sábado, 30 de março de 2013

Estudos em Soteriologia - Aula 004 - Justiça e Ira de Deus

Introdução
Viemos até estudo o estado e a condição do homem em pecado. Vimos que como o pecado passou a todos homens, por meio da imputação soberana do pecado, decorrente do pecado original do nosso representante, Adão.
Também estudamos a contaminação da nossa natureza. Afinal, o pecado original não permaneceu neutro no ser humano, mas gerou em nós uma inclinação à rebeldia, que nos leva a uma estrutura sempre idolátrica, tendo como amor último o ego, em lugar de Deus.
Contudo, há que se dizer que o pecado pode ser o fator gerador de todos os nosso problemas, mas a salvação que anunciamos no Evangelho não significa simplesmente ser salvo do pecado. Hoje, queremos abordar um tema que muito nos interessará no processo de estudos da doutrina da salvação (soteriologia), que é o assunto da aplicação da Justiça Punitiva de Deus sobre o ser humano em pecado.
Porque o salário do pecado é a morte (Romanos 6.23a).
Precisamos discernir exatamente do que é que fomos salvos por meio da cruz de Cristo, a fim de que compreendamos melhor quais as implicações da Cruz de Cristo sobre a nossa vida.
A Santidade de Deus
A Justiça de Deus é um dos seus atributos que está fortemente vinculado à sua perfeição mais cara: a santidade. Para compreender adequadamente a “justiça de Deus”, com toda certeza, precisamos considerar mais atentamente os valores conferidos por Deus à sua própria santidade.
Uma vez jurei por minha santidade (e serei falso com Davi?): a sua posteridade durará para sempre, e o seu trono, como o sol perante mim (Salmo 89. 35 e 36).
A santidade de Deus é o seu grande atributo moral. Ela aponta para duas nuances diferentes. Na primeira, a santidade aponta a exclusividade de Deus como um ser separado de todo o restante da Criação, por causa da excepcional e completa perfeição do seu ser. O outro aspecto da santidade de Deus tem haver com a pureza que lhe é atribuída e sua total e completa ausência de mal, trevas ou qualquer sinal de contaminação. Assim, de uma forma ele se mostra perfeito e absoluto e de outra perfeitamente puro, sem mácula alguma.
Essa dupla visão da santidade de Deus nos faz considerar que a manifestação desta santidade se dá de duas maneiras: a grandiosidade, majestade e beleza de suas perfeições (Ex.15.11, Is.57.15); e a completa pureza e perfeição dos seus juízos e leis (Sl.19.7 Rm.7.12).
A Santidade de Deus aponta para a perfeição moral da sua natureza. Ele não pode fazer nada injusto, pois contraria o que ele é: perfeito e santo. Assim sendo, a santidade de Deus é, entre outras coisas, a razão moral suficiente para que Deus, conquanto um juiz santo e perfeito, julgue o pecado com equidade, revelando sua justiça. 
A Justiça de Deus
Uma vez que falamos um pouco sobre a santidade de Deus e, como já dissemos, a justiça de Deus está vinculada à sua santidade. Agora podemos começar a falar à respeito do porque Deus exerce a sua justiça sobre o pecador.
Um primeiro aspecto a ser pontuado é o fato de que é obrigado a ser justo, porque a sua justiça é a preservação de sua santidade. Se ele não condena o pecado que ele disse que condenaria, estaria contrariando a si mesmo (Sl.7.11; Sl.51.4).
A Lei de Deus reflete a sua santidade. A quebra da Lei de Deus por parte do homem, trás para o pecador o juízo de Deus, ou seja, ele passa a ser réu da Lei, afinal contrariou a Lei de Deus (Dt.28.15).
A Justiça de Deus é, por assim dizer, a maneira como Deus vindica a sua santidade, condenando o pecado dos homens e também o faz beneficiando aquele que o serve e obedece as suas leis.
Justiça Remunerativa
Por justiça remunerativa, devemos compreender todo aquele trabalho de Deus que recompensa a obediência dos seus seres criados. Devemos dizer que a justiça remunerativa é sempre condicional à obediência.
