domingo, 30 de abril de 2017

Aula 9 - Prolegomenos - Métodos de Leitura Bíblica



AULA 09
Métodos de Leitura Bíblica
Estabelecer um Plano de Leitura Diária

Introdução
Sem dúvida alguma, a leitura diária e constante da Escritura é um dos hábitos mais saudáveis a ser desenvolvido para quem deseja construir uma vida de profundida percepção espiritual da realidade.
Obviamente a simples leitura da Bíblia não tem um poder redencional em si e não dá maior discernimento espiritual da realidade apenas pelo fato de alguém ter lido, como se a leitura bíblica tivesse algum poder místico. A leitura bíblica é uma ferramenta para o aperfeiçoamento da fé.
A Escritura é a fonte básica de informação para a construção do pensamento adequado sobre a vida. Na verdade, a leitura bíblica é apenas o primeiro passo de uma longa viagem. Mas, como se diz popularmente: o primeiro passo é o mais importante de toda a viagem, já que é ele quem dá a direção.
O apóstolo Paulo orava constantemente pelos crentes e pedia a Deus que lhes concedesse discernimento para compreenderem a realidade, o poder de Deus que age na realidade etc. Escrevendo aos Efésios, o apóstolo afirmou que o seu apostolado tinha um propósito, anunciar o mistério da realidade do mundo centrado em Cristo, por meio da ressurreição e glorificação do Senhor. Ele, então, escreve suas epístolas para conduzir a Igreja na percepção deste mistério da vida.
Pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo (Ef 3.3-4).
Portanto, como se pode perceber nestes versos, a leitura bíblica é o ponto de partida para conhecer o que Deus revelou aos seus santos profetas e apóstolos com a finalidade de compreendermos o mistério de Cristo, Senhor e Rei de todas as coisas.
Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor (Ef. 2.20-21).
Em nossa última aula, apresentamos alguns métodos de meditação nas Escrituras. Evidentemente, a associação entre a leitura e a meditação no texto lido é um processo de aprofundamento da fé que permite que a simples leitura se transforme em uma busca pessoal pela verdade.
Além disto, jamais devemos nos esquecer do poder do Espírito Santo que habita no crente e que o conduz à verdade da Palavra, aplicando ao nosso coração redencionalmente toda a Lei de Deus.
Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar (Jo 16.13-14).
Jesus está falando com seus apóstolos e num certo sentido está apontando para o próprio processo de revelação da verdade. Mas, quando João entrega este texto para a Igreja, ele está apontando para o povo de Deus o fato de que o Espírito é o produtor da Verdade e o condutor da verdade ao coração do homem.
Nossa aula de hoje, tem como objetivo apresentar alguns métodos para a leitura diária, oferecendo algumas sugestões para o seu empreendimento constante. Sem dúvida, o melhor de todos os conselhos é o oferecido pelo salmista: “...que na sua lei medita de dia e de noite”. Também é bem vinda a palavra do apóstolos:  
Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração  (Cl 3.16). 

O PROPÓSITO DA LEITURA DIÁRIA
O principal propósito de qualquer modelo de leitura será a condução do pensamento no ideal de discernir a realidade espiritual da existência e, portanto, perceber a presença e orientação de Deus em sua vida.
No entanto, a leitura diária poderá servir apenas como ferramenta para o conhecimento mais amplo da História da Redenção. Ou seja, pode ser que sua leitura esteja apenas construindo o seu conhecimento sobre a história revelada e não necessariamente lhe acrescendo um conhecimento mais completo da vida, de forma direta. Esse acúmulo de informação da história bíblica é muito precioso e pode ser um ferramental necessário para o entendimento de algumas passagens de conteúdos mais densos.
Portanto, não se valha de um excessivo espírito intelectualista para a leitura bíblica. Algumas vezes, sinta-se também confortável em uma leitura de caráter mais informativo a respeito da verdade bíblica.

LER A BÍBLIA TODA?  EM QUANTO TEMPO?
Com certeza a leitura de toda a Escritura é um alvo a ser perseguido por todos os discípulos de Jesus Cristo. Este projeto pessoal de leitura da Bíblia toda pode te dar um amplo conhecimento da História da Redenção e uma capacidade de análise mais completa de todo o ensino da Escritura.
Devemos no lembrar que não existe um caráter místico redentivo na leitura da Bíblia. Trata-se de um processo de aquisição de conhecimento e de ferramental para o desenvolvimento de uma vida biblicamente orientada. Mas sem dúvida, a leitura completa da Bíblia é um intento muito útil, mas não uma obrigação final para a salvação do homem ou um fundamento da sua redenção. O fundamento da Redenção é um conhecimento básico sobre o Evangelho que diz que “o Senhor Reina”.
O tempo da leitura da Bíblia também é um fator de escolha pessoal. Evidentemente que seu projeto de leitura completa da Bíblia inclui um prazo mais curto, você terá oportunidade de desenvolver novos conhecimentos e empreender novas leituras direfenciadas e aproveitará melhor o seu tempo com a Escritura.
Mas, não existe uma regra absoluta para isto. Conheci um senhor que dizia ter lido a Bíblia toda umas cinquenta vezes. Admiro este fato e aprecio que alguém tenha esse empenho. Ele talvez tivesse uma metodologia de leitura anual das Escrituras.

LEITURA DIÁRIA ALEATÓRIA
A leitura bíblica pode ser empreendida seguindo métodos de sequência, mas também pode ser empreendida por escolha aleatória, isto é, a escolha de textos sem nenhum critério objetivo.
Você pode pensar que este tipo de leitura não é proveitoso, mas está enganado. Pode ser sim proveitosa, mesmo que sejam textos lidos sem uma base de escolha tão criteriosa. A questão é a atenção que se deve dar à leitura e o recurso de saber que todo o conteúdo lido tem a força transformadora de ser a Palavra Viva do Senhor.
Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda a boa obra (2Tm 3.16-17).
Partindo deste princípio, a leitura aleatória pode ser útil tanto quanto um outro modelo mais planejado. O ponto que precisamos destacar é que a força e o poder da leitura diária não reside no método, mas no que a Palavra de Deus é.

LEITURA SIMPLES E SEQUÊNCIAL BÁSICA
Uma metodologia muito utilizada e muito útil. Trata-se da leitura da Bíblia começando em Gênesis e caminhando até Apocalipse. Ela tem a utilidade de formar uma percepção da Bíblia da maneira como foi arranjada no cânon para o nosso uso e facilita os processos de memorização e localização das passagens.
Em geral é a mais usada ao longo da história e a mais simples e direta de todas. Não depende de nenhuma orientação exterior, mas simplesmente tomar o texto bíblico e começar a ler.

LEITURA CRONOLÓGICA
Um pouco mais sofisticada é a leitura cronológica da Escritura. Trata-se de um modelo de leitura que exige alguma pesquisa anterior para que você saiba, por exemplo, que histórias e textos bíblicos vêm antes de outros.
Por exemplo, um leitor cronológico da Escritura começará por Gênesis 1 a 11 com certeza, afinal relata a história mais antiga. Quando chegar na história de Abrão, precisará considerar que deve ler primeiro a história de Abrão ou a de Jó, afinal, muitos estudiosos consideram que Jó é uma personagem mais antiga que Abrão.
Como saber exatamente quais as histórias que vêm antes e depois das Escrituras? Isso demanda alguma pesquisa, ou algum conhecimento reflexivo das próprias Escrituras. Uma leitura completa da Bíblia, mesmo a mais básica pode ser o primeiro passo e a leitura cronológica pode ser um passo seguinte.
A vantagem deste tipo de leitura é que ela lhe oferece uma sequência mais clara da História da Redenção e pode ser muito útil para se compreender a obra de Deus no transcorrer da História humana.

