domingo, 15 de dezembro de 2013

Usando Corretamente os Meios de Graça - Meditação TExtual Bíblica

Evidentemente, estamos tratando de uma única tarefa, que é o ato de meditar na Lei de Deus. Essa tarefa poderá ser levada a efeito, tendo por instrumento a “Meditação Ilustrativa”, que consiste no uso dos elementos ao redor com a finalidade de que as realidades exteriores ilustrem as verdades eternas, conforme ensinadas nas Sagradas Escrituras. Outro instrumento que já tratamos é a “Meditação Dogmática”, que se trata da recuperação da verdades aprendidas sobre Deus, trazê-las ao pensamento consciente e nelas considerar, procurando implicações práticas na vida cotidiana.
Agora, entretanto, continuaremos a busca da “meditação na lei de Deus”, enfatizando o uso do texto bíblico. Na verdade, diferenciamos esse método da “meditação dogmática”, por que a sua temática é concentrar o ato de meditar no próprio texto em si e não apenas nas doutrinas bíblicas.
Esse método aproxima-se do que, em Teologia é conhecido como “Teologia Bíblica”. Esse método teológico estuda as verdades bíblicas através do processo revelacional, procurando um entendimento mais completo dos propósitos revelacionais da Escritura. Também forma uma consistente visão do todo bíblico.
Exemplos Escriturísticos de Meditação Textual Bíblica
Devemos esclarecer, que não era uma preocupação dos escritores bíblicos, nem de suas personagens, qualquer distinção sobre métodos teológicos. Na verdade, eles simplesmente registravam o texto, ou viviam suas histórias segundo o Espírito lhes dirigia, vivendo sua vida com Deus de forma simples e prática.
Entre os maiores mestres bíblicos dessa prática meditacional temos o próprio Senhor Jesus. Várias passagens do Novo Testamento, dão conta de que ele se valia das passagens do Velho Testamento para aplicar aos seus discípulos a verdade escriturística a seu respeito.
Em Lucas 24.26, Jesus procura meditar no texto bíblico para levar os dois viajantes do Caminho de Emaús a refletirem sobre o seu desânimo.
“E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as
Escrituras” (Lucas 24.26).
Como podemos notar, o texto bíblico é o instrumento de Jesus para a exposição da verdade. Isso está acontecendo enquanto caminham na direção de Emaús e isto está provocando uma reação em seu coração, muito parecida com aquela descrita no Salmo 39.3 e 4.
“Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?” Lucas 24.32.
Como você pode observar, os elementos meditacionais estão bem presentes e eles partem do texto bíblico, no caso, de alguns textos nos Livros da Lei e nos Profetas (lembrando que os judeus consideram os livros históricos, também proféticos).
Em seguida, Jesus os deixa e o último elemento da meditação entra em ação, isto é, a “prática’. Os dois discípulos são restaurados no vigor da sua fé e partem na direção oposta, voltam para Jerusalém.
“E, na mesma hora, levantando-se voltaram para Jerusalém, onde acharam reunidos os onze e outros com eles” (Lucas 24.33).
Neste ponto, iremos utilizar menos exemplos e de forma mais sucinta, uma vez que tudo o que já foi dito em relação a alguns processos da meditação ilustrativa e dogmática, servirão para se aplicarem aqui, evitando, assim, a repetição.
Voltaremos nosso olhar para o livro de Atos, capítulo 8. Ali, vemos um homem lendo o texto bíblico, procurando meditar na mensagem de Isaías 53. Ele não entende e Filipe vem ao seu encontro e lhe ajuda no ato meditacional.
“Então, Filipe explicou; e, começando por esta passagem da Escritura, anuncio-lhe a Jesus” (Atos 8. 35).
Você pode notar que eles estavam andando na direção da terra do Eunuco, já na direção de Gaza, ao sul da palestina. Eles estão com o texto de Isaías e meditam nas implicações deste texto e, depois, lêem outros textos e meditando neles, chegam à Cristo Jesus e, certamente, o Eunuco é levado a pensar nas implicações práticas disto.
Em seguida, depois deste tempo juntos com o texto, eles chegam a um ponto em que o Eunuco deseja algo prático na sua vida, ele clama pelo batismo cristão. Então, Filipe o encaminha nesse compromisso de fé e depois o deixa.
“Seguindo eles caminho fora, chegando a certo lugar onde havia água, disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que seja eu batizado? Filipe respondeu: É licito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Então, mandou parar o carro, ambos desceram à água, e Filipe batizou o eunuco” (Atos 8.36 a 38).
Esse método, em tese, deve nos levar ao mesmo lugar, ou seja, uma consideração necessária ao ensino da Lei de Deus e suas implicações práticas na nossa vida. O objetivo é sempre uma mudança de conduta, a partir de uma mudança na mente, pelo aprofundamento da Palavra em nós.
Em ambos exemplos, podemos perceber que uma interiorização do texto bíblico acabou ocorrendo, isto é, aqueles que meditaram foram não apenas esclarecidos, mas o texto transformou-lhes a vida.
Esse método se aproxima muitíssimo das próprias pregações que ouvimos, que nada mais são que meditações textuais bíblicas dos pregadores que se tornaram em sermões para toda a comunidade. Você pode considerar esse método como uma pregação para você mesmo, procurando extrair dos textos bíblicos ensinos que se apliquem diretamente à sua realidade pessoal.
Neste sentido, essa método meditacional pode oferecer ao crente uma aproximação com a Escritura, treinamento no conhecimento da Palavra, mas principalmente, conformação da sua vida ao que ele lê na Lei de Deus, com a vantagem sobre o sermão de que as aplicações do texto não são genéricas, mas diretas às necessidades sentidas.
Descobrindo o Foco da Mudança da Mente
Procure descobrir o Foco da Sua Condição Decaída ao qual o texto se aplica diretamente. Esse conceito (FCD) é ensinado pelo Professor Dr. Bryan Chapell, um expert em pregação. Ele parte do princípio de que todo o texto bíblico tem uma aplicação redencional, isto é, a Escritura é a voz de Deus alterando nossa vida, promovendo a Redenção em nós.
“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Timóteo 3.16 e 17).
O FCD é aquela esfera particular do seu caráter, da sua prática de vida, suas circunstâncias etc, que são afetadas pela presença do pecado e que precisam ser alcançadas por uma mudança de mente, ou até mesmo o fortalecimento da sua mente, naquilo que ela já consegue pensar redencionalmente.
Evidentemente, esse passo pode ser dado em qualquer um dos outros métodos de meditação estudados até aqui, mas na “meditação textual bíblica” ele tem uma principal aplicação, pois o próprio Deus afirma que a sua Palavra promove mudança em nós.
“Guardo no coração a Tua Palavra para não pecar contra ti” (Salmo 119.11).
“Vós já estais limpos, pela Palavra que vos tenho falado” (João 15.3).
“Santifica-os na Verdade, a Tua Palavra é a Verdade” (João 17.17).
“E que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2 Timóteo 3.15).
Faça Aplicações Práticas
Infelizmente, temos vivido um evangelho muito teórico. Enfatizamos tanto a necessidade de conhecer a verdade e não nos despertamos para o fato de que o verdadeiro conhecimento da verdade exige aplicação prática à vida.
Bryan Chapell, tem uma frase maravilhosa sobre a falta de aplicações práticas nos sermões: “Não somos simplesmente ministros da informação; somos ministros da transformação de Cristo” (Bryan Chapell - Pregação Cristocêntrica - Ed. Cultura Cristã).
Em se tratando da “Meditação na Palavra”, não podemos nos esquecer de que o objetivo dessa ação não é o de apenas dizer para Deus que estamos fazendo algo. Não é o preenchimento de uma praxe, ou uma exigência, o objetivo é a transformação da nossa mente. Não existe razão em uma meditação, cujo objetivo seja tão somente criar uma rotina para satisfazer nossa consciência religiosa.
Essa é a crítica que Tiago faz àquele que busca a Palavra sem uma ênfase na mudança prática da vida. E, lembrando bem, isso foi também o que o próprio Cristo afirmou em Mateus 7.24 a 27.
“Porque se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem aventurado no que realizar (Tiago 1.23 e 25).
Evidentemente, a aplicação prática é o que precisamos em nossas meditações, pois não meditamos por outro motivo senão para a transformação da nossa mente e com isso, uma prática de vida que mostre o nosso novo ser redimido.
Quando você descobre o FCD, o texto tem apresenta aquilo que precisa ser transformado em sua mentalidade cristã, disto decorre que suas ações seguintes deverão se conformar ao seu FCD. Então, a aplicação prática deve gerar decisões.
Tome Decisões Redencionais
“Decisões Redencionais” são as respostas práticas que damos ao nosso ato meditacional. Na verdade, “Decisões Redencionais” são aquelas respostas que damos a Deus, sempre que ouvimos a sua voz.
Crentes devem decidir o que irão fazer com aquilo que ouvem da parte de Deus. Eles não podem simplesmente ouvir o que Deus tem a dizer, como se o que o Pai Celeste fosse apenas uma conversa casual sobre amenidades.
Deus está disposto seriamente a transformar nosso caráter pela sua palavra e nós ralentamos em ouvir e nunca decidir nada sobre nós mesmos.
Tiago, ainda nos ajuda a pensar nisso com as seguintes palavras:
“Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tiago 1.26 e 27).
“Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade” (Tiago 2.12).
Por isso, não retarde suas decisões diante da voz de Deus. Em suas meditações procure os locais escuros do seu caráter e ilumine-os, ou ainda, procure fortalecer a luz que está em você, escolhendo práticas que te tornem mais eficiente redencionalmente, na obra de viver para Deus.
Muitos livros podem reformar seu caráter, mas somente a Bíblia pode efetivamente transformá-lo (Joel Beeke). A meditação na Lei de Deus é a busca dessa transformação de uma maneira mais profunda e efetiva.

