domingo, 29 de outubro de 2017

Confessionalidade - Aula 4 - As Sagradas Escrituras - Sem. Josué Ricardo Menossi de Freitas

Capítulo 1 – Das Sagradas Escrituras


I. Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.

Sal. 19: 1-4; Rom. 1: 32, e 2: 1, e 1: 19-20, e 2: 14-15; I Cor. 1:21, e 2:13-14; Heb. 1:1-2; Luc. 1:3-4; Rom. 15:4; Mat. 4:4, 7, 10; Isa. 8: 20; I Tim. 3: I5; II Pedro 1: 19.


- Deus se revela a todas as pessoas. Como? *Através da revelação geral*
            - “luz da natureza” – somos imagem de Deus, ou seja, Ele imprime em todo ser humano quem Ele é (fazemos parte da natureza);
            - “obras da criação e da providência” – o mundo que está à nossa volta nos traz evidências suficientes à declaração de existência do Criador (que criou e preserva);
            Nos crentes, essa revelação os leva a orar e adorar ao Criador, a Quem conhecem.
            Nos incrédulos, os torna indesculpáveis, pois a existência de Deus lhes é declarada. Essa marca que Deus imprime em todo ser humano gera o que Calvino chama de semen religionis ou sensus divinitaitis.
            ***Não precisamos provar aos incrédulos a existência de Deus: eles  já sabem***
            Esse conhecimento comum a respeito de Deus já é suficiente para nunca deixarem de busca-Lo: tornam-se indesculpáveis.
- Deus se dá a conhecer por meio da revelação especial: é o conhecimento necessário à salvação.
            - A Escritura é a autorevelação de Deus: revela a verdade, a sua vontade no que diz respeito à salvação.
            - Doutrina da Preservação – resolveu registrar a sua vontade, para “melhor preservação e propagação da verdade”, para que a Igreja tenha uma base sólida (absoluta) contra: “corrupção da carne”, “maldade de Satanás” e o “mundo”. Ideia de referencial.
            Por que Deus não fala mais como antigamente e, em Sua infinita sabedoria, resolveu registrar a verdade, a sua vontade? *referencial absoluto*
            Deus nos fala através da pregação e dos sacramentos (Batismo e Santa Ceia)? Sim, à luz de Sua Palavra.

II. Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, que são os seguintes, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e de prática:
O VELHO TESTAMENTO
Gênesis
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronômio
Josué
Juízes
Rute
I Samuel
II Samuel
I Reis
II Reis
I Crônicas
II Crônicas
Esdras
Neemias
Ester

Salmos
Provérbios
Eclesiastes
Cântico dos Cânticos
Isaías
Jeremias
Lamentações de Jeremias
Ezequiel
Daniel
Oséias
Joel
Amós
Obadias
Jonas
Miquéias
Naum
Habacuque
Sofonias
Ageu
Zacarias
Malaquias

O NOVO TESTAMENTO
Mateus
Marcos
Lucas
João
Atos
Romanos
I Coríntios
II Coríntios
Gálatas
Efésios
Filipenses
Colossenses
I Tessalonicenses
II Tessalonicenses
I Timóteo
II Timóteo
Tito
Filemon
Hebreus
Tiago
I Pedro
II Pedro
I João
II João
III João
Judas
Apocalipse

Ef. 2:20; Apoc. 22:18-19: II Tim. 3:16; Mat. 11:27.


III. Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon da Escritura; não são, portanto, de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos humanos.

Luc. 24:27,44; Rom. 3:2; II Pedro 1:21.


