O Dragão Contra Cristo
Os capítulos 12 a 14 de Apocalipse são
dedicados à batalha espiritual que ocorre ao longo da História da Redenção, a
inimizade descrita em Gênesis 3.15 entre a semente da mulher e a da serpente é
materializada na perseguição que ocorrerá entre as hostes do mal, quer espirituais,
quer corpóreas, contra os filhos de Deus, a igreja ou o povo de Deus de todas
as eras.
Não podemos nos esquecer de que até aqui, o
ponto central é a revelação de que todas as coisas são conduzidas e controladas
a partir do trono pela ação dos agentes e servos daquele que está assentado e
coroado como Senhor dos Senhores, o Leão e o Cordeiro de Deus.
Também precisamos considerar que a relação
do Cordeiro de Deus com o seu povo é de proximidade, uma vez que, diante do
trono estão suas orações e a visão da Arca da Aliança, onde a promessa de amor
e cuidado pactuais estão representadas. Portanto, a última imagem do capítulo
11, a Arca da Aliança, é uma imagem que assegura que Deus jamais se esquecerá
da sua Aliança. Ao contrário, essa imagem não é somente uma lembrança, mas
serve como uma garantia para os que crêem.
Vamos considerar este novo bloco de visão, dividindo-o
em três partes:
a)
A oposição entre a semente da
mulher e a semente da serpente – Capítulo 12;
b)
A relação de poder, autoridade
e direção no exército das hostes malignas – Capítulo 13;
c)
A relação de poder, cuidado e
atitude entre Cristo e a Igreja – Capítulo 14.
Cada um destes trechos, porém, apresenta
algumas divisões internas que procuraremos observar também.
A Oposição Entre a Mulher e o Dragão – Capitulo 12
APRESENTAÇÃO DO DRAMA – VERSOS 1 A 6
Iniciando a descrição, João nos coloca
diante de dois grandes sinais (12.1-4). O primeiro, a mulher e o segundo um
dragão. Claramente, ele está se reportando às figuras edênicas do Gênesis 3, a
antiga serpente (12.9) do Jardim do Éden e à humanidade, representada em Adão e
Eva.
Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, que achando-se grávida, grita com as dores de parto, sofrendo tormentos para dar à luz. Viu-se, também, outro sinal no céu, e eis um dragão, grande, vermelho, com sete cabeças, dez chifres e, nas cabeças, sete diademas. A sua causa arrastava a terça parte das estrelas do céu, as quais lançou para a terra; e o dragão se deteve em frente da mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho quando nascesse (Ap 12.1-4).
Nesta descrição, para sermos suscintos, o
que percebemos é que os dois sinais, as duas figuras, se relacionam em termos
de uma forte oposição que é engendrada na intenção do dragão de se levantar
contra o filho da mulher que está para nascer. O grande drama da mulher é dar à
luz o seu filho e o drama do dragão é tentar destruir este filho.
Estes versos iniciais, são uma espécie de
apresentação do enredo da história das duas hostes, a semente da mulher e a
semente do dragão, os filhos da mulher, a humanidade que será redimida e o
Diabo e seus seguidores que lhe farão oposição ao longo do desenvolvimento da
história.
Esta parte inicial de apresentação do
enredo geral da história é finalizada nos versos 5 e 6, onde é apresentado fato
de que o poder de Deus é que guarda o Filho, o descendente da mulher e a
própria mulher tem de se refugiar neste mesmo poder, durante os mil duzentos e
sessenta dias, que são um número bíblico que descreve o período total da história
da luta das duas sementes.
Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as nações co cetro de ferro. E o seu filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono. A mulher, porém, fugiu para o deserto, onde lhe havia Deus preparado lugar para que nele a sustentem durante mil duzentos e sessenta dias (Ap 12.5-6).
A BATALHA NO CÉU – VERSOS 7 A 12
Nestes versos, veremos se repetir o que já
vimos noutros trechos do livro, que é a indicação de que as realidades vividas
na terra são uma espécie de continuidade de realidades vividas nas regiões
celestiais.
Num primeiro momento, nos versos 7 a 12, olhamos
para o ambiente do céu e Miguel, líder angelical das hostes de Deus luta contra
o Diabo e seus anjos. Nesta batalha, o dragão é expulso e a consequência desta
expulsão é que ele é lançado à terra.
Essa expulsão do Diabo e seus seguidores,
na verdade ocorre por causa da morte do Cordeiro, que expia os pecados dos
descendentes da mulher e elimina o trunfo que o acusador possuía, para fazer
oposição a Deus e aos homens.
Portanto, a ligação dos descendentes da
mulher com a mensagem do perdão dos pecados é central na disputa que acorre ao
longo das eras, mas especialmente, depois da primeira vinda de Jesus, o pouco
tempo que resta para Satanás.
·
Versos 7-9 – a constatação da
batalha no céu e a expulsão do Diabo, cessação do seu poder como acusador.
·
Versos 10-12 – Cântico da
vitória de Miguel declarando a vitória do sangue do Cordeiro e anunciando que a
batalha se desenvolverá na terra como vingança do diabo e seus seguidores.
A BATALHA NA TERRA – VERSOS 13 A 18
A sequência do texto descreve que a batalha
que foi perdida no céu, tem uma segunda etapa na terra. O Diabo, lançado na
terra, lança a sua cólera contra o restante da descendência da mulher. Uma vez
que perdeu o seu poder acusatório no céu, tem agora o poder intimidatório
contra a igreja de Cristo na terra.
A mulher e sua descendência é sustentada
por um tempo, tempos e metade um tempo (versos 13-14). Esse tempo, podemos
entender, se refere ao período em que a igreja espera a volta de Jesus (1260 –
42 meses – 3 anos e meio – 1+2+meio). Esta batalha é a mesma que os capítulos 1
e 2 de Apocalipse se refere nos termos da perseguição e dificuldades que a
igreja enfrenta.
O modo como o dragão empreende essa
perseguição é fazendo uma luta em termos de luta contra a verdade que a igreja
anuncia e na qual é guardada durante este tempo.
Portanto, é central a pregação da palavra e
a permanência da igreja na verdade do Evangelho, durante a sua vida e espera
pela volta de Jesus.
A terra, porém, socorreu a mulher; e a terra abriu a boca e engoliu o rio que o dragão tinha arrojado de sua boca. Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e tem o testemunho de Jesus (Ap 12.16-17).
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