Regra de Fé e Prática
Na doutrina reformada a Bíblia é chamada de Regra de Fé e Prática. Isto implica em sua importância sobre o conteúdo do que cremos e sobre aquilo que decidimos praticar.
Os puritanos ingleses escreveram livros e livros sobre a prática cristã e, para eles, era fundamental que toda a atividade dos cristãos fosse diretamente baseada na Palavra de Deus. Dessa forma, descobriram que o Livro de Deus era uma fonte de conhecimento para a vida prática. Esse é justamente o pensamento dos autores bíblicos, quando se reportam às próprias Escrituras e nelas meditavam.
“Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina. Quanto aos homens idosos, que sejam, temperantes, respeitáveis, sensatos, sadios na fé, no amor e na constância. Quanto à mulheres idosos, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada (...), a fim de ornarem, em todas as coisas, a doutrina de Deus, nosso Salvador” (Tito 2.1 a 10).
O SENHOR, ao revelar sua vontade aos homens de forma escrita, não objetivava uma mudança apenas no conteúdo mental dos homens, mas delineava com isso, seu intenso desejo de que o homem aprenda a viver para Ele.
A ação de inculcar à mente humana a sua Lei sempre foi uma proposital maneira do Ser Divino de conduzir o homem a um modelo vivencial que tivesse a Ele próprio como centro. Tal atitude não esconde um egocentrismo divino, mas uma das mais abrangentes demonstração de amor por parte do Glorioso Criador, pois Ele bem sabe que viver para ele e adorá-lo é o supremo bem para a vida humana.
“Eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. Dar-lhes-ei um só coração e um só caminho, para que me temam todos os dias, para seu bem e de seus filhos. Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim” (Jeremias 32.38 a 40).
Portanto, uma vida de prática da Lei de Deus é a mais completa e desejada bênção que podemos alcançar. Isso nos transforma pessoalmente e nos torna pessoas mais vivas para Deus, ao mesmo tempo que agrada ao Supremo Senhor.

sábado, 30 de novembro de 2013

Métodos de Meditação Pessoal - Meditação na Lei de Deus

Disciplinando a Mente

Introdução
Normalmente, denominamos o tema que estudamos de "santificação", mas aqui, temos apresentado o processo de santificação nos termos da nossa luta para ter a mente de Cristo e estruturarmos a existência a partir da realidade absoluta de um Deus vivo e verdadeiros. Discutimos anteriormente sobre o fato do pecado ter estabelecido uma fortaleza em nosso coração (a mente humana).
Compreendemos que é necessária uma grande batalha para levar o pensamento cativo à obediência de Cristo. E, decorre desta compreensão, duas coisas importantes: a primeira que devemos obedecer a Cristo e a segunda, que devemos obedecer como Cristo obedeceu.
Neste ponto, desejamos aplicar-nos a ponderar sobre um método de trabalho para educação da mente nessa piedade. Antes porém, gostaria de observar alguns textos sobre o tema.
Salmo 1.3 - “antes, o seu prazer está na Lei do Senhor e na sua Lei medita de dia e de noite”.
Facilmente notamos que a rotina de aproximação da Lei do Senhor é o nosso diferencial para com o homem ímpio.
Salmo 119.11 - “guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti”
Percebemos o motivo que o salmista elege para sua constante busca da Palavra, ou seja, não pecar contra Deus.
Deuteronômio 6.6 a 9 - “estas palavras estarão no teu coração e tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho,e ao deitar-te, e ao levantar-te, também as atarás como sinal em tua mão, e te serão por frontal entre os olhos, e as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas”.
Não precisamos de muito exercício para descobrir que Deus deseja que tenhamos essa prioridade máxima em nossa vida: conhecer sua palavra e obedece-la.
Um dos pontos mais fundamentais para quem deseja levar o seu pensamento cativo à obediência de Cristo é que saiba que sua mente precisa ser educada nessa direção.
Os textos que pontuamos e muitos outros nos mostram essa necessidade extrema. O apóstolo Paulo exorta Timóteo a essa prática (leia 1 Timóteo 4.9 a 16). Era de extrema urgência que o jovem pastor se disciplinasse à vida de aprofundamento na Palavra. Isso requereria do jovem Timóteo “muita aplicação, dedicação e disciplina pessoal”.
Falta de disciplina pessoal é uma das mais gritantes falhas do nosso cristianismo. Gigantes da fé sempre foram homens muitíssimo disciplinados, entre eles destaco: João Calvino, os grandes mestres puritanos e, em particular o Pastor e Filósofo Jonathan Edwards.

Quero lhes apresentar esse último, Jonathan Edwards. Nem todos conhecem a sua história e valeria a pena que pudessem pesquisar e saber um pouco mais sobre esse grande cristão, que viveu na América do Norte e foi um dos grandes pilares do "Grande Avivamento" da primeira metade do Século XVIII. 

Jonathan Edwards
Aos 20 anos de idade Jonathan Edwards escreveu: "Dediquei-me solenemente a Deus e o fiz por escrito, entregando a mim mesmo e tudo o que me pertencia ao Senhor, para não ser mais meu em qualquer sentido, para não me comportar como alguém que tivesse direitos de forma alguma... travando assim, uma batalha contra o mundo, a carne e Satanás até o fim da vida".
Jonathan foi criado em um lar muito piedoso. Foi influenciado grandemente pela vida e ministério de seu pai e pela piedade de sua mãe. Seu pai, Timothy e sua piedosa mãe, Esther oravam constantemente pelo único filho homem para que fosse cheio do Espírito Santo. Quando completou a idade de 7 anos presenciou um despertamento na Igreja de seu pai e assim, acostumou-se a orar sozinho, cinco vezes, todos os dias, e também chamava seus amiguinhos para orar com ele.