Nas escrituras temos muito exemplos de como Deus recompensa a obediência (Dt. 7.12 a 14; Sl.58.10 e 11; Mt.25.21). Mas não podemos dizer que essa justiça seja meritória. Na verdade, quando formos fiéis e recebermos bênçãos decorrentes desta obediência e fidelidade, devemos nos lembrar de que somos fiéis e obedientes porque Ele nos ajudou (1Co.4.7; Tg.1.17).
Justiça Punitiva (retributiva)
Essa justiça é aquela que se refere à aplicação das penalidades da Lei. Por meio desta justiça, Deus vindica a sua santidade, punindo o pecado dos homens (Rm.1.18).
Ao punir o pecado dos homens, Deus não está apenas vingando sua santidade maculada com o pecado humano, ele está também manifestando toda a sua indignação com o desvio que a mente humana pegou. Assim, Deus pune toda a perversão, que é o ato de mudar o vértice, que deveria estar focado exclusivamente em Deus, mas que foi mudado apontando para o próprio ser humano.
A Ira de Deus
O instrumento que torna a justiça de Deus eficaz é a Ira de Deus. É por meio do derramar da sua Ira que Deus executa o seu juízo sobre os homens ímpios (Rm.1.18; Nm 11.1).
Como nosso ponto não é fazer um estudo exaustivo sobre a manifestação da Ira de Deus, mas trabalhar o conceito de Salvação. Queremos saltar em nossas considerações para pontuar sobre o fato de que, no inferno, a Ira de Deus é o cálice que irá ser derramado como instrumento de tormento eterno.
O próprio Cordeiro de Deus manifestará a sua Ira contra a impiedade dos homens (Ap.6.16 e 17). Devemos também lembrar que o próprio Diabo será atormentado no Inferno, o que nos deve fazer muitos cristãos reverem o que realmente é o inferno (Ap.20.10).
Portanto, quando a Bíblia afirma que seremos salvos, ela está nos dizendo que estamos sendo salvos de sofrer a Ira do Senhor (1 Ts.1.10).
Resumo Final
O pecado original no conduziu a um estado de pecado, este é o ponto de partida da nossa condenação. Ele é portanto, a razão primeira da necessidade de Deus derramar a sua ira sobre nós e nos atormentar o restante da eternidade no lago de fogo.
Também percebemos o seguinte, que não somente o pecado original, mas os pecados atuais, decorrentes da nossa condição como homens caídos e rebeldes contra Deus, nos conduzem à condenação, uma vez que nossos pecados atuais revelam ainda mais a nossa natureza caída e o nosso estado de condenação.
A Ira de Deus é, portanto, parte executória do seu atributo de justiça, por meio de qual exercício, o Senhor vindica a sua santidade perfeita.


domingo, 24 de março de 2013

Estudos em Soteriologia - Aula 03 - A Corrupção da Mente Humana


Introdução
Nos estudos anteriores, trabalhamos a questão do pecado focalizando dois aspectos: estado e condição.
O estado de pecado é provocado pela nossa ligação com Adão. Por causa do pecado dos nossos primeiros pais, mais especificamente de Adão, toda a raça humana foi colocada em um estado de pecado, o que nos foi imputado pelo Supremo Juiz, quando Adão falhou na prova, na qual nos representava.
Todos nascem com o pecado original pois este é o estado a que chegamos neste mundo. Mas este pecado original não é neutro em nós, ele produz uma condição, a condição pecaminosa.
Como fruto do nosso estado caído e nossa condenação. Recaiu sobre o gênero humano também uma maldição. O estado de pecado gerou também a corrupção da natureza humana. Então, o homem que havia sido criado santo e reto, perdeu a sua justiça original, o que implicou na consequente perda de sua santidade original e sua capacidade de adquirir o conhecimento verdadeiro sobre Deus.
A condição em que nos encontramos é de pecaminosidade de nossa natureza. Além de termos perdido os predicados da justiça original, assumimos uma inclinação natural para o que é mal, isto é, para a rebelião contra Deus.
