O Dragão Contra Cristo
(Parte 2)
Os capítulos 13 e 14 de Apocalipse são dedicados
a mostrar a descrever as duas sementes, o grupo daqueles que seguem o Dragão e
aqueles que seguem o Cordeiro.
A Besta e a Sua Marca – Capitulo 13
A BESTA DO MAR – VERSOS 1 A 10
Neste ponto da visão, João vê uma figura
que ele descreve com a palavra “Therion” (Fera – Besta). Isso aponta para o
caráter da ferocidade e animalesco da figura que se levantou.
A relação desta fera animalesca como Dragão
é de obediência e serviço. Esta besta servirá aos propósitos do Dragão e será
uma espécie de seu representante, fazendo com que os homens adorem ao Dragão
por causa do poder da besta.
A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca de leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu torno e grande autoridade. Então, vi uma de suas cabeças como golpeada e morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta; e adoraram o dragão porque deu a sua autoridade à besta; também adoraram a besta dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela? (Ap 13.2-4).
A ferocidade desta imagem é o ponto central
da sua atuação, ou seja, ela se impõe pelo poder da força que é capaz de
impingir. O que pode indicar a natureza belicista do seu domínio. Parece ser
correto afirmar que estamos falando de um poder intimidador e a força para manifestá-lo
militarmente, mas ao lado deste poder de força brutal, encontramos uma
disposição religiosa que se marca pela ideia de adoração que este poder
conquista. Essa relação entre poder intimidador e religiosidade é grande em
toda a imagem que é construída ao longo do capítulo 13.
Nos capítulos seguintes, alguma explicação
sobre esta imagem é dada e esta explicação aponta para a ordem geopolítica das
nações por detrás da imagem da besta que emerge do abismo, do mar (leia Ap. 17.8-18).
Continuando a visão da besta que emerge do
mar, João vai mostrar que a atuação belicista da besta é fortalecida por uma
forte mensagem de convencimento contra Deus.
Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses; e abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para lhe infamar o nome e difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no céu (Ap 13.5-6).
Portanto, o modus operandi desta besta é o
de estabelecer um domínio por meio de um convencimento doutrinário contra a
Verdade de Deus e aqueles que seguem o Cordeiro. Por isso também é que irá
lançar contra eles toda a sua força.
Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto deste a fundação do mundo (Ap 13.7-8).
A construção do texto aponta para essa
dupla estratégia: “Foi lhe dado” – boca para blasfemar e força para pelejar – estes
dois pólos de atuação marcarão o procedimento do dragão por meio da besta que
sob o seu olhar emergiu do mar. O que se vê ao final é que estes dois modos de
operação lograrão êxito sobre todos os homens que não estão ligados ao Cordeiro
por meio da sua morte.
A BESTA DA TERRA – VERSOS 11 A 18
Aqui, a imagem que assume a primazia é uma “fera”
que emerge da terra. A característica que lhe é primordialmente atribuída é a
da capacidade de convencimento. Ela será uma espécie de profeta que aponta para
a primeira besta e convence as pessoas a adorarem ao Dragão na figura da
primeira besta, a que foi curada milagrosamente.
Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão. Exerce a autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada (Ap 13.11-12).
Um detalhe que chama a atenção é que a
ferocidade desta besta é atenuada por sua aparência de cordeiro. Ou seja, sua
capacidade de convencimento é fortalecida por uma dissimulada capacidade de
fazer parecer-se com algo bom e positivo. Por isso também qualifica sua atuação
como resultado de “sedução” por meio do engano.
Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens. Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu; e foi lhe dado comunicar Fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta (Ap 13.13-15).
João, portanto, está nos descrevendo a
semente do Dragão e o modo como sua fúria é lançada à terra, onde tem o
objetivo de perseguir a mulher e os seus demais descendentes. Essa perseguição
se dará por meio do convencimento daqueles que não estão ligados ao Cordeiro
por meio da sua morte, que serão a massa de manobra do Dragão, convencida por
meio de uma mistura entre força e convencimento religioso.
Ao final da descrição do poder destas
bestas, a que será adorada e a que profetiza em seu nome, ambas escondendo a
figura dominante do Dragão, teremos uma descrição de que este poder bélico,
assim como sua força de dominação mental serão potencializados pela sua
capacidade de dominação econômica.
A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome. Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, o esse número é seiscentos e sessenta e seis (Ap 13.16-18).
Claro que as imagens que João está
apresentando possuem muito simbolismo judaico-romano. As figuras, os chifres,
cabeças, diademas, descrições do corpo de animais e todos os elementos
descritivos têm a função de estabelecer o conhecimento da força e do domínio político,
militar e mental que será implementado na tentativa de desviar a igreja e
enfraquecer a igreja de Cristo.
Ao final, estes poderes se valerão das
circunstâncias da vida humana para impingir sua tentativa de sedução e controle
dos homens. O que precisamos destacar é que João se ocupa em mostrar à igreja
que ela precisa se guardar e compreender a realidade hostil ao seu redor para
ficar firme em sua disposição de viver para o Cordeiro, que venceu.
