domingo, 9 de abril de 2017

Aula 07 - Prolegomenos - A Atualidade da Bíblia



AULA 07
A Atualidade da Bíblia
Como as Escrituras devem ser aplicadas ao cotidiano.

Introdução
Na aula de hoje vamos enfatizar o “uso” que fazemos da Bíblia no dia a dia. A proposta é que você descubra os mecanismos de aplicação das verdades bíblicas para as diversas dimensões da sua vida pessoal.
Considerando que Deus estabeleceu Mandatos para que cumpramos nossa tarefa de vida de forma completa, vamos tratar do uso das Escrituras para a vida humana em suas três dimensões: “Espiritual”, “Social” e “Cultural”.
Nosso objetivo final é que você compreenda o mecanismo de aplicação das Escrituras para cada uma destas dimensões e consiga fazer uma leitura da Escritura com mais proveito, sabendo munir, com o uso dos mesmos textos todo o tecido prático da sua vida.
Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra e luz para os meus caminhos (Sl 119.105).

As Escrituras e a Dimensão Espiritual da vida
O Mandato Espiritual estabelece a necessidade de uma relação do homem com o Criador. Amar a Deus sobre todas as coisas é o principal objetivo desta ordenação divina para a vida humana.
Note que o uso da palavra “ordenação” em lugar de “ordenança” é proposital, na medida em que não estamos falando apenas da exigência divina para que o homem O ame acima de tudo, mas do fato de que Deus nos criou e preparou todas as coisas que isso acontecesse.
Para que pusessem em Deus a sua confiança (Sl 78.7).
Amar a Deus consiste no estabelecimento de uma relação de confiança e adoração.
O homem foi criado para viver de maneira teorreferente e deveria desfrutar da dimensão espiritual da existência percebendo em tudo o que está ao seu redor, em si mesmo, nas pessoas à sua volta e no modo como vive estes relacionamentos, toda a permeabilidade de Deus na Criação, sem a confusão panteísta de achar que a Criação é Deus.
Com a Queda, o homem perde este estado original de pureza e visão clara da realidade espiritual. As Escrituras são dadas como um desvelamento desta realidade e uma proposta de reestruturação da mente humana para o desfrute de Deus e toda a sua presença na Criação.
Bendize, ó minha alma, ao Senhor! Senhor, Deus meu, como tu és magnificente: sobrevestido de glória e majestade, coberto de luz como de um manto. Tu estendes o céu como uma cortina, pões nas águas o vigamento da tua morada, tomas as nuvens por teu carro e voa nas asas do vento (Sl 104.1-3).
As Escrituras Revelam o Ser Deus
Na busca de nos conduzir de volta a si mesmo, Deus nos oferece nas Escrituras uma reestruturação da nossa consciência de quem é Deus. Ele se revela a nós e nos deixa conhecer a glória do seu Ser.
Os textos bíblicos precisam ser usados no dia a dia para alimentar o nosso conhecimento de Deus. Tal conhecimento produzirá elementos “písticos” (relativos à fé) em nossa percepção da vida e esta nova maneira de ver a vida a partir da glória do Ser de Deus, o Criador, mudará a nossa relação com os acontecimentos.
Os diversos atributos de Deus revelados nas Escrituras são, em última análise, uma descrição do modo como devemos perceber que as coisas foram “ordenadas” para que desfrutemos da presença de Deus em tudo.

As Escrituras Revelam as Obras de Deus
De certa maneira já tocamos neste ponto ao falar sobre o modo como Deus ordenou tudo o que existe para provocar nossa admiração e entrega confiante a Ele. Por isso, as Escrituras revelam as obras de Deus.
Ao descrever as obras de Deus, as Escrituras nos conduzem a perceber sua intencionalidade de cuidar de nós e gerar em nosso coração gratidão e propósito de adoração.
O Salmo 104 é um dos mais ricos em figuras sobre este trabalho de revelar as obras de Deus. Ali, o salmista, usando diversas cenas da vida comum do homem, mostra os atos da Criação e Providência Divina como alavancas doxológicas para o coração humano.
Que variedade, Senhor, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste, cheia está a terra das tuas riquezas (Sl 104.24).
Ao contemplar as obras de Deus e perceber seus atos providenciais, o coração humano se desprende da insegurança de viver em um mundo do acaso e redescobre o governo de Deus sobre todas as coisas. Este tipo de descoberta nos leva a um relacionamento de confiança com Deus, não importa qual seja a situação. Por isso é que precisamos alimentar nossa mente com o conhecimento bíblico sobre o agir de Deus no mundo.