O nosso estudo de hoje tratará de um dos aspectos mais importantes desta corrupção da natureza humana, qual seja, a corrupção da mente do homem ou, como preferem os teólogos, os efeitos noéticos do pecado.
Devemos lembrar que a corrupção da natureza humana não se resume nos efeitos noéticos do pecado. Há outros efeitos do pecado sobre a natureza humana, como por exemplo a degeneração do corpo. Podemos considerar as doenças como parte do juízo condenatório de Deus sobre o homem e parte da maldição que recaiu sobre nós, por causa do pecado.
Só para melhorar o esclarecimento deste ponto. Nem toda doença é resultado direto do pecado pessoal. Entretanto, toda doença é efeito do juízo de Deus sobre nós. Ou seja, por causa do juízo de Deus, fomos afetados com o processo de degeneração do nosso corpo. Mas, este não é o assunto de nosso estudo hoje.

A Mente Humana Era Preparada Para Adorar a Deus e Buscá-lo
Antes de falar dos efeitos pecado sobre a mente humana, vamos voltar um pouco e falar sobre a estrutura perfeita da criação da mente humana.
A Mente Humana Foi Criada Para Estruturar a Realidade em Deus
Deus nos criou e nos distinguiu de todo o restante da Criação material ao conceder-nos racionalidade, uma mente pensante e capaz de estabelecer relações de juízo de valor. Isto é, Deus nos concedeu a capacidade de perceber o mundo ao nosso redor e até mesmo o próprio Deus, estabelecendo vínculos de valor com toda a realidade ao nosso redor.
Portanto a nossa relação com Deus, em particular, não seria apenas uma relação de adoração passiva, mas ativa. A mente humana seria capaz de discernir Deus e aprender sobre Ele. A consequência natural desta relação de conhecimento é que adoraríamos a Deus e o amaríamos sobre todas as coisas, pois todo o conhecimento verdadeiro adquirido sobre Ele nos mostraria as suas mais ricas e belas perfeições.

Sensus Divinitatis - Criados Com Sede de Deus
Além de termos sido criados com a mente funcional, capaz de aprender verdadeiramente sobre Deus, nossa mente foi criada com esta intencionalidade, ou seja, o ser humano foi criado com uma natural sede de Deus, o que chamamos de “senso da divindade” (sensus divinitatis).
Em outras palavras, a mente humana estava configurada para estruturar toda a realidade a partir de Deus e apreender o significado de tudo de forma teocêntrica. Tudo nos levaria a pensar em Deus e considerá-lo. Consequentemente, tudo nos levaria a adorar a Deus e amá-lo.
Semen Religiones - Criados Para Buscar a Deus
Outro aspecto do estado de perfeição criacional do homem é que a mente humana, não somente tinha esta inclinação natural de pensar em Deus, mas fora criada com a habilidade natural de buscar o verdadeiro conhecimento de Deus, o que chamamos de “semente da religião” (semen religiones).
Esta capacidade religiosa implicava em que o homem não somente perceberia Deus na estrutura da Criação de forma somente acidental, mas lhe conferia o prazer de buscar ativamente o conhecimento de Deus. O homem estaria com a mente programada para procurar meios de conhecer a Deus.
Podemos dizer que o homem tornaria a sua vida diária um ato de busca de Deus em tudo. Ele, em tudo o que realizasse, se disporia à mais elevada atividade do ser humano, conhecer a Deus. Cultivar o jardim seria apenas um meio de buscar conhecer a Deus e consequentemente adorá-lo na beleza de todas as suas perfeições.

Os Efeitos Noéticos do Pecado
A palavra “nus” (mente em grego) é a raiz desta terminologia. Então, “Efeitos Noéticos do Pecado” é equivalente a dizer: efeitos do pecado sobre a mente.
Particularmente, penso que os mais desastrosos efeitos do pecado sobre a natureza humana e a maior de todas as corrupções dela aconteceram sobre a mente humana.
