A Vida Cristã Como Resposta ao Mundo Caído
Objetivo desta lição
Esperamos construir elementos
para o aumento do desejo dos alunos de interagirem em seu meio social, oferecendo
uma resposta cristã à cultura secularista. Trabalharemos o conceito de pregação
evangelística e pregação cosmovisional como uma ferramenta para o entendimento
dos níveis de atuação da igreja neste mundo caído.
Introdução
Nem
sempre os cristãos sabem como agir neste mundo. A cosmovisão secularista, que
tomou conta da sociedade ocidental, tem entrado em um grande e caótico abismo
de incertezas e esta é uma grande oportunidade para a reinserção de valores
bíblicos.
Mas,
a Igreja precisa compreender sua tarefa, ter o senso de sua urgência e conhecer
as ferramentas de que dispõe para isto. Nessa aula, buscamos expor a
necessidade de uma resposta cristã abrangente, para a aplicação da cosmovisão
cristã a todas as áreas da vida e cultura humana.
1 –
A Necessidade de Uma Resposta: Pregar o Evangelho
A
igreja foi enviada ao mundo com uma resposta: o evangelho. Mas, o que é o
evangelho? Muito embora, possa parecer simples responder essa questão, uma
resposta mais completa é necessária para que compreendamos exatamente que mensagem
temos para o mundo.
O
evangelho anuncia que o homem perdeu sua referência primordial da criação, sua
teocentricidade; que deixou Deus, ao aliar-se pecaminosamente a outro deus, o
ego. O Evangelho anuncia que, por essa rebeldia e quebra da lei criacional, o
homem foi condenado (Rm 2.11-16).
O
evangelho também é o anúncio de que, em Cristo, todas as coisas serão redimidas
e a mente do homem reintegrada ao princípio criacional teocêntrico (Rm
8.22-23). Essa resposta não diz respeito somente à salvação dos crentes ou ao
céu, mas a uma proposta de um mundo, uma cultura e um ser humano referenciados em
Deus (Rm 11.36).
O
Evangelho é a ferramenta dos cristãos para construir ao seu redor as
demonstrações mais claras deste reinado teorreferente, ou seja, a família
cristã, a igreja cristã e a sociedade influenciada pela presença cristã (Cl
1.13-23).
A – Pregar o Evangelho porque o jardim está
contaminado
Necessitamos
dar uma resposta cristã à cultura secularista, porque a contaminação atingiu
todo o jardim de Deus (Rm 8.20).
Não
se trata apenas de um convencimento a respeito de uma opinião teológica ou
religiosa. Para os cristãos bíblicos, o dever de cuidar do jardim e atender ao
Mandato Cultural exige que nos manifestemos com preocupação sobre cada aspecto
do mundo que nos cerca, que interfere na primordial tarefa da criação de
glorificar a Deus (Sl 68.32-35; Sl 150.1-6; Ap 5.13).
Pregar
é um dever, mas também um ato de amor (Rm 5.6-11). Esse ministério, chamado de
ministério da reconciliação (2Co 5.18-30), é uma tarefa que se origina na
necessidade que temos de conduzir as mentes de volta a Cristo (2Co 10.4-5),
pois o pecado contaminou e levou os homens a viverem com a mente encoberta da
verdade (2Co 4.3-6).
A
cultura desenvolvida pelos homens, salvo exceções por concessão da graça de
Deus, reflete essa contaminação e segue o ritmo egorreferente do coração humano
(Pv 6.12-19; 19.3). Esse comportamento rebelde conduz a vida humana a condições
ainda piores (2Tm 3.13).
B – Pregar o Evangelho Como ato de obediência
do jardineiro
“Sal
e Luz” – com essas figuras, Jesus descreve a necessidade da presença da igreja
neste mundo (Mt 5.13-15). Ambas servem ao argumento de que o mundo está em
declínio e trevas. Também nos mostram que estamos neste mundo para conduzir o
jardim de Deus à sua função original: glorificar a Deus.