As Escrituras Revelam os Desejos de Deus
Sobre a nossa dimensão espiritual da vida, as Escrituras também revelam os intentos de Deus para com a nossa vida e as implicações disto é que devemos saber a direção que Deus quer que tomemos e vivamos numa relação de confiança absoluta com Aquele que sabe o que é melhor para nós.
Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. Então, me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração (Jr 29.11-13).
A principal intencionalidade divina revelada nas Escrituras é a Obra de Redenção do homem caído. Portanto as Escrituras nos foram dadas para nos fazer conhecer o “Plano de Redenção” e isto causa uma profunda mudança no depósito de nossa confiança e relação com a realidade.
Podemos tomar como exemplo, o texto de Isaías 45, onde Deus convoca a Ciro para agir em favor do povo da aliança. Ali, o profeta estabelece sua intenção de salvar o seu povo e mostrar a todos que existe só um Deus a quem devemos adorar.
Para que se saiba, até ao nascente do sol e até ao poente que além de mim não há outro, eu sou o Senhor, e não há outro (Is 45.6).
A intencionalidade divina de Redenção deve ser o alimento de todo homem que precisa estabelecer uma relação de confiança final com Deus. Somente um homem que consegue assegurar sua alma sobre a plataforma da certeza da vida eterna consegue realmente amar a Deus sobre todas as coisas em meio as dificuldades e intempéries da vida.

As Escrituras e a Dimensão Social da vida
Entre os mandatos da Criação temos no Mandato Social um dos mais difíceis trabalhos da vida do homem caído: amar o próximo. A tarefa humana de servir a Deus como vice-gerente da Criação envolve o ato de amar os seres humanos caídos, mesmo se forem nossos inimigos.
Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem (Mt 5.44).
Os mandamentos de Deus nos são dados com a finalidade de corrigir os males que a Queda causou ao nosso coração. Entre as terríveis distorções que a Queda causou ao coração humano, a dificuldade nos relacionamentos interpessoais ocupa lugar de destaque. Em outras palavras: como é difícil amar o próximo!
O segundo, semelhante a este é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Mt 22.39).
A dimensão social da vida é um dos alvos redentivos de Deus e as Escrituras estabelecem os princípios fundamentais para desenvolvermos uma boa relação humana interpessoal.
As Escrituras Estabelecem a Necessidade do Amor ao Próximo
Amar o próximo e cuidar uns dos outros é o mais profundo exemplo de amor a Deus. Não há nenhuma condição de revelar nosso amor e dependência de Deus senão por meio de uma atitude de cuidado com o nosso próximo, criado à imagem e semelhança de Deus.
Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê (1Jo 4.20).
A Bíblia é um manual de amor ao próximo! Ela estabelece a necessidade deste amor como a forma mais prática e vital para revelarmos realmente quem o nosso coração ama acima de todas as coisas.
Alimentar o coração com os princípios necessários do amor ao próximo é um ato de sabedoria e nos ajuda a corrigir os desvios mais fundamentais promovidos pela Queda, que estabelece, nas mais importantes relações práticas da vida, os maiores problemas que temos.

As Escrituras Estabelecem as Condições do Amor ao Próximo
A Bíblia, como dissemos, é um manual de amor ao próximo, por isto, ela estabelece as condições em que este amor ao próximo deve ser desenvolvido. Em outras palavras, ela não somente “ordena” (no sentido de dar um comando) que amemos uns aos outros, mas “ordena” (no sentido de estabelecer as condições necessárias) o modo como isto deve acontecer.
Os Dez Mandamentos são fundamentais para este ponto, mas a Primeira Carta de João também pode ser uma das ricas fontes desta sabedoria prática.
Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade (1Jo 3.18).
Diversos textos bíblicos trabalham a prática do amor e estabelecem os princípios de como deve acontecer essa mudança na nossa dimensão social da vida. Alimentar nossa mente com estes princípios é fundamental para o reordenamento da nossa existência para o desfrute de Deus e da realidade de um modo completo.

As Escrituras e a Dimensão Cultural da vida
Por dimensão cultural da vida imaginamos todo o relacionamento do homem com as coisas criadas e o produto de todas as relações com o produto do labor humano. O desfrute da realidade como um todo é uma grande bênção porque é vivendo que se serve a Deus. Portanto, toda a história de vida que Deus nos dá é uma oportunidade para viver para a glória de Deus.
Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus (1Co 10.31).
Aprender a viver e se relacionar bem com todas as coisas, isto é, vivenciar as realidades diárias de uma maneira madura, saudável e teorreferente deve ser um dos alvos mais importantes de todo homem.
As Escrituras nos foram dadas para promover esta maturidade e esclarecer para a nossa mente qual a medida e o propósito de cada situação vivencial e como devemos desfrutar da Criação e das suas resultantes.
Toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso. Duas coisas te peço; não mas negues, antes que eu morra: afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu fato, te negue e diga: Quem é o Senhor? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus (Pv 30.5-9).