LEITURA POR BLOCOS DE CONHECIMENTO
Este modelo de leitura bíblica reúne o conteúdo bíblico em “blocos de conhecimento” ou “unidades literárias”. Você pode, por exemplo, ler inicialmente somente os livros da Lei e depois só os livros históricos, ou as profecias, os Evangelhos, depois as cartas paulinas, as poesias etc.
Você pode querer juntar os blocos de conhecimento por autores, ou seja, ler o material entregue por Jeremias, ou Salomão, ou separar uma coletânea de leitura dos Salmos de Davi, ou os escritos de João.
Este método te ajuda a conhecer melhor o pensamento de um autor e a construir uma melhor teologia bíblica para análise do livro, a partir do propósito do autor. Por exemplo, quando João escreve o seu Evangelho num formato muito diferenciado dos outros evangelistas, o pensamento do Evangelho de João é completado pelo material que ele escreve nas cartas e no Apocalipse, por exemplo. Você notará que ele usa muitas vezes, em todos os seus escritos o conceito de “Verdade” de uma maneira bem específica, ou o uso da palavra “mundo” em João, que é muito importante.

LEITURA GUIADA POR MATERIAL EXTERNO
Existem livros que podem propor leituras bíblicas diárias. Os famosos devocionais diários ou outros materiais mais específicos podem ser muito úteis para a leitura bíblica diária.
Em geral este tipo de leitura tem o ganho de ser acompanhado por estímulos de entendimento guiados por pessoas que, em geral, conhecem bastante a Escritura. Ou seja, você ganha um pouco de tempo na interpretação e completa sua base de conhecimento.
O defeito deste tipo de leitura é justamente o seu mérito. Ou seja, o fato de alguém te oferecer chaves de entendimento antecipado pode ser um cerceador do seu próprio processo de construção bíblica. Eu, prefiro que antes de partir para um método guiado, você tenha primeiro lido a Escritura por meio de um processo não orientado.

LEITURA BÍBLICA COM ESTUDO DO TEXTO
Muitas pessoas desejam fazer uma leitura bíblica e aproveitar o texto para um aprofundamento do conhecimento por meio de um estudo mais apurado do material lido. Excelente caminho!
Toda a leitura bíblica, seguida de um aprofundamento do conhecimento, isto é, por meio de estudo histórico, exegético, hermenêutico é sempre desejável. Para isto, o leitor precisa adquirir envergadura de conhecimento e material de apoio para lhe ajudar.
Este método de leitura é uma espécie de somatória de leitura e ato de meditação textual bíblica. Ele demandará mais tempo e proporcionará um desenvolvimento mais completo da percepção a realidade. Entretanto, em geral este método é potencializado após o leitor ter caminhado anteriormente por um outro processo de leitura mais extensivo. Afinal, antes de meditar no capítulo 1 de Isaías, o conhecimento da história do Capítulo 6, ou do 40 é muito importante para uma visão mais profunda do que é ensinado no primeiro capítulo.

CONCLUSÃO
Evidentemente, a leitura bíblica é vital para o desenvolvimento de uma vida biblicamente orientada. Outros métodos podem ser empreendidos e cada pessoa pode desenvolver a sua metodologia pessoal.
Ler toda a Escritura e em ritmo constante deve ser um alvo para o crente. Portanto, não demore em se organizar e preparar para um constante contato com a Palavra da Verdade, que te santifica, isto é, te faz viver no mundo de Deus do jeito de Deus, percebendo Ele em todas as coisas, o tempo todo.


domingo, 23 de abril de 2017

Aula 08 - Prolegomenos - Métodos de Meditação Bílica



AULA 08
Métodos de Meditação Bíblica
Como Usar as Escrituras Para o Amadurecimento Pessoal

Introdução
A meditação nas Escrituras é o ato de se fazer internalizar o conhecimento da verdade, transformando-o em ferramenta prática para o viver diário. Este é um processo da vida toda e que deve se transformar num hábito e modo de vida.
Hoje, trabalharemos com alguns modelos de meditação bíblica, visando ampliar o ferramental de uso da Verdade Escritural como ferramenta de crescimento espiritual.
A falta de um hábito reflexivo na cultura brasileira precisa ser vencida e precisamos ganhar essa dimensão comportamental para ganharmos poder na permeabilidade da lavagem redentiva que a Escritura produz em nosso ser interior, na medida em que é internalizada em nossa estrutura interior do coração profundo.
Antes o seu prazer está na lei do Senhor e na sua lei medita de dia e de noite (Sl 1.2).

O sentido profundo de “meditar na lei do Senhor”
A ideia geral do conceito de meditar não é somente a de refletir sobre uma verdade por algum tempo. O salmista propõe a meditação como uma espécie de ruminação da verdade, um processo de moagem do conteúdo da lei do Senhor com a finalidade de fazê-lo altamente absorvível.
Meditar – o verbo hebraico “hagah”, indica o ato de falar repetidamente como um gemido pessoal. Com este verbo, o salmista deseja que o homem de Deus desenvolva um hábito de proximidade com o conteúdo da Lei do Senhor.
Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no coração (Lc 2.19).
Prazer na Lei – Embora o gesto de meditar tenha algum aspecto da mentalização, isto é, do ato de decorar o conteúdo da lei, a ideia proposta pelo salmista é o de enfatizar a ideia de instrução (Torah) como o processo maior de internalização. Ou seja, a Lei do Senhor aqui colocada como alvo da meditação é todo o processo de instrução de vida dado pelo Criador, por meio da sua regulação do nosso uso e desfrute da realidade.
Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia! (Sl 119.97).
Lei do Senhor – o objeto primordial da meditação é a descoberta da vontade do Senhor para a vida humana. O projeto do salmista é que o homem seja guiado pelo Senhor e não por qualquer outra maneira de ver o mundo. O verso 1 veta a busca de quaisquer outros conselhos, no modelo de vida transgressor e propõe o modelo de vida entregue como o Senhor como o fio condutor para o homem de Deus.
Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração  (Cl 3.16). 

