Aula 02
As Origens da Confissão de Fé de Westminster
Introdução
O ato de confessar a fé é
ancestral, remontando à própria história da humanidade. A Igreja Cristã o faz
desde o tempo de Jesus e seus apóstolos e, tornou-se especialmente importante
após a morte destes, pois a igreja precisa se identificar diferente de outras
religiões.
Confissões de Fé são
declarações sucintas sobre o que se crê e afirmações contundentes contra a
heresia e o engano de outras percepções de mundo. Quando um crente confessa a
sua fé, ele se posiciona doutrinariamente e diz de que lado deseja ficar nas
questões de fé.
Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu
coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com
o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da
salvação (Romanos 10.9-10).
Por isto é que os antigos se
organizavam em torno de declarações que lhes oferecesse consciência de unidade
uns com os outros e coibissem a apostasia de outros. Além disto, as confissões
serviriam como elemento propagador da fé.
Declarações de fé foram
elaboradas por indivíduos, como no caso da Martin Bullinger que compôs a Segunda
Conifssão Helvética para a igreja Suíça, por associação de teólogos, como
Lutero e Melanchton que foram os principais produtores da Confissão de Augsburg,
Ursino e Oleviano contratados pelo Rei Frederico para produzir um Catecismo
para ensino nas escolas do seu reino, na Alemanha.
Os Antecedentes Escoceses da CFW
Para se conhecer um pouco sobre
o nascedouro da CFW, precisamos retroagir a um século antes e voltar o nosso
olhar para a Escócia, a terra do grande John Knox.
Aluno de Calvino, Knox voltou
para a sua terra natal com a finalidade
de livrar a igreja do erro romanista. Ali já havia uma grande semente da
Reforma, por causa do movimento do ilustre Patrick Hamilton, que já em 1527, havia
começado a propagar as lições dadas por Lutero.
A Revolução Escocesa se
originou como um movimento religioso das classes populares que desejavam
exercitar livremente a sua crença nas Sagradas Escrituras. Knox será o cavaleiro
desta batalha, levando a Escócia à criação da sua Primeira Confissão de Fé em
1560.
Até então, mesmo a igreja da Inglaterra
ainda tinha o seu governo centralizado na figura do Rei e os Escoceses
compreendiam que o governo da Igreja era local, pela instituição de homens de
Deus que serviriam à comunidade, portanto afirmava a autoridade eclesiástica,
não do Rei, mas sim dos presbíteros. Por isso, a igreja da Escócia passou a se
chamar: Presbiteriana.
Este movimento presbiteriano
deu origem à ideia de que a autoridade deveria repousar não sobre o poder de
uma pessoa, mas de um colegiado, por isso, sob a liderança de Knox, a igreja
Presbiteriana da Escócia reuniu sua primeira assembleia geral, como um
parlamento em 1560 e arquitetou sua primeira Confissão de Fé e seu Primeiro Livro
de Disciplina, regulando assim como funcionaria a unidade da igreja da Escócia.
A reação do trono inglês foi se
tornando mais clara com o passar do tempo, pois esta liberdade religiosa
escocesa começou a ser considerada um perigo para a unidade do Reino Unido.
Vários governantes tentaram impugnar a liberdade dos escoceses de manterem sua
igreja livre da ingerência do estado e do governo temporal do Rei.
Essa posição de liberdade
pretendida na Escócia foi se tornando também desejada para a Igreja de todo o
reino, que não somente nos assuntos religiosos, mas até mesmo na administração
da vida do país, desejava uma certa divisão do poder real. Assim, foi se
fortalecendo a posição do Parlamento na Inglaterra, especialmente no período do
Rei Carlos I.
Naqueles dias, a Igreja da
Inglaterra era controlada pelo Rei, que detinha o poder temporal e a autoridade
religiosa também. O Ato de Supremacia era uma lei que dava ao Rei estes poderes
doutrinários sobre a Igreja. A influencia da liberdade escocesa foi cada vez
mais se tornando desejada também em toda a Inglaterra, a pressão política
contra a posição absoluta do Rei forçou a convocação de uma Assembleia de eminentes
teólogos com vistas a estabelecer os padrões doutrinários a serem aplicados na
igreja em todo o reino.
Os Grupos Representados na Assembleia
de Westminster
Convocada em 12 de junho de
1643, a Assembleia de Westminster congregou diversos grupos distintos, representantes
de pensamentos diferentes sobre a Igreja e o seu governo. A lista original
tinha a convocação de 10 dos Lords invleses, vinte membros da Câmara dos Comuns
e cento e vinte teólogos dentre os mais proeminentes de todo o reino, de todos
os matizes e pensamentos, entre eles, presbiterianos, episcopais,
congregacionais, independentes e erastianos.
Muitos declinaram da
convocação, temendo o Rei, porque se tratava de um movimento politico contra o
poder da coroa também, outros fizeram questão de deixar clara a sua posição
contra os abusos do governo central do rei, especialmente os delegados
escoceses que se fortaleciam como uma posição de luta contra o poder do Rei sobre
a igreja.
