domingo, 11 de junho de 2017

Apocalipse - Aula 5 - O Papel de Cristo

Aula 5 – O Filho do Homem

INTRODUÇÃO
Em nosso curso, a partir das aulas do irmão Fábio Marchiori, já construímos os pontos de partida para análise do livro de Apocalipse, uma vez que já vimos sua formação literária e o pano de fundo histórico demarcado pelas perseguições, o culto ao imperador e à cultura greco-romana.
A partir desta aula, trabalharemos mais fortemente o texto em si. A partir das sessões paralelas de Apocalipse (nos valemos da estrutura proposta pelo comentarista Willian Hendrickesen), tomaremos os temas centrais do livro para encontrar o mesmo efeito que houve sobre a mente dos seus primeiros leitores do século I.
Nesta aula, faremos uma busca inicial pelos principais retratos pintados em Apocalipse e em seguida nos deteremos na figura do Filho do Homem e sua força e centralidade para a Igreja Cristã.

OS PRINCIPAIS RETRATOS PINTADOS NO APOCALIPSE


O Retrato de Cristo
O livro bem estruturado de maneira bem simples. Jesus Cristo é o centro de todo o livro, ao redor dele é que figuram todas as outras personagens e enredos descritos no livro. As imagens de Cristo são inúmeras neste livro, como por exemplo: Cordeiro, Rei, Leão, Cavaleiro, etc. Ele é descrito como um Vitorioso Conquistador e como um Rei que impera sobre tudo e todos.
A primeira parte desta estrutura cristocêntrica apresenta Jesus Cristo como o centro da vida da Igreja. Nos capítulos 1 a 3, ele é aquele que passei entre os candeeiros, que são as Igrejas (2.1).
Em seguida, logo depois deste olhar para a Igreja, é apresentado a João uma cena celestial e Cristo, assentado no trono era o centro das atenções celestiais (4.3 e 4).
Jesus é o responsável por abrir do selos, o que significa dizer que é o iniciador das ações que cada um destes selos desencadeia. Da mesma forma, quando os sete anjos sairam a tocar as trombetas, em decorrência do sétimo selo, é também o Cordeiro quem está à frente dos acontecimentos desencadeados a partir. Com isso, o livro acaba nos mostrando que a história se desenrola a partir do Governo de Cristo (capítulos 6 a 11).
Os capítulos 12 a 18, retratam a vitória de Cristo sobre os seus inimigos e os capítulos 19 a 20 enfatizam esta mesma vitória de outro  ponto de vista.
Os capítulos 21 e 22, mostram Cristo reunido com sua noiva e centraliza a história da Igreja e do mundo na sua volta ao dizer que “Vem sem demora”.
Em todas estas coisas, você perceberá que este livro está completamente centrado em Cristo e deseja que você reconheça essa centralidade como o ponto de vista pelo qual você deve observar toda sua vida e lutas.
Acredito que a melhor maneira de nos aproximar deste livro é justamente esta, a partir de Cristo Jesus. O que realidade é o propósito central desta profecia, mostrar a figura proeminente de Cristo em toda a história:
Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-poderoso (Apocalipse 1.8).
É Jesus mesmo quem deseja apresentar à Igreja sua centralidade em todas as coisas. Ele não desejou apenas que os crentes o reconhecem vivo, ou que colocassem na sua ressurreição sua fé. Ele desejou que eles pudessem saber que tudo estava sendo dirigido para um fim, o “eschaton”, a culminância de um plano definido por ele.
O livro de Apocalipse é um chamado para “crer na realidade do Cristo Vivo” e na sua “promessa de voltar para a sua Igreja”. Este, então, é o principio fundamental para a leitura deste livro e da realidade que nos cerca.
O propósito desta visão cristocêntrica de todas as coisas e de toda a história da nossa vida é estabelecer um tipo de Igreja no mundo que não viva a partir da confiança em si mesma, nem na confiança de suas possibilidades sociais´.
Por outro lado, a Igreja que compreende o princípio cristocêntrico da existência não estará afundada em decepções ou tristezas promovidas pelas dificuldades inerentes da vida na presente era existencial e do fato de que ainda convivemos com muitos inimigos da nossa fé.
Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno (Apocalipse 1.17 e 18).
Esta é, com certeza, uma das mais importantes premissas da nossa fé e sob esta fé devemos enfrentar todas as coisas da nossa vida com bravura e confiança. Contudo, jamais devemos nos propor a confiar em nós mesmos e este é um outro ponto central neste livro, que trataremos no tópico a seguir.