TREINAMENTO DA MENTE PELA MEDITAÇÃO ILUSTRATIVA
Iniciaremos outro aspecto das nossas considerações sobre treinamento da mente através da meditação, pontuando sobre um tipo de meditação que foi praticada e incentivada nas Escrituras, a qual é, ao mesmo tempo, precisa ser criteriosamente aplicada para que não seja corrompida e se torne em meditação mística. Trata-se da “meditação ilustrativa”
A “meditação ilustrativa” é o nome que eu aplico para aquele tipo de meditação bíblica que parte da observação da existência, funcionamento, propósito e dinâmicas de coisas naturais, fazendo uma clara aplicação ao conhecimento das coisas espirituais de forma bíblica.
Há alguns exemplos de como isso foi proposto na Escritura. Entre os mais famosos temos aquela parte do Sermão da Montanha, em que Jesus pede aos seus discípulos que “olhem as aves dos céus” e “olhem os lírios do campo”. Ele considera sua existência e sobrevivência e faz uma reflexão sobre o cuidado de Deus para com os discípulos.
Ele diz que Deus cuida destes seres tão frágeis e, de certa forma, tão menores que os homens, pedindo a eles que meditem sobre os aspectos fundamentais do cuidado de Deus para com os seus discípulos.
Observai as aves dos céus: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves” (Mateus 6.26)?
Outra ilustração natural que serviu como elemento para a meditação nas coisas de Deus foi aquela registrada no livro de Jeremias, capítulo 18. 1 a 6.
“Dispõe-te e desce à casa do oleiro, e lá ouvirás as minhas palavras. Desci à casa do oleiro, e eis que ele estava entregue à sua obra sobre as rodas. Como o vaso que o oleiro fazia de barro se estragou na mão, tornou a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu” Jeremias 18.2 a 4.
Como você deve saber o final da história, o oleiro, o vaso, o barro e tudo naquela cena natural foi utilizada por Deus para propor a Jeremias que meditasse nas coisas que Ele, Deus, haveria de fazer em relação ao seu povo.
Os salmistas utilizaram muito destas ilustrações para meditar nas coisas de Deus, na sua majestade, no seu amor, no dever dos homens para com Ele etc. São vívidas as passagens que falam do pastor de ovelhas, das corsas que buscam pelas águas, das chuvas, dos pássaros que buscam abrigo etc.
Esse tipo de meditação é extremamente proveitoso para o treinamento da nossa mente, pois cenas naturais que podem ser utilizadas para considerações espirituais acontecem constantemente em nossa vida. Todos os dias e, com certeza em grande quantidade, podem ser detectadas por todos nós.
Além de muito freqüentes elas também são poderosas no treinamento de nossas mentes pois tornam o conhecimento de Deus muitíssimo prático para todos nós. Pois estabelecem uma sinapse direta entre o conteúdo, o significado e a prática.
O uso deste recurso treina a nossa mente a pensar em Deus mais constantemente, pois, sendo tão ricas e contínuas a ocorrências de situações ilustrativas, mais agilmente somos tomados pelos insights de meditação em Deus. Ao mesmo tempo, ela torna a nossa evangelização mais ilustrativa sobre Deus, pois nos permite, como Jesus fez em relação às parábolas, apresentar a mensagem do Evangelho de uma maneira mais ilustrativamente clara para os descrentes.
Mas, apesar de tantos benefícios, devemos permanecer alertas pois, este tipo de meditação pode carregar um perigo enorme e devemos tomar muito cuidado. O perigo gritante desse método é de fazer falsas referências espirituais de coisas naturais.
Falsos mestres aproveitaram a prática escriturística da meditação ilustrativa e fizeram analogias espirituais inapropriadas, criando assim doutrinas falsas, segundo os seus próprios interesses. Um bom exemplo desse tipo de abuso são as ilustrações utilizadas pelos proponentes da Teologia da Prosperidade.
Exemplo: um leão corre atrás de uma presa e a toma sem dó. Bem isso, poderia significar você orando, isto é, você vai diante de Deus como fome do que quer e toma da mão de Deus sem dó (é simplista o exemplo, mas não se assuste se alguém o utilizar por aí!).
Para se defender desse erro você deve lembrar a regra básica da meditação bíblica: meditação bíblica é sempre baseada e derivada do conteúdo bíblico. Certamente, nenhuma ilustração sem apoio das Escrituras terá lugar na vida de aproximação com Deus. Você só conseguirá meditar ilustrativamente de forma bíblica se o conteúdo bíblico conduzir o modo e o resultado da sua prática meditativa.
Portanto o que produzirá conteúdo à sua meditação é seu conhecimento das Escrituras. Na verdade, você está apenas sendo tomado pela cenografia que ilustra o ensino bíblico que você carrega em seu coração. O papel da ilustração é dar cara viva ao conteúdo bíblico, muitas vezes superficial, que você já possui, fixando-o e tornando-o arraigado ou mais arraigado em sua mente.
Um exemplo que posso dar a todos aconteceu-me outro dia: sou o responsável por colocar comida para a cachorrinha que temos. Um certo dia, cheguei muito tarde e cansado em casa. Apenas tomei um banho e fui dormir. Naquele dia, por vinte e quatro horas, a cachorrinha ficou sem comer. No outro dia, eu lembrei do meu erro e fui correndo colocar comida para ela. Cheguei na parte do quintal que lhe é separado com um pode de ração, sabendo que ela devia estar com muita fome. A minha surpresa foi que ela, pelo que mostrou depois, estava com muita fome, no entanto, no momento em que me aproximei, ela estava mais interessada em curtir a minha presença amiga de dono, pegou bolinha para eu jogar, abanou o rabo, pulou etc.
Refletindo sobre isso, posteriormente pensei sobre o modo como nós, filhos de Deus, amigos de Cristo, somos mesquinhos e, nos deixamos fixar muito mais nas coisas que Ele nos dá, que naquilo que Ele é para nós. Fiquei muito envergonhado e orei pedindo a Deus que me perdoasse por todas as vezes em que não fiz como a minha cadelinha fez comigo.
Creio que todos vocês compreenderam o perigo e o mecanismo para fugir deste erro grosseiro. Espero, sinceramente, que ninguém jogue fora a possibilidade dessa meditação ilustrativa e seus benefícios por um excesso de escrúpulos, produzido pelo perigo que foi aqui mencionado.
Um outro aspecto interessante sobre “meditação ilustrativa” é que o ideal não é que ela venha de forma forçada, mas seja produzida como que pelo próprio Espírito Santo em nossa mente.
Trabalho com muito cuidado com isso e sei que o próprio linguajar, às vezes, tem algumas imprecisões. O que tento fazê-los entender é que, muitos, conhecendo essa possibilidade, começam a olhar para tudo ao seu redor e parar e tentar promover uma meditação ilustrativa. Esse tipo de atitude esvazia as possibilidades de resultado agregador da meditação, pois a banaliza e escraviza.
Os salmista dizia que ele meditava nas horas da noite, Jesus tomava exemplos fortuitos, de repente. Na verdade, a melhor maneira disso acontecer é pela espontaneidade do Espírito, ou seja, de repente, somos tomados pelo ímpeto de meditar em algo que acontece. Sem um planejamento, mas como uma comoção da alma que um desígnio da mente.
Estou dizendo que assim ela é mais proveitosa, não que não o possa ser, quando deliberadamente me devoto a fazê-lo. A questão é que a espontaneidade reforça a pureza do ato.
Em suma, o que é importante é que ela não seja dissociada da Palavra de Deus e seu ensino perfeito.

