sábado, 4 de abril de 2015

Pneumatologia: Os Dons do Espírito - natureza e propósito

Os Dons do Espírito e a Igreja

Ainda dentro do tema da relação do Espírito Santo com a Igreja, veremos neste tópico, a  ação mais direta do Espirito Santo como o organizador da Igreja no sentido de ser o distribuidor das instrumentos que fazem a igreja funcionar para a glória de Deus.
Na aula de hoje veremos sobre a natureza e propósito dos dons espirituais e como devemos exercê-los de maneira que alcancemos o mais elevado potencial de crescimento para a nossa vida cristã.

Quanto à origem dos Dons Espirituais
Em 1 Coríntios 12, Paulo trabalha com a natureza e definição  destes dons, começando com uma expressão “pneumatikon” (coisas de origem espiritual). A raiz desta expressão é “pneuma” (espírito), mas declinada numa forma nominal chamada “genitivo” que indica  origem.  Era como se Paulo estivesse dizendo: “coisas de origem espiritual”, ou simplesmente “coisas espirituais”, ou ainda “aquilo que é dado pelo Espírito”. Evidentemente, a nossa tradução lapidou esta expressão para a tradução “dons espirituais”.
A respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes (1Coríntios 12.1).
No fundo, toda a carta aos Coríntios foi motivada por um problema de divisão que se acentuava na igreja de Conrito, em função, também de uma compreensão errônea da natureza dos dons e de sua finalidade na igreja.
Bem no início da carta ele aponta à igreja de Corinto o quanto eles foram abençoados com a manifestação das ferramentas de Deus para o funcionamento da igreja, os seja, os dons (karisma).
Sempre dou graças a meu Deus a vosso respeito, a propósito de sua graça, que vos foi dada em Cristo Jesus; porque, em tudo, fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo conhecimento; assim como o testemunho de Cristo tem sido confirmado em vós, de maneira que não vos falte nenhum dom, aguardando vós a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo (1 Coríntios 1.4-7).
Entretanto, a manifestação destes dons não estava produzindo a santidade e o surgimento de uma igreja melhor e mais preparada para o dia da visitação. Este fato se dá, porque em muitas coisas eles confundiram os dons como sendo possessões pessoais e distorceram a finalidade do dom, pensando servirem como ferramentas para a construção do próprio ego. Entenderam os dons como ferramentas pessoais e não coletivas, com finalidades de promoção pessoal e não do crescimento mútuo.
Dentro da tratativa destes problemas é que Paulo trabalha no capítulo 12 com o tema. Onde veremos que ele começa dizendo que até mesmo o fato de considerarmos Deus como nosso Pai é um resultado da obra do Espírito e não uma vantagem ou glória pessoal.
Por isso, vos faço compreender que, ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo (1Contíntios 12.3).
A centralidade da obra do Espírito Santo como organizador e condutor da Igreja é o centro do argumento do apóstolo Paulo. Quanto Á questão dos dons, este é o ponto principal de Paulo, ou seja, que a igreja compreende que tudo o que está relacionado aos dons na igreja é centrado na obra e propósito do Espírito Santo.

Quanto à Diversidade da obra do Espírito
 A obra do Espírito é realizada dentro de um contexto de diversidade de mecanismos e ferramentas. Em outras palavras, os dons, os serviços e realizações dentro da obra do Senhor, não apontam para gradação de privilégios, mas de estruturas diferentes cuidadosamente estabelecidas para o funcionamento do todo.
Como em uma construção, temos diversos elementos, dos mais caros aos mais baratos, dos mais conhecidos e visíveis àqueles quase invisíveis em uma obra etc. Uma viga de concreto e um pilar podem ser muito visíveis em uma obra e servirem à uma finalidade reconhecidamente importante no contexto de uma construção.
Mas, tão importante quanto um pilar central de uma construção é a estaca dos blocos de fundação, submersas na terra, algumas vezes, nem lembradas quando  o prédio está pronto. Contudo, se estas estacas não forem executadas com métodos construtivos adequados, de acordo com cálculos corretos, toda a estrutura de um prédio pode ruir e são elas, que transferem todo a carga capitada por lajes, vigas e pilares para o solo.
Outro exemplo que pode nos servir são as peças de um motor. Muitas vezes, o que está emperrando o funcionamento adequado de uma máquina não são os grandes componentes de um motor, mas um pequeno parafuso, ou a falta de uma arruela de pressão em algum ponto.
Enfim, a diversidade dos dons tratada por Paulo era uma das lições que ele desejou que os crentes de Corinto aprendessem para que pudessem compreender melhor os seus próprios dons. Afinal, alguns, podemos dizer, podem ter dons parecidos com pilares e vigas e outros terem dons como estacas submersas. Não se trata de ser melhor ou pior, mas de cumprir funções diferentes.
Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos (1Coríntios 12.4-6).   
Note no texto que o ponto de Paulo é apontar para a diversidade dos dons, dos serviços e das realizações, de forma a sempre enfatizar que isto não é resultado de potenciais humanos, mas da obra do Deus Trino.