A
ignorância sobre o papel da igreja talvez seja menos danosa que a omissão (Tg
4.17). Não podemos nos esconder atrás de desculpas ou nos amedrontar diante do
desafio de trazer a este mundo a mensagem do Evangelho em sua totalidade
cristocêntrica (Fp 1.27-30; Mt 28.18-20).
O
mundo nos odeia por anunciar o reinado de Cristo, mas isso não é uma novidade
para nós (Jo 15.18-21). Contudo, apesar da sempre crescente oposição (2Ts
2.3-4), a proclamação do evangelho é um dever do qual não podemos nos esquivar
(1Co 9.16; 2Tm 4.1-2).
Fomos
chamados para viver sob o comando daquele que governa todas as coisas
(2Tm2.4-5). Esse papel de atalaia do reino de Cristo Jesus é a principal tarefa
da Igreja, no cumprimento de seu elevado dever de conduzir tudo a Cristo (Mc
16.15).
C – Pregar o Evangelho para a glória do
dono do jardim
O
grande dever existencial de toda a criação é revelar a glória do Criador (Sl
19.1). O homem, entretanto, não somente revela a glória do Criador, mas é capaz
de reconhecê-la racionalmente (Sl 8.3-9; Mt 5.16).
Reconhecer
a glória do Criador é um ato mental que deveria conceder ao homem a mais
completa sensação de gozo e o preenchimento total da sua alma, em uma plena e
absoluta satisfação existencial (Sl 16.11; Fp 4.4). Mas, o pecado interferiu nesse
elevado potencial da mente humana, provocando uma sombra devastadora que nos
afastou dessa alegria em plenitude (Ef 4.17-19).
A
pregação do evangelho busca trazer o homem de volta à sensatez, fazendo-o
perceber a glória de Deus, expressa no seu jardim e no próprio ser humano,
criado à sua imagem (2Co 4.1-5).
Por
sua ligação vital e redencional com Cristo, a Igreja é a única agência credenciada
para anunciar essa mensagem, do evangelho da glória de Deus (1Tm 1.11).
2 –
Uma resposta cultural dinâmica e abrangente
Como
agência proclamadora do evangelho, a Igreja não pode se conformar em oferecer
uma resposta que não vise o resgate de toda a criação. Pois, todos os assuntos
da vida humana estão correlacionados e dizem respeito à nossa relação com o
Criador.
Ecologia,
industrialização, ocupação desordenada do solo, a fome nos países do terceiro
mundo, tudo isso, e muito mais, é de interesse do Evangelho restaurador. Por
isso, devemos apresentar ao mundo uma resposta cristã para a cultura.
A –
Renunciando os ídolos do coração
A
resposta do cristianismo à cultura não alcançará grande resultado se o próprio
cristianismo falhar em ser o modelo ideal a ser observado (Mt 5.16; 1Ts 1.6-7).
Pois, o juízo de Deus à resposta humana começa pela própria Igreja (1Pe
4.12-19).
A
Igreja é conduzida pelo próprio Deus para ser a parte visível do reino e
servirá de parâmetro para o mundo, tanto para conduzir os homens a Deus, como
para fazê-los cientes de seu erro (2Co 2.14-16). Portanto, os cristãos deverão
encarar toda a realidade cultural caída e oferecerem-se como um novo padrão
cultural, a partir da renúncia dos ídolos que controlam o coração do homem
natural e o afastam de Deus.
A
igreja é chamada a renunciar tudo o que a afastaria da verdadeira vida
teorreferente. Em outras palavras, a igreja não pode servir a dois senhores (Mt
6.24). Sem rejeitar a estrutura maléfica do pecado, sua revolução cultural
teocêntrica será impossível.
Como
cristãos, não podemos aprovar ou sermos coniventes com a exploração dos pobres
(Am 8.4-6), a mentira (Os 4.2), a cobrança de propina (Mq 7.2) e tantas outras
mazelas do mundo caído. Cristãos conscientes do seu chamado devem ser modelos
de renúncia da egorreferência, em favor de uma humanidade que viva segundo a
Lei de Deus, o amor (Lc 10.25-37).