TREINAMENTO DA MENTE PELA MEDITAÇÃO DOGMÁTICA
A meditação dogmática é a “meditação no ensino da palavra” por excelência. É o recurso de tomar o ensino bíblico sobre um tema e ruminar sobre o seu significado e implicações práticas e teológicas para a sua fé e vida.
Meditar dogmaticamente é o ato de trazer à mente doutrinas bíblicas e sobre elas considerar positivamente, procurando aplicar seu conteúdo ao seu dia-a-dia, tanto quanto, conhecer com mais profundidade aquela determinada área do conhecimento de Deus e sua vontade.
Esse método foi aplicado pelos servos de Deus e temos amostras claras do seu uso entre as personagens bíblicas, tanto quanto naquelas figuras históricas do cristianismo bíblico.
As mesmas considerações que fizemos no tema anterior “meditação ilustrativa” quanto à necessidade, bem como, a eficácia desse ato meditacional, com certeza podem ser aplicadas à meditação dogmática. Os mesmos critérios apontados para o homem do salmo 1, cuja vida era pautada pela Lei de Deus e nela buscava meditar, devem ser retomados agora na meditação dogmática.
Enquanto que na “meditação ilustrativa” nossa meditação partíamos de fora para dentro do nosso conhecimento adquirido da Lei de Deus (Toda a Escritura), ou seja, a realidade ao nosso redor nos fornecia os elementos meditacionais; na “meditação dogmática” é o conhecimento adquirido que nos leva a avaliar a realidade externa.
Em outras palavras, aquele conhecimento que você já possui em sua mente, muitas vezes apenas acumulado dentro do espectro mental, é a base da meditação dogmática. Na qual, o homem de Deus busca em sua mente uma doutrina aprendida e passa a considerá-la de uma maneira mais determinada e aprofundada.
Há vários estágios desse tipo de meditação, desde os mais simples até os mais aprofundados, nos quais, o servo de Deus se utiliza de recursos externos para a sua tarefa meditacional. Procuraremos trabalhar com esses elementos, fazendo pequenas simulações para exemplificar o método.
Antes de partirmos para a obra de simulação do método, deixe-me considerar duas coisas antes: a primeira é a inspiração desse método no trabalho dos teólogos sistemáticos; a outra consideração é quanto aos exemplos bíblicos de aplicação dessa rotina meditacional.
Na verdade, os teólogos sistemáticos não inventaram um método de estudo, mas reeditaram um método apresentado nas Escrituras, dando-lhe forma. Não buscarei adentrar nas questões históricas desse método de estudo da Palavra, apenas me referir ao conceito geral do mesmo.
A Teologia Sistemática é tradicionalmente conhecida como aquela atividade teológica de agrupar o conhecimento teológico debaixo de grandes temas e desenvolver doutrinariamente cada um deles. Por exemplo: o teólogo sistemático, estabelece um sistema de estudo da doutrina da salvação (soteriologia) e procura, então, definir os termos, selecionar os aspectos construtores desse conhecimento e depois estruturar a doutrina embasando-a a partir das diversas afirmações bíblicas que compõem esse tema.
Dessa forma, quando você toma um livro de Teologia Sistemática, você poderá identificar tudo o que aquele autor compilou sobre determinada doutrina dentro daquele tópico. Evidentemente, os estilos são diversos, mas em geral é assim que um Teólogo Sistemático trabalha.
A Bíblia não é um livro de Teologia Sistemática, embora seja ela a fonte da qual os sistemas teológicos dependem. Entretanto, personagens bíblicos e mesmo os seus escritores, muitas vezes fazem uso dessa lógica sistemática para expor a Palavra de Deus e fazer suas afirmações de fé, a respeito de Deus e sua vontade.
Faço lembrar aqui que partimos do pressuposto de crença na Inspiração e Inerrância das Escrituras, de forma que o labor teológico dos escritores bíblicos também são labores revelacionais do Espírito Santo, assim, nisto diferem completamente dos teólogos sistemáticos, cujos sistemas são derivados e não fonte de revelação divina. Portanto, o labor dos teólogos sistemáticos podem apresentar falhas, porém o dos escritores bíblicos não.