Mas apesar de ter sido criado em um lar muito piedoso, ele só veio a encontrar a paz 
e a certeza da fé salvadora entre abril e maio de 1721, aos 17 anos, durante o tempo em que permaneceu no Yale College para concluir o grau de mestrado. No entanto, durante o tempo em que estudou lá nunca deixou de estudar a Bíblia diariamente. Por toda sua vida ele alimentou-se com a Palavra de Deus. Segundo J. W. Chapman ele era, de fato, um santuário do Espírito Santo.

Aos 24 anos, quando se casou com a filha de um pastor, Sarah Pierrepont, encontrou nela uma mulher de rara espiritualidade e, como seu marido, entregue totalmente aos serviços do seu Deus. Eles gostavam de andar a cavalo ao cair da tarde, para poderem conversar e, antes de se recolherem, sempre tinham, juntos, os seus momentos devocionais.
Jonathan Edwards passava 13 horas por dia estudando e orando, mas, sempre metódico, todos os dias encontrava momentos para estar com a família. Ele entendia a real natureza da piedade e acreditava que Deus é engrandecido na pequenez e dependência do ser humano.
Como disse o Dr. Martyn Lloyd-Jones certa vez: "Edwards possuía uma excepcional espiritualidade. Ele sabia mais da religião experimental do que a maioria dos homens; e dava grande ênfase no coração". Como costume que vinha desde a sua meninice Edwards gozava os privilégios das orações. Continuou também a freqüentar os lugares solitários das florestas onde podia ter comunhão com Deus.
E em seu leito de morte, partindo de suas experiências pessoais e dos seus grandes benefícios, recomendou a alguns candidatos ao ministério que se achavam ao lado de sua cama: "Breve chegará a hora em que nós também teremos que deixar os nossos tabernáculos terrestres, e ir ao nosso Senhor, que nos enviou para trabalhar em Sua seara, para lhe prestar contas de nós mesmos. Ah, como isso diz respeito a nós, de modo que corramos, não incertamente; lutemos, não como quem esmurra o ar! E o que ouvimos não nos animaria a pôr a nossa confiança em Deus, dEle buscando ajuda e assistência em nossa grande obra, e a dedicar-nos muito a buscar os influxos do seu Espírito e êxito em nossos labores pelo jejum e oração"? Esta foi a marca da piedade deixada pelo teólogo do coração de do intelecto.

Suas Resoluções 
Como era comum aos jovens daquela época, Jonathan Edwards escreveu uma lista de resoluções, comprometendo-se com uma vida teocêntrica em harmonia com os outros. Esta lista foi escrita em 1722 e, ao longo dos anos, novas resoluções foram acrescentadas. A lista tem um total de 70 resoluções. Transcrevo aqui trechos resumidos, para mostrar a seriedade e firmeza com que ele encarava a vida:

"Estando ciente de que eu sou incapaz de fazer qualquer coisa sem a ajuda de Deus, humildemente rogo que Ele, através de Sua graça, me capacite a fielmente cumprir estas resoluções enquanto elas estiverem dentro de Sua vontade em nome de Jesus Cristo."
"Resolvi que farei tudo aquilo que seja para a maior glória de Deus e para o meu próprio bem, proveito e agrado, durante toda a minha vida".
"Resolvi que farei tudo que sentir ser o meu dever e que traga benefícios para a humanidade em geral, não importando quantas ou quão grandes sejam as dificuldades que venha a enfrentar".
"Resolvi jamais desperdiçar um só momento de meu tempo, pelo contrário, sempre buscarei formas como torná-lo mais proveitoso possível".
"Resolvi jamais fazer alguma coisa que eu não faria se soubesse que estava vivendo a última hora da minha vida".
"Resolvi jamais cansar de buscar pessoas que precisem do meu apoio e da minha caridade".
"Resolvi jamais fazer alguma coisa por vingança".
"Resolvi manter vigilância constante sobre a alimentação e bebida, para ser sempre comedido".
"Resolvi jamais fazer alguma coisa que se eu visse outra pessoa fazendo, achasse justo motivo para repreendê-la ou menosprezá-la".
"Resolvi estudar as Escrituras tão firme, constante e freqüentemente, até ao ponto em que possa claramente perceber que estou continuamente crescendo no conhecimento da Palavra".
"Resolvi esforçar-me ao máximo para que cada semana possa me elevar na religião, e no exercício da graça além do nível que estava na semana anterior".
"Resolvi que irei me perguntar ao final de cada dia, semana, mês, ano, como e onde eu poderia ter feito melhor".
"Resolvi freqüentemente renovar a dedicação da minha vida a Deus que foi feita no batismo, e que foi solenemente renovada quando fui aceito na comunhão da Igreja; e que eu solenemente refaço neste dia 12 de janeiro de 1722".
"Resolvi, a partir deste momento e até a minha morte, jamais agir como se a minha vida me pertencesse, mas como sendo total e inteiramente de Deus".
“Resolvi que agirei da forma que achar que eu mesmo julgarei ter sido a melhor, e a mais prudente, quando estiver na vida futura”.
"Resolvi jamais desistir, ou de qualquer maneira relaxar na minha luta contra minhas próprias fraquezas e corrupções, mesmo quando eu não veja sucesso nas minhas tentativas".
"Resolvi sempre refletir e depois das adversidades e das aflições, no que fui aperfeiçoado ou melhorado através das dificuldades que benefícios me vieram através delas, e o que poderia ter acontecido comigo caso tivesse agido de outra maneira".
Edwards combinava o exercício mental e intelectual de um gigante com a piedade quase infantil, pois ele percebia Deus, tanto como infinitamente complexo, quanto como maravilhosamente simples. Essas resoluções, Edwards levou por toda a sua vida.
A Herança de Edwards
A vida de Jonathan Edwards é uma prova de que Deus não quer que desprezemos as faculdades intelectuais que Ele nos deu. Mas, que a desenvolvamos, sob a direção do Espírito e Deus, e que as entreguemos desinteressadamente ao seu uso.
Nas palavras do falecido Dr. Martyn Lloyd-Jones: "De fato eu tentei, talvez tolamente, comparar os puritanos com os Alpes, Lutero e Calvino com o Himalaia, e Jonathan Edwards com o Monte Everest! Ele sempre me pareceu ser o homem mais semelhante ao apóstolo Paulo. Naturalmente, Whitefield foi um grande e poderoso pregador, como foi Daniel Rowland, mas Edwards o foi também. Nenhum deles teve o intelecto, nenhum deles teve a compreensão da teologia que Edwards teve, foi o filósofo que ele foi. Ele sobressai, parece-me, inteiramente pelo que ele é, entre os homens".
Jonathan Edwards está entre os heróis da fé, digno de ser imitado. Digno de ser imitado em sua devoção à Bíblia, pois lutou para entendê-la, lutou para aplicá-la. Também em sua busca assídua por Deus em oração, visto que ele passava grande parte de seu dia em oração. Não apenas como um costume, mas gozando dos privilégios desta prática. Sua reverência e temor de Deus foram um exemplo também. E apesar do profundo e vasto conhecimento, ele sempre manteve a humildade. Tudo isso porque ele possuía um senso das verdades celestiais, era um conhecimento afetivo, algo que, sem dúvida nenhuma, precisamos hoje como cristãos.
Deixemos que o próprio Edwards o descreva: "Aquele que é espiritualmente iluminado... não crê de maneira meramente racional que Deus é glorioso, mas tem um senso da natureza gloriosa de Deus em seu coração. Não há somente uma percepção racional de que Deus é santo, e de que a santidade é uma coisa boa, mas há uma percepção do caráter atraente da santidade de Deus. Não há apenas uma conclusão especulativa de que Deus é gracioso, porém o senso de quão amável Deus é, ou o senso da beleza deste atributo divino".
Jonathan Edwards foi inteiramente contrário à separação entre coração e cabeça, que tantas vezes tem afetado os evangélicos. Ele unia o mais rico sentimento religioso aos mais elevados poderes intelectuais. Isso é realmente digno de aceitação.
Ele possuía uma apreciação singular por uma espiritualidade fervorosa e intensa. É denominado muitas vezes de teólogo do avivamento, da experiência e do coração. Não que o critério da verdade seja a experiência, mas que o cristianismo tem de ser experimental e prático, sendo a Escritura sempre o juiz de tudo.

