Aula
5 – O Filho do Homem
INTRODUÇÃO
Em nosso curso, a partir
das aulas do irmão Fábio Marchiori, já construímos os pontos de partida para análise
do livro de Apocalipse, uma vez que já vimos sua formação literária e o pano de
fundo histórico demarcado pelas perseguições, o culto ao imperador e à cultura
greco-romana.
A partir desta aula,
trabalharemos mais fortemente o texto em si. A partir das sessões paralelas de
Apocalipse (nos valemos da estrutura proposta pelo comentarista Willian
Hendrickesen), tomaremos os temas centrais do livro para encontrar o mesmo
efeito que houve sobre a mente dos seus primeiros leitores do século I.
Nesta aula, faremos uma
busca inicial pelos principais retratos pintados em Apocalipse e em seguida nos
deteremos na figura do Filho do Homem e sua força e centralidade para a Igreja
Cristã.
OS PRINCIPAIS RETRATOS PINTADOS NO APOCALIPSE
O Retrato de
Cristo
O livro bem estruturado
de maneira bem simples. Jesus Cristo é o centro de todo o livro, ao redor dele
é que figuram todas as outras personagens e enredos descritos no livro. As
imagens de Cristo são inúmeras neste livro, como por exemplo: Cordeiro, Rei,
Leão, Cavaleiro, etc. Ele é descrito como um Vitorioso Conquistador e como um
Rei que impera sobre tudo e todos.
A primeira parte desta
estrutura cristocêntrica apresenta Jesus Cristo como o centro da vida da
Igreja. Nos capítulos 1 a 3, ele é aquele que passei entre os candeeiros, que
são as Igrejas (2.1).
Em seguida, logo depois
deste olhar para a Igreja, é apresentado a João uma cena celestial e Cristo,
assentado no trono era o centro das atenções celestiais (4.3 e 4).
Jesus é o responsável
por abrir do selos, o que significa dizer que é o iniciador das ações que cada
um destes selos desencadeia. Da mesma forma, quando os sete anjos sairam a
tocar as trombetas, em decorrência do sétimo selo, é também o Cordeiro quem
está à frente dos acontecimentos desencadeados a partir. Com isso, o livro
acaba nos mostrando que a história se desenrola a partir do Governo de Cristo
(capítulos 6 a 11).
Os capítulos 12 a 18,
retratam a vitória de Cristo sobre os seus inimigos e os capítulos 19 a 20
enfatizam esta mesma vitória de outro
ponto de vista.
Os capítulos 21 e 22,
mostram Cristo reunido com sua noiva e centraliza a história da Igreja e do
mundo na sua volta ao dizer que “Vem sem demora”.
Em todas estas coisas,
você perceberá que este livro está completamente centrado em Cristo e deseja
que você reconheça essa centralidade como o ponto de vista pelo qual você deve
observar toda sua vida e lutas.
Acredito que a melhor
maneira de nos aproximar deste livro é justamente esta, a partir de Cristo
Jesus. O que realidade é o propósito central desta profecia, mostrar a figura
proeminente de Cristo em toda a história:
Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele
que é, que era e que há de vir, o Todo-poderoso (Apocalipse 1.8).
É Jesus mesmo quem
deseja apresentar à Igreja sua centralidade em todas as coisas. Ele não desejou
apenas que os crentes o reconhecem vivo, ou que colocassem na sua ressurreição
sua fé. Ele desejou que eles pudessem saber que tudo estava sendo dirigido para
um fim, o “eschaton”, a culminância de um plano definido por ele.
O livro de Apocalipse é
um chamado para “crer na realidade do Cristo Vivo” e na sua “promessa de voltar
para a sua Igreja”. Este, então, é o principio fundamental para a leitura deste
livro e da realidade que nos cerca.
O propósito desta visão
cristocêntrica de todas as coisas e de toda a história da nossa vida é
estabelecer um tipo de Igreja no mundo que não viva a partir da confiança em si
mesma, nem na confiança de suas possibilidades sociais´.
Por outro lado, a Igreja
que compreende o princípio cristocêntrico da existência não estará afundada em
decepções ou tristezas promovidas pelas dificuldades inerentes da vida na
presente era existencial e do fato de que ainda convivemos com muitos inimigos
da nossa fé.
Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele
pôs sobre mim a mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último e
aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos
e tenho as chaves da morte e do inferno (Apocalipse 1.17 e 18).
Esta é, com certeza, uma
das mais importantes premissas da nossa fé e sob esta fé devemos enfrentar
todas as coisas da nossa vida com bravura e confiança. Contudo, jamais devemos
nos propor a confiar em nós mesmos e este é um outro ponto central neste livro,
que trataremos no tópico a seguir.
O Retrato da
Igreja
O papel da Igreja no
Livro de Apocalipse é central, pois a toda a atividade do livro de Apocalipse
acontece por causa e em favor da Igreja. Uma observação que irei fazer, antes
de começar este ponto é o de distinguir dois termos que irei usar: história e
meta-história. História, para mim, é o termo que define os acontecimentos
sentidos pelos homens, pelas Igrejas da Ásia Menor e por nós, Igreja Militante
de todos os tempos; meta-história é o termo que uso para definir a realidade
não material e invisível, descrita em todo o transcorrer do Livro.
Devemos primordialmente
lembrar que o Livro é Escrito para a Igreja, para servir-lhe como alerta,
conforto e instrução para os tempos difíceis que estava passando o povo de
Deus. Foi um escrito extremamente precioso para a Igreja do Primeiro Século, e
o tem sido para todos os tempos. Contudo, creio que será ainda mais precioso
para aqueles irmãos que viverem os tempos finais, bem próximo ao Grande Dia do
Eschaton.
É um livro rico de auxílio e encorajamento para os
crentes perseguidos e em sofrimento. Assegura-lhes que Deus vê suas lágrimas
(7.17; 21.4); suas orações exercem grande influência no mundo (8.3 e 4); que
sua morte é preciosa aos olhos de Deus (14.13); a sua vitória final lhes é
garantida (15.2); o seu sangue será vingado (19.2); o seu Cristo vive e reina
pelos séculos dos séculos (1.17 e 18); Ele governa o mundo em função de Sua
Igreja (5.7 e 8); Ele virá pela segunda vez e levará Sua Igreja para Si mesmo,
para a ceia das bodas do Cordeiro, e habitará com ela para sempre, num Universo totalmente novo (Cap.21 e 22)
(HENDRIKSEN, 1987, pág.16).
Da mesma forma como
Hendriksen identificou estes conforto para a Igreja em tantas passagens do
Apocalipse, poderemos encontrar suas instruções, exortações à fidelidade e o
mais importante, o estabelecimento de um conceito de mundo, concentrado em
Cristo e na sua História com a própria Igreja.
No transcorrer do Livro
podemos identificar esta relação direta de Cristo com a Igreja. Podemos começar
com o texto que aponta para a centralidade dEle na Igreja, andando em meio aos
candeeiros:
Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na
minha mão direita e aos sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os anjos
das sete Igrejas, e os sete candeeiros são as sete Igrejas. Ao anjo da Igreja
em Éfeso escreve: Estas coisas diz aquele que conserva na mão direita as sete
estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro (Apocalipse 1.20 e
2.1).
Quanto às cartas
dirigidas às sete Igrejas da Ásia Menor, têm sido muito debatido se devemos
entender como tendo sido dirigidas à Igreja locais reais ou se são apenas
Igrejas Ilustrativas de todas as Igrejas existentes. Particularmente, prefiro
seguir a linha de que estas Igrejas realmente existiam e precisaram desta
orientação, pois seus sofrimentos poderiam ser exatamente estes descritos, no
entanto, também representavam, em certa medida, tudo por que passaria o
cristianismo ao longo de todas as eras da História da Igreja e, estas cartas,
portanto, seriam dirigidas a todas e quaisquer Igrejas em todas as épocas.
O ponto mais importante
que eu gostaria de destacar aqui é que em todas elas temos a seguinte palavra: “Conheço...”.
Este é um ponto muito importante do claro relacionamento que Cristo tem com
sua Igreja. Ele não é o Cristo glorificado e que tem ficado alheio à Igreja
Militante; não está assentado no Trono Celestial ocupado de governar o
Universo, sem olhar de forma mais detida para a Igreja.