Exemplos Bíblicos de Meditação Dogmática
Procuraremos selecionar alguns exemplos bíblicos para ilustrar esse tópico, nos diversos tipos de literatura bíblica, desde o período inicial até as páginas do Novo Testamento.
O primeiros exemplo que tomaremos vem do Pentateuco, o Cântico de Moisés, em Deuteronômio 32. Quero considerar que devamos procurar construir o pensamento a respeito de como esse cântico foi construído na mente de Moisés.
Uma das coisas que notamos no início deste cântico é que Moisés conclama Israel a ouvir e considerar (“meditar”) naquela formulação que ele apresentava ao povo, acerca do Nome do SENHOR. Ele diz que aquelas palavras eram a sua “doutrina” sobre o Nome do SENHOR.
“Inclinai os ouvidos, ó céus, e falarei; ouça a terra as palavras da minha boca. Goteje a minha doutrina como a chuva, destile a minha palavra como o orvalho, como chuvisco sobre a relva e como gotas de água sobre a erva. Porque proclamarei o nome do SENHOR. Engrandecei o nosso Deus” (Deuteronômio 32.1 a 3).
 Com essas palavras Moisés exige, de maneira poética a máxima atenção ao que ele irá fazer. Portanto, o que Moisés irá falar ele já tem conhecimento, e sabe o que irá dizer antes de o comunicar aos filhos de Israel. O seu intento é que eles conheçam essa doutrina e meditando nela venham a engrandecer o seu Deus. 
Isto necessariamente aponta para o fato de que ele havia permanecido algum tempo pensando nessas coisas e construindo o seu pensamento sobre esse assunto. Agora, então, o que temos registrado em Deuteronômio 32 é o resultado do período de meditação de Moisés no ser e na obra de Deus.
O tema de sua meditação pode ser encontrado no verso 4:
“Eis a Rocha! Suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há nele injustiça; é justo e reto”.
Moisés estava meditando na História de Jehovah com Israel, a quem Ele tirou do Egito e como Israel procedeu neciamente para com o seu Deus. Não atentaram para a sua fidelidade e abandanoram o Senhor para buscar a outros deuses. Esqueceram-se da Lei do Senhor e adoraram aos deuses dos povos. Por isso, Deus se vingou de boa parte deles no próprio deserto e os rejeitou, porque não pode conviver com a infidelidade, aquele que é Fiel.
Não iremos nos delongar em analisar todo “Cântico de Moisés”, desejamos apenas destacar o fato de que ele meditou sobre a fidelidade de Deus e sua retidão, e fez aplicação necessária para compreender a história de Israel naqueles anos no deserto, bem como, procurou aplicar isso à vida do povo de Deus.
Os versos finais do capítulo nos ajudam a compreender que a meditação dogmática de Moisés o levou à conclusões práticas sobre a vida de Israel e aos devidos afazeres decorrentes das considerações teológicas abordadas.
“Tendo Moisés falado todas estas palavras a todo o Israel, disse-lhes: Aplicai o coração a todas as palavras que, hoje, testifico entre vós, para que ordeneis a vossos filhos que cuidem de cumprir todas as palavras desta lei. Porque esta palavra não é para vós outra coisa vã; antes, é a vossa vida; e, por esta mesma palavra, prolongareis os dias na terra à qual, passando o Jordão, ides para a possuir” (Deuteronômio 32. 45 a 47).
Aqui podemos notar que os autores bíblicos tinham a prática de meditar em Deus, no seu ser e obras, ruminar nas implicações dessas verdades, conhecer o relacionamento que tinham com esse Deus e aplicar à sua vida, como forma de crescimento pessoal.
A meditação dogmática tem como objetivo uma aplicação final que faça com que a verdade, às vezes, apenas armazenada na mente, seja aprofundada e comece a fazer o papel transformador do nosso caráter, como deve acontecer com todas as verdades da Escritura.
Outro exemplo que iremos tomar vem dos Salmos. No caso, um Salmo de Asafe, o de número 73.
Neste texto maravilhoso, o salmista Asafe medita na bondade de Deus e como Ele se relaciona com os justos (os de coração limpo). O salmista declara que ele não compreendia muito bem a prosperidade dos ímpios e, às desventuras dos justos, até que sua meditação o levou à uma conclusão maravilhosa, ele atentou para o fim de todas as coisas e como Deus tem sempre um futuro melhor para os que o temem.
No verso 16, ele faz a seguinte declaração:
“Em só refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim; até que entrei no santuário de Deus e atinei com o fim deles” (Salmo 73.16 e 17).
Facilmente podemos notar que a construção desse salmo aconteceu em uma meditação dogmática sobre Deus e suas obras, principalmente a bondade de Deus para com os homens.
Asafe, declara que pensava nestas coisas e, ao que parece, o fazia enquanto se dirigia ao Templo. Quando ele adentrou ao Templo, sua mente recebeu luz e ele meditou sobre o fim de todas as coisas e logo o seu pensamento foi encaminhado à glória de Deus.
Você poderá ler o Salmo e perceber com mais detalhes a mudança na mente desse homem que meditou na bondade do Senhor. A ponto de no final ele resumir suas conclusões da seguinte maneira:
“Os que se afastam de ti, eis que perecem; tu destróis todos os que são infiéis para contigo. Quanto a mim, bom é estar junto a Deus; no SENHOR Deus ponho o meu refúgio, para proclamar todos os seus feitos” (Salmo 73.27 e 28).
Entre os escritos dos profetas de Israel temos muitos exemplos da prática da meditação dogmática. Um bom exemplo vem de Jeremias, no seu livro, conhecido como “Lamentações de Jeremias”.
Neste livro, o profeta Jeremias enfrenta um tempo muito difícil da vida da nação Israelita que fora levada ao cativeiro. Lá, viu a aflição do povo de Deus e as muitas amarguras pelas quais passou nas mãos dos seus opressores.
Jeremias se viu em um estado de desânimo profundo. No capítulo 3, ele diz que sua alma estava sem esperança, ou quase sem esperança. É pede a Deus que alguma coisa lhe sirva à mente para recuperar o vigor da fé. Sua mente se reencontra com a meditação na “Misericórdia do Senhor” e, assim, o profeta se levanta de seu estado de desesperança e recupera o estado de fé.
“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança. As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade” (Lamentações 3.21 a 23).
Como podemos observar, o profeta reflete nas virtudes do SENHOR e esta meditação o conduziu a um relacionamento diferenciado com Deus em um momento de profundo sofrimento.
Como exemplo do Novo Testamento, iremos tomar a carta de Paulo aos Romanos. Esse é o mais complexo escrito paulino, considerado por muitos como sendo uma verdadeira obra teológica dos tempos apostólicos.
Não cremos que Paulo tinha essa pretensão, ou seja, a de escrever um tratado teológico sobre a justificação-santificação para os crentes de Roma. Mas, como lhe era peculiar, procurava vivenciar e compartilhar a fé de modo prático. Mas, sendo essa uma carta sem uma proposta clara de cunho apologético, como encontramos em outras, o apóstolo se sentiu mais a vontade para escrever de uma maneira diferenciada e mais livre sobre Deus e sua obra salvacionista.
Não teremos espaço aqui para uma abordagem mais pormenorizada carta. No entanto, o leitor poderá fazê-lo, pois é de excelente conforto o modo como Paulo apresenta suas considerações teológicas em Romanos.
Uma leitura rápida da carta sugerirá que a primeira parte da carta tem um caráter meditacional intenso, pois nela, Paulo rumina sobre diversos aspectos teológicos sobre os efeitos do pecado, a situação do pecador e como Deus age graciosamente para salvá-lo, justificando-o em Cristo Jesus.
O apóstolo usa exemplos do Velho Testamento, meditando no modo como Deus se relacionou com Abraão, analisa a vida do pecador que deseja fazer o bem, mas não consegue e, portanto, não pode ser salvo por suas obras. No final, o apóstolo medita na misericórdia que Deus utilizou para com os homens.
Não cremos que seja errado considerar que esta parte inicial da carta seja o produto da meditação do apóstolo sobre a obra de Deus, especialmente quando ele conclui esta parte com uma maravilhosa doxologia:
“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os teus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém” (Romanos 11.33 a 36).
Evidentemente, para Paulo era uma grande alegria espiritual conhecer a Deus e perscrutar a sabedoria de Deus, revelada na graça de Jesus. Disso, o apóstolo imediatamente tira lições e aplica aos seus leitores, dizendo que eles deveriam mostrar essa obra de Deus na vida deles, buscando a renovação da sua própria mente.
Antes, porém, de prosseguir na exposição do texto de Romanos, gostaria de fazer esse alerta importante. Nenhuma meditação na Palavra deve se limitar a ser um exercício intelectual, pois, na verdade, meditamos na Lei de Deus para aprender a viver de uma maneira mais justa, não nos associando às obras ímpias das trevas.
O apóstolo Paulo nos fornece mais um bom exemplo disto nesta parte da carta aos Romanos, pois ele vê que a necessária resposta à Revelação Bíblica da Redenção é uma vida oferecida a Deus, por meio de atitudes que revelam a operação da obra redencional em nós.
Seguindo o princípio da “Meditação Dogmática” não faremos uma exposição do texto e seu significado, mas da implicação prática do mesmo. Observe que o apóstolo propõe uma atitude prática decorrente das sublimes verdades que ele acaba de expor. Talvez essa palavra de Paulo aos crentes de Roma, seja o fruto necessário do que ele próprio havia pensado enquanto meditava para escrever aos seus irmãos.
“rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12.1e2).
Seguindo aquilo que ele mesmo já havia considerado no capítulo 6, Paulo prevê que a vida do crente, que reflete sobre sua condição de pecador redimido em Cristo Jesus, deve ser entregue a Deus como instrumento de justiça, isto é, prática consistente com o seu novo estado redencional.
“Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça” (Romanos 6.11 a 14).
O que desejamos destacar é a necessidade de que a meditação na Lei de Deus ajude a formar em nossa mente o desejo de uma prática consistente com a Palavra que molda o nosso pensamento. O surgimento de uma mente cristã, totalmente guiada pela voz de Deus (Palavra) é o produto que se espera dos tempos de meditação dogmática na verdade de Deus.