B – Apego às normas de Deus
A
cultura humana é sempre uma expressão das cosmovisões dominantes. A cosmovisão
cristã, por sua vez, deve produzir uma cultura de valores que se baseiem
objetivamente na palavra de Cristo (Cl 3.16-17), para que não caia no erro
humanista e seja traída pela corrupção do próprio coração (Jr 17.9; Pv 6.14).
Dentro
de um padrão cultural cristão, temas como o aborto, pena de morte, taxa de
câmbio, produção de alimentos etc., devem sofrer um exame e ter uma resposta
condicionada aos conceitos estabelecidos nas Escrituras. Ou seja, todos os
empreendimentos de análise e mudança cultural devem ser considerados à luz de
um princípio bíblico objetivo (1Pe 1.24-25).
Não
se trata de uma imposição de crenças para os que não confessam o cristianismo,
mas de pressupostos cosmovisionais norteadores. Afinal, qualquer cosmovisão
partirá de pressupostos pré-teóricos e uma genuína cosmovisão cristã bíblica
tem como pressuposto as normas de Deus, reveladas nas Sagradas Escrituras (Cl
3.16-17).
A
aplicação dos princípios da Escritura no sistema de análise e mudança cultural cristão
não pode ter uma motivação meramente proselitista, com o fim último de
converter as outras pessoas ao cristianismo. Mas, deve apresentar nosso
entendimento de que as Escrituras apresentam uma cosmovisão única, que trata a
realidade existencial a partir do equilíbrio da relação teocêntrica que todas
as coisas e seres possuem com o Criador (Sl 24.1). Essa relação equilibrada
está em harmonia com todas as verdadeiras e sinceras aspirações de paz e
progresso que a humanidade almeja e precisa (1Tm 2.1-3). Aproximar-se dos
conceitos das Escrituras é aproximar-se do bem, afastar-se delas é caminhar
para o mal (Sl 119.150-152).
C – Um trabalho conjunto e
interdisciplinar
Evidentemente,
a aplicação do sistema cosmovisional cristão bíblico a todas as áreas da vida
implica em um trabalho conjunto e interdisciplinar. Ou seja, ele não poderá se
limitar à teologia, filosofia, pedagogia ou educação e ficar distante da
matemática, engenharia, arquitetura ou qualquer outra área. Todas as áreas do
viver humano devem ser analisadas e restauradas segundo princípios bíblicos
existenciais (1Co 10.31).
Esse
trabalho conjunto e interdisciplinar consiste em um esforço de construir uma
consciência cristã ativa, por meio de cada cristão consciente em sua área de
atuação social (Fp 2.14-16). Consciência ativa é a aplicação dos princípios
cosmovisionais cristãos bíblicos a todas as áreas do conhecimento e da produção
cultural humana (Hb 2.14).
Essa
resposta cristã para a cultura é uma obra redencional, com o objetivo de trazer
ao mundo uma cultura que respeite a Deus, quer na produção industrial, na
criação cinematográfica, literária, saúde, política, pedagogia, arquitetura
etc. Afinal, Deus é o Senhor de todos e de tudo (Sl 24.1; 1Cr 29.12; Ef
1.22-23; Ap 19.16).
3 – Pregação evangelística e pregação
cosmovisional
Ao
qualificarmos a pregação como “evangelística” e “cosmovisional” não estamos
propondo um antagonismo entre ambas, mas uma visão de complementaridade.
A pregação evangelística tem como
principal função anunciar a salvação em Cristo Jesus, por meio do ensino da fé
e do discipulado cristão (Mt 28.19-20). Ela objetiva o resgate do homem do
Império das Trevas para o Reino do Filho, por meio do sacrifício expiatório de
Cristo (Cl 1.13-14).
A pregação cosmovisional, por sua vez, tem
a principal função de dar aos que foram transportados do Reino das Trevas para
o Reino do Filho a missão de serem sal e luz do mundo em trevas (Mt 5.13-16). O
objetivo dessa pregação é o crescimento da consciência e influência cristã no
cuidado com o jardim de Deus (Mandato Cultural).