O que temos nesta parte
introdutória do Apocalipse é, em minha opinião, a introdução perfeita para esta
grande profecia de conforto, que é o ponto de partida da Realidade Sentida e
Visível, para aquela Realidade Intangível e Invisível. Ou seja, os crentes, em
circunstâncias reais, poderiam pensar que tudo se resumiria ao que podem ver e
sentir na própria pela, mas Cristo vem, com o Livro de Apocalipse, mostrar que
não é assim, eles poderiam viver, vendo e sentido as tramas desta vida, com a
certeza de que Ele “conhece” todos estes processos e trabalha para eu caminhe
segundo a sua vontade, para o bem da Igreja.
A estrutura do Livro é a
Igreja Perseguida no início e Honrada no final. Portanto, o Livro começa e
termina com o transcorrer da História da Igreja.
Assim, você poderá
perceber, em cada um dos círculos históricos percorridos no Livro, que a Igreja
é aquele que é beneficiária do agir do Cordeiro Rei. Ela sofre as perseguições,
mas é sustentada e liberta pelo poder do Rei dos Reis, Senhor dos Senhores.
Não vamos seguir os
textos como já fizemos na sessão passada, apenas queremos que você os releia
com olhares para este processo de cuidado e libertação da Igreja por parte de
Cristo.
A Igreja é vista como o
Reino de Sacerdotes do Senhor sobre a terra. Isso não pode ser visto nas
descrições que se revelam nas cartas as sete Igrejas, mas João, a quem foi
tirado o véu (revelado), pode contemplar que esta é a verdade:
“e entoavam novo cântico dizendo: Digno és de tomar
o livro e abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste
para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso
Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra” (5.9 e 10).
O Apóstolo Pedro já
havia escrito sobre a Igreja esta mesma percepção:
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real,
nação santa, povo de propriedade exclusiva de deus, a fim de proclamardes as
virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro
2.9).
Portanto, a Igreja,
quando anuncia o Evangelho da Realidade do Reino e do Cristo Entronizado, está
governando com Ele, afinal é pela pregação da Palavra de Deus que exercemos o
nosso papel de Sacerdócio Real e Nação Santa.
Poderíamos explorar
outros aspectos e detalhes do Livro para reafirmar a posição da Igreja nele,
contudo, acredito que o leitor poderá identificar tudo isto com a sua leitura.
Saltemos, então, para os dois últimos aspectos que desejo explorar, os
capítulos finais.
No capítulo 20, temos
uma longa descrição da visão que culmina com o Juízo Final. Já destaquei no
bloco anterior, mas quero reforçar aqui, o ponto de que o Juízo Final, conforme
descrito nos versos finais do capítulo 20, tem como destaque apenas o destino final
dos ímpios:
“E se alguém não foi achado inscrito no Livro da
Vida, esse foi lançado para dentro do lago de foto” (20.15).
Mas por quê? Por que o
texto sobre o juízo final não é construído como Cristo o fez, mostrando tantos
os bodes como as ovelhas? Outra pergunta é: mas por que, sendo o Juízo Final um
momento tão significativo do final da História, tendo gasto tanto tempo
mostrando a Vitória de Cristo sobre o Maligno, porque tão poucos versos para
descrevê-lo?
A minha resposta é que,
na verdade, o ponto central da Vitória de Cristo não é o lançamento do Diabo e
da morte no Lago de Fogo, nem a condenação final dos ímpios. A grande Vitória
de Cristo é que ele consegue reunir para sempre consigo os seus, aqueles que
Ele amou e, pelos quais deu a vida. Por isso, logo depois de rapidamente falar
sobre o Juízo Final, ele gastará um capítulo e meio, descrevendo a sua Vitória
e a Vitória da Sua Igreja.
Este Livro é escrito
para a Igreja conhecer esta meta-história que acontece a despeito de suas lutas
e sofrimentos. É para que ela seja consolada e para que a sua fé seja
fortalecida. Não à toa é que o Livro que bem perto do final encontramos as
seguintes palavras:
“Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar
estas coisas às Igrejas. Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante estrela
da manhã. O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele
que tem sede venha, e quem quiser receba de graça água da vida” (22.16 e 17)
Toda a mensagem é para
as Igrejas e os seus mensageiros (anjos) deveriam anunciar estas verdades à
elas, para que, as igrejas, diante do exposto no livro, fossem fortalecidas e
desejassem essa “Vitória Final” e dissesse: Vem! Estes versos estão intimamente
ligados aos versos dos capítulos iniciais das cartas às Igrejas, que deveriam
ouvir o Espírito.