TREINAMENTO DA MENTE PELA MEDITAÇÃO TEXTUAL BÍBLICA
Evidentemente, estamos tratando de uma única tarefa, que é o ato de meditar na Lei de Deus. Essa tarefa poderá ser levada a efeito, tendo por instrumento a “Meditação Ilustrativa”, que consiste no uso dos elementos ao redor com a finalidade de que as realidades exteriores ilustrem as verdades eternas, conforme ensinadas nas Sagradas Escrituras. Outro instrumento que já tratamos é a “Meditação Dogmática”, que se trata da recuperação da verdades aprendidas sobre Deus, trazê-las ao pensamento consciente e nelas considerar, procurando implicações práticas na vida cotidiana.
Agora, entretanto, continuaremos a busca da “meditação na lei de Deus”, enfatizando o uso do texto bíblico. Na verdade, diferenciamos esse método da “meditação dogmática”, por que a sua temática é concentrar o ato de meditar no próprio texto em si e não apenas nas doutrinas bíblicas.
Esse método aproxima-se do que, em Teologia é conhecido como “Teologia Bíblica”. Esse método teológico estuda as verdades bíblicas através do processo revelacional, procurando um entendimento mais completo dos propósitos revelacionais da Escritura. Também forma uma consistente visão do todo bíblico.
Exemplos Escriturísticos de Meditação Textual Bíblica
Devemos esclarecer, que não era uma preocupação dos escritores bíblicos, nem de suas personagens, qualquer distinção sobre métodos teológicos. Na verdade, eles simplesmente registravam o texto, ou viviam suas histórias segundo o Espírito lhes dirigia, vivendo sua vida com Deus de forma simples e prática.
Entre os maiores mestres bíblicos dessa prática meditacional temos o próprio Senhor Jesus. Várias passagens do Novo Testamento, dão conta de que ele se valia das passagens do Velho Testamento para aplicar aos seus discípulos a verdade escriturística a seu respeito.
Em Lucas 24.26, Jesus procura meditar no texto bíblico para levar os dois viajantes do Caminho de Emaús a refletirem sobre o seu desânimo.
“E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as
Escrituras” (Lucas 24.27).
Como podemos notar, o texto bíblico é o instrumento de Jesus para a exposição da verdade. Isso está acontecendo enquanto caminham na direção de Emaús e isto está provocando uma reação em seu coração, muito parecida com aquela descrita no Salmo 39.3 e 4.
“Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?” Lucas 24.32.
Como você pode observar, os elementos meditacionais estão bem presentes e eles partem do texto bíblico, no caso, de alguns textos nos Livros da Lei e nos Profetas (lembrando que os judeus consideram os livros históricos, também proféticos).
Em seguida, Jesus os deixa e o último elemento da meditação entra em ação, isto é, a “prática’. Os dois discípulos são restaurados no vigor da sua fé e partem na direção oposta, voltam para Jerusalém.
“E, na mesma hora, levantando-se voltaram para Jerusalém, onde acharam reunidos os onze e outros com eles” (Lucas 24.33).
Neste ponto, iremos utilizar menos exemplos e de forma mais sucinta, uma vez que tudo o que já foi dito em relação a alguns processos da meditação ilustrativa e dogmática, servirão para se aplicarem aqui, evitando, assim, a repetição.
Voltaremos nosso olhar para o livro de Atos, capítulo 8. Ali, vemos um homem lendo o texto bíblico, procurando meditar na mensagem de Isaías 53. Ele não entende e Filipe vem ao seu encontro e lhe ajuda no ato meditacional.
“Então, Filipe explicou; e, começando por esta passagem da Escritura, anuncio-lhe a Jesus” (Atos 8. 35).
Você pode notar que eles estavam andando na direção da terra do Eunuco, já na direção de Gaza, ao sul da palestina. Eles estão com o texto de Isaías e meditam nas implicações deste texto e, depois, lêem outros textos e meditando neles, chegam à Cristo Jesus e, certamente, o Eunuco é levado a pensar nas implicações práticas disto.
Em seguida, depois deste tempo juntos com o texto, eles chegam a um ponto em que o Eunuco deseja algo prático na sua vida, ele clama pelo batismo cristão. Então, Filipe o encaminha nesse compromisso de fé e depois o deixa.
“Seguindo eles caminho fora, chegando a certo lugar onde havia água, disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que seja eu batizado? Filipe respondeu: É licito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Então, mandou parar o carro, ambos desceram à água, e Filipe batizou o eunuco” (Atos 8.36 a 38).
Esse método, em tese, deve nos levar ao mesmo lugar, ou seja, uma consideração necessária ao ensino da Lei de Deus e suas implicações práticas na nossa vida. O objetivo é sempre uma mudança de conduta, a partir de uma mudança na mente, pelo aprofundamento da Palavra em nós.
Em ambos exemplos, podemos perceber que uma interiorização do texto bíblico acabou ocorrendo, isto é, aqueles que meditaram foram não apenas esclarecidos, mas o texto transformou-lhes a vida.
Esse método se aproxima muitíssimo das próprias pregações que ouvimos, que nada mais são que meditações textuais bíblicas dos pregadores que se tornaram em sermões para toda a comunidade. Você pode considerar esse método como uma pregação para você mesmo, procurando extrair dos textos bíblicos ensinos que se apliquem diretamente à sua realidade pessoal.
Neste sentido, esse método meditacional pode oferecer ao crente uma aproximação com a Escritura, treinamento no conhecimento da Palavra, mas principalmente, conformação da sua vida ao que ele lê na Lei de Deus, com a vantagem sobre o sermão de que as aplicações do texto não são genéricas, mas diretas às necessidades sentidas.
Descobrindo o Foco da Mudança da Mente
Procure descobrir o Foco da Sua Condição Decaída ao qual o texto se aplica diretamente. Esse conceito (FCD) é ensinado pelo Professor Dr. Bryan Chapell, um expert em pregação. Ele parte do princípio de que todo o texto bíblico tem uma aplicação redencional, isto é, a Escritura é a voz de Deus alterando nossa vida, promovendo a Redenção em nós.
“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Timóteo 3.16 e 17).
O FCD é aquela esfera particular do seu caráter, da sua prática de vida, suas circunstâncias etc, que são afetadas pela presença do pecado e que precisam ser alcançadas por uma mudança de mente, ou até mesmo o fortalecimento da sua mente, naquilo que ela já consegue pensar redencionalmente.
Evidentemente, esse passo pode ser dado em qualquer um dos outros métodos de meditação estudados até aqui, mas na “meditação textual bíblica” ele tem uma principal aplicação, pois o próprio Deus afirma que a sua Palavra promove mudança em nós.
“Guardo no coração a Tua Palavra para não pecar contra ti” (Salmo 119.11).
“Vós já estais limpos, pela Palavra que vos tenho falado” (João 15.3).
“Santifica-os na Verdade, a Tua Palavra é a Verdade” (João 17.17).
“E que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2 Timóteo 3.15).
Faça Aplicações Práticas
Infelizmente, temos vivido um evangelho muito teórico. Enfatizamos tanto a necessidade de conhecer a verdade e não nos despertamos para o fato de que o verdadeiro conhecimento da verdade exige aplicação prática à vida.
Bryan Chapell, tem uma frase maravilhosa sobre a falta de aplicações práticas nos sermões: “Não somos simplesmente ministros da informação; somos ministros da transformação de Cristo” (Bryan Chapell - Pregação Cristocêntrica - Ed. Cultura Cristã).
Em se tratando da “Meditação na Palavra”, não podemos nos esquecer de que o objetivo dessa ação não é o de apenas dizer para Deus que estamos fazendo algo. Não é o preenchimento de uma praxe, ou uma exigência, o objetivo é a transformação da nossa mente. Não existe razão em uma meditação, cujo objetivo seja tão somente criar uma rotina para satisfazer nossa consciência religiosa.
Essa é a crítica que Tiago faz àquele que busca a Palavra sem uma ênfase na mudança prática da vida. E, lembrando bem, isso foi também o que o próprio Cristo afirmou em Mateus 7.24 a 27.
“Porque se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem aventurado no que realizar (Tiago 1.23 e 25).
Evidentemente, a aplicação prática é o que precisamos em nossas meditações, pois não meditamos por outro motivo senão para a transformação da nossa mente e com isso, uma prática de vida que mostre o nosso novo ser redimido.
Quando você descobre o FCD, o texto tem apresenta aquilo que precisa ser transformado em sua mentalidade cristã, disto decorre que suas ações seguintes deverão se conformar ao seu FCD. Então, a aplicação prática deve gerar decisões.
Tome Decisões Redencionais
“Decisões Redencionais” são as respostas práticas que damos ao nosso ato meditacional. Na verdade, “Decisões Redencionais” são aquelas respostas que damos a Deus, sempre que ouvimos a sua voz.
Crentes devem decidir o que irão fazer com aquilo que ouvem da parte de Deus. Eles não podem simplesmente ouvir o que Deus tem a dizer, como se o que o Pai Celeste fosse apenas uma conversa casual sobre amenidades.
Deus está disposto seriamente a transformar nosso caráter pela sua palavra e nós ralentamos em ouvir e nunca decidir nada sobre nós mesmos.
Tiago, ainda nos ajuda a pensar nisso com as seguintes palavras:
“Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tiago 1.26 e 27).
“Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade” (Tiago 2.12).
Por isso, não retarde suas decisões diante da voz de Deus. Em suas meditações procure os locais escuros do seu caráter e ilumine-os, ou ainda, procure fortalecer a luz que está em você, escolhendo práticas que te tornem mais eficiente redencionalmente, na obra de viver para Deus.
Muitos livros podem reformar seu caráter, mas somente a Bíblia pode efetivamente transformá-lo (Joel Beeke). A meditação na Lei de Deus é a busca dessa transformação de uma maneira mais profunda e efetiva.



