domingo, 8 de outubro de 2017

Confessionalidade - Aula 2 - As Origens da Confissão de Fé de Westminster

Aula 02
As Origens da Confissão de Fé de Westminster

Introdução
O ato de confessar a fé é ancestral, remontando à própria história da humanidade. A Igreja Cristã o faz desde o tempo de Jesus e seus apóstolos e, tornou-se especialmente importante após a morte destes, pois a igreja precisa se identificar diferente de outras religiões.
Confissões de Fé são declarações sucintas sobre o que se crê e afirmações contundentes contra a heresia e o engano de outras percepções de mundo. Quando um crente confessa a sua fé, ele se posiciona doutrinariamente e diz de que lado deseja ficar nas questões de fé.
Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.  Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação (Romanos 10.9-10).
Por isto é que os antigos se organizavam em torno de declarações que lhes oferecesse consciência de unidade uns com os outros e coibissem a apostasia de outros. Além disto, as confissões serviriam como elemento propagador da fé.
Declarações de fé foram elaboradas por indivíduos, como no caso da Martin Bullinger que compôs a Segunda Conifssão Helvética para a igreja Suíça, por associação de teólogos, como Lutero e Melanchton que foram os principais produtores da Confissão de Augsburg, Ursino e Oleviano contratados pelo Rei Frederico para produzir um Catecismo para ensino nas escolas do seu reino, na Alemanha.

Os Antecedentes Escoceses da  CFW 
Para se conhecer um pouco sobre o nascedouro da CFW, precisamos retroagir a um século antes e voltar o nosso olhar para a Escócia, a terra do grande John Knox.
Aluno de Calvino, Knox voltou para  a sua terra natal com a finalidade de livrar a igreja do erro romanista. Ali já havia uma grande semente da Reforma, por causa do movimento do ilustre Patrick Hamilton, que já em 1527, havia começado a propagar as lições dadas por Lutero.
A Revolução Escocesa se originou como um movimento religioso das classes populares que desejavam exercitar livremente a sua crença nas Sagradas Escrituras. Knox será o cavaleiro desta batalha, levando a Escócia à criação da sua Primeira Confissão de Fé em 1560.
Até então, mesmo a igreja da Inglaterra ainda tinha o seu governo centralizado na figura do Rei e os Escoceses compreendiam que o governo da Igreja era local, pela instituição de homens de Deus que serviriam à comunidade, portanto afirmava a autoridade eclesiástica, não do Rei, mas sim dos presbíteros. Por isso, a igreja da Escócia passou a se chamar: Presbiteriana.
Este movimento presbiteriano deu origem à ideia de que a autoridade deveria repousar não sobre o poder de uma pessoa, mas de um colegiado, por isso, sob a liderança de Knox, a igreja Presbiteriana da Escócia reuniu sua primeira assembleia geral, como um parlamento em 1560 e arquitetou sua primeira Confissão de Fé e seu Primeiro Livro de Disciplina, regulando assim como funcionaria a unidade da igreja da Escócia.
A reação do trono inglês foi se tornando mais clara com o passar do tempo, pois esta liberdade religiosa escocesa começou a ser considerada um perigo para a unidade do Reino Unido. Vários governantes tentaram impugnar a liberdade dos escoceses de manterem sua igreja livre da ingerência do estado e do governo temporal do Rei.
Essa posição de liberdade pretendida na Escócia foi se tornando também desejada para a Igreja de todo o reino, que não somente nos assuntos religiosos, mas até mesmo na administração da vida do país, desejava uma certa divisão do poder real. Assim, foi se fortalecendo a posição do Parlamento na Inglaterra, especialmente no período do Rei Carlos I.
Naqueles dias, a Igreja da Inglaterra era controlada pelo Rei, que detinha o poder temporal e a autoridade religiosa também. O Ato de Supremacia era uma lei que dava ao Rei estes poderes doutrinários sobre a Igreja. A influencia da liberdade escocesa foi cada vez mais se tornando desejada também em toda a Inglaterra, a pressão política contra a posição absoluta do Rei forçou a convocação de uma Assembleia de eminentes teólogos com vistas a estabelecer os padrões doutrinários a serem aplicados na igreja em todo o reino.

Os Grupos Representados na Assembleia de Westminster 
Convocada em 12 de junho de 1643, a Assembleia de Westminster congregou diversos grupos distintos, representantes de pensamentos diferentes sobre a Igreja e o seu governo. A lista original tinha a convocação de 10 dos Lords invleses, vinte membros da Câmara dos Comuns e cento e vinte teólogos dentre os mais proeminentes de todo o reino, de todos os matizes e pensamentos, entre eles, presbiterianos, episcopais, congregacionais, independentes e erastianos.
Muitos declinaram da convocação, temendo o Rei, porque se tratava de um movimento politico contra o poder da coroa também, outros fizeram questão de deixar clara a sua posição contra os abusos do governo central do rei, especialmente os delegados escoceses que se fortaleciam como uma posição de luta contra o poder do Rei sobre a igreja.

