domingo, 17 de março de 2013

Estudos em Soteriorologia - Aula 2 - A Corrupção da Natureza Humana


Introdução
Em nosso último encontro vimos introdutoriamente a questão do pecado original. Nosso objetivo foi o de responder à questão: “como nos tornamos pecadores?”
Em síntese, observamos que o pecado passou a todos os homens a partir do pecado de Adão por meio da imputação divina. A imputação é um ato soberano de Deus que julgou toda a humanidade no seu representante Adão.
O pecado de Adão como um ato histórico-representativo levou à queda todos os homens e isto foi levado ao tribunal divino, onde todos fomos condenados à morte. Isto implicou na marca do pecado e do afastamento de toda humanidade na sua relação direta e perfeita com Deus.
Hoje, nosso estudo terá como ponto de partida os efeitos do pecado original sobre a nossa natureza humana. Veremos que o pecado original não um elemento condenatório neutro, mas influiu grandemente em uma mudança estrutural na mente humana que se tornou corrompida.
Desta forma, surgiram todos os pecados pessoais de cada ser humano. Por isto, é possível dizer o seguinte: Adão tornou-se pecador porque pecou, nós entretanto, pecamos porque somos pecadores. 

O Novo Estado Corrompido do Homem
Adão, tendo sido criado santo, justo e reto, foi o único ser humano à experimentar a transição de uma natureza totalmente compatível com a estrutura perfeita da Criação de Deus para um estado desestruturado e uma natureza corrompida.
Deus criou Adão perfeito. Não havia nenhuma nele nenhuma inclinação para o mal, nem uma fraqueza criacional. Sua cobiça, gerada pela tentação de Satanás, forçou nosso primeiro pai a livre-arbitrariamente escolher o caminho errado.
No momento em que o livre-arbítrio de Adão o levou à desobediência, o desprezo de Deus e a busca de um novo deus para si mesmo, Adão adentrou um estado de corrupção da sua natureza santa. Este é o estado de morte espiritual a que o homem foi condenado pelo tribunal de Deus que julgou o pecado original segundo a sentença que havia sido proferida por Deus, mesmo antes de Adão pecar:
E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás (Gênesis 2.16 e 17).
A morte espiritual de Adão consistiu em uma separação na sua relação com Deus. Em outras palavras, a existência humana, que naturalmente encontrava seu significado em Deus, perdeu esta referência natural com a realidade e passou a buscar significado sem Deus.
Adão, em seu novo estado existência, sua nova natureza, agora corrompida, sofre os efeitos desta corrupção, desta morte que agora atua em todo o seu ser e que permeou-lhe totalmente a ponto de levá-lo ao estado de ter o coração inclinado para o mal existencial, que se pode definir pela rebelião em relação à Deus.