(texto sobre J.Edwards retirado do blog de Josemar Bessa) 
 http://josemarbiografias.blogspot.com/2006/07/jonathan-edwards.html



"Antes o seu prazer está na Lei do SENHOR e na sua Lei, medita de dia e de noite"


Treinando a Mente Pela Meditação na Lei de Deus
A mais comum imagem do cristão é daquele homem ou mulher que vai à igreja. Esse é um quadro completamente distorcido e impreciso do que realmente vem a ser um servo a quem o Senhor está redimindo.
Certamente, o homem ou a mulher que vai à igreja está em um caminho muito melhor que aquelas pessoas que não se importam com o que Deus requer delas. Mas, o “ir à igreja” não é um sinal de que a redenção está se operando eficazmente em sua vida.
Não obstante, ajude bastante para que você cresça na direção de um aperfeiçoamento redencional, o “ir à igreja” não é um termômetro confiável de que a obra da Redenção está se expandindo em seu coração.
Temos enfatizado que a mudança da mente é o ponto central de início e expansão dessa obra redencional em nós. Entretanto, quando a mente verdadeiramente é alcançada redencionalmente, ela logo nos levará a um modelo de vida que nos impele a um tipo de cristianismo contínuo e mais aprofundado. Enquanto isso não acontece, mantemo-nos como o próprio Paulo descreveu: crianças espirituais.
A mente precisa ser treinada. Uma das características que se requer para esse treinamento é a disciplina, da qual tratamos no momento em que abordamos as decisões de Jonathan Edwards.
A decisão de disciplinar-se mentalmente para uma busca redencional, logo produzirá efeitos e o principal deles é o desejo de crescer na graça e viver mais intensamente o contato com Deus. Esse desejo se transformará em crescimento à medida que começarmos a pensar nas coisas lá do alto e nos libertarmos conscientemente da vida intra-mundanizada.
Para essa mudança na maneira de pensar temos como recursos maravilhosos os meios de graça, quais sejam, oração e palavra, como metodologia primordial para enriquecimento e treinamento da mente.
Iremos abordar, em primeiro plano, a Palavra. Nela, inicialmente, faremos uma consideração sobre o que diz o Salmo primeiro: “...antes o seu prazer está na Lei do Senhor e nela medita de dia e de noite”.

MEDITAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE APROFUNDAMENTO DA FÉ NO SENHOR
Obviamente, quando falamos em meditação, muitas pessoas tendem a ter um certo receio, pois logo fazem a associação com as práticas ocultistas e místicas das religiões orientais ou da nova-era. Certamente, não é deste tipo de meditação que estamos falando, por isso, mais à frente pretendemos oferecer uma pequena definição do que é meditar na Lei do Senhor.
Antes, entretanto, iremos abordar o fato bíblico da meditação. Pois a escritura não trata a meditação apenas como uma opção para o crescimento espiritual, ao contrário, ela a promove como instrumento fundamental para  a vida de comunhão com Deus e frutificação.
No salmo primeiro, emblematicamente, o Salmista segue a proposta geral de diferenciação entre a semente de Deus (o homem justo) e a semente do Diabo (o homem ímpio) e destaca que o que o justo faz para não andar no caminho do ímpio é ter prazer na lei do Senhor, meditando nela dia e noite.
“Antes o seu prazer está na Lei do Senhor, e na sua Lei medita de dia e noite” - Salmo 1.2.
O salmista identifica o meditar na Lei de Deus como a arma poderosa para impedir que o homem de Deus ante no caminho do ímpio, como faz referência no verso 1. Ele anota que esse meditar nasce de uma visão positiva da Lei do Senhor, pois o prazer deste justo repousa sobre ela, o que possivelmente, gera uma experiência também positiva, pois o início do verso 1, diz que o resultado dessa postura é a bem-aventurança.
Um texto que parece ecoar neste salmo é Josué 1.7 e 8. Ali, Jehovah encoraja o general hebreu a ser corajoso para fazer o que tem de fazer e criterioso para fazê-lo segundo os preceitos de Deus. Para tanto, o Senhor diz a Josué que deveria priorizar o conhecimento e auto-preenchimento com a Lei do Senhor.
“Tão somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a Lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não se desvie, nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares. Não cesses de falar deste livro da Lei, antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito, então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido” (Josué 1.7 e 8).
Seguindo esse mesmo caminho, podemos observar no Salmo 119, conhecido como “Salmo da Palavra”, recomenda a meditação como uma maneira de fazer aprofundar os efeitos da Palavra no Coração. 
“Guardo no coração a tua palavra, para não pecar contra ti” (Salmo 119.11).
“Meditarei nos teus preceitos e às tuas veredas terei respeito, terei prazer nos teus decretos; não me esquecerei da tua palavra” (Salmo 119.15 e 16).
Em todo o livro dos Salmos, que é, como expressou Calvino, “a anatomia de todas as partes da alma” teremos um grande número de afirmações diretas e indiretas sobre o valor da meditação na Palavra e em Deus como uma arma para o aprofundamento da fé e do apego a Deus e ao seu caminho.
A meditação na Palavra e em Deus (o que para mim, são a mesma coisa, pois meditar na Palavra é também meditar em Deus) produzem o efeito de tornar o conhecimento superficial que polui a mente humana em um crescimento arraigado nela.
Exemplifico isso de uma maneira negativa, mas que ilustra o que quero dizer: imagine que uma certa quantidade de poeira caiu sobre um lençol branco em sua cama. Imediatamente, você corre e aspira ou bate aquela poeira e ela não deixa vestígios. Esse é o conhecimento superficial de Deus que apenas polui a mente humana.
Mas imagine que você permita que aquela poeira permaneça sobre aquele lençol por alguns dias sem tocá-la. Depois de algumas semanas você resolve aspirar ou bater aquela poeira para fora, mas ela formou uma mancha. Esse mancha é o conhecimento arraigado de Deus.
A meditação produz isso, um arraigar do ensino bíblico sobre Deus, sua vontade, seus planos, considerações e desejos sobre nossa vida. Ela faz apegar ao nosso coração (mente) a Palavra que molda o que somos e nos transforma.

