domingo, 1 de outubro de 2017

Confessionalidade - Aula 1 - O Que é e Para Que Serve Uma Confissão de Fé?

Aula 01
O Que é e Para Que Serve Uma Confissão de Fé?


Introdução
Este módulo de aulas tem como objetivo um estudo básico da Confissão de Fé de Westminster. Nosso principal objetivo é entender a sua necessidade e aplicabilidade para o dia a dia da vida cristã, em particular para o desenvolvimento correto e seguro de uma piedosa vida cristã.
A Igreja Presbiteriana do Brasil - IPB adota a Confissão de Fé de Westminster e os seus Catecismos como fórmula doutrinária. Isto significa que estes documentos são resumos e parâmetros da fé professada na IPB. Mas, em geral, há um grande distanciamento entre o crente e estes símbolos de fé, a ponto de muitas vezes, serem completamente desconhecidos e terem desaparecido da vida diária cristã, mesmo dos crentes que os reafirmam como resumos fiéis da doutrina bíblica.
Em nosso curso, pretendemos apresentar a Confissão de Fé de Westminster e dar direcionamento prático para o seu uso como ferramenta para o desenvolvimento da vida cristã pessoal e familiar. Esperamos que ao final do curso, o aluno tenha condições de usar a Confissão de Fé de Westminster pessoalmente como guia de estudos para sua prática comum da vida com Deus e tenha apreço por conhece-la e aplicar suas formulas doutrinárias para o enriquecimento de seu conhecimento bíblico.  

A Confissão de Fé Não Substitui as Escrituras 
A Bíblia, toda a Bíblia e nada senão a Bíblia é a religião dos protestantes.
O lema central da Reforma é centralidade das Escrituras como a única regra de fé e prática. Em outras palavras, os reformados em geral jamais desejaram fazer de qualquer Confissão de Fé um substituto para as Escrituras.
A Bíblia é a Palavra de Deus revelada ao homem, portanto, cremos que as Escrituras são insubstituíveis e possuem autoridade intrínseca, isto é, em si mesmas. A Bíblia não precisa da igreja para lhe conferir autoridade, ao contrário, a Igreja precisa da Biblia para ter legitimidade. A crença cristã reformada é que a Bíblia é absoluta em suas afirmações e o trabalho da Igreja é buscar compreender as Escrituras.
As Confissões de Fé, por sua sua vez, são uma exposição das doutrinas apresentadas nas Escrituras. Portanto, a autoridade de uma Confissão de Fé é derivada das Escrituras. Enquanto a Bíblia é uma “norma que regula” (Norma Normans), as confissões são “normas reguladas” (Norma Normata). Desta forma, as Confissões devem ser consideradas de forma a poderem ser revistas, por serem apenas uma interpretação da verdadeira doutrina bíblica.

A Necessidade de se Ter Uma Confissão de Fé
A Bíblia é a mãe de todas as heresias (Martinho Lutero).
Inibição de Erros Doutrinários
Assim como Lutero se levantou em 1517 contra várias práticas cristãs que distorciam o ensinam bíblico e maculavam a forma da piedade cristã, os séculos seguintes de interpretação bíblica das igrejas que derivaram da Reforma também geraram suas heresias e desvios próprios.
As Confissões de Fé seguiram o mesmo propósito dos Credos Antigos e das formulações dos Antigos Concílios, ou seja, elas ofereciam fórmulas de unidade de pensamento a respeito da correta interpretação das Escrituras sobre diversos pontos.
Nos primeiros séculos do cristianismo, várias heresias se fizeram presentes na igreja. Havia, por exemplo, pessoas que aceitavam que Jesus fosse considerado apenas divino, sem ter corpo humano. Os docetistas (dokéu – aparência) diziam que o corpo de Cristo não era realmente um corpo humano, porque a matéria é má e Cristo não poderia ser associado à maldade. Eles, então, afirmavam que Cristo tinha um corpo semelhante ao corpo humano, mas não um corpo humano real.
Os concílios de Nicéia e Constantinopla deram fim a essa controvérsia e outra afirmando que Cristo era totalmente homem e totalmente Deus. Afirmando o nascimento virginal de Cristo e sua completa humanidade. Desta forma, a crença docética foi considerada um erro doutrinária e quem a professava considerado um não cristão.
As Confissões de Fé têm a mesma funcionalidade, isto é, servir como um padrão doutrinário, oferecendo interpretação segura sobre alguns aspectos do ensinamento bíblico, especialmente aqueles em que há possibilidade de erros na compreensão do ensino apresentado no texto da Escritura.

Promoção da Unidade  
Uma das funcionalidades mais práticas das Confissões de Fé é a promoção da unidade doutrinária. Ela nos permite afirmar as mesmas coisas e dá coesão à igreja e isso lhe dá força.
Um dos grandes problemas enfrentados pelos reformados ingleses era a grande fragmentação das igrejas da Inglaterra. A Assembleia de Westminster foi convocada para ser um elemento de união e fortalecimento da Igreja naquele país.
Uma confissão de fé promove essa aproximação doutrinária e diminui as divergências. Ela estabelece padrões de interpretação e limites, fazendo com que as divergência tenham referências limítrofes e não haja dentro do mesmo grupo pensamentos tão díspares a ponto de estarem tão opostos que não consigam se aproximar para caminhar juntos.