Os Resultados Diretos da Corrupção da Natureza Humana
Nossos símbolos de Fé (Confissão de Fé de Westminster, Breve Catecismo e Catecismo Maior) afirmam que uma condição de corrupção foi imposta a todo o gênero humano, por causa do pecado original. Eles chamam isso de “corrupção da natureza humana”.
O primeiro resultado prático desta corrupção da natureza humana é a “perda da justiça original”. O segundo ponto a ser considerado é a “perda da santidade original” e, por fim, veremos “a perda do conhecimento verdadeiro”.
A perda da justiça original
A justiça original, com a qual fomos criados, era uma capacidade inata de fazer o que é bom, servir a Deus e somente contentar-se em agradá-lo em todas as coisas, além de refletir o próprio caráter moral de Deus.
O homem perdeu a sua capacidade de adequar-se às exigências morais da Lei de Deus. Antes da queda, o homem estava perfeitamente habilitado e inclinado a reagir sempre positivamente à Lei de Deus. Mas, após a queda, essa inclinação para a justiça deixou de permear o homem.
Eis o que tão somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias (Eclesiastes 7.29).
A perda da santidade original
Ao criar o homem, Deus o fez santo, ou seja, não havia impureza alguma na constituição humana, por isso, o homem retratava tão perfeitamente o seu próprio Criador. Não se tratava de uma santidade adquirida por causa da comunhão com Deus, mas de algo que lhe foi acrescentado desde o início à sua própria natureza moral. O homem era totalmente bom!
Ao pecar, o homem decaiu deste estado de santidade imaculada e sua natureza santa passou a ser natureza pecaminosa. As inclinações santas da sua mente, passaram a maquinar o mal. O primeiro exemplo dessa ação foi o momento imediato em que Adão culpa Eva pelo pecado, como forma de livrar-se da responsabilidade do pecado.
Perda do Conhecimento Verdadeiro
Entre as grandes bênçãos dadas ao homem, quando de sua criação, foi a capacidade de raciocinar e conhecer. Este privilégio é significativo, porque Deus dera ao homem a capacidade de conhecê-lo verdadeiramente.
Este atributo cognitivo daria ao homem a capacidade de satisfazer-se completamente em Deus, encontrando nEle o significado existencial. Esta capacidade permitiria ao homem desenvolver um modelo de comunhão progressiva com Deus, afinal conheceria sempre mais daquele que o criou e tal conhecimento preencheria toda a sua necessidade de conforto e paz interior.
A grande felicidade do homem consistiria em uma gradativa experiência de conhecimento de Deus. A santidade original e mesmo a retidão original são condições que permitiriam o viver humano sem percalços. Mas a capacidade de ter um Conhecimento Verdadeiro era, entre as bênçãos dadas aos seres humanos, a que mais lhe promoveria a felicidade existencial e lhe garantiria o único crescimento possível.
Ao pecar, a mente humana foi embotada pelo pecado e perdeu a capacidade de conhecer a Deus. Curiosamente, comer o fruto da “Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal” levou o homem a não mais ter um conhecimento verdadeiro de Deus. Aquele que era um conhecimento intuitivo e uma capacitação de progredir nestes conhecimento, deixou de existir no ser humano, de tal forma, que os seres humanos, descendente de Adão, agora nascem cegos do entendimento de Deus, nulos em seus próprios entendimentos.
Portanto, olhando por este ponto de vista, nos tornamos pecadores porque perdemos a justiça original, perdendo a capacidade de viver para agradar a Deus, a santidade moral de Deus em nós e a capacitação de conhecê-lo verdadeiramente.