Os parágrafos acima demonstram o que é e o que não é Escritura.
            A diferença entre qualquer outro livro e a Bíblia reside na inspiração. Todo e qualquer livro é feito com base nos talentos e compreensões que Deus deu aos homens e, muitas dessas obras são dignas de atenção e reflexão, porém não se comparam à Palavra registrada vinda diretamente do próprio Deus.
            Forma-se uma biblioteca de 66 livros (39 AT e 27 NT):
- homens foram inspirados por Deus PARA a produção desse material, a Palavra é inspirada (saiu do próprio Deus), por isso REGRA DE FÉ E PRÁTICA;
            Apócrifos (coisas ocultas) não são inspirados, não fazem parte do cânon:
            - não se sabe a verdadeira data;
            - nem mesmo o autor;
            - não passam pelos critérios de harmonização e da preservação;
            - incluídos pelo Concílio de Trento – 1545 - 1563 – (reafirmou a “Infalibilidade Papal” – movimento da Contrarreforma): Tobias, Judite, 1º e 2º Macabeus, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruc, e incluiu textos em Ester e Daniel. (Ap. 22.18-19)
            - não são reconhecidos como inspirados nem mesmo pelos judeus;
            - baseiam doutrinas estranhas à harmonia bíblica, como a do “Purgatório”, a da “Oração pelos Mortos”, dentre outras.
            * Os “30 Artigos” da Igreja Anglicana (1563) afirmam que tais livros são “exemplo de vida e instrução de conduta”, porém, contraditoriamente, informam que não podem “estabelecer qualquer doutrina”. (doutrina=ensino)


IV. A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus.

II Tim. 3:16; I João 5:9, I Tess. 2:13.

V. Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço da Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, e eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela palavra e com a palavra testifica em nossos corações.

I Tim. 3:15; I João 2:20,27; João 16:13-14; I Cor. 2:10-12.


            A autoautenticação das Escrituras é o que lhe confere autoridade: não por TESTEMUNHO de homem (1ª Jo. 5.9) ou igreja. (testemunho = falar)
            Tradição da Igreja (Católica) era utilizada para definir qual seria a interpretação dos textos bíblicos e tinham a mesma autoridade das Escrituras. Essa tradição (“jurisprudência”) é composta pelas bulas papais e decisões dos concílios. (daí temos ideias como a “compra de indulgências”, a “veneração de relíquias”, o “purgatório” etc., sem qualquer fundamento bíblico – posteriormente, há o reforço dos livros apócrifos – movimento da Contrarreforma)
            A única autoridade capaz de nos ordenar ao comprometimento com a Palavra é o próprio Deus, pois não mente, e que é a própria verdade (Jo. 1.14; 14.6).
            O mesmo Espírito que nos ajuda a ver Jesus como nosso Salvador e Senhor, é o que nos ajuda a compreender a Palavra de vida, reconhecendo a autoridade dela e confiando em suas promessas (Jo. 10.11-16).
           

VI. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele (sic) e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da palavra, que sempre devem ser observadas.

II Tim. 3:15-17; Gal. 1:8; II Tess. 2:2; João 6:45; I Cor. 2:9, 10, l2; I Cor. 11:13-14.


            Doutrina da Suficiência das Escrituras: o que a Bíblia revela é suficiente para glorificar a Deus, para a salvação, para a fé e para a vida.
(Conectivo lógico utilizado: Disjunção Exclusiva: “ou ‘x’ ou ‘y’”)
            - Ou a Bíblia revela de forma expressa (sem deixar margem para dúvida);
            - ou, de forma lógica (utiliza-se das faculdades mentais) e clara (também, sem margem para dúvida) se deduz (método: geral para o particular). ***Cosmovisão*** (princípios gerais). Por isso, não precisamos de adicionais à revelação escrita (Gl. 1.6-9).
Método:
            - Indutivo: particular para o geral.
            - Dedutivo: geral para o particular.
            Íntima iluminação do Espírito Santo: há alguma novidade? Sim e não. Há, no sentido de que o Espírito Santo abre os nossos olhos para entendermos as verdades das Escrituras (salvação) e, também, nada é novidade, pois tais verdades sempre estiveram nas Escrituras. (Jo. 6.45)
            Culto e governo: exs.: “ordem e decência” – do geral para o particular – “não conversar no momento de oração ou pregação da Palavra”. “Multidão de conselhos”, logo, não teremos apenas um presbítero na igreja, mas quantos? Precisamos orar e pedir sabedoria a Deus, mas, por regra geral, já é sabido que um só presbítero não é aconselhável. ***Regras Gerais***


VII. Na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos; contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação, em um ou outro passo da Escritura são tão claramente expostas e explicadas, que não só os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas.

II Pedro 3:16; Sal. 119:105, 130; Atos 17:11.

