domingo, 5 de novembro de 2017

Confessionalidade - Aula 5 - Os Decretos Eternos de Deus

Aula 05
Os Decretos de Deus


Introdução
Como já vimos anteriormente, a Confissão de Fé de Westminster tem como fundamento para a sua teologia a Escritura e dela decorre todo o seu argumento. Também já tratamos aqui no fato de que a percepção da “soberania absoluta de Deus” é um assunto transversal que dirige a CFW. Tendo estes dois pontos primordiais em mente o tempo todo, vamos ao capítulo 3 e avaliar a teologia da CFW para compreender o modo como a realidade da vida humana vem à existência, a partir da vontade livre e soberana de Deus.
Lembrando que o propósito da CFW é nortear o relacionamento do homem com o Criador, do servo como o Senhor, a Teologia dos Decretos Eternos de Deus é basilar para isto. Por que é a percepção do valor dos decretos eternos de Deus que o homem aprende a perceber sua realidade criatural e a se entregar com confiança e esperança à vontade do Senhor.


A RELAÇÃO DOS DECRETOS DE DEUS COM A REVELAÇÃO
Um dos pontos mais importantes do Capítulo III é notar como ele é uma decorrência necessária e lógica dos capítulos I e II. OU seja, a afirmação bíblica é o ponto de partida para o entendimento da Teologia dos Decretos de Deus e o próprio ser de Deus é o seu fundamento.
Quando os teólogos de Westminster afirmam que todas as coisas que vêem à existência são fruto da livre e soberana vontade de Deus, que ordena a existência de tudo, eles o fazem baseados na Escritura. Uma teologia natural, nascida apenas da percepção humana e não da Revelação Divina, talvez nos conduziria à ideias relativas sobre Deus, nos termos em que ele não poderia ser soberano e livre. Mas a teologia de Westminster se fez cativa da Revelação e da interpretação das Escrituras sem imposição da lógica humana sobre ela.
Eles também fizeram uma relação direta deste tópico com o segundo capitulo, onde claramente se aponta para o ser de Deus como sendo “totalmente livre”. OU seja, a Teologia de Westminster é forjada a partir de uma percepção gloriosa de Deus como o Senhor absoluto de tudo e não determinado por nada senão por sua própria natureza santa.
Ele é um espírito puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões, é imutável, imenso, eterno, incompreensível, onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto, fazendo tudo par a sua glória e segundo o conselho da sua boa vontade, que é reta e imutável (CFW II-1b).
A Revelação bíblica somada à percepção das gloriosas virtudes do ser de Deus são os elementos que conduziram os teólogos de Westminster a escrever este capítulo dos Decretos Eternos de Deus. A liberdade absoluta de Deus é uma das características mais destacadas do seu ser para a CFW e este valor perpassa o capítulo III em sua inteireza.
Deus tem em si mesmo e de si mesmo, toda a vida, glória, bondade e bem-aventurança. Ele é todo suficiente em si e para si, pois não precisa das criaturas que trouxe à existência, não deriva delas glória alguma, mas somente manifesta sua glória nelas, por elas e sobre elas. Ele é a única origem de todo ser; dele, por ele e para ele são todas as coisas e sobre elas tem ele soberano domínio para fazer com elas, para elas e sobre elas tudo quando quiser (CFW II,2a).
Então, quando lemos o capítulo III, precisamos fazer essa correlação entre a verdade apresentada como “Revelação” e a “natureza livre e soberana” de Deus. Estes são fundamentos da percepção de como Deus trás à existência tudo quanto existe e define absolutamente tudo como deve ser.

A LIBERDADE ABSOLUTA DE DEUS E A LIBERDADE DERIVADA DO HOMEM
O tópico central discutido neste capítulo é o decreto eterno de Deus de se relacionar com seu povo por meio do ato providencial da salvação. Em todo o capítulo este é o foco, como é o foco de toda a CFW estabelecer um bom relacionamento entre o povo de Deus e o seu Senhor.
Mas, antes de começar a definir este tópico, os teólogos de Westminster pontuaram sobre o fato de que Deus é o livre organizador de toda a realidade. Ele é soberano Senhor de tudo e de todos, contudo logo de início reconhecem e fazem uma observação importante, derivada da Revelação bíblica, ou seja, ele propõe no dilema “soberania de Deus” e “liberdade humana” um ponto escriturístico de limite teológico, cujo entendimento só pode ser alcançado por meio da humilde submissão à Revelação divina.
Desde toda a eternidade e pelo mui sábio e santo conselho de sua própria vontade, deus ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou a contingência das causas secundárias, antes estabelecidas (CFW III, 1).
Deus é livre para trazer à existência toda a realidade, inclusive a realidade moral. Esta última é a realidade de dar ao homem uma condição de fazer escolhas livres que correspondam ao seu caráter. Duas observações são postas nesta proposição da liberdade de Deus de trazer todas as coisas à existência, a primeira é a realidade do mal e do pecado, que precisa ser compreendido como fruto da moralidade humana que se desvia de Deus e da própria capacidade humana de agir moralmente.
Os valores que norteiam o coração do homem são as contingências das causas secundárias, ou seja, o coração do homem se inclina segundo a sua natureza, mas isso não surpreende a Deus que conhece o desejo do coração do homem e não o aliena disto.
A liberdade de Deus é tão absoluta que nem a realidade o controla. Este é um ponto que vemos trabalhado no item 2 do capítulo III. Neste tópico, os teólogos de Westminster estavam respondendo à indagações teológicas que se levantavam nos principalmente nos círculos arminianos. A Escritura claramente revela que Deus sabe todas as coisas que estão para acontecer, mas para os teólogos de Westminster, o pensamento arminiano que se baseia em parte da ideia de que a presciência de Deus sobre todos os acontecimentos é que controla as suas ações, é uma forma equivocada de pensar sobre Deus.
Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas a circunstância imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições (CFW III, 2).
Note que o ponto é que o fato de haver um futuro e Deus saber como ele será, não importa em que ele se submeta à realidade. Ao contrário, a realidade é fruto da vontade de Deus e não a vontade de Deus fruto da realidade. Este é um típico tópico em que os teólogos de Westminster fazem combinar uma absoluta submissão à Revelação com uma gloriosa percepção do ser livre de Deus, que se aprende na revelação.