Os Presbiterianos
A maior parte dos ministros e
líderes leigos da Igreja na Inglaterra tinha uma ideia de liberdade baseada no
governo local e não pelo Rei, portanto, eram presbiterianos. Os pastores
puritanos, nesta época, uma espécie de vanguarda cultural na Inglaterra, eram
também favoráveis a este tipo de governo na igreja.
Os presbiterianos lutavam por
uma igreja que fosse controlada não pela autoridade temporal do Rei, mas por
uma autoridade eclesiástica local e pela força da Escritura e não da decisão
humana. Este era o grupo mais forte representado na Assembleia.
Os Episcopais
Os episcopais entendiam que a
unidade da Igreja seria melhor preservada por meio de um governo central de um
bispo. Eles seguiam o padrão católico romano de governo, embora não aceitassem
mais a autoridade papal sobre a Igreja da Inglaterra. Também não acreditavam no
governo do Rei sobre a igreja, mas que deveriam ter um governo realizado por
homens da igreja, um bispo central, baseado em Londres, a sede do Reino e da
Igreja.
Os Congregacionais
Em numero mais reduzido, estes
homens pensavam em uma igreja controlada a parti do desejo da comunidade dos
membros locais. Achavam que a autoridade eclesiástica repousava sobre a própria
população dos crentes.
Os Erastianos
Estes defendiam que a igreja
deveria ser conduzida pelo poder temporal em termos de sua vida como entidade
pública a serviço do reino e que o poder dos pastores era meramente o de
mestres da religião. Portanto, defendiam o poder do Rei sobre a igreja e a
autoridade limitada dos pastores. A força política dos erastianos era grande,
especialmente porque tinham o apoio do Rei e de outras autoridades seculares de
fora da Assembleia.
Os Independentes
Apenas cinco homens eram
considerados independentes, isto é, tinham uma posição livre destes blocos
anteriormente citados. Eles eram apoiados por forças políticas externas e
militavam primordialmente segundo alguns interesses, especialmente do grande
Oliver Cromwell, o bispo central de Londres.
Não se deve pensar que todos
esses homens tomaram assento o tempo todo às sessões assembleia. Os
episcopais em face
de haver o rei proibido a efetivação da assembleia
não puderam comparecer, senão uns poucos. Os bispos anglicanos nunca reconheceram
as prerrogativas da assembleia. Na reunião de abertura havia presentes 69
deputados e a média de freqüência era entre 60 e 80,
segundo as informações do Rev. Guilherme Kerr.
Os interesses externos de outros
grupos também influenciavam na participação mais ou menos acirrada de alguns em
umas ou outras sessões. Isto tudo era a dinâmica de como os diversos grupos se
comportaram durante a construção desta assembleia.
O Funcionamento da Assembleia
Em 01 de julho de 1643 foi
pregado o sermão de abertura pelo presidente da Assembleia, o Dr. Twisse, um eminente
teólogo de Oxford, que depois da sua morte, foi sucedido pelo Dr. Herle. Ele estabeleceu a
pauta das discussões que haveria de tratar inicialmente de uma revisão dos
artigos até então usados na igreja anglicana, os 39 artigos da declaração de fé
da Igreja da Inglaterra.
Como a maior parte das
correntes representadas na Assembléia tinha uma percepção clara dos problemas
do governo da igreja, muitos foram os entraves para que houvesse uma fluência na
discussão. Os erastianos e independentes especialmente, travavam as discussões
em geral, causando grandes controvérsias, devido aos interesses externos que
defendiam.
O Parlamento estabelecera cerca
de dez regras bem definidas de regimento interno. Além destas a Assembleia
adotou mais outras. Todas as sessões deviam abrir-se com oração, nenhuma
proposta seria votada no mesmo dia de sua apresentação. Tudo que se desejasse estabelecer
deveria ser baseado nas Escrituras. A mais ampla liberdade de discussão deveria
ser assegurada a todos.
Devido as controvérsias
geradas, o primeiro ano de discussões não progrediu muito o trabalho próximo ao
final do ano de 1644 foi que começaram os trabalhos de escrever uma Confissão
de Fé de para a Igreja da Inglaterra. Uma
comissão foi nomeada para este fim e a mesma começou a trabalhar em três
materiais: a Confissão de Fé e dois catecismos, o maior e o breve, concluindo
seus trabalhos apenas em 3 de dezembro de 1646.
Este texto foi encaminhado ao
restante dos participantes da Assembleia para suas anotações e a inserção de
notas e provas bíblicas. Este segundo trabalho geral terminou em 29 de abril de
1647. O Breve Catecismo foi entregue ao Parlamento em 5 de novembro de 1647 e o
Catecismo Maior, em 14 de abril de 1648. Mesmo depois da promulgação da
Confissão de Fé, dos Catecismos e do Diretório de Culto, a Assembleia continuou
funcionando formalmente até o dia 22 de fevereiro de 1649, três semanas depois
da decaptação do Rei Carlos I.
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