Estado e Condição - A Transmissão da Natureza Pecaminosa
Além de termos sido roubados da justiça original, também fomos confinados à uma inclinação complemente perversa à Criação, ou seja, com o vértice completamente distante de Deus, para o qual fomos criados.
Na verdade, foi instilada na mente humana um novo sistema de regras, diferentes daquele que originalmente nos foi dado pelo Criador e fomos levados a pensar de forma diferente sobre o que é a nossa existência e seu propósito. Passamos a pensar de maneira divergente do Criador e, por isso mesmo, a agir de maneira a nos afastar dEle.
A pergunta que faço inicialmente é a seguinte: como essa perversão da natureza chega ao ser humano?  Essa não é uma pergunta fácil de responder, mas vamos começar entendendo todas as repercussões legais do pecado de Adão.
Abordaremos a questão diferenciando “estado pecaminoso” de “condição pecaminosa”. O estado pecaminoso é nossa posição legal de condenação, o que acarretou na pena de morte espiritual. Por outro lado, a condição pecaminosa é o que determina o modo como vivemos dentro do estado de morte. Portanto, nosso estado é o de morte e a nossa condição é viver segundo as inclinações que este estado produz.
Adão foi condenado e nós também
A condenação de Adão foi a morte. Como já vimos anteriormente, por uma questão legal, o pecado foi imputado a nós e portanto, a condenação é uma consequência sobre todos aqueles que receberam a culpa do pecado adâmico (culpa original). Então, a culpa, isto é, a responsabilidade pelo delito, é de Adão e imputada a nós, de sorte que sofremos as consequencias, ou seja, a morte:
Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram (Romanos 5.12).
Esta culpa é permanente no pecador, pois ele é realmente culpado pelo delito cometido no Éden. Ela nos transforma em réus diante do tribunal de Deus. Mas, por outro lado, ela é a responsável pela pena que nos é imposta e a penalidade é a morte.
A Morte é a Corrupção do Gênero Humano
Deus impôs a morte como penalidade por causa da nossa culpa (responsabilidade no delito). Mas o que é a morte, que passou a todos os homens?
A morte que passou a todos os homens não é suficientemente descrita nos ditos evangélicos mais populares: morte-física, morte-espiritual e morte-eterna. Estes são apenas estágios de uma mesma coisa, a morte.
A morte é o processo de corrupção a que fomos levados por causa do pecado. Nossa carne se corrompe, nosso relacionamento com Deus se corrompe e nós nos corrompemos continuamente, pela eternidade. A corrupção é um outro nome que podemos dar à morte.
A Corrupção da Natureza Humana é Um Aspecto da Penalidade da Culpa Pelo Pecado
Todos os seres humanos são submetidos por Deus à corrupção, ou seja, a transmissão da natureza pecaminosa, ou da corrupção da natureza humana é uma consequência legal, da qual nenhum de nós é capaz de escapar, pois todos fomos sujeitos a isto. Portanto, a nossa condição pecaminosa não é somente uma doença que recebemos por contágio, mas uma condição a que fomos postos, por causa da própria santidade de Deus.
Dizemos assim: a morte é uma coisa pela qual todos temos de passar e ninguém escapa, como uma lei da natureza: Ao homem está ordenado morrer uma única vez e depois disto o fim (). De fato esta é uma lei, que devemos nos lembrar não diz respeito somente à corrupção da saúde humana que se degrada com o passar do tempo (falando sobre morte natural), mas de toda a natureza do homem, inclusive os seus aspectos psicológicos, morais, sociais etc.
Por este pecado eles decaíram de sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as faculdades e partes do corpo e da alma (Confissão de Fé de Westminster VI-II). 
O dano do pecado é total e não pode ser removido neste sentido, pois a culpa de réu sempre estará conosco, afinal, de fato, somos culpados do pecado de Adão, por imputação da Lei de Deus. A esta condição estamos atrelados e não podemos mudá-la:
Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal (Jeremias 13.23)?
A Ação da Natureza Pecaminosa
A Natureza Pecaminosa não se trata de uma maldade presente e imposta apenas por causa da culpa original e que fique apenas latente em nós, apenas como um estado que permanece inalterado.
Ao contrário, a natureza humana pecaminosa, por causa do estado de corrupção em que estamos, reproduz a maldade, aumentando nossa culpa, ou seja, além da própria culpa original, temos culpa própria, não imputada a partir de Adão, mas a qual nós mesmos assumimos voluntariamente.
Portanto, os nossos pecados pessoais, ou atuais, são decorrentes da morte que está presente em nós, pois ela não somente nos degenerou em Adão, mas nos degenera em nossa própria existência.
Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram (Romanos 5.12).
Neste texto, haveremos de encontrar um elemento bastante esclarecedor sobre este aspecto. Façamos um exercício de análise deste trecho:
