domingo, 30 de junho de 2013

Estudos em Soteriologia - Impedimentos à Santificação

Introdução
Com certeza, cristãos minimamente esclarecidos sabem da importância do crescimento na fé, o amadurecimento do nosso relacionamento com o Senhor.
O processo de santificação, como já vimos, inclui duas perspectivas centrais deste relacionamento: a consagração a Deus e o permanente transformar da nossa vida, na busca da adequação à excelência da estatura de Cristo, o varão perfeito.
Contudo, alguns elementos podem influir negativamente para que esta consagração e progresso sejam alcançados. Sobre tais impedimentos é que falaremos neste encontro.
Evidentemente, não poderemos cobrir todos os elementos que influem contrariamente para a nossa santificação, contudo abordaremos os que nos parecem ser aqueles mais comuns na vida dos crentes.
O problema da ignorância
Um dos elementos mais influentes e contrários à nossa santificação é a falta de conhecimento genuíno do Senhor.
A falta de conhecimento do Senhor e dos seus propósitos se torna o carro chefe de todos os impedimentos da nossa jornada de santificação pessoal.
A ignorância a respeito de quem é Deus, nos faz trilhar um caminho diverso daquele que exige consagração e purificação. Veja, por exemplo, o erro de Israel neste sentido.
Salmo 50.16-23 - note neste texto a complexa relação de quem não tem discernimento exato de quem é Deus. No verso 16, é possível notar que repetir os mandamentos e praticá-los maquinalmente nada tem haver com uma verdadeira consagração e purificação a Deus. O ponto mais interessante desta passagem é encontrado no verso 21:
Tens feito estas coisas, e eu me calei; pensavas que eu era teu igual; mas eu te arguirei e porei tudo à tua vista.
Mateus 22.29 - Aqui, o ponto a ser apresentado é a ignorância quanto às Escrituras e quanto ao poder de Deus. Mas isso não quer dizer que apenas pessoas que conhecem completamente as Escrituras são capazes de uma vida de santificação. Falta de conhecimento aqui é o mesmo que dizer: conhecimento distorcido das Escrituras, o que nos leva ao próximo problema.
O problema da vida focada em si mesmo
Poderíamos simplesmente dizer: egocentrismo. Mas quero tornar mais claro o ponto: o problema que devemos enfrentar aqui é o fato de que se vivermos com o foco em nossos próprios interesses nossa vida de santificação ficará comprometida.
O comprometimento ocorre porque estaremos consagrados a nós mesmos e Deus será somente uma ferramenta que intentamos usar para alcançar nossos objetivos pessoais.
Filipenses 3.17-19 - Nesta passagem podemos ver uma afirmação da inconsistência entre a vida com Deus e a vida para os nossos próprios interesses.
Quando o nosso foco está em nós mesmos, temos a tendência de manipular Deus e o nosso relacionamento com Ele não visa a aproximação. O efeito acaba sendo o contrário, nos afastamos dEle e nos tornamos movidos pelo materialismo.
O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas (Fp 3.19).   
Este pode ser um dos mais importantes elementos dificultadores do nosso processo de santificação. Fique atento para este problema.
    
O problema da falta de amor
Crentes maduros, que estão em processo de santificação estão escalando montanhas na direção de Deus. O mais claro sinal de que isto está ocorrendo é o surgimento de uma crescente inclinação para o amor. O amor é alvo da santificação ou o seu resultado mais óbvio.
A falta de amor é a comprovação da luta que existe em nosso coração. O Novo Testamento, em especial, temos muitos textos que nos alertam para este ponto. Amar o próximo não é algo que fazemos tão facilmente, pois, muitas vezes, para amar o próximo somos concitados a abrir mão de nós mesmos.
1 João 2.7-11 - Observe neste texto que a falta de amor é comparada à estar nas trevas e não na luz. Precisamos considerar isto seriamente.
Aquele, porém, que odeia a seu irmão está nas trevas, e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos (1Jo 2.11).
Como é possível ver, a falta de amor é precisamente um empecilho à santificação, exatamente porque é a estrada na direção oposta de Deus. Odiar o irmão é consagrar-se a si mesmo e, ainda que em outras áreas tenhamos algum progresso, indica que estamos no caminho errado.


domingo, 16 de junho de 2013

Estudos em Soteriologia - Santificação - Conceitos

Introdução
Nossas aulas, agora, abordarão assuntos mais práticos da vida cristã. Falaremos de santificação, o que também significa que falaremos da nossa própria vida diária.
A santificação é parte do processo de salvação. Na verdade, quando pensamos em salvação como o nos livrar da Ira vindoura, temos a tendência de achar então que a salvação tem sua obra completa na cruz.
Verdade é, somos salvos pela morte de Cristo e este sacrifício é final e suficiente para nos livrar a Ira vindoura. No entanto, os efeitos do pecado que permanecem sobre nós ainda são resultados da nossa natureza caída e a ira de Deus se revela do céu contra eles.
A justificação nos livra da condenação do pecado e a santificação nos livra da influência do pecado. Esta pode ser a maneira mais simples de definir estes termos e entender o quanto eles caminham junto.
O outro aspecto da santificação é o que ela é, na relação com a fé. Bem, no processo de santificação o que realmente está acontecendo é que a nossa fé está crescendo e passamos a viver um paradigma de espera e confiança em Deus. Portanto, não existe santificação sem amadurecimento verdadeiro da fé.
Estes serão, entre outros, alguns aspectos do que iremos estudar dentro deste tema.