domingo, 9 de abril de 2017

Aula 07 - Prolegomenos - A Atualidade da Bíblia



AULA 07
A Atualidade da Bíblia
Como as Escrituras devem ser aplicadas ao cotidiano.

Introdução
Na aula de hoje vamos enfatizar o “uso” que fazemos da Bíblia no dia a dia. A proposta é que você descubra os mecanismos de aplicação das verdades bíblicas para as diversas dimensões da sua vida pessoal.
Considerando que Deus estabeleceu Mandatos para que cumpramos nossa tarefa de vida de forma completa, vamos tratar do uso das Escrituras para a vida humana em suas três dimensões: “Espiritual”, “Social” e “Cultural”.
Nosso objetivo final é que você compreenda o mecanismo de aplicação das Escrituras para cada uma destas dimensões e consiga fazer uma leitura da Escritura com mais proveito, sabendo munir, com o uso dos mesmos textos todo o tecido prático da sua vida.
Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra e luz para os meus caminhos (Sl 119.105).

As Escrituras e a Dimensão Espiritual da vida
O Mandato Espiritual estabelece a necessidade de uma relação do homem com o Criador. Amar a Deus sobre todas as coisas é o principal objetivo desta ordenação divina para a vida humana.
Note que o uso da palavra “ordenação” em lugar de “ordenança” é proposital, na medida em que não estamos falando apenas da exigência divina para que o homem O ame acima de tudo, mas do fato de que Deus nos criou e preparou todas as coisas que isso acontecesse.
Para que pusessem em Deus a sua confiança (Sl 78.7).
Amar a Deus consiste no estabelecimento de uma relação de confiança e adoração.
O homem foi criado para viver de maneira teorreferente e deveria desfrutar da dimensão espiritual da existência percebendo em tudo o que está ao seu redor, em si mesmo, nas pessoas à sua volta e no modo como vive estes relacionamentos, toda a permeabilidade de Deus na Criação, sem a confusão panteísta de achar que a Criação é Deus.
Com a Queda, o homem perde este estado original de pureza e visão clara da realidade espiritual. As Escrituras são dadas como um desvelamento desta realidade e uma proposta de reestruturação da mente humana para o desfrute de Deus e toda a sua presença na Criação.
Bendize, ó minha alma, ao Senhor! Senhor, Deus meu, como tu és magnificente: sobrevestido de glória e majestade, coberto de luz como de um manto. Tu estendes o céu como uma cortina, pões nas águas o vigamento da tua morada, tomas as nuvens por teu carro e voa nas asas do vento (Sl 104.1-3).
As Escrituras Revelam o Ser Deus
Na busca de nos conduzir de volta a si mesmo, Deus nos oferece nas Escrituras uma reestruturação da nossa consciência de quem é Deus. Ele se revela a nós e nos deixa conhecer a glória do seu Ser.
Os textos bíblicos precisam ser usados no dia a dia para alimentar o nosso conhecimento de Deus. Tal conhecimento produzirá elementos “písticos” (relativos à fé) em nossa percepção da vida e esta nova maneira de ver a vida a partir da glória do Ser de Deus, o Criador, mudará a nossa relação com os acontecimentos.
Os diversos atributos de Deus revelados nas Escrituras são, em última análise, uma descrição do modo como devemos perceber que as coisas foram “ordenadas” para que desfrutemos da presença de Deus em tudo.

As Escrituras Revelam as Obras de Deus
De certa maneira já tocamos neste ponto ao falar sobre o modo como Deus ordenou tudo o que existe para provocar nossa admiração e entrega confiante a Ele. Por isso, as Escrituras revelam as obras de Deus.
Ao descrever as obras de Deus, as Escrituras nos conduzem a perceber sua intencionalidade de cuidar de nós e gerar em nosso coração gratidão e propósito de adoração.
O Salmo 104 é um dos mais ricos em figuras sobre este trabalho de revelar as obras de Deus. Ali, o salmista, usando diversas cenas da vida comum do homem, mostra os atos da Criação e Providência Divina como alavancas doxológicas para o coração humano.
Que variedade, Senhor, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste, cheia está a terra das tuas riquezas (Sl 104.24).
Ao contemplar as obras de Deus e perceber seus atos providenciais, o coração humano se desprende da insegurança de viver em um mundo do acaso e redescobre o governo de Deus sobre todas as coisas. Este tipo de descoberta nos leva a um relacionamento de confiança com Deus, não importa qual seja a situação. Por isso é que precisamos alimentar nossa mente com o conhecimento bíblico sobre o agir de Deus no mundo.

As Escrituras Revelam os Desejos de Deus
Sobre a nossa dimensão espiritual da vida, as Escrituras também revelam os intentos de Deus para com a nossa vida e as implicações disto é que devemos saber a direção que Deus quer que tomemos e vivamos numa relação de confiança absoluta com Aquele que sabe o que é melhor para nós.
Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. Então, me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração (Jr 29.11-13).
A principal intencionalidade divina revelada nas Escrituras é a Obra de Redenção do homem caído. Portanto as Escrituras nos foram dadas para nos fazer conhecer o “Plano de Redenção” e isto causa uma profunda mudança no depósito de nossa confiança e relação com a realidade.
Podemos tomar como exemplo, o texto de Isaías 45, onde Deus convoca a Ciro para agir em favor do povo da aliança. Ali, o profeta estabelece sua intenção de salvar o seu povo e mostrar a todos que existe só um Deus a quem devemos adorar.
Para que se saiba, até ao nascente do sol e até ao poente que além de mim não há outro, eu sou o Senhor, e não há outro (Is 45.6).
A intencionalidade divina de Redenção deve ser o alimento de todo homem que precisa estabelecer uma relação de confiança final com Deus. Somente um homem que consegue assegurar sua alma sobre a plataforma da certeza da vida eterna consegue realmente amar a Deus sobre todas as coisas em meio as dificuldades e intempéries da vida.