Os Presbiterianos
A maior parte dos ministros e líderes leigos da Igreja na Inglaterra tinha uma ideia de liberdade baseada no governo local e não pelo Rei, portanto, eram presbiterianos. Os pastores puritanos, nesta época, uma espécie de vanguarda cultural na Inglaterra, eram também favoráveis a este tipo de governo na igreja.
Os presbiterianos lutavam por uma igreja que fosse controlada não pela autoridade temporal do Rei, mas por uma autoridade eclesiástica local e pela força da Escritura e não da decisão humana. Este era o grupo mais forte representado na Assembleia.

Os Episcopais
Os episcopais entendiam que a unidade da Igreja seria melhor preservada por meio de um governo central de um bispo. Eles seguiam o padrão católico romano de governo, embora não aceitassem mais a autoridade papal sobre a Igreja da Inglaterra. Também não acreditavam no governo do Rei sobre a igreja, mas que deveriam ter um governo realizado por homens da igreja, um bispo central, baseado em Londres, a sede do Reino e da Igreja.

Os Congregacionais
Em numero mais reduzido, estes homens pensavam em uma igreja controlada a parti do desejo da comunidade dos membros locais. Achavam que a autoridade eclesiástica repousava sobre a própria população dos crentes.

Os Erastianos
Estes defendiam que a igreja deveria ser conduzida pelo poder temporal em termos de sua vida como entidade pública a serviço do reino e que o poder dos pastores era meramente o de mestres da religião. Portanto, defendiam o poder do Rei sobre a igreja e a autoridade limitada dos pastores. A força política dos erastianos era grande, especialmente porque tinham o apoio do Rei e de outras autoridades seculares de fora da Assembleia.

Os Independentes
Apenas cinco homens eram considerados independentes, isto é, tinham uma posição livre destes blocos anteriormente citados. Eles eram apoiados por forças políticas externas e militavam primordialmente segundo alguns interesses, especialmente do grande Oliver Cromwell, o bispo central de Londres.
Não se deve pensar que todos esses homens tomaram assento o tempo todo às sessões assembleia. Os episcopais em face de haver o rei proibido a efetivação da assembleia não puderam comparecer, senão uns poucos. Os bispos anglicanos nunca reconheceram as prerrogativas da assembleia. Na reunião de abertura havia presentes 69 deputados e a média de freqüência era entre 60 e 80, segundo as informações do Rev. Guilherme Kerr.
Os interesses externos de outros grupos também influenciavam na participação mais ou menos acirrada de alguns em umas ou outras sessões. Isto tudo era a dinâmica de como os diversos grupos se comportaram durante a construção desta assembleia.

O Funcionamento da Assembleia
Em 01 de julho de 1643 foi pregado o sermão de abertura pelo presidente da Assembleia, o Dr. Twisse, um eminente teólogo de Oxford, que depois da sua morte,  foi sucedido pelo Dr. Herle. Ele estabeleceu a pauta das discussões que haveria de tratar inicialmente de uma revisão dos artigos até então usados na igreja anglicana, os 39 artigos da declaração de fé da Igreja da Inglaterra.
Como a maior parte das correntes representadas na Assembléia tinha uma percepção clara dos problemas do governo da igreja, muitos foram os entraves para que houvesse uma fluência na discussão. Os erastianos e independentes especialmente, travavam as discussões em geral, causando grandes controvérsias, devido aos interesses externos que defendiam.
O Parlamento estabelecera cerca de dez regras bem definidas de regimento interno. Além destas a Assembleia adotou mais outras. Todas as sessões deviam abrir-se com oração, nenhuma proposta seria votada no mesmo dia de sua apresentação. Tudo que se desejasse estabelecer deveria ser baseado nas Escrituras. A mais ampla liberdade de discussão deveria ser assegurada a todos.
Devido as controvérsias geradas, o primeiro ano de discussões não progrediu muito o trabalho próximo ao final do ano de 1644 foi que começaram os trabalhos de escrever uma Confissão de Fé de para a Igreja da Inglaterra. Uma  comissão foi nomeada para este fim e a mesma começou a trabalhar em três materiais: a Confissão de Fé e dois catecismos, o maior e o breve, concluindo seus trabalhos apenas em 3 de dezembro de 1646.
Este texto foi encaminhado ao restante dos participantes da Assembleia para suas anotações e a inserção de notas e provas bíblicas. Este segundo trabalho geral terminou em 29 de abril de 1647. O Breve Catecismo foi entregue ao Parlamento em 5 de novembro de 1647 e o Catecismo Maior, em 14 de abril de 1648. Mesmo depois da promulgação da Confissão de Fé, dos Catecismos e do Diretório de Culto, a Assembleia continuou funcionando formalmente até o dia 22 de fevereiro de 1649, três semanas depois da decaptação do Rei Carlos I.





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