A SALVAÇÃO COMO O FOCO DE DEUS NA SUA RELAÇÃO COM OS HOMENS CRIADOS
Os itens 3 a 8 do capítulo III da CFW apontam para a realidade eterna determinada por Deus para os homens que ele criou. Eles irão enfatizar o propósito eterno de salvar homens que moralmente se tornaram réprobos. Os teólogos de Westminster sabiam que estavam andando em águas turbulentas, então fizeram uma observação importante no tópico 8:
A doutrina deste alto mistério de predestinação deve ser tratada com especial prudência e cuidado, a fim de que os homens, atendendo à vontade revelada em sua Palavra e prestando obediência a ela, possam, pela evidência de sua vocação eficaz, certificar-se de sua eterna eleição (CFW, III, 8a).
Um dos aspectos que deve nos chamar a atenção é que a ideia dos teólogos de Westminster é promover uma percepção gloriosa do valor da eleição divina para o crente. O foco é a relação que Deus deseja estabelecer com seus eleitos e um apreço grandioso pelos atos providencias de Deus em favor da salvação que ele eternamente determinou.  

Eleição para vida e preordenados para a morte – o tópico 3 estabelece estes dois polos como fatores determinados, homens (e anjos) serão salvos; mas também homens (e anjos) serão condenados. O destino eterno dos homens (e anjos) está nas mãos de Deus, mas como vimos anteriormente, eles são moralmente responsáveis, tanto para uma coisa, quando para outra. Em ambos casos, Deus trás à realidade estas coisas para a manifestação da sua glória.
Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão (Rm 9.22-23). 
A imutabilidade destes decretos é um fator de importante consideração na teologia de Westminster, isto é, não se trata de uma realidade imprevisível, mas de uma realidade que responde à vontade e ao plano eterno de Deus. A glória de Deus não é uma possibilidade, mas uma realidade que ele trará à existência. Ele é glorificado na salvação e na condenação. Na salvação por causa do seu poder sobre a morte e na condenação na demonstração clara de sua santidade e pureza absolutas.

Eleição e salvação como fruto da liberdade absoluta de Deus – Respondendo à teologia arminiana, os teólogos de Westminster, mais uma vez, fazem uma observação que aponta para a ideia de que Deus não é controlado pela realidade, mas o contrário, a realidade é controlada por Deus.
Segundo o seu eterno e imutável propósito, e segundo o seu santo conselho e beneplácito da sua vontade, antes que fosse o mundo criado, deus escolheu em Cristo, para a glória eterna, os homens que são predestinados para a vida, para o louvor da sua gloriosa graça, ele os escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que a isso o movesse, como condição ou causa (CFW III, 5).

Os fins e os meios para a salvação – a teologia da CFW aponta para a ideia de um Deus que controla a história e não somente um Deus passivo diante dos acontecimentos. A grande obra da história é a salvação dos filhos de Deus e para isto, fica claro na teologia da CFW que Deus dirige os meios conducentes para que sua vontade se realize.
Assim como Deus destinou os eleitos para a glória assim também, pelo eterno e mui livre propósito de sua vontade, preordenou todos os meios conducentes a esse fim (CFW III,6a).
Estes meios são resumidos em obras de salvação que serão tratadas posteriormente: eleição, remissão em Cristo, chamado eficaz e justificação, adoção, santificação. Deus ordena todas coisas para que seus filhos remidos sejam conduzidos à plenitude do relacionamento com Ele.  

Concede e recusa misericórdia pela sua livre vontade – ó tópico VII é uma consideração principalmente sobre a recusa da misericórdia de Deus. Neste tópico se ressalta a ideia de que tudo é para glória de seu soberano poder sobre suas criaturas. A salvação dos homens é resultado da sua vontade, mas a condenação é resultado do pecado humano. OU seja, Deus salva por que deseja salvar e condena porque o homem merece a condenação.   

Conclusão
O resultado pretendido pelos teólogos de Westminster é o que o crente confie no amor eterno de Deus e busque, por meio de um relacionamento de fé experimentar e certificar-se de sua eleição eterna. Esta percepção deveria causar admiração, amor, reverência a Deus, bem como atitude de humildade, obediência e conforto no coração dos eleitos.
Assim todos os que sinceramente obedecem ao Evangelho, esta doutrina fornece motivo de louvor, reverência, e admiração a Deus, bem como de humildade, diligencia e abundante consolação (CFW III, 8b).


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