O Retrato da Igreja
O papel da Igreja no Livro de Apocalipse é central, pois a toda a atividade do livro de Apocalipse acontece por causa e em favor da Igreja. Uma observação que irei fazer, antes de começar este ponto é o de distinguir dois termos que irei usar: história e meta-história. História, para mim, é o termo que define os acontecimentos sentidos pelos homens, pelas Igrejas da Ásia Menor e por nós, Igreja Militante de todos os tempos; meta-história é o termo que uso para definir a realidade não material e invisível, descrita em todo o transcorrer do Livro.
Devemos primordialmente lembrar que o Livro é Escrito para a Igreja, para servir-lhe como alerta, conforto e instrução para os tempos difíceis que estava passando o povo de Deus. Foi um escrito extremamente precioso para a Igreja do Primeiro Século, e o tem sido para todos os tempos. Contudo, creio que será ainda mais precioso para aqueles irmãos que viverem os tempos finais, bem próximo ao Grande Dia do Eschaton.
É um livro rico de auxílio e encorajamento para os crentes perseguidos e em sofrimento. Assegura-lhes que Deus vê suas lágrimas (7.17; 21.4); suas orações exercem grande influência no mundo (8.3 e 4); que sua morte é preciosa aos olhos de Deus (14.13); a sua vitória final lhes é garantida (15.2); o seu sangue será vingado (19.2); o seu Cristo vive e reina pelos séculos dos séculos (1.17 e 18); Ele governa o mundo em função de Sua Igreja (5.7 e 8); Ele virá pela segunda vez e levará Sua Igreja para Si mesmo, para a ceia das bodas do Cordeiro, e habitará com ela para sempre, num  Universo totalmente novo (Cap.21 e 22) (HENDRIKSEN, 1987, pág.16). 
Da mesma forma como Hendriksen identificou estes conforto para a Igreja em tantas passagens do Apocalipse, poderemos encontrar suas instruções, exortações à fidelidade e o mais importante, o estabelecimento de um conceito de mundo, concentrado em Cristo e na sua História com a própria Igreja.
No transcorrer do Livro podemos identificar esta relação direta de Cristo com a Igreja. Podemos começar com o texto que aponta para a centralidade dEle na Igreja, andando em meio aos candeeiros:
Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita e aos sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os anjos das sete Igrejas, e os sete candeeiros são as sete Igrejas. Ao anjo da Igreja em Éfeso escreve: Estas coisas diz aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro (Apocalipse 1.20 e 2.1).
Quanto às cartas dirigidas às sete Igrejas da Ásia Menor, têm sido muito debatido se devemos entender como tendo sido dirigidas à Igreja locais reais ou se são apenas Igrejas Ilustrativas de todas as Igrejas existentes. Particularmente, prefiro seguir a linha de que estas Igrejas realmente existiam e precisaram desta orientação, pois seus sofrimentos poderiam ser exatamente estes descritos, no entanto, também representavam, em certa medida, tudo por que passaria o cristianismo ao longo de todas as eras da História da Igreja e, estas cartas, portanto, seriam dirigidas a todas e quaisquer Igrejas em todas as épocas.
O ponto mais importante que eu gostaria de destacar aqui é que em todas elas temos a seguinte palavra: “Conheço...”. Este é um ponto muito importante do claro relacionamento que Cristo tem com sua Igreja. Ele não é o Cristo glorificado e que tem ficado alheio à Igreja Militante; não está assentado no Trono Celestial ocupado de governar o Universo, sem olhar de forma mais detida para a Igreja.
O que temos nesta parte introdutória do Apocalipse é, em minha opinião, a introdução perfeita para esta grande profecia de conforto, que é o ponto de partida da Realidade Sentida e Visível, para aquela Realidade Intangível e Invisível. Ou seja, os crentes, em circunstâncias reais, poderiam pensar que tudo se resumiria ao que podem ver e sentir na própria pela, mas Cristo vem, com o Livro de Apocalipse, mostrar que não é assim, eles poderiam viver, vendo e sentido as tramas desta vida, com a certeza de que Ele “conhece” todos estes processos e trabalha para eu caminhe segundo a sua vontade, para o bem da Igreja.
A estrutura do Livro é a Igreja Perseguida no início e Honrada no final. Portanto, o Livro começa e termina com o transcorrer da História da Igreja.
Assim, você poderá perceber, em cada um dos círculos históricos percorridos no Livro, que a Igreja é aquele que é beneficiária do agir do Cordeiro Rei. Ela sofre as perseguições, mas é sustentada e liberta pelo poder do Rei dos Reis, Senhor dos Senhores.
Não vamos seguir os textos como já fizemos na sessão passada, apenas queremos que você os releia com olhares para este processo de cuidado e libertação da Igreja por parte de Cristo.
A Igreja é vista como o Reino de Sacerdotes do Senhor sobre a terra. Isso não pode ser visto nas descrições que se revelam nas cartas as sete Igrejas, mas João, a quem foi tirado o véu (revelado), pode contemplar que esta é a verdade:
“e entoavam novo cântico dizendo: Digno és de tomar o livro e abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra” (5.9 e 10).
O Apóstolo Pedro já havia escrito sobre a Igreja esta mesma percepção:
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2.9).
Portanto, a Igreja, quando anuncia o Evangelho da Realidade do Reino e do Cristo Entronizado, está governando com Ele, afinal é pela pregação da Palavra de Deus que exercemos o nosso papel de Sacerdócio Real e Nação Santa.
Poderíamos explorar outros aspectos e detalhes do Livro para reafirmar a posição da Igreja nele, contudo, acredito que o leitor poderá identificar tudo isto com a sua leitura. Saltemos, então, para os dois últimos aspectos que desejo explorar, os capítulos finais.
No capítulo 20, temos uma longa descrição da visão que culmina com o Juízo Final. Já destaquei no bloco anterior, mas quero reforçar aqui, o ponto de que o Juízo Final, conforme descrito nos versos finais do capítulo 20, tem como destaque apenas o destino final dos ímpios:
“E se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de foto” (20.15).
Mas por quê? Por que o texto sobre o juízo final não é construído como Cristo o fez, mostrando tantos os bodes como as ovelhas? Outra pergunta é: mas por que, sendo o Juízo Final um momento tão significativo do final da História, tendo gasto tanto tempo mostrando a Vitória de Cristo sobre o Maligno, porque tão poucos versos para descrevê-lo?
A minha resposta é que, na verdade, o ponto central da Vitória de Cristo não é o lançamento do Diabo e da morte no Lago de Fogo, nem a condenação final dos ímpios. A grande Vitória de Cristo é que ele consegue reunir para sempre consigo os seus, aqueles que Ele amou e, pelos quais deu a vida. Por isso, logo depois de rapidamente falar sobre o Juízo Final, ele gastará um capítulo e meio, descrevendo a sua Vitória e a Vitória da Sua Igreja.
Este Livro é escrito para a Igreja conhecer esta meta-história que acontece a despeito de suas lutas e sofrimentos. É para que ela seja consolada e para que a sua fé seja fortalecida. Não à toa é que o Livro que bem perto do final encontramos as seguintes palavras:
“Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às Igrejas. Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante estrela da manhã. O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça água da vida” (22.16 e 17)
Toda a mensagem é para as Igrejas e os seus mensageiros (anjos) deveriam anunciar estas verdades à elas, para que, as igrejas, diante do exposto no livro, fossem fortalecidas e desejassem essa “Vitória Final” e dissesse: Vem! Estes versos estão intimamente ligados aos versos dos capítulos iniciais das cartas às Igrejas, que deveriam ouvir o Espírito.
Portanto, é possível perceber que, depois de Jesus Cristo como centro unificador e motor deste livro, a segunda personagem de grande importância é a Igreja, para quem Cristo dirige o livro e suas ações redentivas da meta-história.