Santificação - conceito e objetivos
Como nosso primeiro passo no estudo deste tema vamos trabalhar os conceitos. Mas, para isto, precisamos olhar para o texto bíblico e verificar os termos bíblicos que são empregados e que nos ajudam a entender o propósito da santificação.
Verdadeiramente, a santidade tem o seu sentido mais completo na sua relação com o ser de Deus. Ele é santo e toda a santidade de suas criaturas é espelhada na santidade dEle.
Contudo, em nossos estudos, para abreviar um pouco o tempo, vamos focar nosso esforço na busca de entender a santidade nos termos que a ligam à nossa vida, apenas, quando necessário é que iremos nos reportar à santidade de Deus para nos apoiar o entendimento.

Kadosh - Velho Testamento
O termo “kadosh” é a raiz bíblica mais usada para se referir à ideia de “santidade”. Kadosh é um adjetivo que pode ter nascido de dois conceitos: Khadasha - brilhar ou Kad - cortar.
Santidade e brilho
Quando entendemos “kadosh” (santo) como uma derivação do conceito de brilho, somos conduzidos a pensar no aspecto qualitativo da santidade. Isto é, somos impulsionados a imaginar a salvação em termos da excelência moral e pureza.
Esta conceituação nos faz considerar a santificação nos termos das suas elevadas aspirações de progresso espiritual e maior adequação para a vida ao lado de Deus. Esta ideia é muito presente na Bíblia, até mesmo ilustrada por outros termos como “luz”.
Quando entendemos a proposta da excelência espiritual e moral que nos é oferecida no ensino bíblico da santificação, percebemos que estamos diante de um grandioso projeto de adequação ao padrão de Deus para a nossa vida.
Devemos, então, promover em nossa mente uma mudança conceitual sobre o que somos e aonde devemos chegar. Deus está nos oferecendo alvos espirituais de lapidação da nossa vida.
Santidade e separação
Por outro lado quando focamos a santidade com o verbo “cortar”, o que fica mais evidente é a ideia de que santo também significa “separar”. Esta ideia aponta para o sentido mais prático e foca as condições mais da esfera presente.
Enquanto, por um lado, santidade pode apontar para a ideia de objetivo final e da excelência final esperada, no sentido de “separar” ou “consagrar” tem a ver com o processo.
Este sentido de santidade é uma proposta de mudança conceitual do que somos na relação com Deus e de como devemos experimentar essa relação. Este é um sentido muito prático e a principal mudança que deve ocorrer é na estrutura de como enxergamos o funcionamento da nossa relação com Deus. Em outras palavras, devemos pensar em santificação nos termos práticos de que a nossa existência deve ser nutrida por um constante exercício de consagração a ele (Romanos 12.1 e 2).
Os dois conceitos não devem ser observados de uma maneira separada um do outro. Antes, devem ser entendidos como sendo complementares um ao outro. Nossos alvos existências tem como elevada medida a adequação da nossa vida à santidade de Deus, mas este tipo de meta só pode ser alcançada quando decido de forma prática viver para alcançar tal meta, daí a ideia de consagração da mente para pensar as coisas de Deus.

Hieros, Hosios, Hagnos, Hagios - Novo Testamento
O novo testamento parte do entendimento geral do termo “kadosh” e expande o conceito nestes quatro termos, dos quais, hagnos é o mais usado e quase um paralelo do termo hebraico “Kadosh”.
Hieros (1Co 9.13 - 2Tm 3.15) - esta palavra é usada para denotar um uso religioso de terminado objeto ou pessoa. Ela indica a santidade nos termos da separação de uma pessoa ou coisa para uma finalidade específica do fim religioso, ou sagrado. Com o propósito espiritual de realizar a aproximação com Deus. Com ela podemos entender que a santidade deve ser compreendida como deixar a nossa vida ser usada para conduzir outras pessoas a Deus, devemos ter uma santidade instrumental.
Hosios (At 2.27 - Hb 7.26 - Ap.15.4) - neste termo, a ideia de pureza e incontaminação é a que está presente. A ideia de santidade como brilho, como algo incontaminado deve invadir a nossa mente. Devemos considerar o propósito elevado de abandonar o pecado e nos livrar das coisas que apontam para a nossa queda.
Hagnos (2Co 11.2 - Fp 4.8 - Tg 3.17) - Semelhante à ideia de “hosios”, o termo “hagnos” também implica em pureza e incontaminação, mas tem um sentido mais ético e moral. Nossa santificação não deve se limitar a uma proposta religiosa da nossa relação com Deus, deve influir na esfera da vida presente e no modo como tratamos as coisas e as pessoas.
Hagios - (Lc 1.70 - Ef 3.5 - 2 Pe 1.21 - Cl 1.22) - Esta é a palavra neotestamentária de mais forte referência ao conceito de santidade ou santificação. É usada em muitos contexto com nuances diferentes para o entendimento do temo.
Este termo é usado para indicar a ideia básica de consagração a Deus e a busca do ideal de viver para alcançar a estatura de Cristo. O modelo de santidade proposto nesta palavra neotestamentária é um modelo baseado no próprio Senhor Jesus Cristo.
Ela indica um serviço oficial em nome de Deus, uma separação instrumentalcomo os santos apóstolos ou os santos profetas. Homens usados por Deus para realizar os seus propósitos entre os outros homens.
Por outro lado, a palavra também indica uma postura ética de crescimento espiritual, na busca de viver para Deus e servi-lo de forma aceitável, do jeito que Ele quer. Este é o sentido mais diretamente ligado ao conceito de “santificação” que tem a ver com a busca de uma elevada condição de vida que agrade a Deus.

No próximo encontro estudaremos sobre “Os impedimentos para a santificação”