Toda a nossa capacidade de perceber Deus e adquirir conhecimento verdadeiro sobre Ele foi completamente comprometida. Por causa do pecado, a nossa estruturação da realidade foi afetada e a nossa mente não mais concebe Deus no centro de todas as coisas. Nasceram na nossa mente os processos idolátricos.
O amor último “egolátrico”
Na base criacional perfeita, nosso amor último seria a Deus. A Ele amaríamos de todo o nosso coração. Faríamos isto de maneira natural e buscaríamos conhecê-lo mais e mais e, como resultado disto, O amaríamos ainda mais. Deus seria o nosso amor último, isto é, a base da nossa existência. Toda a nossa vontade seria determinada pelo nosso amor a Deus.
O amor último é, portanto a base de todos os nossos desejos. É o nosso amor último que nos move e promove a nossas escolhas. Mas, entre os efeitos do pecado sobre a nossa mente, encontramos a mudança do nosso amor último.
Surgiu, no lugar do amor último a Deus, o amor último idolátrico. O homem, que se afastou de Deus por causa do pecado, transferiu a base do seu amor do Criador para a criatura e passou a amar de forma última a si mesmo. O homem tornou-se um ser “egolátrico”.
Na verdade, o homem transferiu a raiz de sua vontade para o amor a si mesmo, ele tornou-se deus para si. O pecado interferiu no modo como a mente humana buscava sentido em todas as coisas e produziu um amor último egolátrico, fazendo com que o homem tudo queira e tudo compreenda a partir de si mesmo e não mais a partir de Deus.
A egolatria é, portanto, o modo natural do homem em estado e condição de pecado relacionar-se com a realidade e até mesmo com o seu Criador. Este amor último, agora transferido para si mesmo, tornou-se um problema para o homem, afinal o homem não foi criado para ser assim.
A mente humana é uma fábrica de ídolos
Como dissemos, a mente humana foi criada com um senso da divindade e uma semente de busca de Deus. Como o efeito do pecado mudou o amor último do homem e este passou a ser o seu próprio Deus, surgiu também um problema existencial: a mente humana não suporta a ideia de buscar a si mesma como deus, pois esta possibilidade é incompatível com a sua estrutura criacional do sensus divinitatis e semen religiones.
A saída da mente racional humana foi a criação de ídolos, que sirvam de ícones de seu amor último. É assim que surge a idolatria, o culto a ídolos. Por isso é que dizermos, repetindo o grande João Calvino, que o coração do homem é uma fábrica de ídolos.
Estes ídolos são apenas veículos do amor do homem por si mesmos. Devemos entender que os ídolos são ferramentas que disfarçam o amor último dos homens por si mesmos, concedendo à sua mente uma saída para a inconsistência criacional da egolatria.
Ídolos físicos e ídolos emocionais
Quando falamos em ídolos, sempre pensamos naqueles que são esculpidos em madeira, gesso ou outros materiais ou simplesmente deuses preenchidos por fisicalidade. Estes ídolos são apenas efeitos da nossa rebelião contra Deus e complementam a sede humana de amar a si mesmo, afinal, representam projeções de nossas pretensões.
Um egípcio que adorava ao Deus Nilo, na verdade havia produzido um deus que satisfazia sua necessidade de ser próspero. Como não poderia, por causa dos efeitos noéticos do pecado, admitir que Deus era a fonte da prosperidade, mas se desviava desta realidade, eles adoravam o Nilo como sendo o deus que lhes concedia fertilidade e produtividade.
Ídolos emocionais estão por detrás de ídolos físicos e, muitas vezes, aparecem sozinhos no processo idolátrico da mente humana.
O ser humano, como já dissemos, colocou o seu amor último em si mesmo. Mas, como não pode dizer para si: “eu sou meu deus”; reveste sua idolatria com ídolos, que procuram justificar a sua rebelião contra Deus.
Tomemos como exemplo o hedonismo. Este tipo idolátrico elevou a necessidade do homem de sentir prazer na vida à condição seu deus. Em outras palavras, seu sendo de uma divindade e sua necessidade de buscá-la transitou de Deus e sua busca por meio do conhecimento, para a busca do prazer, justificado pela simples necessidade pessoal.