O Retrato dos Inimigos de Cristo e da Igreja
Um outro aspecto interessante da história narrada em Apocalipse, assim como da narrativa meta-histórica é a presença constante da referência aos inimigos de Cristo e da Igreja.
Um importante conceito a ser destacado neste momento é que devemos reconhecer que os inimigos descritos no Livro de Apocalipse não são meramente inimigos da Igreja, eles estão rebelados contra o Cordeiro de Deus, pois este é o seu real e primordial inimigo. Contudo, a materialização desta luta e o ponto onde este inimigo pretende ferir o Cordeiro é o Seu Corpo, isto é, a Igreja visível de Cristo, faremos menção disto mais à frente.
A Escritura Sagrada, sobretudo o Novo Testamento aponta para esta oposição das hostes inimigas à Cristo. Não poucas passagens, inclusive das falas do próprio Cristo o declaram de forma explícita:
Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. E vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isso vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou (João 15.18 a 21).
A Igreja Visível e Militante, portanto, sofrerá a parte material desta luta, o que podemos ver no Apocalipse retratado nos capítulos 2 e 3, na parte da narrativa histórica ou história vivenciável do texto. Em outras palavras, como já disse anteriormente, estes capítulos se reportam aos resultados visíveis de uma luta invisível, que ocorre nos meandros da meta-história descrita nos capítulos seguintes.
Tomemos como exemplo, Apocalipse 2.8 a 11, a carta à Igreja de Esmirna. Nesta narrativa, o texto, faz menção às grandes tribulações pelo que passaria a Igreja. O texto, chega a dizer diretamente que o diabo lançaria em prisão alguns dos crentes daquela igreja. Assim, percebemos com muita frequência nestas cartas, a presença inimiga se alinhando contra os filhos de Deus, a Igreja.
 O ponto mais central desta parte do Livro, no que diz respeito aos inimigos de Cristo e da Igreja é que eles lutam para perverter a fé dos filhos de Deus, numa tentativa clara de com isso fazer sangrar o Corpo de Cristo e o próprio Cordeiro.
Em todas essas descrições veremos como ferramenta básica a apostasia, que seria incentivada pela violência, persuasão pecaminosa, incentivo às paixões da carne, mentira, falso ensino e até mesmo usando os pecados próprios da Igreja, como o egocentrismo dos próprios crentes.
Na tabela a seguir podemos visualizar de forma simples e primária a presença destes inimigos nestas cartas às Igrejas da Ásia Menor. Poderemos perceber que, mesmo que os estratagemas sejam de natureza material e concreta, em muitas ocasiões, é atribuído às forças das trevas a eficácia de sua ação.