Essas duas ênfases da pregação do
evangelho se unem no grande propósito de glorificar a Deus (1Co 10.3). Elas
nascem da mesma fonte, têm o mesmo princípio norteador e devem ser complementares.
A – Uma mesma fonte – as Escrituras
“Depois
que ouvistes a palavra da verdade...” (Ef 1.13). Para os escritores bíblicos,
pregar o Evangelho é pregar a “palavra da verdade”. A verdade de Deus sobre si,
o mundo, o homem e todas as coisas está registrada nas Escrituras (Jo 17.17).
A
pregação que visa a conversão do homem (evangelística) tem o seu poder no fato
de ser a verdade sobre a sua condição espiritual. A salvação é a aplicação dessas
verdades ao coração do homem e ocorre por meio do instrumento da pregação da
verdade (Rm 10.17).
A
cosmovisão cristã nasce de um esforço da aplicação das verdades da Escritura
para a realidade natural do homem. A pregação cosmovisional tem como principal
tarefa trazer ao homem, cristão ou não, aos princípios vivenciais da verdade.
Por isso, a pregação cosmovisional não pode ter outra fonte para sua elaboração
filosófica sobre vida que não seja a Escritura (2Tm 3.16-17).
B – Um mesmo princípio norteador -
Cristocentricidade
O
objetivo da pregação do evangelho sempre será a glória de Deus e este propósito
é alcançado quando levamos cativo todo pensamento à obediência de Cristo (2Co
10.3-5).
A
pregação da verdade incita a presença de Deus na consciência humana. Essa
consciência é despertada para reconhecer a glória de Deus na mediação da obra
de Cristo (2Co 4.1-6). Quanto mais o mundo viver sob os desígnios e princípios
do Reino de Cristo, mais Deus será glorificado.
Conduzir
a Igreja e o mundo a pensar a existência segundo as bases do Evangelho e
conduzi-los a Cristo é o propósito de toda a pregação, quer seja evangelística,
quer cosmovisional.
C – Complementaridade - coerência
É
possível que, algumas vezes, a conduta dos cristãos não seja um reflexo de sua
fé (Jd 4). A pregação que nos conquista para Cristo deve também nos conquistar
para viver segundo o padrão de Cristo (Ef 5.8-10).
A pregação cosmovisional é um complemento da
pregação evangelística. Pois esta nos conduz à conversão e aquela à
santificação. Elas se complementam na Igreja porque conduzem a Igreja a um
viver coerente entre o crer e o realizar (Fp 2.15-16).
A
coerência entre fé e prática faz com que a vida dos homens salvos sirva de
modelo para todos os demais. Por isso, a complementaridade entre o que se crê
para a salvação e os princípios norteadores da vida é tão nescessária (Mt 7.24-27;
Tg 1.25).
Conclusão
A
pregação do Evangelho é a resposta cristã à cultura secularista. Ela deve ser
fruto de uma reflexão bíblica sobre a verdade da realidade teocêntrica de todas
as coisas criadas e um retorno a este princípio de vida.
Devemos
considerar urgente a pregação do evangelho em resposta ao fato de que o “jardim
de Deus” está contaminado com uma mentalidade intrusa que distancia a Criação
do seu Criador. Também devemos nos empenhar pela Verdade da Palavra de Deus por
obediência àquele que nos chamou ao Reino do seu Filho, o qual exige de nós que
sejamos luz do mundo e sal da terra.
Diante
destas propostas bíblicas para a pregação, resta-nos aplicar essa pregação a
todas as áreas da vida. Esse esforço tem o objetivo de trazer todo o pensamento
cativo à obediência de Cristo, na busca de duas coisas principais: a salvação
dos eleitos do Senhor e a restauração da sociedade humana aos padrões que
honram a Deus.
Aplicação
Você
é capaz de identificar, ao menos três áreas de atuação social nas quais
gostaria de atuar com uma proposta cosmovisional cristã bíblica? Compartilhe
com os seus colegas, quais essas áreas e como acredita que poderia agir.
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