhante à ideia de “hosios”, o termo “hagnos” também implica em pureza e incontaminação, mas tem um sentido mais ético e moral. Nossa santificação não deve se limitar a uma proposta religiosa da nossa relação com Deus, deve influir na esfera da vida presente e no modo como tratamos as coisas e as pessoas.
Hagios - (Lc 1.70 - Ef 3.5 - 2 Pe 1.21 - Cl 1.22) - Esta é a palavra neotestamentária de mais forte referência ao conceito de santidade ou santificação. É usada em muitos contexto com nuances diferentes para o entendimento do temo.
Este termo é usado para indicar a ideia básica de consagração a Deus e a busca do ideal de viver para alcançar a estatura de Cristo. O modelo de santidade proposto nesta palavra neotestamentária é um modelo baseado no próprio Senhor Jesus Cristo.
Ela indica um serviço oficial em nome de Deus, uma separação instrumentalcomo os santos apóstolos ou os santos profetas. Homens usados por Deus para realizar os seus propósitos entre os outros homens.
Por outro lado, a palavra também indica uma postura ética de crescimento espiritual, na busca de viver para Deus e servi-lo de forma aceitável, do jeito que Ele quer. Este é o sentido mais diretamente ligado ao conceito de “santificação” que tem a ver com a busca de uma elevada condição de vida que agrade a Deus.

No próximo encontro estudaremos sobre “Os impedimentos para a santificação”


domingo, 19 de maio de 2013

Estudos em Soteriologia - Graça Irresistível e Chamado Eficaz - Parte 1


GRAÇA IRRESISTÍVEL

A esta altura, o Sistema Calvinista que já apresentou a INCAPACIDADE TOTAL do homem em si salvar por méritos pessoais, já mostrou a coerência necessária de uma ELEIÇÃO INCONDICIONAL, pois que se não existe méritos não existem também condições, e muito mais coerência demonstrou ao mostrar a necessidade de uma LIMITADA EXPIAÇÃO, não poderia continuar sua linha coerente de pensamento sem falar da aplicação da salvação: IRRESISTÍVEL GRAÇA.
Contudo chamo a atenção para o fato de que não é apenas um sistema que se baseia na sequência lógica dos fatos, ou em suas consequências razoáveis, mas o sistema doutrinário calvinista acerca da salvação tem sólido fundamento bíblico, e iremos demonstrar biblicamente a doutrina da GRAÇA IRRESISTÍVEL, contudo antes é necessário fazer uma pequena consideração:

O que é IRRESISTÍVEL GRAÇA?
É a doutrina que afirma, que ao homem escolhido, é impossível lutar contra a graça que Deus lhes quer fazer valer. Parece que esta é uma afirmação desnecessária, pois é possível que pareça absurdo somente o pensar que alguém poderia querer rejeitar a salvação de Deus. E eu lhes digo:
Todos nós rejeitaríamos à Cristo se fosse somente por nossa vontade!

“Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida”.João 5: 40“como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus, todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis, não há quem faça o bem, não há um sequer”.Romanos 3: 10 à 12
É bastante triste pensarmos isto, mas é a grande verdade, nenhum de nós reagiria favorávelmente à Cristo, por isso é necessário que Ele mesmo aplique a salvação a nós.
Assim dizemos que a IRRESISTÍVEL GRAÇA, é a aplicação da salvação ao nosso coração, é o que se pode denominar de CHAMADO EFICAZ.
Não podemos confundir o CHAMADO EFICAZ, com o chamado que é feito nos diversos púlpitos espalhados por aí. Pois este chamado feito pelos pregadores todos os dias não são o chamado de Deus. Mas espere um pouco, eu não estou dizendo que Deus não usa estes chamados, apenas estou fazendo uma distinção entre a parte humana e a divina na questão do chamado.
Quando um pregador vai ao púlpito trás uma mensagem bíblica, correta e logo em seguida faz um apêlo (chamada pastoral), ele não está fazendo nada de errado. Pois a Bíblia nos mostra o dever de chamar os pecadores ao arrependimento, e quando João pregou o reino de Cristo pregou a todos os ouvintes: Arrependei-vos! Contudo nem todos que ouviram à João, foram despertados isto significa que o CHAMADO PASTORAL de João, não é igual ao CHAMADO EFICAZ DE DEUS, porque aquele é feito por um homem e este é feito pelo poder do Espirito Santo.
Quando Jonas esteve na cidade de Ninive, pregou a mesma mensagem, e a Bíblia afirma que todos os moradores da cidade se converteram à Deus. Neste caso o CHAMADO PASTORAL, foi utilizado de tal forma que coincidiu totalmente com o CHAMADO EFICAZ.
O que estamos afirmando aqui é que esta não é uma obra humana, mas sim uma obra divina, por isso é IRRESISTÍVEL, pois vem carregado do peso dos atributos de Deus, da sua Soberania, da sua Perfeição, da sua Santidade e etc. Novamente repetimos:
“Agindo Deus quem impedirá???”