A DIFERENÇA ENTRE MEDITAÇÃO BÍBLICA E OUTRAS TIPOS DE MEDITAÇÕES.
Como já dissemos anteriormente, não devemos confundir a meditação bíblica com as práticas ocultistas das religiões místicas, quer orientais ou ocidentais, ligadas ao movimento da Nova Era.
A diferença primordial é que o conteúdo da meditação bíblica é o que a própria Bíblia diz, além de ser a meditação exclusiva em Deus.
“Antes o seu prazer está na Lei do Senhor, e na sua Lei medita de dia e noite” - Salmo 1.2.
O texto não deixa dúvidas de que a Lei de Deus é o objeto da meditação. A Lei de Deus, por sua vez, a voz do próprio Deus, o que, por simples consideração lógica significa que é meditar no que Deus diz.
Não descarto a eficácia de outras espécies de meditação como instrumentos de saúde física e mental. O próprio controle da respiração, sem nenhum conteúdo místico em si, já produz efeitos benéficos. Entretanto, elas não produzem o efeito que a meditação bíblica tem de transformar a mente do homem e fazê-la canalizar os intentos do coração na obra redencional de Deus.
As meditações do mundo oriental, em sua maioria quase absoluta, trabalham com  esvaziar-se da mente para que o homem, sem as rotinas mentais costumeiras, alcance um determinado estado mental de ruptura para que se una, conforme apregoam, ao “cosmos” e às energias emanadas dele.
Na meditação bíblica o homem não esvazia a sua mente, ele a preenche com o conteúdo revelado sobre Deus. Ele não busca primordialmente, auto-conhecimento, mas o conhecimento de Deus, e aquele que o Divino tem sobre o homem. Assim ele não conhece a si mesmo, mas aprende o que Deus conhece dele. Desta forma, conhece a si mesmo, sob o prisma de Deus, o que de fato é mais realista e proveitoso.
Veja no Salmo 39, como o salmista compreendia que a meditação o levaria a conhecer a si mesmo:

Esbraseou-se-me no peito o coração; enquanto eu meditava, ateou-se o fogo; então, disse eu com a minha própria língua: dá-me a conhecer, Senhor, o meu fim, e qual a soma dos meus dias, para que reconheça a minha fragilidade” (Salmo 39.3 e 4).


Aplicação
Desejo que todos nós sejamos humildes o suficiente para compreender que nossas mentes precisam de disciplina espiritual se queremos ser pessoas espirituais.
O esforço de nossa mente e corpo nos trará o benefício de um espírito renovado e cheio da graça de Deus. Seremos pessoas diferentes à medida que nos tornamos mais parecidos com o Cristo ao qual contemplamos em nossa devoção diária.
Todos os discípulos de Jesus precisam da capacidade de Dominarem seus próprios pensamentos, a ponto de considerarem mais atentamente a glória de Deus em todas as coisas que fazem.
Edwards não só foi um exemplo de homem piedoso, mas tornou-se num dos principais teólogos do grande avivamento americano, o qual deixou um legado muito especial para a igreja vindoura.
Infelizmente, ainda é muito desconhecido no Brasil, mas creio que tem chegado o tempo em que este grande mestre será mais divulgado e conhecido na nossa terra.

domingo, 17 de novembro de 2013

Aprimorando o meditar na Palavra - Comunicação Espiritual Predominantemente Horizontal

Introdução

Iniciando nossa busca de aprimoramento no meditar da Palavra, precisamos ter em mente uma diferenciação importante a respeito da natureza do que chamamos "ouvir a voz de Deus" ou o que denominamos "a Palavra de Deus".
No geral, usamos dizer que qualquer mensagem bíblica é a palavra de Deus. Entretanto, insisto em fazer uma distinção entre a mensagem bíblica anunciada em um culto solene e aquela ministrada em outras ocasiões, tais como, estudos bíblicos, aulas de escola dominical etc.
A diferença que proponho tem a ver com a própria conceituação de culto. Pois, no culto, por causa de todos os aspectos teológicos envolvidos que conferem uma natureza diferenciada para a pregação da Palavra, devemos conceber que o momento do sermão é especial e deve ser considerado em um nível diferenciado de todo o restante de nossa comunicação da Palavra de Deus.
Nesta aula, consideraremos o papel de outras formas de comunicações espirituais, tais como, estudos bíblicos, aulas de escola dominical, palestras, aconselhamentos e outros. A estes modelos de comunicação denominaremos "comunicação espiritual de nível predominantemente horizontal". 
E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais (Efésios 5.18-19).
Comunicação espiritual - estabelecendo melhor o conceito do que seja uma "comunicação espiritual", precisamos compreender que existe um nível de comunicação entre Deus e nós que nos permite o crescimento no espírito. Como no texto acima, vemos que o falar mútuo, com salmos e o entoar cânticos e hinos, seria um mecanismo para o "enchimento do Espírito". Definimos uma comunicação como espiritual quando ela envolve esse processo de comunicação de Deus com o nosso ser interior, propondo mudanças caracteristicamente vinculadas ao processo de redenção na nossa vida. 
O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Romanos 8.16). 
Comunicação Espiritual Predominantemente Horizontal
Este tipo de comunicação espiritual tem um lugar de grande importância no contexto da igreja. Ela prepara os crentes para os seus encontros verticais com Deus e também para conceituar a própria vida, através das reflexões próprias da Escritura. 
Como já dissemos, entre estas comunicações espirituais predominantemente horizontais estão todos os tipos de estudos bíblicos, palestras e aulas de Escola Dominicais. Mas nem toda comunicação que tenha conteúdo religioso é uma comunicação espiritual verdadeira. 
O fato de uma conversa ter um conteúdo religioso não a qualifica absolutamente como uma "comunicação espiritual".

Características da comunicação espiritual com predominância horizontal
  1. A Palavra de Deus como conteúdo: Numa comunicação espiritual redencional verdadeira   o conteúdo discutido, apresentado, ensinado é sempre a Palavra de Deus. Ela difere da conversa religiosa, que é aquela conversa que trata de assuntos religiosos, mas cujo foco está mais no fenômeno da religião que no conteúdo redencional da Palavra de Deus. É importante diferenciar esse tipo de comunicação espiritual de outros níveis de contato horizontal nos relacionamentos humanos. 
  2. Propósitos transcendentais: embora pareça uma contradição, pois acabamos de dizer que a comunicação acontece nos níveis do relacionamento humano horizontal, desejamos ressaltar que a finalidade desta conversa é uma atitude de respeito para com Deus. O tipo de instrução que se dá numa comunicação deste tipo, tem como finalidade conduzir o outro em uma melhor apreciação de Deus, como fim último de toda instrução bíblica. 
  3. Conduz a atitudes positivas de quebrantamento e santificação: as reflexões provenientes deste tipo de comunicação espiritual, concorrem para que sejamos contristados diante das verdades absolutas de Deus e, com isso, levados ao quebrantamento e à conseqüente santificação.
  4. Prepara o crente para servir melhor: Este tipo de comunicação espiritual procura nos encorajar à prática de hábitos salutares e condizentes com o conteúdo que foi ministrado. Por isso, tende a fortalecer nossas convicções, produzindo, como conseqüência natural, um indivíduo mais preparado para o agir cristão. 
Certamente, outras nuances podem ser destacadas que caracterizam a comunicação espiritual de nível horizontal, essas nos servirão de referência para nosso estudo aqui. Sugiro que o aluno continue a refletir sobre o caráter desse tipo de comunicação. 

"Predominantemente horizontal" - A ideia de "predominantemente horizontal" é para enfatizar o fato de que esse tipo de comunicação tem como agentes primordiais os homens e mulheres. Por que "agentes primordiais" e não "agentes únicos"?
A horizontalidade dessa comunicação enfatiza o fato de que se trata de uma conversa que travamos no nível das relações humanas. 
Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração (Colossenses 3.16).
Fixamos a ideia de "predominantemente" e não a consideramos "exclusivamente" no nível das relações humanas pelo fato de compreendermos que Deus, por meio da obra do Espírito Santo, é o fomentador dessa conversa e, ainda que não seja o articulador direto do conteúdo, se faz o grande incentivador dessa conversação e o seu objetivo final. 
Portanto, a idéia de predominância responde ao fato de que cremos que a presença de Deus perpassa todas as nossas conversas, entretanto, diferente do caráter dialogal do culto, o diálogo aqui se dá entre os homens que mutuamente se edificam. 