Portanto, é possível
perceber que, depois de Jesus Cristo como centro unificador e motor deste
livro, a segunda personagem de grande importância é a Igreja, para quem Cristo
dirige o livro e suas ações redentivas da meta-história.
O Retrato
dos Inimigos de Cristo e da Igreja
Um outro aspecto
interessante da história narrada em Apocalipse, assim como da narrativa
meta-histórica é a presença constante da referência aos inimigos de Cristo e da
Igreja.
Um importante conceito a
ser destacado neste momento é que devemos reconhecer que os inimigos descritos
no Livro de Apocalipse não são meramente inimigos da Igreja, eles estão
rebelados contra o Cordeiro de Deus, pois este é o seu real e primordial
inimigo. Contudo, a materialização desta luta e o ponto onde este inimigo
pretende ferir o Cordeiro é o Seu Corpo, isto é, a Igreja visível de Cristo,
faremos menção disto mais à frente.
A Escritura Sagrada,
sobretudo o Novo Testamento aponta para esta oposição das hostes inimigas à
Cristo. Não poucas passagens, inclusive das falas do próprio Cristo o declaram
de forma explícita:
Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a
vós outros, me odiou a mim. E vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era
seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por
isso, o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo
maior do que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós
outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isso vos
farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou (João
15.18 a 21).
A Igreja Visível e
Militante, portanto, sofrerá a parte material desta luta, o que podemos ver no
Apocalipse retratado nos capítulos 2 e 3, na parte da narrativa histórica ou
história vivenciável do texto. Em outras palavras, como já disse anteriormente,
estes capítulos se reportam aos resultados visíveis de uma luta invisível, que
ocorre nos meandros da meta-história descrita nos capítulos seguintes.
Tomemos como exemplo,
Apocalipse 2.8 a 11, a carta à Igreja de Esmirna. Nesta narrativa, o texto, faz
menção às grandes tribulações pelo que passaria a Igreja. O texto, chega a
dizer diretamente que o diabo lançaria em prisão alguns dos crentes daquela igreja.
Assim, percebemos com muita frequência nestas cartas, a presença inimiga se
alinhando contra os filhos de Deus, a Igreja.
O ponto mais central desta parte do Livro, no
que diz respeito aos inimigos de Cristo e da Igreja é que eles lutam para
perverter a fé dos filhos de Deus, numa tentativa clara de com isso fazer
sangrar o Corpo de Cristo e o próprio Cordeiro.
Em todas essas
descrições veremos como ferramenta básica a apostasia, que seria incentivada
pela violência, persuasão pecaminosa, incentivo às paixões da carne, mentira,
falso ensino e até mesmo usando os pecados próprios da Igreja, como o
egocentrismo dos próprios crentes.
Na tabela a seguir
podemos visualizar de forma simples e primária a presença destes inimigos
nestas cartas às Igrejas da Ásia Menor. Poderemos perceber que, mesmo que os
estratagemas sejam de natureza material e concreta, em muitas ocasiões, é
atribuído às forças das trevas a eficácia de sua ação.
Igreja
|
texto
|
inimigo
|
Ação
inimiga contra a Igreja
|
Éfeso
|
2.1 a 7
|
nicolaítas
|
Obras más,
dissimuladas com aparência de coisa boa.
|
Esmirna
|
2. 8 a 11
|
Falsos judeus e
o diabo
|
Blasfêmias e
violência e prisão, aparentemente em nome do estado.
|
Pérgamo
|
2.12 a 17
|
Idólatras e
nicolaítas
|
Tentam enganar a
igreja para se tornar idólatra; ciladas do engano contra a Igreja.
|
Tiatira
|
2. 18 a 29
|
Falsos profetas,
invocadores de Satanás
|
Seduzem a Igreja
à prostituição e à idolatria.
|
Sardes
|
3.1 a 6
|
Falsos crentes
|
Tentam
contaminar a Igreja, levando-a a um viver pecaminoso.
|
Filadélfia
|
3.7 a 13
|
Falsos judeus,
seguidores de doutrinas de demônios
|
Com mentira
tentam enganar a Igreja
|
Laodicéia
|
3.14 a 22
|
Crentes
Egocêntricos
|
Levam a Igreja a
viver para si mesma, tornando-se irrelevante e perdendo o brilho nas trevas.
|
Os modos de sofrimentos
pelos quais a Igreja de Cristo passa por amor do nome de Cristo serão variados.