VIII. O Velho Testamento em Hebraico (língua vulgar do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego (a língua mais geralmente (sic) conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são por isso autênticos e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras e que deve no temor de Deus lê-las e estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde chegarem, a fim de que a palavra de Deus, permanecendo nelas abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança pela paciência e conforto das escrituras.

Mat. 5:18; Isa. 8:20; II Tim. 3:14-15; I Cor. 14; 6, 9, 11, 12, 24, 27-28; Col. 3:16; Rom. 15:4.


            As Escrituras possuem em si graus de dificuldade, seja de linguagem, seja de contexto (conhecimento de costumes, características de determinada região, e assim por diante), no que diz respeito ao entendimento que temos dela.
            Também, o que nos é suficiente para a salvação, que devem ser observadas e cridas são claramente expostas a todos, mestres ou não: “todos pecaram”, “há um só Mediador” etc.
            A dificuldade também pode estar relacionada com o grau de instrução, pois nem todos são mestres, porém, não há com o que se desesperar e nem pode ser desestímulo para o seu entendimento, pelo contrário, por ser matéria de “direito e interesse” do povo de Deus, pode e deve ser objeto de estudo incessante, pois, antes, o seu prazer está na Lei do Senhor e nela medita de dia e de noite (Sl. 1). (Jo. 5.39)
            O Espírito Santo nos auxilia no entendimento de Sua Palavra, ainda mais quando utilizamos os meios ordinários, que são a pregação da palavra e os símbolos do evangelho (batismo e Ceia do Senhor). ***O incremento nos símbolos originais, em geral, manifesta a perda de sentido dos símbolos, não tendo mais a força de significado que deveriam manifestar pessoal e naturalmente.***
            Meios ordinários, talvez, também façam referência aos meios comuns de interpretação, sem alegorizar, por exemplo.
            Tradução é um compromisso, pois acesso à Escritura é de interesse e direito do povo de Deus (de todas as línguas).
Os textos nos idiomas originais devem ser estudados para dirimir qualquer controvérsia religiosa (supremo tribunal).
Quanto à conservação/preservação da pureza das Escrituras, deve-se verificar, como já dito, a autenticidade e harmonização essencial dos textos, textos que são preservados desde os primórdios da Igreja. Ex.: Textos do primeiro século que, possivelmente, estariam com o status de “escritura sagrada” no Novo Testamento, na época em que foi redigida a Confissão de Fé de Westminster (década de 40 do século XVII), estavam desaparecidos ou em fragmentos. Escritos como a epístola de Barnabé, texto de período posterior aos primeiros anos da Igreja, foram encontrados apenas na virada do século XX. (Mt. 5.18)
- Nenhum livro no mundo mostra o “singular cuidado e providência” de Deus como as Sagradas Escrituras.
Ilíada e Odisséia (Homero) e os ditos de Sócrates (Platão) (ex.: Fédon, Mito do Destino das Almas) são exemplos de escritos antigos com poucos elementos comparativos para a verificação de veracidade de sua essência. (Alguém questiona?)
Quanto à Bíblia:
- Antigo Testamento: textos dos Massoretas (copistas judeus da Idade Média), comparados com manuscritos encontrados em outras regiões e de tempos diferentes, com a mesma essência (“escritos do Mar Morto’, Qunran).
- Novo Testamento: diversos manuscritos com o mesmo conteúdo, de tempos e locais distintos.
Tanto Novo quanto Antigo Testamento estão em harmonia entre si. Textos do Antigo fazem referência ao que havia de vir (NT) e, em diálogo com o passado, o Novo Testamento faz menção ao Antigo e lança luz, apresentando o seu cumprimento.


IX. A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falem mais claramente.

At. 15:15-16; João 5:46; II Ped. 1:20-21.