Cristo e os Santos – Capitulo 14
CENTO E QUARENTA E QUATRO – VERSOS 1 A 5
O outro lado da imagem que João deseja
descrever é a relação entre Cristo e os seus seguidores, aqueles que se acha
inscritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto. Estes seguidores, se
diferem daqueles que seguiram as bestas e adorarão ao Dragão. Eles têm o nome
de Deus, o nome de seu Pai.
Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o
monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, tendo na fronte escrito o
seu nome e o nome de seu Pai (Ap 14.1).
A descrição deste grupo é centrada na
descrição na sua condição de fidelidade ao Cordeiro por meio de sua disposição
de viver de forma pura. Essa disposição é descrita como tendo origem em um
poder que nasce da sua ligação com o Cordeiro por meio de um resgate.
Ouvi uma voz do céu como voz de muitas águas, como voz de grande trovão; também a voz que ouvi era como de harpistas quando tangem a sua harpa. Entoavam novo cântico diante do trono, diante dos quatro seres viventes e dos anciãos. E ninguém pôde aprender o cântico, senão os centro e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra (Ap 13.2-3).
O que é possível notar, portanto, é que a
posição destes cento e quarenta e quatro é resultado da obra resgatadora do
Cordeiro que os compra e o cântico que entoam, isto é, sua postura de adoração,
é resultado de alguém que recebem e só eles podem receber.
O número centro e quarenta e quatro mil
pode ser significativo de uma ideia de totalidade, ou seja 12 vezes 12. Sabendo
que o número 12 indica a ideia de total advinda da própria nação de Israel que
era composta por 12 tribos. O que precisamos considerar é que estes cento e
quarenta e quatro mil tem uma ligação de vida com o Cordeiro e o seguem porque
foram comprados, isto é, redimidos por ele.
São estes os que não se macularam com
mulheres, porque são castos. São eles os seguidores do Cordeiro por onde quer
que vá. São os que foram redimidos dentre os homens, primícias para Deus e para
o Cordeiro e não se achou mentira na sua boa, não têm mácula (Ap 13.4-5).
A VITÓRIA DO CORDEIRO – VERSOS 6 A 20
O final do capítulo 14 é dedicado à
descrever o modo como o Cordeiro irá vencer os inimigos e proteger os seus
remidos. Quatro vozes, são a proclamação das ações desta vitória.
A
Primeira e Segunda Vozes
A primeira voz é chamada de “Evangelho-Eterno”
(boa-nova) a ser anunciado a toda a terra e conclama as pessoas à temerem a
Deus e a oferecerem glória à Ele. É o anuncio do ato de juízo de Deus contra os
seus inimigos, em favor dos seus escolhidos.
Esta descrição põe a igreja na expectativa
de que Deus irá manifestar seu amor no final de toda história, propondo a
salvação da sua igreja, mesmo em meio à aparente força dos seus inimigos.
A
Terceira e Quarta Vozes
Estes dois anjos (mensageiros) anunciam a
vingança do Cordeiro sobre o mundo iniquo, contra os perseguidores da semente
da mulher. Eles anunciam que o Cordeiro com sua ira representam a cólera de
Deus contra todos os que adoraram a besta e têm a sua marca.
Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro dizendo, em grande voz: se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistrura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobre pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que recebe a marca do seu nome (Ap 14.9-11).
A palavra do quarto anjo, ou a quarta voz,
é uma mensagem de conforto para os perseguidos por causa do seu amor ao
cordeiro. Eles são pessoas que perseveraram e que se mantiveram fieis, por
isso, serão protegidos e guardados. O centro da mensagem é o conforto para a
igreja.
Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus. Então, ouvi uma voz do céu, dizendo: Escreve: Bem-aventurado os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham (Ap 14.12-13).
Os versos finais deste capitulo descrevem a
vitória do Cordeiro sobre as hostes ligadas ao Dragão e apontam que a ceifa
final acontecerá por meio de uma colheita e lançamento dos inimigos no lagar da
cólera de Deus, onde Deus pisa os seus inimigos e os esmaga como a uvas.
Esta vitória é descrita nos capítulos 15 e
16 como os flagelos que Deus imporá sobre os homens, enquanto os remidos de
Deus são congregados para adoração de Deus:
Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor! Pois só tu és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos (Ap 15.3-4).
Conclusão
O que concluímos destes capítulos é que e
necessário confiar no Cordeiro e não ceder ao Maligno. A mensagem toda é de
conforto para a Igreja, levando-a a manter sua fidelidade ao Cordeiro, uma vez
que sua luta está sendo travada na força do Cordeiro.
Toda a obra da redenção acontecerá em meio
à aparente força do Maligno e a igreja precisa se manter fiel, confiante naquele
que está do seu lado. Este será o desafio da igreja o tempo todo.