domingo, 12 de fevereiro de 2017

Aula 1 - Prolegomenos - Revelação Geral e Especial


AULA 01
Revelação Geral e Especial


Introdução
O princípio fundamental da fé cristã é a ideia de “revelação”. Em outras palavras, podemos dizer que sem o conceito de “revelação”, o cristianismo se torna em um mero ato especulativo. Afinal, como o homem poderia realmente descobrir e discernir a existência de Deus sem que este se revelasse?
Em nosso curso sobre a “Natureza da Bíblia” é fundamentado no fato de que toda a Bíblia é a Revelação Especial de Deus e que ela, corroborada pela Revelação Geral, nos mostra a relação que há entre: Deus, sua Criação e o grande plano de redenção.
Portanto, o estudo desta matéria deverá servir de apoio para o entendimento cristão sobre como Deus decidiu usar a comunicação com o homem para conduzir o coração humano a “conhecer” o “mistério” sobre a existência de tudo e leva-lo a retornar a seu Criador em submissão e amor.

Revelação e Racionalidade
Antes de tratarmos dos conceitos de Revelação Geral e Especial, precisamos fundamentar a primordial necessidade do ato divino de revelar-se, que é a condução da racionalidade humana.
Ao criar o homem, diferente de todas as outras criaturas materiais, Deus o fez com a capacidade de crer, por meio de um complexo sistema de racionalidade. A crença humana não é um mero ato do instinto animal de seu ser, ao contrário, ele é movido por uma capacidade de perceber a realidade, avaliar e escolher suas crenças.
Portanto, Deus não desejou apenas existir e agir na vida do homem, mas, muito além disto, planejou que o homem o conhecesse e o amasse pelo exercício da vontade, que se constrói por meio da sua capacidade racional.
Uma das acusações contra a religião, não somente a cristã, é que a “Revelação Divina” foi uma criação da “Racionalidade Humana”. Neste ponto de vista, Deus é o fruto da construção da imaginação racional do homem e, portanto, um devaneio, ou uma forma humana de se projetar para além de si, em um ser que tenha sido criado pelo homem para ser o seu criador e deus.
O cristianismo compreende que esta acusação é completamente válida. Afinal, o homem é realmente capaz de criar deuses, segundo os seus anseios mais profundos e imaginar a sua revelação, usando este processo inverso de “revelação humana sobre a divindade”. Contudo, o cristianismo defende a ideia de que a “Revelação Sobrenatural” de Deus é uma condutora da “racionalidade humana” para a descoberta da realidade de um criador de algo que realmente existe: “A Revelação Geral” ou “Natural”.
Ou seja, a fé cristã é a busca de uma compreensão da realidade criada e concreta, tais como a existência do sol, do mar, das montanhas, do próprio homem, por meio de uma pergunta que só pode ser respondida por meio de uma revelação sobrenatural: quem fez e sustenta tudo o que existe?
Por isso, a racionalidade humana precisa da revelação natural para ser despertada para a necessidade de Deus e conduzida para saber sobre este Deus, por meio da revelação especial. Sem a revelação em sua totalidade, a racionalidade humana está sem rumo existêncial e termina criando um mundo de trevas, onde a verdade não é alcançada, mas criada segundo as inclinações do desejo humano.

Revelação Geral
Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras até aos confins do mundo. Aí pôs uma tenda para o sol, o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como herói, a percorrer o seu caminho. Principia numa extremidade dos céus e até à outra vaio o seu percurso; e nada refoge ao seu calor (Salmo 119.1-6).
A primeira parte do Salmo 19 é um hino maravilhoso sobre a Revelação Geral. Esta se define por ser aquele modo de revelação divina por meio das coisas criadas. Aqui, o salmista, trabalha com a figura de que, embora não sejam usadas palavras, o processo de revelação sobre a realidade da vida se dá, por meio das leis que foram postas na existência das coisas.
O sol, assim como os astros que brilham na noite, na ausência de sua luz, seguem leis inquebráveis, que nada, nem ninguém pode resistir. O princípio que o salmista defende é que a simples observação desta realidade tão regular, indica que uma “mão” maior que o firmamento conduz estas coisas. Uma outra forma de afirmar esta verdade é que se existe uma lei que governa estes astros, ela aponta para um legislador maior que os astros.
A história que a natureza conta todos os dias é sobre este legislador. Talvez por isto, ao continuar o salmo, o salmista tenha escolhido a palavra “lei” para se referir à “Revelação Especial” que é a Palavra registrada de Deus.