Já vimos que a violência e prisão estão entre eles, mas outros podem ser vistos
ao longo do livro, como por exemplo:
(...)são estes os que vêm da grande tribulação,
lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se
acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e
aquele que se assenta no trono, estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais
terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum,
pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará
para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima
(Apocalipse 7.14 a 17).
Estes sofrimentos
impostos à Igreja pelos Inimigos de Cristo serão uma tentativa de causar dano
ao próprio Cristo, mas como isso não é possível, resta ao Diabo e seus
seguidores, intentarem dano contra a Igreja.
Essa consciência da
batalha deverá nos fazer pensar sobre o fato de que a Igreja Militante, luta em
nome de Cristo. A derrota da Igreja, isto é, a sucumbência dela à apostasia,
engano ou a volúpia egocêntrica é desonra a Cristo e ao seu nome. Isto se
constitui em uma das maiores responsabilidades dos crentes: sofrer pelo Nome de
Cristo.
Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por
Cristo e não somente de crerdes nele (Filipenses 1.29).
Essa ligação íntima e
pessoal da Igreja (cada crente em particular e coletivamente) com Cristo
implica também em uma ligação pessoal com os seus inimigos e seus sofrimentos.
Contudo, o texto todo
nos desperta para o fato de que, mesmo tendo sido alvos dos ataques ferozes dos
inimigos de Cristo, a Igreja pode descansar, pois, justamente por causa destas
ligações pessoais com Cristo e com os seus inimigos, é que a Igreja pode
esperar que Cristo lute a seu favor.
Daí as descrições
meta-históricas circulares de Apocalipse sempre nos mostrarem Cristo Salvador
do seu povo e Vitorioso Rei:
Vi o céu aberto, e eis um cavalo brando. Seu
cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça. Os seus
olhos são chama de fogo; na sua cabeça, já muitos diademas; tem um nome escrito
que ninguém conhece, senão ele mesmo. Está vestido com um manto de tinto de
sangue, e o seu nome se chama Verbo de Deus e seguiam-no os exércitos que há no
céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e
puro. Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo
as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da
ira do Deus Todo-poderoso. Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: Rei
dos Reis e Senhor dos Senhores (Apocalipse 19.11 a 16).
Esta grande descrição da
força do Cristo e do Exército do Céu é uma demonstração da grande paz que pode
viver o crente que estiver sob o mais terrível ataque de Satanás, quer
diretamente ou por meio dos seus asseclas. O que o livro nos ajuda a considerar
é que existe uma história de guerra, na qual Cristo é o grande Vencedor o Nome
a ser temido e não Satanás.
João recebe esta visão
da derrota dos Inimigos de Cristo e da Igreja em um momento que a Igreja
precisava ser preparada para estas coisas, especialmente, as grandes
perseguições que se deram tempos depois, com crueldade intensa, muitas vezes.
Por fim, o livro de
Apocalipse descreve a destruição final dos inimigos de Cristo, a qual ocorrerá
no Eschaton, no Dia do Juízo:
Então, a morte e o inferno foram lançados para
dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém
não foi achado inscrito no livro da vida, esse foi lançado para dentro do lago
de fogo (Apocalipse 20.14 e 15).
Embora outros aspectos
da presença dos inimigos de Cristo e o modo como militam contra Cristo,
perseguindo a Igreja, possam ser encontrados em Apocalipse. Faço estas
descrições preliminares, justamente para lhes fazer perceber o quanto nossas
lutas neste mundo devem ser encaradas com coragem e a determinação de quem
entende o que está em jogo: a honra do Nome de Cristo.