Igreja
texto
inimigo
Ação inimiga contra a Igreja
Éfeso
2.1 a 7
nicolaítas
Obras más, dissimuladas com aparência de coisa boa.
Esmirna
2. 8 a 11
Falsos judeus e o diabo
Blasfêmias e violência e prisão, aparentemente em nome do estado.
Pérgamo
2.12 a 17
Idólatras e nicolaítas
Tentam enganar a igreja para se tornar idólatra; ciladas do engano contra a Igreja.
Tiatira
2. 18 a 29
Falsos profetas, invocadores de Satanás
Seduzem a Igreja à prostituição e à idolatria.
Sardes
3.1 a 6
Falsos crentes
Tentam contaminar a Igreja, levando-a a um viver pecaminoso.
Filadélfia
3.7 a 13
Falsos judeus, seguidores de doutrinas de demônios
Com mentira tentam enganar a Igreja
Laodicéia
3.14 a 22
Crentes Egocêntricos
Levam a Igreja a viver para si mesma, tornando-se irrelevante e perdendo o brilho nas trevas.

Os modos de sofrimentos pelos quais a Igreja de Cristo passa por amor do nome de Cristo serão variados. Já vimos que a violência e prisão estão entre eles, mas outros podem ser vistos ao longo do livro, como por exemplo:
(...)são estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se assenta no trono, estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima (Apocalipse 7.14 a 17).
Estes sofrimentos impostos à Igreja pelos Inimigos de Cristo serão uma tentativa de causar dano ao próprio Cristo, mas como isso não é possível, resta ao Diabo e seus seguidores, intentarem dano contra a Igreja.
Essa consciência da batalha deverá nos fazer pensar sobre o fato de que a Igreja Militante, luta em nome de Cristo. A derrota da Igreja, isto é, a sucumbência dela à apostasia, engano ou a volúpia egocêntrica é desonra a Cristo e ao seu nome. Isto se constitui em uma das maiores responsabilidades dos crentes: sofrer pelo Nome de Cristo.
Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele (Filipenses 1.29).
Essa ligação íntima e pessoal da Igreja (cada crente em particular e coletivamente) com Cristo implica também em uma ligação pessoal com os seus inimigos e seus sofrimentos.
Contudo, o texto todo nos desperta para o fato de que, mesmo tendo sido alvos dos ataques ferozes dos inimigos de Cristo, a Igreja pode descansar, pois, justamente por causa destas ligações pessoais com Cristo e com os seus inimigos, é que a Igreja pode esperar que Cristo lute a seu favor.
Daí as descrições meta-históricas circulares de Apocalipse sempre nos mostrarem Cristo Salvador do seu povo e Vitorioso Rei:
Vi o céu aberto, e eis um cavalo brando. Seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça. Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça, já muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo. Está vestido com um manto de tinto de sangue, e o seu nome se chama Verbo de Deus e seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro. Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-poderoso. Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: Rei dos Reis e Senhor dos Senhores (Apocalipse 19.11 a 16).
Esta grande descrição da força do Cristo e do Exército do Céu é uma demonstração da grande paz que pode viver o crente que estiver sob o mais terrível ataque de Satanás, quer diretamente ou por meio dos seus asseclas. O que o livro nos ajuda a considerar é que existe uma história de guerra, na qual Cristo é o grande Vencedor o Nome a ser temido e não Satanás.
João recebe esta visão da derrota dos Inimigos de Cristo e da Igreja em um momento que a Igreja precisava ser preparada para estas coisas, especialmente, as grandes perseguições que se deram tempos depois, com crueldade intensa, muitas vezes.
Por fim, o livro de Apocalipse descreve a destruição final dos inimigos de Cristo, a qual ocorrerá no Eschaton, no Dia do Juízo:
Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no livro da vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo (Apocalipse 20.14 e 15).