            Sola Scriptura – Somente a Escritura.
Tota Scriptura – Toda a Escritura.
Analogia Fidei – Analogia da Fé: utilização de texto da própria Escritura que lança luz sobre texto mais complexos da própria Escritura.
Tem um só sentido, pois a interpretação deve ser feita “conforme o legislador”, ou seja, o que se pode e se deve entender é justamente o que se quis dizer à época em que foi escrito, o que o próprio Deus tem a intenção de revelar.
“O sentido não é múltiplo, é único” - escolas hermenêuticas: Patrística (Alexandria – Grega X Antioquia – Latina).
Escola de Alexandria: Alegorizava, ou seja, utilizava-se de paralelos para explicar o sentido do texto, não tinha um compromisso com o sentido que o próprio Deus dava ao texto (que é o Autor).
Escola de Antioquia: buscava o sentido literal do texto, original. Nós, reformados, somos herdeiros desta tradição, pois nosso interesse é saber o que Deus quer dizer com o texto. Um dos principais expoentes dessa corrente de pensamento é Agostinho de Hipona (apesar de alguns lapsos alegóricos, era essencialmente literal).

Quadriga – (método de interpretação utilizado na Idade Média) todos os textos deveriam ter: sentido original, comparativo (alegoria), moral e celestial. Vale lembrar que nem todo texto possui todos estes sentidos, ou seja, por vezes “forçava-se” a interpretação para que atingisse os quatro critérios.
Reforma – sentido literal (método histórico-gramatical), Porém, também reconheciam que certas passagens da Bíblia apontavam para além de si, quando o gênero gramatical e o propósito histórico do texto deixam isso claro: há linguagem figurada, profética, apocalíptica, pregadores usam alegorias ou parábolas, porém, todas as partes da Bíblia devem conversar entre si (harmonização).


X. O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura.

Mat. 22:29, 3 1; At. 28:25; Gal. 1: 10.


Retoma a ideia do ponto VIII, combinado com o V.
Há controvérsias religiosas, decretos de concílios questionáveis, opiniões de escritores de peso (antigos ou atuais) que são duvidosas? Há regra geral, sentença que é emanada do Supremo Juiz, o Espírito Santo, que fala em Sua Palavra.
            A Confissão de Fé de Westminster se coloca como alvo de tais análises.

sábado, 14 de outubro de 2017

Confessionalidade - Aula 3 - A Estrutura Organizacional da CFW

Aula 03
A Estrutura da Confissão de Fé de Westminster

Introdução
Antes de adentrar aspectos do próprio texto da CFW, precisamos fazer uma caminhada panorâmica sobre a arquitetura da sua estrutura textual. O estudante da CFW deverá compreender as grandes avenidas que ela persegue para poder penetrar nas ruas e vielas de seus detalhes.
Aproveitaremos esta aula para traçar estes principais caminhos centrais trilhados pelos teólogos de Westminster e utilizar isto como uma ferramenta para nossa melhor compreensão.   

O Ponto de Partida é a Escritura
Propositadamente, o primeiro capítulo da CFW trata da Escritura, dizendo o que ela é a qual a sua natureza e origem divina.
Toda a vida humana deve ser avaliada e desenvolvida tendo a Escritura como fonte central e somente ela. Este ponto de partida é a pedra angular de toda a Confissão, que chega a estabelecer e falar de si mesma como derivada e subserviente à Palavra de Deus.
A autoridade da Escritura não é derivada, isto é o que os teólogos chamavam de “Norma Normans” e isto faz da Escritura a Regra de Fé e Prática absoluta, cuja autoridade deriva da sua origem divina. O princípio de que a Escritura é de origem divina é um princípio que dá à Escritura o elevado status de Palavra de Deus.
Desta forma, a Escritura é a fonte de todo o conteúdo do CFW, o único tribunal que realmente submete a consciência do cristão, inclusive o tribunal que julga a própria CFW.

O Conceito de Soberania de Deus
Depois de estabelecer o principio fundamental da autoridade da Escritura como a Palavra de Deus e o ponto de partida para todo o conteúdo sobre a vida e o relacionamento com Deus, a segunda avenida norteadora da CFW é o conceito de soberania de Deus.
Soberania Livre
Um dos aspectos da soberania de Deus apresentada na CFW é a sua liberdade de agir e pensar. A escolha soberana e livre de Deus é absolutamente tomada para explicar quem é Deus e como age. O poder de Deus é, portanto regulado somente pelo seu próprio arbítrio e por nada fora dele mesmo.
Soberania Absoluta
A decorrência necessária da primeira característica da soberania livre é a sua absoluta determinação. Desta forma, os teólogos de Westminster dispuseram conduzir a Igreja a confiar absolutamente no fato de que Deus realiza a sua vontade de forma soberana, sem ser impedido por nenhum poder deste mundo ou do outro.
Soberania Amorosa
A soberania livre a absoluta de Deus age em favor de fazer o bem às suas criaturas, na medida em que ele é o Criador e Providenciador de todo o bem para todas as suas criaturas.
Essa visão do amor de Deus é primordialmente proposto em uma visão de como Deus se inclina para ver o que se passa na terra, com cuidado formidável sobre a vida, principalmente dos homens que ele criou para sua glória.