Quanto ao propósito da obra do Espírito
Este é um dos aspectos da obra do Espírito que Paulo trata nesta primeira parte do capítulo 12. Ele começa afirmando que a concessão da manifestação do Espírito tem um “fim proveitoso”.
A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando um fim proveitoso (1Coríntios 12.7).
A palavra que Paulo usou é “sinpheros” (proveitosa), que é união de duas palavras, o sufixo “sin” que tem a ideia de comum ou conjunto e “pheros” que trás a ideia de apoio, ajuda etc. Bem, para melhor entendimento do fim proveitoso a que Paulo está se referindo é o bem comum, a ideia de que a manifestação do Espírito visa o proveito de toda a coletividade, no caso a Igreja.
Esse bem coletivo é o propósito do Espírito Santo, mas além dele desejar o bem coletivo é ele também quem o define, afinal, ele distribui suas ferramentas conforme lhe apraz.
Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente (1Coríntios 12.11).
Note que o bem coletivo é produzido a partir do individual. Trata-se de ferramentas que são dadas para cada um, segundo a vontade do Espírito, com a finalidade de abençoar o coletivo.
Por isso, os dons precisam ser sempre considerados como ferramentas do Espírito, dadas a nós para que sirvamos à coletividade. Portanto, aqueles que pensam os dons em termos personalistas e completamente individualistas estão usando mal a ferramenta de Deus que lhe foi confiada e da mesma forma os que se omitem.
Trabalhando, portanto, o principal  problema a ser considerado  na igreja de Corinto, Paulo irá ilustrar as capacitações dadas pelo Espírito com a figura do “corpo humano”.
Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também nós com respeito a Cristo (1Coríntios 12.12).
O texto  irá transcorrer com a insistência de Paulo para que eles compreendessem que não importa qual o dom que possuíam, cada um tinha uma função e todos eram importantes, afinal, o pé e o olho são partes importantes do corpo e a falta de um prejudica o outro.
Não podem os olhos dizer à mão: não precisamos de ti; nem ainda a cabeça aos pés: não preciso de vós. Pelo, contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários (1Coríntios 12.21-22).
Essa unidade conceitual estava baseada em duas premissas: todos precisamos do Espírito e precisamos uns dos outros. Assim, a obra de redenção, promovida pelo Espírito Santo, é realizada pela instrumentalidade dos crentes através dos seus dons, quando estes servem uns aos outros.
Devemos trabalhar visando o crescimento dos outros por uma razão simples: por amor a Deus e ao próximo. Quando eu começo pensar no outro e no fato de que Deus se agrada de que ele cresça e alcance maturidade espiritual, eu  atuo por amor a Deus para que Deus se alegre. Mas, também quando faço isto, ajo por amor ao próximo, para que o outro esteja agradando a Deus o que é bom para o homem. Isto é básico, porque viver assim é viver de forma biblicamente orientada, ou seja, cumprindo a Lei de Cristo. 
Dar-vos-ei coração novo e porei dentro  de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o  meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis (Ezequiel 36.27-28).
O Espírito Santo nos é outorgado para mover nossa mente no sentido de um modelo de vida de amor e serviço. O resultado de uma igreja cujos membros usam os seus dons para alegrar a Deus e beneficiar o seu  próximo é que  ela amadurece e ser fortalece, preparando-se para a vinda de Cristo.
Essa mesma perspectiva encontramos no texto de Efésios, onde Paulo informa que o propósito das diversas atividades do corpo é o seu aperfeiçoamento:
E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro (Efésios 4.11-14).
Aperfeiçoamento dos santos - Entre os elementos que podemos observar neste texto, destacamos inicialmente que a divisão de tarefas dentro do corpo tem como finalidade a busca do amadurecimento dos que fazem parte do corpo, com um alvo bastante elevado: “perfeita varonilidade”.

Essa perfeita varonilidade é alcançada dentro de um contexto de “unidade da fé e conhecimento do filho de Deus”. Em outras palavras, os dons são ferramentas espirituais que Deus usa para lapidar sua igreja, entalhando no caráter, mente e alma do seus filhos todos os elementos necessários para que sejam semelhantes ao perfeito unigênito de Deus.
Por isso, não  é incomum que vejamos que os crentes que mais amadurecem e ser fortalecem na fé, mais perseveram e colaboram para o reino são  os que de alguma maneira estão à serviço, usando seus dons e abençoando vidas, sem procurar a autoglorificação.

Conclusão
É muito importante que fique claro que o organizador da Igreja é o espírito, sendo sua atividade central para a vida e desenvolvimento da igreja. Portanto, nada do que temos como igreja deve ser considerado como uma conquista pessoal, meramente por poder humano. Ao contrário, tudo o que a igreja tem e é, quando o tem e é para a glória de Deus é “dom do Espírito” (pneumatikon).
Outro aspecto importante é que o Espírito faz como lhe apraz e concede os dons de forma a atender um bem coletivo, segundo  o seu plano para a Igreja. Isto implica em uma visão sempre positiva de qualquer dom e pessoa que esteja atuando no Corpo de Cristo.
O terceiro aspecto que desejamos enfatizar é que este trabalho de coletividade, exige que aprendamos a realizar as nossas tarefas e usar os nossos dons segundo a premissa do amor a Deus e ao próximo.
Essa visão dupla nos levará a pensar que agradar a Deus com o crescimento do próximo é o modo mais correto de minha vida cristã passar a ter maior sentido. Afinal, quando vivo apenas para mim mesmo, pensando que preciso de ferramentas para meu crescimento espiritual, quase sempre cresço menos que o esperado. Por outro lado, quando mantenho uma vida de serviço ao próximo, pensando na glória de Deus por meio do crescimento do outro, tendo a fortalecer-me na fé, muitas vezes de forma totalmente inesperada, outras até imperceptível. Pois o nosso crescimento vem de Deus e não de nossos esforços e méritos autocentrados.


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