Os Modos de Comunicação Espiritual Predominantemente Horizontal
Na verdade, estamos falando dos instrumentos ou dos meios pelos quais ela se torna efetiva. Um dos mais comuns é a conversa entre pessoas cristãs, que discorre sobre o conteúdo da Palavra de Deus. Existem outros modos operandi dessa comunicação, como o discurso num estudo bíblico, o debate de idéias e até mesmo a música de conteúdo e intencionalidade bíblicos e até livros podem ser encaixados nessa classificação.

Conversas informais de conteúdo espiritual
Um dos modos de comunicação espiritual predominantemente horizontal que deveriam ser mais comuns entre os que querem usufruir o melhor da Palavra de Deus é o método da conversação informal sobre as verdades da Escritura.
Infelizmente, existe uma tendência, cada vez maior, de que os crentes deixem de falar de Deus em conversas informais. Na verdade, parece que não temos propensão natural para uma conversa sadia e amigável sobre as coisas que se referem a Deus. Acredito que tenhamos "burocratizado a nossa fé".
Esse tipo de conversa é muito estimulada na Escritura, especialmente no contexto da educação de filhos no caminho do Senhor.
Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te (Deuteronômio 6.6-7).
Perdemos o hábito de falar das coisas de Deus de maneira informal. Deixamos que uma certa "institucionalização" tomasse conta da nossa fé. Algumas pessoas só esboçam um conteúdo de conversa a respeito de Deus nos ambientes próprios do cultivo religioso ou em uma conversa programada para isso.
A conversação informal sobre Deus e tudo que envolve a nossa relação com Ele possui o valor de dar à nossa fé o contorno da naturalidade. A partir de conversas espirituais informais, podemos ser estimulados na fé e nos encheremos do Espírito Santo. 
Em uma conversa informal sobre o conteúdo da fé podemos ser incendiados de amor pela Palavra de Deus. Um bom exemplo disso foi a conversa de Jesus com os dois discípulos do caminho de Emaús: 
E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras? (Lucas 24.32).
O contexto da passagem é o encontro de Jesus com esses dois discípulos (Cléopas e outro). Eles estavam tristes sobre os acontecimentos da morte e sepultamento de Jesus e não sabia que o próprio Cristo ressurrecto estava ao lado deles. Conversavam com Jesus como com um estranho e falavam informalmente da fé e de tudo o que havia acontecido. Note que essa conversa informal foi definida por eles como "exposição das Escrituras". Isso ressalta o fato de que a conversação informal, quando verdadeiramente espiritual, tendo Deus como alvo e as Escrituras como referência pode produzir vida em nosso ser interior.
Manter boas conversas informais de conteúdo espiritual é, com certeza, um dos excelentes métodos de aprimoramento no uso da Palavra de Deus. Pois esse veículo de ministração da Palavra de Deus é altamente eficaz para quebrar barreiras e se internalizar no âmago do nosso coração. 


Aulas de Escola Dominical, Estudos Bíblicos e outras situações de aprendizado formal da Palavra de Deus
Outro modo de aprimoramento do meditar da Palavra de Deus é fazer um bom uso das circunstâncias de estudo formal da Palavra de Deus. Desde muito cedo na história da Igreja, esse recurso tem sido usado para promover o crescimento espiritual do povo de Deus. 
Assim como na Lei, Deus previu que o seu conteúdo deveria ser ensinado ao povo de maneira informal, também providenciou que homens e mulheres capazes de ensinar existissem no meio do povo para ministrar a sua Palavra de maneria a serem mestres do povo de Deus no caminho de um relacionamento sadio como Senhor. 


Esdras, o escriba, estava num púlpito de madeira, que fizeram para aquele fim; estavam em pé junto a ele, à sua direita, Matitias, Sema, Anaías, Urias, Hilquias e Maaséias; e à sua esquerda, Pedaías, Misael, Malquias, Hasum, Hasbadana, Zacarias e Mesulão. Esdras abriu o livro à vista de todo o povo, porque estava acima dele; abrindo-o ele, todo o povo se pôs em pé. Esdras bendisse ao SENHOR, o grande Deus; e todo o povo respondeu: Amém! Amém! E, levantando as mãos; inclinaram-se e adoraram o SENHOR, com o rosto em terra. E Jesua, Bani, Serebias, Jamim, Acube, Sabetai, Hodias, Maaséias, Quelita, Azarias, Jozabade, Hanã, Pelaías e os levitas ensinavam o povo na Lei; e o povo estava no seu lugar. Leram no livro, na Lei de Deus, claramente, dando explicações, de maneira que entendessem o que se lia (Neemias 8.4-8).
A melhor maneira de usufruir destes momentos de estudo da Palavra é manter a atenção voltada para o fato de que o processo de redenção está em franca operação no contexto do estudo da Palavra de Deus. Preparar-se para conhecer mais a Deus deve ser o modo como o seu coração deve estar preparado nessa hora. 
Aproveite para tirar dúvidas, firmar conceitos e avaliar aprendizados equivocados. Usufruir dos momentos de estudo da Palavra de Deus é fundamental para um crescimento saudável no relacionamento com Deus e uma ferramenta indispensável para a correção da vida. 
Crentes que negligenciam o estudo coletivo da Palavra de Deus, a ministração de estudos através de pessoas dotadas para isso, acabam criando modelos de vida "egodoutrinais" nos quais predominam um entendimento particular da Escritura. Quase sempre, estes modelos "egodoutrinais" de vida produzem heresias e distorções conceituais.


A Leitura da Bíblia, livros, revistas e de outras publicações de conteúdo espiritual
Evidentemente nossa fé não é alimentada exclusivamente pela ministração coletiva da Palavra de Deus. Podemos e devemos aprender muito a partir de nossos estudos e reflexões pessoais. 
A leitura da Bíblia, em particular, deve ser adicionada à rotina diária com a finalidade de que busquemos sempre na fonte do conhecimento verdadeiro de Deus nosso conteúdo básico para todas as conversas informais e o arcabouço para nosso aprendizado formal. 
Ler a Bíblia é uma arte humana e divina. Cremos que devemos conceber que o Espírito Santo produz boa parte da obra de nos fazer mais conhecedores da verdade (João 16.13). No entanto, a leitura constante da Escritura é uma atividade concentrada no agir humano. Ou seja, é um ato que acontece a partir do gesto humano e da capacidade adquirida de cada um para compreender o que lê. A parte do Espírito Santo é aplicar esses recursos do homem ao seu coração, usando o conteúdo aprendido para mudar o coração. 
Devemos estudar a Bíblia sempre com a visão de que um processo redencional de transformação está se operando naquele momento. Procure sempre considerar bem o que está lendo na esfera da vida prática. Não deixe que a leitura da Bíblia se torne uma mera repetição e não faça dela um amuleto. 
A leitura de livros, revistas ou outras publicações de conteúdo espiritual é sempre uma maneira muito boa de melhorar o nosso conhecimento da Palavra de Deus. Devemos sempre nos lembrar de que nem todo livro de conteúdo religioso é uma leitura espiritualmente significativa, ainda que sejam muitas vezes bastante úteis. 
Livros ou publicações de conteúdo espiritual seguem as mesmas regras que fixamos para a comunicação espiritual: devem ter a Escritura como pano de fundo direto; ter Deus e o relacionamento com Ele como foco etc..
Esse tipo de comunicação, quando verdadeiramente espiritual se propõe, na esfera da horizontalidade, como uma significativa ferramenta para o aprimoramento do nosso meditar na Palavra de Deus.