Embora outros aspectos da presença dos inimigos de Cristo e o modo como militam contra Cristo, perseguindo a Igreja, possam ser encontrados em Apocalipse. Faço estas descrições preliminares, justamente para lhes fazer perceber o quanto nossas lutas neste mundo devem ser encaradas com coragem e a determinação de quem entende o que está em jogo: a honra do Nome de Cristo.


O Papel de Cristo – O Filho do Homem


Retomando a figura de Jesus Cristo, especialmente nos primeiros três capítulos do livro de Apocalipse, o que temos é uma relação direta de cuidado e proteção de Cristo para com a sua Igreja, que deveria conceder aos crentes a visão do conforto e esperança que há para os que estão em Cristo Jesus.

Introdução do Livro (1.1 a 1.3)

Uma pequena introdução aponta para alguns aspectos interessantes do livro. Primeiro se destaca o fato de que Cristo é diretamente o autor das revelações de Apocalipse e a relação que se estabelece é de “servos-senhor”.
Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João (Ap 1.1).
Portanto, logo no início o que percebemos é o propósito de estabelecer uma relação de cuidado histórico entre Cristo e sua igreja, o Senhor e os seus servos. Mas, o ponto fundamental é o que se descreve no verso 3, quando diz que a busca é que os “servos”, os crentes em Cristo, leiam estas costas e guardem sua fidelidade, sabendo que o tempo está próximo.
Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo (Ap 1.3).

Destinatários e sua relação com o Senhor – Alfa e Ômega (1.4 a 1.8)

Nesta segunda sessão introdutória, os destinatários são clarificados: as sete igrejas da Ásia. O que se deseja é que estas igrejas, que serão fortemente atacadas pelos inimigos, encontrem na sua relação com Jesus segurança.
João, às sete igrejas que se encontram na Ásia, graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do trono e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos Reis da terra. Aquele que nos ama, e pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém (Ap 1.4-6).
O que se destaca nesta fala do livro é que os servos de Cristo deveriam se assegurar de confiar na Palavra da Testemunha Fiel, que era também o primeiro ressurreto e o soberano de todos os reis. Eles precisavam saber que esta relação de amor é profunda e segura, portanto, deveriam também confiar que a sua história está nas mãos dele, que tem domínio sobre os séculos dos séculos.
Ao final, a palavra de consolo é para que suportem as aflições, afinal, o tempo do fim é chegado e logo virá o resgate final do que confiam nele e o dia da vingança do Cordeiro será contra todos os inimigos da cruz.
Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E toda sas tribos da terra se lamentarão sobre ele. Certamente. Amém. Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que já de vir, o Todo-poderoso (Ap 1.7-8).

O Testemunho de João (1.9 a 1.20)

Não devemos desconsiderar a importância de João, o último dos apóstolos, para a Igreja Cristã do primeiro século. Sem dúvida alguma, ele teve de assumir um papel de grande importância, afinal, para muitos dos seus irmãos, ele era uma referência singular da veracidade da verdade bíblica entregue à igreja.
Por isso, a ênfase dos escritos de João em sua apostolicidade e credibilidade como aquele que viu a Jesus. Aqui, nestes versos ainda introdutórios do livro, João atesta a sua visão do Cristo Glorificado como o ponto de partida e segurança para todo o livro. O Cristo que ele vê agora, não é mais aquele que fora crucificado, mas o Cristo Ressurreto, glorioso e poderoso.
Uma das passagens mais curiosas desta introdução é que este Jesus chama João à confiança descrevendo sua morte e ressurreição foram eventos que deram início à sua vitória final:
Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a mão direita dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno (Ap 1.17-18).
Esta sessão se encerra com a afirmativa da relação de cuidado histórico de Cristo com as igrejas. Esta relação é baseada na mensagem que o Senhor envia à sua igreja, a Palavra de Deus assumindo o papel de ser a face de Deus na condução do seu povo escolhido.

Escreve estas coisas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas. Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita e aos sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os sete anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros de ouro são as sete igrejas (Ap 1.19-20).

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