As Escrituras e a Dimensão Social da vida
Entre os mandatos da Criação temos no Mandato Social um dos mais difíceis trabalhos da vida do homem caído: amar o próximo. A tarefa humana de servir a Deus como vice-gerente da Criação envolve o ato de amar os seres humanos caídos, mesmo se forem nossos inimigos.
Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem (Mt 5.44).
Os mandamentos de Deus nos são dados com a finalidade de corrigir os males que a Queda causou ao nosso coração. Entre as terríveis distorções que a Queda causou ao coração humano, a dificuldade nos relacionamentos interpessoais ocupa lugar de destaque. Em outras palavras: como é difícil amar o próximo!
O segundo, semelhante a este é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Mt 22.39).
A dimensão social da vida é um dos alvos redentivos de Deus e as Escrituras estabelecem os princípios fundamentais para desenvolvermos uma boa relação humana interpessoal.
As Escrituras Estabelecem a Necessidade do Amor ao Próximo
Amar o próximo e cuidar uns dos outros é o mais profundo exemplo de amor a Deus. Não há nenhuma condição de revelar nosso amor e dependência de Deus senão por meio de uma atitude de cuidado com o nosso próximo, criado à imagem e semelhança de Deus.
Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê (1Jo 4.20).
A Bíblia é um manual de amor ao próximo! Ela estabelece a necessidade deste amor como a forma mais prática e vital para revelarmos realmente quem o nosso coração ama acima de todas as coisas.
Alimentar o coração com os princípios necessários do amor ao próximo é um ato de sabedoria e nos ajuda a corrigir os desvios mais fundamentais promovidos pela Queda, que estabelece, nas mais importantes relações práticas da vida, os maiores problemas que temos.

As Escrituras Estabelecem as Condições do Amor ao Próximo
A Bíblia, como dissemos, é um manual de amor ao próximo, por isto, ela estabelece as condições em que este amor ao próximo deve ser desenvolvido. Em outras palavras, ela não somente “ordena” (no sentido de dar um comando) que amemos uns aos outros, mas “ordena” (no sentido de estabelecer as condições necessárias) o modo como isto deve acontecer.
Os Dez Mandamentos são fundamentais para este ponto, mas a Primeira Carta de João também pode ser uma das ricas fontes desta sabedoria prática.
Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade (1Jo 3.18).
Diversos textos bíblicos trabalham a prática do amor e estabelecem os princípios de como deve acontecer essa mudança na nossa dimensão social da vida. Alimentar nossa mente com estes princípios é fundamental para o reordenamento da nossa existência para o desfrute de Deus e da realidade de um modo completo.

As Escrituras e a Dimensão Cultural da vida
Por dimensão cultural da vida imaginamos todo o relacionamento do homem com as coisas criadas e o produto de todas as relações com o produto do labor humano. O desfrute da realidade como um todo é uma grande bênção porque é vivendo que se serve a Deus. Portanto, toda a história de vida que Deus nos dá é uma oportunidade para viver para a glória de Deus.
Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus (1Co 10.31).
Aprender a viver e se relacionar bem com todas as coisas, isto é, vivenciar as realidades diárias de uma maneira madura, saudável e teorreferente deve ser um dos alvos mais importantes de todo homem.
As Escrituras nos foram dadas para promover esta maturidade e esclarecer para a nossa mente qual a medida e o propósito de cada situação vivencial e como devemos desfrutar da Criação e das suas resultantes.
Toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso. Duas coisas te peço; não mas negues, antes que eu morra: afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu fato, te negue e diga: Quem é o Senhor? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus (Pv 30.5-9).

A Palavra Impõe Limites ao Desfrute do Labor Humano
Temos todo o direito de gozar o bem daquilo que realizamos e devemos fazê-lo de uma maneira equilibrada e conduzida pelas orientações da Palavra de Deus. Entre os mais ricos materiais bíblicos sobre este tema, podemos considerar o Eclesiastes de Salomão como uma joia da coroa.
Alegra-te, jovem, na tua juventude, e recreie-se o teu coração, nos dias da tua mocidade; anda pelos caminhos que satisfazem ao teu coração, e agradam aos teus olhos; sabe, porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá contas (Ec 11.9).
Em geral, o desfrute do produto do nosso labor é uma das áreas que mais nos desviam de Deus. Após a Queda, o homem passou a ter uma relação muito desequilibrada com a riqueza que o seu trabalho produz. Tanto para o lado do muito ganho, como do pouco ganho, somos inclinados a nos desviar de Deus e tentar desfrutar das realidades materiais da vida de forma egocentrada e egorreferenciada.
As Escrituras são pródigas em nos conduzir ao equilíbrio nesta área. Por exemplo, ela indica o uso dos bens como uma ferramenta para amar ao próximo (Ef 4.28); proíbe o coração humano a transformação da riqueza como um objetivo final da vida (Mt 6.19-21); estabelece uma relação de dependência de Deus na produção dos bens para nossa vivencia (Mt 6.11) etc.
Precisamos aprender a desfrutar das realidades materiais da vida e do produto do nosso labor de forma bíblica, o que nos conduzirá a um padrão de vida adequado com quem ama a Deus e deseja praticar também o amor ao próximo como a forma mais direta do primeiro amor.

A Palavra de Deus Impõe Regras para o Desfrute do Labor Humano
O modo como ganhamos e produzimos os recursos necessários à vida também é um dos pontos mais preocupantes para quem deseja viver e agradar a Deus. O mandamento “não furtarás” está no centro deste ordenamento de Deus para o modo como vamos conquistar o que precisamos para viver.
Entre as coisas mais básicas está o padrão bíblico da Providência, isto é, o fato de que devemos nos conscientizar de que qualquer ganho que tenhamos é resultado último da vontade e providência divina.
Riquezas e glórias vêm de Ti, Tu dominas sobre tudo, na tua mão há força e poder; contigo está o engrandecer e a tudo dar força (1Cr 29.12).
Não podemos ganhar nossa vida de forma ilícita, nem defraudar o nosso próximo para que a nossa riqueza se faça a partir do empobrecimento do outro. As Escrituras tratam atos de injustiça na área do ganho como um dos mais terríveis compromissos com as trevas (Am 5.4-15).
Há muitas ordenanças bíblicas que regulam o modo como ganhamos a vida e cada uma delas deve nos dar sabedoria, maturidade e saúde para que vivamos de maneira boa e agradável. De forma que podemos estabelecer uma relação boa com o que temos e aprender a viver com o que Deus nos dá, por meio de nosso trabalho honesto e bem realizado.
Seja a vossa vida sem avareza. contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei (Hb 13.5). 
  
A Palavra de Deus Propõe Objetivos do Desfrute do Labor Humano
Todo o labor humano tem um objetivo, produzir as condições necessárias para que possamos viver e servir a Deus e ao próximo.
O trabalho do homem não é um fim em si mesmo, mas uma ferramenta para que Deus traga a este mundo a paz e harmonia por meio de nós, que somos os “jardineiros” de Deus.
Por meio do ganho do nosso trabalho Deus cuida de nós (Hb 13.5-6).
Por meio do ganho do nosso trabalho Deus nos usa para ajudar o outro (1 Jo 3.16).
Por meio do ganho do nosso trabalho Deus sustenta a pregação da Palavra (M 3.10).
O objetivo de todo o labor humano é regulado pela Escritura e tem como destino que cumpramos com o nosso papel neste mundo. Não trabalhamos para nós mesmos, mas para que Deus use o nosso recurso para realizar a sua vontade neste mundo.

Conclusão
Precisamos ler as Escrituras com o propósito de achar nelas a sabedoria prática da vida. Esta sabedoria se constrói com elementos de conhecimento que nos fazem mais sábios e com elementos de inibição do ato pecaminoso, que nos tornem mais santificados.

Aprender a trazer a Escritura para as decisões do dia a dia e para aguçar a nossa percepção da realidade espiritual da vida é um dos verdadeiros propósitos da própria doação das Escrituras para nós.