Conclusão 
O que vimos nessa aula é que podemos e devemos aprimorar nosso meditar na Palavra usando os mais variados recursos. Entretanto, definimos que os recursos válidos para esse aprimoramento estão ligados à uma comunicação verdadeiramente espiritual. 
O ponto central é que deve haver uma disposição crescente de buscar uma maior compreensão da Palavra de Deus e um compromisso, cada vez maior, com Deus. Isso se dá por uma obra redencional que se opera, pelo poder do Espírito,  no interior do nosso coração, operada por meio do conhecimento verdadeiro de Deus. 
Essa conversação predominantemente horizontal sobre Deus pode ser abastecida na leitura da Bíblia e outros materiais de conteúdo verdadeiramente espiritual, assim como nas conversações informais com pessoas que tenham a mesma fé, ou em estudos formais como as aulas de Escola Dominical ou estudos bíblicos.
Negligenciar essas ferramentas é propor a si mesmo uma vida espiritualmente deficitária e lançar-se ao perigoso caminho da fé autocentrada.

Aplicação
Seria bastante interessante se os alunos tivessem iniciativas pessoais de convidar pessoas para irem à sua casa para estudar a palavra de Deus. Também, seria muito interessante que grupos de estudos fossem organizados de maneira absolutamente natural e informal. 
Outro ponto interessante a ser discutido é a sua busca pelos momentos formais de ensino e com qual avidez você lê a Bíblia ou busca outras literaturas de suporte.

O uso inteligente dos meios de graça

Introdução
A santificação, como um processo necessário, deve se constituir em uma das prioridades existenciais do crente.
Devemos nos lembrar que a santificação é um processo de estruturação da nossa mente em Deus, isto é, a recolocação de Deus no ponto central do viver, de modo que todas as coisas e a nossa própria vida tenha sentido a partir de Deus.
Deus planejou que esse processo de estruturação teocêntrica da vida acontecesse a partir de uma obra do Espírito Santo em nossa natureza, habilitando-nos a pensar teocentricamente. Entretanto, Deus também planejou que essa nova mente se desenvolveria através de uma obra sinergética e cooperativa, para a qual somos chamados a participar ativamente.
Nessa parceira de santificação, Deus nos proporciona gradual mudança que se operará por meio de um esforço pessoal do homem na busca de Deus e de sua vontade. Afinal, se Deus deve ser o centro do pensar vivencial, antes de qualquer coisa devemos conhecê-lo melhor e entender o que Ele espera de nós.
Para que isso seja possível, entendemos que Deus nos ofereceu meios excelentes e eficientes para que alcancemos a graça dessa reestruturação existencial.
Os Meios de Graça
Na teologia reformada, essas ferramentas deixadas por Deus para nossa santificação e perseverança na caminhada cristã são chamados de “meios de graça”. Normalmente, os reformados denominaram como meios de graça os seguintes elementos: Palavra, oração e o uso correto dos sacramentos.
Trabalharemos com esses elementos, em particular com os dois primeiros e os chamaremos de “meios de graça por excelência”. Contudo, incluiremos outras considerações e levantaremos a hipótese de outros meios de graça, tais como: a comunhão, a adoração comunitária, o serviço ao próximo etc. A estes outros meios, chamaremos de “meios de graça por eficiência”.

A Palavra, a Oração e a Santificação
A santificação, como uma mudança estrutural da mente, é operada a partir das alterações necessárias do padrão mental:
(...) mas, transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.2).
Por isso, o papel da Escritura é fundamental, pois ela proporciona que a nossa mente seja assistida pela mente de Cristo Jesus. Entendemos, portanto, que a Escritura não é somente o registro dos ensinos e história de Cristo, os profetas e apóstolos ou do povo de Israel. Compreendemos que a Escritura é a mente de Cristo exposta a nós, por meio dos ensinos deixados nas proposições e histórias apresentadas nas páginas do livro sagrado.
Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai as coisas lá do alto, não as que são aqui da terra (Colossenses 3.1-2).
Uma mudança no modo de pensar operará uma forte mudança também no senso de necessidade. A oração, completando o ritmo cardíaco da alma (sístole e diástole), nos levará a completar a mudança estrutural da existencial e nos conduzirá a viver na dependência de Deus que se tornará efetiva na nossa busca por intimidade, proximidade e diálogo com o altíssimo. A oração, de certa maneira, mais que a Palavra, parece revelar essa proximidade nossa com o Senhor.
A oração é, portanto, um fator revelador do princípio teocêntrico. Uma vida de oração santificada nos libertará do espírito de necessidade a partir do ego e nos levará a um espírito de santidade a partir de Deus.
Em outras palavras, a oração completa a teocentrização do nosso pensar, solidificando os modelos transformados da mente de Cristo em nós. É como se, por meio da nossa oração, expressássemos a nova mente implantada em nós.
Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que está nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino, faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu (Mt 6.9-10).

Aproveitando melhor o dia a dia com Deus
Antes de começar o estudo do uso dos meios de graça e sua aplicação em nossa vida, falaremos nessa introdução a respeito da importância do desenvolvimento do hábito da oração e da leitura meditada da Palavra. A esses hábitos chamaremos de “hábitos redencionais do pensar teocêntrico”.

O Desenvolvimento de Hábitos Redencionais do Pensar Teocêntrico
Estabelecemos a necessidade de que os nossos atos sejam resultado de um juízo do pensamento, segundo um modelo teocentrizado de pensamento. Onde, qualquer percepção da realidade é levada ao centro norteador da vida “Deus”, o qual provoca uma reação que tende a afastar-me do pecado do “egocentrismo” estimulando em mim hábitos redencionais.
Trabalhamos a idéia de que a criação de um hábito vem da prática constante ou o treinamento da mente para pensar redencionalmente, provocando o agir redencional como conseqüência.
Entretanto, uma coisa mais precisa ser dita a partir daqui. Entendemos o que é ter uma visão redencional da vida, não obstante, isso não significa que seja fácil a prática da vida redencional. Ou seja, a questão do agir inteligente em prol da vida redencional não é coisa fácil de se alcançar. Portanto, partimos para o recurso redencional fundamental para que possamos alcançar a graça do viver redencional:  A OBEDIÊNCIA. Por isso, escolhemos como texto para nossa lição de hoje: 2 Coríntios 10. 4 a 6.

TRAZER O PENSAMENTO CATIVO À OBEDIÊNCIA DE CRISTO
O texto que separamos para este primeiro estudo sobre a obediência faz parte do contexto maior de luta do apóstolo Paulo em favor dos crentes de Corinto. Desejo destacar que aquela igreja deixou-se iludir pelo poder da sabedoria humana ou mundana, afastando o seu pensamento do processo de pensamento teocentrizado, deixando-se finalmente levar para o pecado do egocentrismo da mente.
Neste estado mental, a igreja desviou-se do evangelho puro e simples e buscou na filosofia, eclesiologia, prazeres mundanos e auto-centrismo a satisfação imediata para a vida. Por isso, em suas reuniões “ágape” era possível haver ajuntamento cristão com doses de comilança e bebedice pagã, a ponto de necessitarem de uma reprimenda do apóstolo, como se pode ler no capítulo 11 da primeira carta.
Sua mente estava tão corrompida que chegaram ao ponto de não mais distinguir a verdade de Deus, permitindo-se levar por qualquer doutrina, mesmo que viesse mudar aquela que haviam aprendido inicialmente.
Paulo diagnostica essa doença espiritual como doença da mente que fora corrompida e os compara ao que aconteceu no Éden, quando a mente do homem foi atacada pela tentação e sucumbiu.

“Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com sua astúcia, assim também, seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo. Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais” - 2 Coríntios 11.3 e 4.

Por conta dessa propensão natural para ter os pensamentos em fuga da reta doutrina é que Paulo nos conclama a levar nosso pensamento cativo a Cristo e a linguagem que aplica a essa luta é bem significativa, especialmente por se tratar de uma linguagem militar ou marcial.

Porque as armas da nossa milícia não são carnais
NO verso 3, o apóstolo define o tipo de vida que tem levado, isto aponta não para uma visão mística da vida, mas para um critério pelo qual ele julgava todas as coisas ao seu redor.
“Disposições de mundano proceder” é o termo que ele utiliza para definir o modo como as pessoas o julgavam. Na verdade, eles o julgavam a partir do critério que dispunham, pois eles próprios é que estavam aprisionados nesse “mundano proceder”. Por isso, Paulo retruca dizendo que não, ele tinha outros pressupostos pelos quais julgava todas as coisas.
“Armas não carnais” - como Calvino assevera, para cada tipo de guerra, você tem um tipo de arma. Paulo, então, está disposto a mostrar aos crentes de Corinto que a fonte de sua autoridade, bem como de sua postura em relação a tudo era Deus e, por isso, podemos definir sua maneira de agir neste mundo como uma maneira “teocêntrica”, isto é, totalmente dependente de Deus e tendo-o como o objetivo, isto é dar-lhe glória.
“Nossa milícia” - pelo termo aqui utilizado, Paulo se refere ao tipo de enfrentamento que estava acontecendo e que não se tratava apenas de um debate de idéias, mas de uma luta pelas almas do crentes coríntios. Mais a frente, no capítulo 11, ele afirma que, na verdade, os crentes de Corinto estavam se tornando presas de ministro de Satanás, que os estavam enganando, assim como a serpente enganou Eva (Cap.11.13 a 15).
Era importante que os coríntios soubessem que o que estava acontecendo não era uma coisa simples, mas uma grande guerra estava sendo travada e eles precisavam começar a aferir as coisas com os óculos da Palavra, para julgarem teocentricamente tudo o que estava acontecendo.

Porque as armas da nossa milícia são poderosas em Deus
Então ele aponta para Deus como a fonte de toda a força de que eles precisavam para vencer essa batalha contra as forças do mal, que tentavam subvertê-los pela sabedoria do mundo, aplicada pelos falsos profetas que se instalaram naquela igreja, como se fossem apóstolos de Cristo.
Os falsos mestres atacavam a Paulo, tentando convencer os Coríntios de que ele não era um bom apóstolo ou um apóstolo de que eles precisavam, apontando para a “inexpressão” da sua palavra e da sua presença. Talvez, estivessem falando que ele era um homem de aparência degradada e de fala pesada, não poderia ser creditado como um grande apóstolo.
Paulo, então, lhes responde dizendo aquilo que ele disse na primeira carta, que ele não confiava em sua capacidade, mas pregava no poder do Espírito, por isso, suas armas têm como fonte de munição, não a sabedoria mundana, na qual se estribam os seus opositores, mas na sabedoria do alto, suas armas são poderosas em Deus, ou diante de Deus.
Uma das estratégias dos falsos mestres é a vanglória. Eles se elogiam a si mesmos e entre si, para produzir essa imagem de poder em si mesmos e nos seus companheiros, a fim de que todos acabam crendo que de fato eles são os melhores.
Para Paulo essa era a sua marca da falsidade e por isso ele deixa a lição preciosa dos versos 17 e 18.

Porque as armas da nossa milícia são poderosas para destruir fortalezas
Os falsos mestres tinham conquistado a confiança da mente dos coríntios e uma vez que sua mente tinha sido conquistada pela sua mensagem, a guerra que Paulo travava era contra grandes fortalezas.
O homem altivo torna o seu pensamento como uma fortaleza e se indispõe a pensar diferente do que pensa em sua altivez. Ele não procura o quebrantamento, pois julga o seu caminho o único possível a ser seguido. O quebrantamento dessas muralhas do coração não acontecem pela simples argumentação, é preciso que o poder de Deus seja a ferramenta de destruição da sua presunção.
Esse foi o tipo de problema enfrentado pelo profeta Jeremias, por causa da ação de falsos mestres em Israel (leia Jeremias 18.11 a 12). Pois o povo, mesmo persuadido de que era a voz do Senhor que falava, optara pelo caminho da dureza do seu coração maligno.
Por isso, Paulo espera estar com eles mais uma vez, para lhes falar cara-a-cara. O que ele deseja não é apenas enfrentá-los e destruí-los com as palavras, mas Paulo conhece o poder do Evangelho (a Pregação), então, ele sabe que certas fortalezas só seriam destruídas na sua presença.

Porque as armas da nossa milícia são eficazes para anular sofismas e toda a altivez que se levante contra o conhecimento de Deus
Anular Sofismas - Os mestres gregos sabiam muito bem manipular um conteúdo, apresentando uma mentira como se fosse uma verdade. Em linhas gerais e bem grossas essa era a natureza dos sofismas.
A pregação da palavra é poderosa para anular o poder que os sofismas têm sobre a mente. Ela também quebranta o coração que se levanta contra o conhecimento de Deus.
Por isso, a ação corretiva de Paulo teria de ser aplicada à mente dos coríntios, levando à tristeza do coração, para que alcancem o verdadeiro arrependimento.

Porque as armas da nossa milícia são poderosas e eficazes para levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo
Aqui, então, o apóstolo define o seu objetivo é conquistar de volta para Cristo o coração deles (a mente).
Esse processo é o de mostrar aos “sábios segundo o mundo” que eles são tolos. O coração altivo pensa que é o mais sábio e entendido de todos, esse coração precisa se tornar tolo primeiro, isto é, precisa entregar sua mente esvaziada do eu para que Cristo a possa encher.
Esse é um processo doloroso, difícil e que causa, num primeiro momento muita tristeza, pois abrir mão de pressupostos requer um ato de coragem maravilhoso. Às vezes, você convive com uma pessoa que parece inquebrantável e fica pensando, tal sujeito é duro na queda, ele está bem firmado em sua verdade.
Na verdade, ele se agarra à sua verdade porque não tem coragem de por sua vida em cheque, diante da mensagem de Cristo. Ele foge, porque não quer encarar o fato de que a realidade que ele observa, segundo a sabedoria do mundo, não é sabedoria, mas loucura, do ponto de vista da verdadeira realidade que é Cristo.

Porque as armas da nossa milícia corrigirão toda desobediência, com o propósito de alcançar a obediência do povo de Deus.
Paulo não se ilude de que será fácil, pelo contrário, ele sabe que este é o campo mais minado que existe e que essa é a guerra mais difícil a ser travada. Não se trata do poder político dos reis, ou do poder econômico dos banqueiros, Paulo sabe que está tratando com a realidade da eternidade.
Por isso, as fortalezas são as mais inexpugnáveis conhecidas, assim como os verdadeiros inimigos são os mais astutos. No entanto, ele tem as armas certas para essa guerra e está do lado certo. No capítulo 11, ele mostra a força que está disposto a empregar para que isso aconteça.
Ele diz que tem de corrigir com firmeza os insubordinados para que o povo de Deus seja liberto e sua obediência a Cristo seja total.