Proteção da Fé
A confessionalidade eclesiástica é uma proteção contra o erro. Na medida em que ela estabelece limites interpretativos para os crentes, também oferece ponto de comparação explícito que facilita a identificação dos erros. Um cristão confessional tem uma ferramenta para estabelecer consideração sobre o que está ouvindo e pode, por meio da Confissão de Fé, questionar a correção de qualquer ensino que seja dispare e estranho.
Na verdade, este é o propósito da própria Escritura. Afinal, o texto bíblico é um constante apelo a que não se ultrapasse a doutrina.
Irmãos, apliquei essas coisas a mim e a Apolo por amor a vocês, para que aprendam de nós o que significa: “não ultrapassem o que está escrito”. Assim, ninguém se orgulhe a favor de um homem em detrimento de outro (1Coríntios 4.6). 
Desta forma, os cristãos criam no que chamavam de “ensino dos apóstolos” e qualquer um que ensinasse qualquer coisa além deveria ser considerado apóstata.
Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema (Gálatas 1.8-9). 
As Confissões de Fé estabelecem esse mesmo padrão de confessionalidade, oferecendo interpretação segura sobre alguns pontos da Revelação, a ponto de servirem como padrões limítrofes para se identificar e prevenir os erros.

Os Limites de Uma Confissão de Fé
Os Concílios são falhos (John M. Kyle).
As Confissões de Fé são o produto do estudo humano da Escritura e por isso são passíveis de erros e podem e devem ser reformados. Sendo a Confissão uma “norma regulada”, devemos compreender que os seus limites são o surgimento de uma nova interpretação de alguns dos seus pontos de vista.
Somente a Bíblia é considerada infalível e ela mesma que oferece aos homens a liberdade de interpretá-la, mas de sujeitar a interpretação à ação do Espírito Santo por meio da obra sobrenatural de Deus na direção dos concílios.
Um bom exemplo bíblico disto foi a disputa doutrinária sobre a circuncisão dos gentios. Os irmãos se reuniram em Jerusalém para definir o que realmente era correto fazer e o texto bíblico nos diz que o Espírito conduziu a igreja à uma solução de interpretação que trouxe unidade e paz para a vida dos crentes em todo lugar.
Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais: que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas coisas fareis bem se vos guardardes. Saúde (Atos 15.28-29).
A autoridade dos Concílios não está neles propriamente dito, mas na obra de iluminação do Espírito Santo. A doutrina bíblica é que o Espírito conduz à verdade e a verdade é medida na confluência do pensamento de homens que se reúnem sob a direção do Espírito Santo e o consenso é a resposta final do Espírito para a sua igreja.
Evidentemente, os concílios podem errar e erram. Primeiro, erram porque não são infalíveis e possuem limitações e impossibilidades. Contudo, a crença de que Deus opera através da multidão dos conselheiros é bíblica e há de se esperar que Deus o faça por meio de homens piedosos que busquem servi-lo de todo o coração.
Não havendo sábia direção, cai o povo, mas na multidão de conselheiros há segurança (Provérbios 11.14). 
Conclusão
A Confissão de Fé não substitui o uso devocional das Escrituras, mas pode oferecer ferramenta segura para sua aplicação. Sábio conselho é fazer da Confissão de Fé e dos Catecismos uma base interpretativa que lhe dê mais propriedade no entendimento da sua fé.
As Confissões podem ser questionadas e sua interpretação pode ser revista, contudo, é correto também dizer que não devemos negligencias que Deus usa os concílios reunidos para dirigir a sua igreja e que as Confissões como fruto do labor do Espírito Santo através da Igreja devem ser respeitadas e consideradas.

Conhecer bem sua Confissão de Fé e seus Catecismos é um dever de todo crente que subscreve a fé presbiteriana no Brasil e uma sábia escolha, que lhe permite crer com mais critério e segurança.

2 comentários:

  1. Vivemos numa época onde heresias crescem absurdamente. Creio que uma das maiores heresias dos nossos tempos seria a forma como o mundo prega o amor, distorcem uma verdade de que nosso Deus e amor para defenderem a homosexualidade e essa interpretação errada das escrituras tem sido propagada principalmente nas escolas dos nossos filhos . Como e importante conhecermos profundamente a palavra de Deus usando como ferramenta a nossa confissão de fé para que possamos combater essas heresias e ensinarmos para nossos filhos o verdadeiro significado do amor de Deus .

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sem dúvida, Taty! precisamos de uma geração mais ligada nas coisas e que seja capaz de responder com o conteúdo da sua fé, sem negar princípios.

      Excluir

Faça o seu comentário, observação, pergunta... colabore com o crescimento de todos!