O Pecado Humano Como o Problema a Ser Resolvido
A condição do homem caído é vista na CFW como uma situação de grande importância e o grande problema a ser vencido na relação do Criador com as criaturas, especialmente o homem.
A Queda é Humana
Embora a CFW não esconda sua visão de que alguns dos decretos eternos de Deus envolveram a soberania divina de permitir até mesmo o pecado de suas criaturas morais, ela dispõe-se a deixar claro que o pecado humano é resultado da estultícia e da corrupção do coração humano.
A Profundidade da Queda
Ao tratar da Queda, a CFW trabalha com o fato de que o homem foi totalmente atingido em todas as faculdades de sua existência total. Em outras palavras, a visão dos teólogos de Westminster era de que a depravação do homem era total e não parcial como criam os católicos e alguns outros ramos arminianistas.
A Extensão da Queda
Ainda dentro do conceito de depravação total, a CFW também trabalha com o fato de que toda a humanidade foi atingida e isto implica dizer que a melhor maneira de compreender o mundo é entender que tudo está caído e que todos os homens são, naturalmente maus e dispostos a se afastar de Deus.

A Obra do Mediador
Uma porção muito importante da CFW é o capítulo VIII que trata a Pessoa e Obra do Mediador no seu ofício de salvar o homem caído.
Cristo é definido em termos de sua natureza humana e divina, especialmente para tratar da sua obra de Mediação que nasce desta dupla condição, sine qua non ele não poderia realizar a sua obra.
Uma das principais noções teológicas da CFW é a percepção de que ela é formalmente baseada na teologia Nicena, dos primeiros séculos do cristianismo. A dependência do pensamento cristológico do século IV é bastante evidente, especialmente nos termos empregados para as definições das duas naturezas de Cristo e sua história como Verbo Encarnado.

O Sistema de Salvação Calvinista
Outro aspecto estrutural da CFW que serve como uma das avenidas de abordagem é a sua percepção calvinista da doutrina da salvação (soteriologia).
Especialmente trilhando o caminho da Ordo Salutis, segundo o princípio calvinista, a CFW traça a obra de Deus na salvação e resgate da humanidade como sendo uma prerrogativa primordial das pessoas divinas, nas suas diversas economias de ação.
Desde a chamada do crente, até à sua santificação e glorificação é uma obra controlada pela soberania divina, baseada no seu primordial amor pela obra das suas mãos.

A Vida Religiosa e a Vida Social
A união das duas esferas, tanto a religiosa como a social é uma das percepções de mundo mais revolucionárias propostas pela CFW. Ela não somente discute as coisas da Igreja, mas também tem observações a fazer sobre o que acontece na vida da sociedade.
Embora a CFW defenda enfaticamente que o trabalho da Igreja seja gerir a vida religiosa, ela não afasta a necessidade de que os homens da igreja sejam capazes de servir de fonte para a vida social, baseada nos princípios da Escritura.

Conclusão
O que aprendemos olhando estas grandes avenidas é que a Confissão de Fé procura fazer o trabalho de percorrer grandes caminhos para o entendimento da vida humana e o seu relacionamento com Deus como um todo, ela promoverá algum entendimento mais aprofundado nas pequenas vielas que derivam das avenidas.
Outro ponto importante que precisa ser notado na CFW é que ela tem uma percepção de que Deus vem buscar o ser humano e dispõe o coração humano a encontra-lo. Desta forma, ela causa uma pista dupla e uma necessidade de que o homem responda ao amor de Deus com devoção e piedade.