Revelação Geral Sua Suficiência e Insuficiência
Em geral, os teólogos reformados, consideraram que a “Revelação Geral” é importante, mas “insuficiente” para levar o homem ao conhecimento de Deus. Meu professor de Teologia Sistemática, Dr. Heber Carlos de Campos, afirmava que o ponto que deveríamos considerar não ser a “insuficiência” da Revelação Geral, mas qual era o seu propósito.
Portanto, o que precisamos pensar é que a Revelação Geral cumpre, sem problema algum e sem nenhuma limitação, o seu papel revelacional. A questão que deveremos debater, portanto, é dupla: a) qual é o propósito desta revelação; b) qual a capacidade do homem de compreendê-la.
A ira de Deus se revela dos céus contra toda impiedade e perversão dos homens que detém a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre ele, porque deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim como o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato (Romanos 1.18-21).
O que podemos aprender neste texto sobre o propósito da revelação geral é que ela é suficiente para gerar o temor a Deus por meio de uma clara noção de sua divindade e poder, além de nos dar princípios lógicos sobre outros dos seus divinos atributos.
Um homem pode olhar para a natureza e pressupor a existência de um Deus legislador. Portanto, um Deus de ordem, de poder para criar e aplicar leis, racional para discernir entre uma coisa e outra, além de perceber a riqueza e a beleza do seu cuidado para com os humanos, quando este Deus cria coisas tão benéficas e necessárias.
A Revelação Geral, segundo o texto, é suficiente para gerar acusação contra o incrédulo. Portanto ela também cumpre o propósito de ser a razão da condenação daqueles que, em lugar de reconhecer a divindade de Deus, se desviam do Deus verdadeiro e criam suas próprias explicações, deixando de adorar a Deus.
Voltando um pouco o olhar para a capacidade do homem de compreender a revelação geral. O que vemos no texto é que a racionalidade humana é suficientemente capaz de compreender esta revelação, mas, os efeitos danosos da queda sobre a mente humana, produziu um coração tão distante de Deus que os raciocínios do coração desviam o homem da verdade, preferindo leva-lo a crer na mentira.
Portanto, quando o homem percebe a realidade do sol, do seu calor e da lei que está por detrás da sua existência real, e elabora um conceito idólatra de que o sol é Deus, ou de que o mar criou o sol, ou coisa semelhante, ele está deturpando a realidade e mostrando os compromissos apóstatas do seu coração. Detendo a verdade, por meio de um ato de injustiça.
O problema da racionalidade humana não é sua incapacidade ou insuficiência é a sua corrupção pecaminosa. Contudo, devemos dizer que a revelação geral cumpre claramente o seu propósito e desperta o homem para a necessidade de ir além de si mesmo. Contudo, devemos considerar que o pecado, como fator desestruturador e corrompedor do centro da racionalidade humana, tornou o homem incapaz de chegar a Deus por meio da verdade revelação pela natureza e, de certa, forma, a Revelação Geral sozinha, não é suficiente para conduzir esta racionalidade caída a Deus.

Revelação Especial e sua Necessidade
Diante da impossibilidade do homem caído, de mente corrompida, chegar à verdade de Deus por meio exclusivo da Revelação Geral, aprouve a Deus manifestar a verdade por meio de uma Revelação Especial.
A lei de Deus é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro ilumina os olhos. O temor do Senhor é límpido e permanece para sempre; os juízos do Senhor são verdadeiros e igualmente justos (Salmo 19.7-9).
Ao menos quatro das expressões usadas sobre o poder da Revelação Especial de Deus apontam para o seu papel de redenção da percepção humana sobre a realidade:
Restaura a alma – o salmista trabalha com a ideia de que, embora haja revelação divina propositiva em toda a natureza criada, a alma do homem só pode ser restaurada, mediante a ação da lei de Deus. Aqui ele está pressupondo que o pecado  corrompe o homem e o desvia de Deus, portanto, só pode ser restaurado se aprender o caminho perfeito da lei de Deus.
Dá sabedoria aos símplices – a sabedoria que trata esta expressão é a capacidade de compreender a vida. A ideia é que a Lei de Deus aponta para Deus de tal forma que a racionalidade humana guiada pelo testemunho da palavra compreende a vida melhor que o mais os mais cultos. O homem símplice, tratado no salmo aponta tanto para o indouto, como também para o que se caracteriza por um temor puro diante de Deus, aquele que se deixa guiar.
Alegram o Coração – O salmista compreende que um coração que vive na obscuridade e não consegue chegar à luz do conhecimento de Deus não pode ser realmente feliz. Afinal, qualquer que se alegra na mentira, não se alegra de fato. Aqui, então, ele diz que o Deus conduz o coração humano para a verdadeira alegria, porque é alegria na retidão.
Ilumina os olhos – seguindo o mesmo conceito da obscuridade, ele diz que o que realmente acontece com o homem que se aproxima para crer na Revelação Especial de Deus é que seus olhos são abertos para a verdade. Portanto, como uma luz que abre e revela tudo que realmente há ao redor, faz com que o homem abra o seu entendimento para a realidade centrada em Deus.
A Revelação Especial, portanto, é o ato de Deus de vir ao homem e suprir sua impossibilidade de ver a verdade sobre toda realidade, por causa da corrupção do pecado, e dar-lhe um coração capaz de discernir a realidade centrada no próprio Deus.

Ela é necessária para fazer o homem compreender a revelação geral e o Deus que está por detrás dela. Portanto, ela é complementar à primeira. 

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Obrigado, Silvia!!!
      Vamos divulgar e incentivar os alunos a participarem e usarem este meio para suas perguntas...

      Excluir

Faça o seu comentário, observação, pergunta... colabore com o crescimento de todos!