Como a morte entrou no mundo? A morte entrou no mundo por meio de um só homem, Adão, pois este, ao pecar sofreu a penalidade da morte.
Mas como a morte passou a todos os homens? Essa é uma excelente pergunta se considerarmos essa tradução que estamos lendo. Ou seja, a partir do modo como o texto está traduzido, deveríamos responder assim: a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. Mas essa não é a verdade sobre a corrupção do gênero humano!
Quero propor uma outra tradução ao final deste verso, que pode nos ajudar. Na verdade, sigo aqui o pensamento do Professor de Teologia Rev. Dr. Heber Carlos de Campos, e alguns outros estudiosos do Novo Testamento, como Dr. Willian Hendriksen.
A parte final do verso em grego é:
eph ho panthês hermaton. Quero sugerir a seguinte possível tradução: “Por isso” todos pecaram.
Seguindo este pensamento, o que temos então é que a morte entrou no mundo e porque a morte entrou no mundo é que todos pecaram. Hendriksen, prefere ainda explicar que Paulo está usando a constatação de que todos pecaram para mostrar, de forma prática, que a morte está presente. Como se Paulo estivesse dizendo o seguinte:
(...)a morte passou a todos os homens, já que todos pecaram. O que corresponderia a dizer o seguinte: a prova de que a morte passou a todos é que todos pecaram.
De fato, a presença da morte, ou seja, da corrupção arrastou todos os homens ao pecado e disto decorre que todos somos pecadores, não somente pela imputação da culpa do pecado original, mas também por nossa culpa própria.
O Coração Humano é a Sede Dessa Corrupção
Alma e corpo estão corrompidos e continuam a se corromper por um único motivo, a fonte donde derivam sua vida está corrompida, isto é, o coração. Aquele ponto que faria o homem progredir em santidade e retidão, isto é, a sua capacidade de pensar e conhecer a Deus, agora trabalha para que o homem cresça no pecado e na corrupção.
Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida (Provérbios 4.23).
Portanto, a inclinação da natureza humana pende para a corrupção pelo simples fato de que, o coração humano que o órgão do controle central das ações e emoções está condicionado à fugir de Deus, isto é, pecar.
Voltanto ao ponto anterior, devemos lembrar que esta situação de ter o coração inclinado ao pecado não é somente uma incapacidade produzida pelo pecado, mas é fruto de uma penalidade imposta à raça humana, esta é a morte espiritual.
Os conselhos do Senhor não são atendidos pelos homens, às vezes, até mesmo por aqueles que conhecem os desígnios do Senhor e o motivo disto é que o coração não consegue se inclinar para Deus. Algumas vezes os profetas denunciaram Israel, definindo isto como, dureza de coração.
Assim falara o Senhor do Exércitos: executai juízo verdadeiro, mostrai bondade e misericórdia, cada um a seu irmão, não oprimais a viúva, sem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente cada um, em seu coração, o mal contra o seu próximo. Eles, porém, não quiseram atender e, rebeldes, me deram as costas e ensurdeceram os ouvidos, para que não ouvissem. Sim, fizeram o seu coração duro como diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras que o Senhor dos Exércitos enviara pelo seu Espírito, mediante os profetas que nos precederam; daí veio a grande ira do Senhor dos Exércitos (Zacarias 7.9 a 12).
Portanto, devemos compreender que o pecado atual não é o que causa a nossa separação de Deus,mas a nossa separação de Deus é que causa o nosso pecado atual. Isso acontece porque o nosso coração está sob a maldição da Lei, cujo teor é: não encontrarás, não pensarás, não amarás a Deus de todo o teu coração.
O coração do homem está sob esta condenação a de não se encontrar com Deus, o que lhe daria total descanso. Por isso, o homem está fatigado na face da terra e o viver é pesado, mesmo para os mais abençoados com riquezas e outras fortunas.

4 comentários:

  1. Rev. Mauricio, você é bênção em nossas vidas. Agradeço a Deus todos os dias por tê-lo colocado à frente da IPBVF. Você nos incentiva a estudar e a nos prepararmos para dias vindouros. Seu amor à Palavra nos contagia. Deus o abençoe!

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  2. Agradecemos a Deus pela oportunidade de aprender mais sobre a Palavra e ficamos muito gratos por esta oportunidade estar sendo ministrada por uma pessoa tão abençoada e querida como o Sr. Rev. Mauricio!

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    Respostas
    1. Paulo e Thais... muito me alegro em vê-los em nossa sala. Vocês são atenciosos e demonstram um grande interesse pelas coisas do Senhor.
      É uma alegria imensa poder servir à obra ao dos irmãos da Classe Estrela da Manhã!!!
      Conte conosco e pode usar este canal para dúvidas, sugestões e seus comentários em geral.
      Fiquem com Deus!!

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