O Papel de Cristo – O Filho do Homem
Introdução do Livro (1.1 a 1.3)
Destinatários e sua relação com o Senhor – Alfa e Ômega
(1.4 a 1.8)
O Testemunho de João (1.9 a 1.20)
O Papel de Cristo – O Filho do Homem
Retomando a figura de
Jesus Cristo, especialmente nos primeiros três capítulos do livro de
Apocalipse, o que temos é uma relação direta de cuidado e proteção de Cristo
para com a sua Igreja, que deveria conceder aos crentes a visão do conforto e
esperança que há para os que estão em Cristo Jesus.
Introdução do Livro (1.1 a 1.3)
Uma pequena introdução
aponta para alguns aspectos interessantes do livro. Primeiro se destaca o fato
de que Cristo é diretamente o autor das revelações de Apocalipse e a relação
que se estabelece é de “servos-senhor”.
Revelação de
Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em
breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou
ao seu servo João (Ap 1.1).
Portanto, logo no início
o que percebemos é o propósito de estabelecer uma relação de cuidado histórico
entre Cristo e sua igreja, o Senhor e os seus servos. Mas, o ponto fundamental
é o que se descreve no verso 3, quando diz que a busca é que os “servos”, os
crentes em Cristo, leiam estas costas e guardem sua fidelidade, sabendo que o
tempo está próximo.
Bem-aventurados
aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as
coisas nela escritas, pois o tempo está próximo (Ap 1.3).
Destinatários e sua relação com o Senhor – Alfa e Ômega
(1.4 a 1.8)
Nesta segunda sessão
introdutória, os destinatários são clarificados: as sete igrejas da Ásia. O que
se deseja é que estas igrejas, que serão fortemente atacadas pelos inimigos,
encontrem na sua relação com Jesus segurança.
João, às
sete igrejas que se encontram na Ásia, graça e paz a vós outros, da parte
daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham
diante do trono e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito
dos mortos e o Soberano dos Reis da terra. Aquele que nos ama, e pelo seu
sangue, nos libertou dos nossos pecados e nos constituiu reino, sacerdotes para
o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém
(Ap 1.4-6).
O que se destaca nesta
fala do livro é que os servos de Cristo deveriam se assegurar de confiar na
Palavra da Testemunha Fiel, que era também o primeiro ressurreto e o soberano
de todos os reis. Eles precisavam saber que esta relação de amor é profunda e
segura, portanto, deveriam também confiar que a sua história está nas mãos dele,
que tem domínio sobre os séculos dos séculos.
Ao final, a palavra de
consolo é para que suportem as aflições, afinal, o tempo do fim é chegado e
logo virá o resgate final do que confiam nele e o dia da vingança do Cordeiro
será contra todos os inimigos da cruz.
Eis que vem
com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E toda sas
tribos da terra se lamentarão sobre ele. Certamente. Amém. Eu sou o Alfa e o
Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que já de vir, o
Todo-poderoso (Ap 1.7-8).
O Testemunho de João (1.9 a 1.20)
Não devemos desconsiderar
a importância de João, o último dos apóstolos, para a Igreja Cristã do primeiro
século. Sem dúvida alguma, ele teve de assumir um papel de grande importância,
afinal, para muitos dos seus irmãos, ele era uma referência singular da
veracidade da verdade bíblica entregue à igreja.
Por isso, a ênfase dos
escritos de João em sua apostolicidade e credibilidade como aquele que viu a
Jesus. Aqui, nestes versos ainda introdutórios do livro, João atesta a sua
visão do Cristo Glorificado como o ponto de partida e segurança para todo o
livro. O Cristo que ele vê agora, não é mais aquele que fora crucificado, mas o
Cristo Ressurreto, glorioso e poderoso.
Uma das passagens mais
curiosas desta introdução é que este Jesus chama João à confiança descrevendo
sua morte e ressurreição foram eventos que deram início à sua vitória final:
Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele
pôs sobre mim a mão direita dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último e
aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos
e tenho as chaves da morte e do inferno (Ap 1.17-18).
Esta sessão se encerra
com a afirmativa da relação de cuidado histórico de Cristo com as igrejas. Esta
relação é baseada na mensagem que o Senhor envia à sua igreja, a Palavra de
Deus assumindo o papel de ser a face de Deus na condução do seu povo escolhido.
Escreve
estas coisas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas.
Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita e aos sete
candeeiros de ouro, as sete estrelas são os sete anjos das sete igrejas, e os
sete candeeiros de ouro são as sete igrejas (Ap 1.19-20).
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