O Breve Catecismo define assim a questão:
“O que é vocação eficaz?
Vocação eficaz é a obra do Espirito de Deus, pela qual, convencendo-nos de nosso pecado e de nossa miséria, iluminando nossos entendimentos no conhecimento de Cristo, e renovando nossa vontade, nos persuade e habilita a abraçar Jesus Cristo, que nos é oferecido de graça no Evangelho”.
B.C. Pergunta 31

Deus nos atrai para si, isto é uma maravilhosa verdade, que mais uma vez enaltece o ser de Deus, e o seu poder. Ele nos busca onde quer que estejamos, e não mede esforços para nos fazer chegar à Ele, contudo nossa Chamada Eficaz, se dá no dia certo e na hora certa, por Deus decretada desde antes da fundação do mundo. Eu particularmente creio que o crente que possui essa crença, é levado a pregar o evangelho mais e mais, pois sabe que Deus pode estar querendo revelar sua GRAÇA IRRESISTÍVEL a alguém e pode ser que o momento seja exatamente enquanto você prega, distribui um folheto, canta uma música cristã, ou simplesmente Deus revela sua GRAÇA IRRESISTÍVEL através do nosso procedimento cristão exemplar.
Para que você tenha mais informações sobre a GRAÇA IRRESISTÍVEL leia na Lição 6, sobre o atributo GRAÇA. Por hora iremos ficar somente com mais alguns textos que revelam o chamado eficaz[1] de Deus.

O CHAMADO COMO CONSEQUÊNCIA DA ELEIÇÃO
“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou, (...) e aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”
Romanos 8: 29 e 30.

O CHAMADO SE UTILIZA DA PREGAÇÃO DO EVANGELHO
“Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria, mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios, mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus”.
1 Coríntios 1: 23 e 24

O CHAMADO É IRREVOGÁVEL
“Quanto ao evangelho, são eles inimigos por vossa causa; quanto, porém, à eleição, amados por causa dos patriarcas; porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis”.
Romanos 11: 28 e 29

Há muito o que se falar sobre este assunto, contudo iremos nos limitar ao que foi dito até aqui. Esta é uma doutrina fascinante que deve ser estuda posteriormente, pois é de fundamental importância para o entendimento da Salvação de Deus.


[1] O termo chamado é usado muito frequentemente na Bíblia, contudo ele encontra cognatos como por exemplo Vocação, que vem do termo latino Vocare, que significa chamar.

domingo, 5 de maio de 2013

Estudos em Soteriologia - Aula 007 - Eleição da Graça - Parte 2

A "ELEIÇÃO DA GRAÇA" COMO UMA OBRA DE AMOR

O primeiro passo em nossa consideração sobre a obra a "Eleição da Graça" é que ela se trata de um ato de amor da parte de Deus. Ou seja, devemos olhar este propósito salvador de Deus sempre focando a questão de como Ele decidiu revelar a sua graça. Entre tantos motivos, é por isto que estamos qualificando a eleição como obra da graça de Deus, assim como Paulo o fez em Romanos 11.5.
E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: o mais velho será servo do mais moço. Como está escrito: amei Jacó, porém me aborreci de Esaú (Romanos 9.11 a 13).
Não vos teve o SENHOR afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o SENHOR vos amava e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o SENHOR vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de Faraó, Rei do Egito (Deuteronômio 7.7 e 8).  
Como se pode observar nestes textos, o SENHOR justifica a escolha que faz pelo resgate do seu povo baseado sempre no seu amor soberano. O primeiro ponto que devemos considerar sobre este amor é a autoridade de Deus para amar a Jacó e não a Esaú (Malaquias 1.2 e 3). 

A autoridade do amor soberano de Deus é baseada na sua identidade como Criador
Como Criador de todas as coisas, o Senhor tem toda autoridade sobre a sua obra. Ele pode dispor do que criou da maneira como melhor atender aos seus planos e vontade. 
Paulo, pontuando sobre esta autoridade de Deus de amar a Jacó e odiar a Esaú assim argumentou: 
Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus? Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: porque me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro para desonra? (Romanos 9.20 e 21).
A autoridade do amor soberano de Deus é baseada exclusivamente na vontade de Deus não determinada pelo homem
Outro aspecto no qual devemos basear nosso entendimento da eleição da graça é que ela foi um ato livre e soberano de Deus determinado exclusivamente por sua vontade, boa e perfeita. 

Assim, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia. (...) Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz (Romanos 9.16 a 18).
assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele, (...) segundo o beneplácito da sua vontade (Efésios 1.4 e 5).
É necessário frisar nestes dois tópicos que o decreto da eleição da graça é um ato da vontade livre e soberana de Deus, o que importa dizer que tudo mais decorre deste ponto. OU seja, o próprio envio de Cristo Jesus para o resgate dos homens é uma consequência desta vontade livre e soberana que ama pecadores e decide salvá-los apesar de sua condição de condenados pelos seus próprios pecados.
O amor eletivo de Deus precede o envio de seu filho é a sua causa motriz. O próprio desejo do Filho de ser o nosso Redentor decorre do desejo de satisfazer à vontade do Pai. Ele veio a nós, porque o Pai nos escolheu para si. 

A Natureza da Eleição da Graça

É imutável - é seguro dizer que podemos confiar nela - 2 Timóteo 2.19
É eterna - já fizemos menção disto - Romanos 8.29.
É incondicional - não é determinada por nada externo a Deus, senão por sua vontade somente - não é um abra definida por nós e por aquilo que fazermos, mas pelo desejo de Deus manifestar sua misericórdia e amor (Atos 13.48). 
É irresistível - Salmo 110.3 - Filipenses 2.13 - mesmo que o homem se oponha a ela, não é capaz de manter-se longe de seu poder. Deus, muda as inclinações da nossa vontade e nos conduz a ele. 

O Propósito da Eleição da Graça
Salvação dos eleitos - 2. Tessalonicenses 2.13
Glória de Deus - Efésios 1.6, 12, 14; 2.10. 2 Timóteo 2.21
Mostrar o poder da Ira e da Misericórdia de Deus, ressaltar sua graça - Romanos 9.19 a 23.