Deuses emocionais, podem se utilizar de deuses físicos ou não. Neste último caso, eles se apropriam de sistemas mentais. Um bom exemplo é o ateísmo.
No ateísmo, o processo idolátrico de amor último por si mesmo não pode eleger um deus físico como seu ícone e veículo de adoração. Afinal, ser ateu significa não admitir nenhum deus para si.
Então, o ateu terá de justificar a sua rebelião contra Deus, sempre escondendo o seu amor por si mesmo. O seu modo de agir é o de eleger uma ideia como o seu deus. Um bom exemplo de como isto pode acontecer é o ateísmo científico. Este nomeia a ciência como a sua justificativa “lógica” para a inexistência de qualquer deus, qualquer divindade.
Rebelião do Coração 
Entre os efeitos noéticos do pecado e o seus resultados mais práticos está a  rebelião contra Deus. A rebelião contra Deus é a base de toda a estruturação da mente pecaminosa. É por causa desta rebelião e o desejo de ver-se livre da estruturação de todas as coisas em Deus que o homem luta.
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domingo, 17 de março de 2013

Estudos em Soteriorologia - Aula 2 - A Corrupção da Natureza Humana


Introdução
Em nosso último encontro vimos introdutoriamente a questão do pecado original. Nosso objetivo foi o de responder à questão: “como nos tornamos pecadores?”
Em síntese, observamos que o pecado passou a todos os homens a partir do pecado de Adão por meio da imputação divina. A imputação é um ato soberano de Deus que julgou toda a humanidade no seu representante Adão.
O pecado de Adão como um ato histórico-representativo levou à queda todos os homens e isto foi levado ao tribunal divino, onde todos fomos condenados à morte. Isto implicou na marca do pecado e do afastamento de toda humanidade na sua relação direta e perfeita com Deus.
Hoje, nosso estudo terá como ponto de partida os efeitos do pecado original sobre a nossa natureza humana. Veremos que o pecado original não um elemento condenatório neutro, mas influiu grandemente em uma mudança estrutural na mente humana que se tornou corrompida.
Desta forma, surgiram todos os pecados pessoais de cada ser humano. Por isto, é possível dizer o seguinte: Adão tornou-se pecador porque pecou, nós entretanto, pecamos porque somos pecadores. 

O Novo Estado Corrompido do Homem
Adão, tendo sido criado santo, justo e reto, foi o único ser humano à experimentar a transição de uma natureza totalmente compatível com a estrutura perfeita da Criação de Deus para um estado desestruturado e uma natureza corrompida.
Deus criou Adão perfeito. Não havia nenhuma nele nenhuma inclinação para o mal, nem uma fraqueza criacional. Sua cobiça, gerada pela tentação de Satanás, forçou nosso primeiro pai a livre-arbitrariamente escolher o caminho errado.
No momento em que o livre-arbítrio de Adão o levou à desobediência, o desprezo de Deus e a busca de um novo deus para si mesmo, Adão adentrou um estado de corrupção da sua natureza santa. Este é o estado de morte espiritual a que o homem foi condenado pelo tribunal de Deus que julgou o pecado original segundo a sentença que havia sido proferida por Deus, mesmo antes de Adão pecar:
E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás (Gênesis 2.16 e 17).
A morte espiritual de Adão consistiu em uma separação na sua relação com Deus. Em outras palavras, a existência humana, que naturalmente encontrava seu significado em Deus, perdeu esta referência natural com a realidade e passou a buscar significado sem Deus.
Adão, em seu novo estado existência, sua nova natureza, agora corrompida, sofre os efeitos desta corrupção, desta morte que agora atua em todo o seu ser e que permeou-lhe totalmente a ponto de levá-lo ao estado de ter o coração inclinado para o mal existencial, que se pode definir pela rebelião em relação à Deus.