A Palavra Impõe Limites ao Desfrute do Labor Humano
Temos todo o direito de gozar o bem daquilo que realizamos e devemos fazê-lo de uma maneira equilibrada e conduzida pelas orientações da Palavra de Deus. Entre os mais ricos materiais bíblicos sobre este tema, podemos considerar o Eclesiastes de Salomão como uma joia da coroa.
Alegra-te, jovem, na tua juventude, e recreie-se o teu coração, nos dias da tua mocidade; anda pelos caminhos que satisfazem ao teu coração, e agradam aos teus olhos; sabe, porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá contas (Ec 11.9).
Em geral, o desfrute do produto do nosso labor é uma das áreas que mais nos desviam de Deus. Após a Queda, o homem passou a ter uma relação muito desequilibrada com a riqueza que o seu trabalho produz. Tanto para o lado do muito ganho, como do pouco ganho, somos inclinados a nos desviar de Deus e tentar desfrutar das realidades materiais da vida de forma egocentrada e egorreferenciada.
As Escrituras são pródigas em nos conduzir ao equilíbrio nesta área. Por exemplo, ela indica o uso dos bens como uma ferramenta para amar ao próximo (Ef 4.28); proíbe o coração humano a transformação da riqueza como um objetivo final da vida (Mt 6.19-21); estabelece uma relação de dependência de Deus na produção dos bens para nossa vivencia (Mt 6.11) etc.
Precisamos aprender a desfrutar das realidades materiais da vida e do produto do nosso labor de forma bíblica, o que nos conduzirá a um padrão de vida adequado com quem ama a Deus e deseja praticar também o amor ao próximo como a forma mais direta do primeiro amor.

A Palavra de Deus Impõe Regras para o Desfrute do Labor Humano
O modo como ganhamos e produzimos os recursos necessários à vida também é um dos pontos mais preocupantes para quem deseja viver e agradar a Deus. O mandamento “não furtarás” está no centro deste ordenamento de Deus para o modo como vamos conquistar o que precisamos para viver.
Entre as coisas mais básicas está o padrão bíblico da Providência, isto é, o fato de que devemos nos conscientizar de que qualquer ganho que tenhamos é resultado último da vontade e providência divina.
Riquezas e glórias vêm de Ti, Tu dominas sobre tudo, na tua mão há força e poder; contigo está o engrandecer e a tudo dar força (1Cr 29.12).
Não podemos ganhar nossa vida de forma ilícita, nem defraudar o nosso próximo para que a nossa riqueza se faça a partir do empobrecimento do outro. As Escrituras tratam atos de injustiça na área do ganho como um dos mais terríveis compromissos com as trevas (Am 5.4-15).
Há muitas ordenanças bíblicas que regulam o modo como ganhamos a vida e cada uma delas deve nos dar sabedoria, maturidade e saúde para que vivamos de maneira boa e agradável. De forma que podemos estabelecer uma relação boa com o que temos e aprender a viver com o que Deus nos dá, por meio de nosso trabalho honesto e bem realizado.
Seja a vossa vida sem avareza. contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei (Hb 13.5). 
  
A Palavra de Deus Propõe Objetivos do Desfrute do Labor Humano
Todo o labor humano tem um objetivo, produzir as condições necessárias para que possamos viver e servir a Deus e ao próximo.
O trabalho do homem não é um fim em si mesmo, mas uma ferramenta para que Deus traga a este mundo a paz e harmonia por meio de nós, que somos os “jardineiros” de Deus.
Por meio do ganho do nosso trabalho Deus cuida de nós (Hb 13.5-6).
Por meio do ganho do nosso trabalho Deus nos usa para ajudar o outro (1 Jo 3.16).
Por meio do ganho do nosso trabalho Deus sustenta a pregação da Palavra (M 3.10).
O objetivo de todo o labor humano é regulado pela Escritura e tem como destino que cumpramos com o nosso papel neste mundo. Não trabalhamos para nós mesmos, mas para que Deus use o nosso recurso para realizar a sua vontade neste mundo.

Conclusão
Precisamos ler as Escrituras com o propósito de achar nelas a sabedoria prática da vida. Esta sabedoria se constrói com elementos de conhecimento que nos fazem mais sábios e com elementos de inibição do ato pecaminoso, que nos tornem mais santificados.

Aprender a trazer a Escritura para as decisões do dia a dia e para aguçar a nossa percepção da realidade espiritual da vida é um dos verdadeiros propósitos da própria doação das Escrituras para nós. 

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