Os Resultados Diretos da Corrupção da Natureza Humana
Nossos símbolos de Fé (Confissão de Fé de Westminster, Breve Catecismo e Catecismo Maior) afirmam que uma condição de corrupção foi imposta a todo o gênero humano, por causa do pecado original. Eles chamam isso de “corrupção da natureza humana”.
O primeiro resultado prático desta corrupção da natureza humana é a “perda da justiça original”. O segundo ponto a ser considerado é a “perda da santidade original” e, por fim, veremos “a perda do conhecimento verdadeiro”.
A perda da justiça original
A justiça original, com a qual fomos criados, era uma capacidade inata de fazer o que é bom, servir a Deus e somente contentar-se em agradá-lo em todas as coisas, além de refletir o próprio caráter moral de Deus.
O homem perdeu a sua capacidade de adequar-se às exigências morais da Lei de Deus. Antes da queda, o homem estava perfeitamente habilitado e inclinado a reagir sempre positivamente à Lei de Deus. Mas, após a queda, essa inclinação para a justiça deixou de permear o homem.
Eis o que tão somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias (Eclesiastes 7.29).
A perda da santidade original
Ao criar o homem, Deus o fez santo, ou seja, não havia impureza alguma na constituição humana, por isso, o homem retratava tão perfeitamente o seu próprio Criador. Não se tratava de uma santidade adquirida por causa da comunhão com Deus, mas de algo que lhe foi acrescentado desde o início à sua própria natureza moral. O homem era totalmente bom!
Ao pecar, o homem decaiu deste estado de santidade imaculada e sua natureza santa passou a ser natureza pecaminosa. As inclinações santas da sua mente, passaram a maquinar o mal. O primeiro exemplo dessa ação foi o momento imediato em que Adão culpa Eva pelo pecado, como forma de livrar-se da responsabilidade do pecado.
Perda do Conhecimento Verdadeiro
Entre as grandes bênçãos dadas ao homem, quando de sua criação, foi a capacidade de raciocinar e conhecer. Este privilégio é significativo, porque Deus dera ao homem a capacidade de conhecê-lo verdadeiramente.
Este atributo cognitivo daria ao homem a capacidade de satisfazer-se completamente em Deus, encontrando nEle o significado existencial. Esta capacidade permitiria ao homem desenvolver um modelo de comunhão progressiva com Deus, afinal conheceria sempre mais daquele que o criou e tal conhecimento preencheria toda a sua necessidade de conforto e paz interior.
A grande felicidade do homem consistiria em uma gradativa experiência de conhecimento de Deus. A santidade original e mesmo a retidão original são condições que permitiriam o viver humano sem percalços. Mas a capacidade de ter um Conhecimento Verdadeiro era, entre as bênçãos dadas aos seres humanos, a que mais lhe promoveria a felicidade existencial e lhe garantiria o único crescimento possível.
Ao pecar, a mente humana foi embotada pelo pecado e perdeu a capacidade de conhecer a Deus. Curiosamente, comer o fruto da “Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal” levou o homem a não mais ter um conhecimento verdadeiro de Deus. Aquele que era um conhecimento intuitivo e uma capacitação de progredir nestes conhecimento, deixou de existir no ser humano, de tal forma, que os seres humanos, descendente de Adão, agora nascem cegos do entendimento de Deus, nulos em seus próprios entendimentos.
Portanto, olhando por este ponto de vista, nos tornamos pecadores porque perdemos a justiça original, perdendo a capacidade de viver para agradar a Deus, a santidade moral de Deus em nós e a capacitação de conhecê-lo verdadeiramente.

Estado e Condição - A Transmissão da Natureza Pecaminosa
Além de termos sido roubados da justiça original, também fomos confinados à uma inclinação complemente perversa à Criação, ou seja, com o vértice completamente distante de Deus, para o qual fomos criados.
Na verdade, foi instilada na mente humana um novo sistema de regras, diferentes daquele que originalmente nos foi dado pelo Criador e fomos levados a pensar de forma diferente sobre o que é a nossa existência e seu propósito. Passamos a pensar de maneira divergente do Criador e, por isso mesmo, a agir de maneira a nos afastar dEle.
A pergunta que faço inicialmente é a seguinte: como essa perversão da natureza chega ao ser humano?  Essa não é uma pergunta fácil de responder, mas vamos começar entendendo todas as repercussões legais do pecado de Adão.
Abordaremos a questão diferenciando “estado pecaminoso” de “condição pecaminosa”. O estado pecaminoso é nossa posição legal de condenação, o que acarretou na pena de morte espiritual. Por outro lado, a condição pecaminosa é o que determina o modo como vivemos dentro do estado de morte. Portanto, nosso estado é o de morte e a nossa condição é viver segundo as inclinações que este estado produz.
Adão foi condenado e nós também
A condenação de Adão foi a morte. Como já vimos anteriormente, por uma questão legal, o pecado foi imputado a nós e portanto, a condenação é uma consequência sobre todos aqueles que receberam a culpa do pecado adâmico (culpa original). Então, a culpa, isto é, a responsabilidade pelo delito, é de Adão e imputada a nós, de sorte que sofremos as consequencias, ou seja, a morte:
Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram (Romanos 5.12).
Esta culpa é permanente no pecador, pois ele é realmente culpado pelo delito cometido no Éden. Ela nos transforma em réus diante do tribunal de Deus. Mas, por outro lado, ela é a responsável pela pena que nos é imposta e a penalidade é a morte.
A Morte é a Corrupção do Gênero Humano
Deus impôs a morte como penalidade por causa da nossa culpa (responsabilidade no delito). Mas o que é a morte, que passou a todos os homens?
A morte que passou a todos os homens não é suficientemente descrita nos ditos evangélicos mais populares: morte-física, morte-espiritual e morte-eterna. Estes são apenas estágios de uma mesma coisa, a morte.
A morte é o processo de corrupção a que fomos levados por causa do pecado. Nossa carne se corrompe, nosso relacionamento com Deus se corrompe e nós nos corrompemos continuamente, pela eternidade. A corrupção é um outro nome que podemos dar à morte.
A Corrupção da Natureza Humana é Um Aspecto da Penalidade da Culpa Pelo Pecado
Todos os seres humanos são submetidos por Deus à corrupção, ou seja, a transmissão da natureza pecaminosa, ou da corrupção da natureza humana é uma consequência legal, da qual nenhum de nós é capaz de escapar, pois todos fomos sujeitos a isto. Portanto, a nossa condição pecaminosa não é somente uma doença que recebemos por contágio, mas uma condição a que fomos postos, por causa da própria santidade de Deus.
Dizemos assim: a morte é uma coisa pela qual todos temos de passar e ninguém escapa, como uma lei da natureza: Ao homem está ordenado morrer uma única vez e depois disto o fim (). De fato esta é uma lei, que devemos nos lembrar não diz respeito somente à corrupção da saúde humana que se degrada com o passar do tempo (falando sobre morte natural), mas de toda a natureza do homem, inclusive os seus aspectos psicológicos, morais, sociais etc.
Por este pecado eles decaíram de sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as faculdades e partes do corpo e da alma (Confissão de Fé de Westminster VI-II). 
O dano do pecado é total e não pode ser removido neste sentido, pois a culpa de réu sempre estará conosco, afinal, de fato, somos culpados do pecado de Adão, por imputação da Lei de Deus. A esta condição estamos atrelados e não podemos mudá-la:
Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal (Jeremias 13.23)?
A Ação da Natureza Pecaminosa
A Natureza Pecaminosa não se trata de uma maldade presente e imposta apenas por causa da culpa original e que fique apenas latente em nós, apenas como um estado que permanece inalterado.
Ao contrário, a natureza humana pecaminosa, por causa do estado de corrupção em que estamos, reproduz a maldade, aumentando nossa culpa, ou seja, além da própria culpa original, temos culpa própria, não imputada a partir de Adão, mas a qual nós mesmos assumimos voluntariamente.
Portanto, os nossos pecados pessoais, ou atuais, são decorrentes da morte que está presente em nós, pois ela não somente nos degenerou em Adão, mas nos degenera em nossa própria existência.
Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram (Romanos 5.12).
Neste texto, haveremos de encontrar um elemento bastante esclarecedor sobre este aspecto. Façamos um exercício de análise deste trecho:
Como a morte entrou no mundo? A morte entrou no mundo por meio de um só homem, Adão, pois este, ao pecar sofreu a penalidade da morte.
Mas como a morte passou a todos os homens? Essa é uma excelente pergunta se considerarmos essa tradução que estamos lendo. Ou seja, a partir do modo como o texto está traduzido, deveríamos responder assim: a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. Mas essa não é a verdade sobre a corrupção do gênero humano!
Quero propor uma outra tradução ao final deste verso, que pode nos ajudar. Na verdade, sigo aqui o pensamento do Professor de Teologia Rev. Dr. Heber Carlos de Campos, e alguns outros estudiosos do Novo Testamento, como Dr. Willian Hendriksen.
A parte final do verso em grego é:
eph ho panthês hermaton. Quero sugerir a seguinte possível tradução: “Por isso” todos pecaram.
Seguindo este pensamento, o que temos então é que a morte entrou no mundo e porque a morte entrou no mundo é que todos pecaram. Hendriksen, prefere ainda explicar que Paulo está usando a constatação de que todos pecaram para mostrar, de forma prática, que a morte está presente. Como se Paulo estivesse dizendo o seguinte:
(...)a morte passou a todos os homens, já que todos pecaram. O que corresponderia a dizer o seguinte: a prova de que a morte passou a todos é que todos pecaram.
De fato, a presença da morte, ou seja, da corrupção arrastou todos os homens ao pecado e disto decorre que todos somos pecadores, não somente pela imputação da culpa do pecado original, mas também por nossa culpa própria.
O Coração Humano é a Sede Dessa Corrupção
Alma e corpo estão corrompidos e continuam a se corromper por um único motivo, a fonte donde derivam sua vida está corrompida, isto é, o coração. Aquele ponto que faria o homem progredir em santidade e retidão, isto é, a sua capacidade de pensar e conhecer a Deus, agora trabalha para que o homem cresça no pecado e na corrupção.
Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida (Provérbios 4.23).
Portanto, a inclinação da natureza humana pende para a corrupção pelo simples fato de que, o coração humano que o órgão do controle central das ações e emoções está condicionado à fugir de Deus, isto é, pecar.
Voltanto ao ponto anterior, devemos lembrar que esta situação de ter o coração inclinado ao pecado não é somente uma incapacidade produzida pelo pecado, mas é fruto de uma penalidade imposta à raça humana, esta é a morte espiritual.
Os conselhos do Senhor não são atendidos pelos homens, às vezes, até mesmo por aqueles que conhecem os desígnios do Senhor e o motivo disto é que o coração não consegue se inclinar para Deus. Algumas vezes os profetas denunciaram Israel, definindo isto como, dureza de coração.
Assim falara o Senhor do Exércitos: executai juízo verdadeiro, mostrai bondade e misericórdia, cada um a seu irmão, não oprimais a viúva, sem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente cada um, em seu coração, o mal contra o seu próximo. Eles, porém, não quiseram atender e, rebeldes, me deram as costas e ensurdeceram os ouvidos, para que não ouvissem. Sim, fizeram o seu coração duro como diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras que o Senhor dos Exércitos enviara pelo seu Espírito, mediante os profetas que nos precederam; daí veio a grande ira do Senhor dos Exércitos (Zacarias 7.9 a 12).
Portanto, devemos compreender que o pecado atual não é o que causa a nossa separação de Deus,mas a nossa separação de Deus é que causa o nosso pecado atual. Isso acontece porque o nosso coração está sob a maldição da Lei, cujo teor é: não encontrarás, não pensarás, não amarás a Deus de todo o teu coração.
O coração do homem está sob esta condenação a de não se encontrar com Deus, o que lhe daria total descanso. Por isso, o homem está fatigado na face da terra e o viver é pesado, mesmo para os mais abençoados com riquezas e outras fortunas.